2015: Feliz Cruzeiro Novo

Enfim, 2015 começa no aqui no Blog Constelações. E como nos dois últimos anos, na transição entre janeiro e fevereiro: quando o grupo já está normalmente definido, às vésperas do primeiro jogo oficial no ano.

Mas, diferente de 2013 e 2014, o elenco do Cruzeiro aparentemente ainda não está fechado. Isso porque a espinha dorsal do time foi desfeita em janeiro, com as saídas de Lucas Silva, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Marcelo Moreno, dando pouco tempo à diretoria para ir ao mercado contratar reposições — um processo que ainda está em curso.

Ainda assim, a reposição nas mesmas características é difícil. Lucas Silva é um meio-campista completo, marca e joga. Não foi à toda que o Real Madrid insistiu tanto. Goulart é um meia atacante de força física, que jogava como central mas encostava no centroavante, entrando na área. E Ribeiro um ponteiro passador, tomando uma terminologia do voleibol emprestada: saía da direita para a articular no centro.

Mudança de porte

O elenco do Cruzeiro de 2015 até aqui: jogadores que podem fazer mais de uma função, um zagueiro ainda por chegar e um perfil diferente

O elenco do Cruzeiro de 2015 até aqui: jogadores que podem fazer mais de uma função, um zagueiro ainda por chegar e um perfil diferente

Por isso tudo, um novo Cruzeiro surgirá adiante. Chegaram Fabiano, Joel, Gilson, Seymour e Damião em dezembro (leia aqui sobre estes reforços) e em janeiro vieram Riascos, Arrascaeta, Mena, Pará e, provavelmente, Willians. Jogadores que indicam uma mudança no perfil de jogo do Cruzeiro.

Se em 2013 e 2014 o Cruzeiro privilegiou o jogo propositivo, posse de bola e pressão alta, com muita intensidade no ataque e na recomposição, em 2015 é muito provável que o Cruzeiro seja um time mais consistente e com mais estrutura, que ceda menos espaços atrás e seja difícil de bater. Mas isso ao custo de ficar um pouco mais recuado, sem pressionar tanto no alto do campo para forçar o chutão do adversário e a recuperação na bola longa.

“Libertadores é raça”: uma lenda

Muitos dirão que esse é um perfil melhor para disputar a Libertadores, que exige times “raçudos” e físicos. Particularmente, acredito que isso seja uma grande lenda: o Flamengo venceu em 1981 com um time bem técnico; o Corinthians em 2012 com uma postura tática muito disciplinada, sofrendo apenas 3 gols em todo o torneio; o próprio San Lorenzo no ano passado não era um time que tinha jogadores especialmente físicos.

Porém, em recentes entrevistas, Marcelo Oliveira dá a entender de que acredita nessa teoria. Tanto é que usou jogadores mais pesados em alguns jogos já no ano passado, como a dupla de volantes Nilton e Rodrigo Souza no jogo contra o Defensor no Uruguai. Não deu muito certo. Depois, em algumas partidas, Ricardo Goulart foi preterido para que Júlio Baptista entrasse no time.

Assim, é provável que, pelo menos na competição continental, vejamos um Cruzeiro mais consistente, estruturado e que sofra menos gols, porém mais reativo, ficando menos com a bola. Não chega a ser um risco porque ainda há opções no banco para mudar o perfil na mesma partida.

Profundidade de elenco

Um outro aspecto interessante de se notar é que Marcelo aprendeu com os problemas que teve no ano passado. Em um dado momento, o Cruzeiro ficou sem um jogador típico para jogar como central no 4-2-3-1, chegando ao ponto de mudar para um 4-1-4-1 com Nilton entre as linhas no jogo contra o Flamengo no Maracanã. Em outro momento, teve Samudio e Egídio lesionados ao mesmo tempo, o que levou o treinador a improvisar Willian Farias e Alex na lateral esquerda, e depois revezar os naturais da função mesmo sem estarem 100% fisicamente.

Para resolver isso, Marcelo vai usar três laterais para cada lado, um a mais que no ano passado. Fabiano se junta a Mayke e Ceará pela direita, e com a chegada de Mena e Pará, Breno e Gilson passam a ter mais concorrência. Porém, a tendência é que um dos dois seja emprestado ou Gilson seja usado apenas mais à frente, como ponteiro esquerdo.

Já para a posição de central, o técnico do Cruzeiro está testando várias opções. Nos dois amistosos de janeiro, passaram pela função Júlio Baptista, Joel, Neilton e Judivan. Além disso, Arrascaeta poderá jogar na posição, que ainda contaria com Tinga e até mesmo Riascos. É claro, são jogadores diferentes: presença física, velocidade, técnica, marcação, mobilidade. Exerceriam FUNÇÕES diferentes, mas sempre jogando por dentro do trio de meias no 4-2-3-1.

Nem pior nem melhor: diferente

Com tantas mudanças, é muito difícil imaginar até onde esse Cruzeiro 2015 pode chegar. A temporada é longa e muita coisa pode mudar: os garotos da base podem atropelar e ganhar a titularidade (aposto particularmente em Judivan e Bruno Edgar), outros jogadores podem chegar na janela de inverno (como Dedé em 2013 e Marquinhos e Manoel em 2014) e vários outros aspectos.

Mas mesmo com este elenco inicial e ainda indefinido, ainda não digo que é um time pior do que nas duas últimas temporadas. Muita gente afirmaria isso sem hesitar, e é compreensível: o Cruzeiro 2013/14 já entrou para a história, não só pelas conquistas como também pelo estilo de jogo. Talvez este de 2015 também o faça, seja conquistando a América mais uma vez, e quem sabe o Mundo, ou o Brasil pela terceira vez seguida. Ou tudo isso junto. Por que não?

Enfim, é um novo Cruzeiro, com novas caras. Uma transição que aconteceu em várias outras temporadas. E mesmo assim o Cruzeiro nunca deixou de ser grande e temido. Apenas diferente.

Especial: Prévia tática da decisão do Campeonato Mineiro 2013

Chegou a hora. Era previsível: o Superclássico decidirá o Campeonato Mineiro. E, pela primeira vez nos últimos anos, sem um claro favorito, pois era comum um dos times estar bem e o outro “mais ou menos”. Agora não: ambos provaram que podem jogar bem. Então, nada mais justo do que fazer uma prévia tática sobre o maior jogo de Minas Gerais. Vou além: com o Carioca e o Gaúcho decididos, e com a final do Paulista com dois times que não inspiram confiança, a decisão do Mineiro provavelmente será o maior jogo do Brasil nos próximos fins de semana.

Um pouco sobre o jogo contra o Villa

Mas antes, pra não dizer que não falei de flores, uma rápida pincelada sobre o jogo da volta das semifinais contra o Villa Nova. Muitos titulares foram poupados já pensando na decisão de domingo, naquilo que foi uma batalha dos losangos de meio-campo. Na verdade, batalha é modo de dizer, pois foi praticamente um ataque contra defesa, já que o objetivo claro do time de Nova Lima era perder de pouco pra ficar com o título simbólico de “Campeão do Interior”.

Rafael no gol, com Mayke, Paulão Bruno Rodrigo e Egídio na linha defensiva. Guerreiro foi o vértice baixo, com Tinga pela direita e Lucas Silva pela esquerda, e partindo do centro para as pontas, Ricardo Goulart. Diego Souza jogou mais à frente, uma espécie de segundo atacante, se aproximando de Borges. Um 4-3-1-2 losango, com os corredores pelos lados abertos para os laterais subirem até a intermediária adversária e encontrarem uma muralha. Tinga e Mayke combinaram bem mas tiveram dificuldade com a forte marcação do Villa, mas pelo lado esquerdo, boa aparição de Lucas Silva e Egídio, que coroou sua boa atuação com um belíssimo gol de falta.

Já no domingo, os treinadores devem escalar seus times no mesmo 4-2-3-1 costumeiro de suas equipes. E, apesar de jogarem no mesmo sistema base, a forma de atuar é diferente. Isso porque os jogadores que compõem os sistemas tem características diferentes.

Perto das balizas

130510_ataque_atleticomg_cruzeiroA começar pelas duas grandes áreas. Enquanto Jô é um centro-avante típico, grandalhão, com boa bola aérea tanto na disputa no meio quanto dentro da área para finalização, e boa retenção de bola, para esperar seus companheiros passarem e fazer o passe, Borges é mais oportunista e tem melhor senso de posicionamento. Léo e Bruno Rodrigo deverão fazer um jogo mais físico contra o atleticano, mas Réver e provavelmente Gilberto Silva terão um combate mais “leve” contra Borges. Marcelo deveria posicionar nosso camisa 9 mais em cima de Gilberto Silva, que é mais lento e menos técnico do que Réver.

130510_defesa_atleticomg_cruzeiroMas existe uma semelhança: ambos vão sair da área e tentar se desvencilhar da marcação dos zagueiros adversários. Borges deverá recuar um pouco mais para receber algumas bolas longe da perseguição dos zagueiros atleticanos, obrigando-os a sair à caça e abrindo espaço para Dagoberto e Diego Souza chegarem de trás. No Atlético Mineiro, que joga junto há mais tempo, o quarteto ofensivo roda mais, e provavelmente veremos Léo ir atrás de Jô até o meio-campo se for preciso. Cabe aos companheiros de linha defensiva fazerem a cobertura.

Meiúca

130510_meiocampo_atleticomg_cruzeiro

No centro do meio-campo, nenhuma das duas equipes possui volantes que saem muito para o jogo. Um deles deverá ser destacado para fazer uma perseguição ao meia-central adversário: Pierre e Leandro Guerreiro serão as sombras dos camisas 10 do time adversário, Diego Souza e Ronaldinho. Mas, com a diferença de estilos dos meias, provavelmente Guerreiro fará uma marcação mais forte do que Pierre, já que Diego não é passador como Ronaldinho, mas sim carregador de bola, mais físico, chegando mais à área, quase como um segundo atacante.

Com isso Leandro Donizete e Nilton travarão um duelo particular. Marcadores por natureza, ambos terão uma função de chegar mais à frente para ser um quarto homem de meio nas ações ofensivas. No clássico do início do ano, Nilton foi mais participativo e deu uma ligeira vantagem no meio-campo para o Cruzeiro, que em clássicos faz toda a diferença.

Na destra

Pela direita, o jogo será menos intenso, apesar da presença do leve Bernard duelando com Ceará. Nos últimos clássicos, Ceará fez bem o papel primário de um lateral: defender. E com isso levou vantagem sobre Bernard na maioria das vezes. A única exceção foi o lance do primeiro gol na última rodada do Brasileirão 2012. Na reabertura do Mineirão, Bernard pouco produziu pelo lado esquerdo, principalmente por causa do bom trabalho defensivo do camisa 2

Na frente, Everton Ribeiro não deve explorar tanto a quina do campo, e sim entrar mais para o meio, também pelo fato de ser um ponteiro meia de origem, ao contrário dos outros três (Dagoberto pelo Cruzeiro, e Bernard e Tardelli pelo Atlético Mineiro, que são atacantes). Richarlyson deve acompanhá-lo onde for, também pelo fato de ser um lateral mais preso, que apoia pouco. Isso abre o corredor para Ceará subir e dar amplitude, mas com muita cautela para não abrir espaço às suas costas e proporcionar uma das armas mais usadas do adversário: a diagonal longa do lateral para o ponteiro oposto.

Na canhota

130510_esquerda_atleticomg_cruzeiroChegamos à região onde acredito ser a mais intensa da partida. Tanto Éverton quanto Marcos Rocha são laterais que apoiam bastante, com muito ímpeto ofensivo. Ao mesmo tempo, estarão a cargo de marcar atacantes rápidos, com características ligeiramente diferentes. Dagoberto é mais driblador, rápido, bom na vitória pessoal, enquanto Tardelli é um pouco mais lento, mas se movimenta mais pelo campo, chegando na área junto com Bernard pelo outro lado. Tanto Everton quanto Marcos Rocha correm riscos se subirem demais para o apoio, abrindo espaços para os adversários ponteiros explorarem.

Marcos Rocha é, na modesta opinião deste blogueiro, o ponto mais sensível do time adversário. Se Dagoberto estiver em tarde inspirada, dificilmente o lateral atleticano conseguirá pará-lo, pois não tem a mesma experiência e serenidade que Ceará tem na marcação de Bernard (duelos muito semelhantes, por sinal). Eu diria que ali é o caminho do gol, principalmente porque Diego Tardelli não recua tanto no trabalho defensivo, e isso pode causa uma sobrecarga favorável ao Cruzeiro naquele lado.

Semelhanças sem a bola…

É claro que o jogo não será restrito a estes duelos, devido à movimentação dos quartetos de frente e ultrapassagens do volante que sobrar e dos laterais para as ações ofensivas. Mas como no Brasil praticamente não se vê marcação por zona e sim individual por função — como bem disse Eduardo Cecconi em seu blog, o famoso “cada um pega o seu e vai com ele até o final” — esses devem ser os duelos mais comuns, pois tanto Cruzeiro quanto Atlético Mineiro se utilizarão deste sistema.

Além disso, é bem provável que ambos os treinadores ordenem seus homens de frente a marcar o adversário perto da área ofensiva, o famoso “pressing”. Portanto, podemos esperar muitos passes errados, muita “bola pro mato” e, principalmente, um jogo muito pegado, físico — provavelmente haverá mais cartões amarelos que o normal. Talvez um ou dois vermelhos.

… e diferenças com ela

Com a bola, porém, os dois times trabalham de maneira diferente. O Atlético Mineiro é intenso, aumenta a rotação do jogo e não tem medo de usar ligações diretas, principalmente em seu estádio. Isso porque tem um bom pivô, jogadores velozes pelas pontas e um passador nato no meio. O entrosamento de dois anos jogando junto sob o mesmo treinador também ajuda. Já o Cruzeiro é um time que valoriza a posse de bola e — pra usar um termo que Marcelo Oliveira gosta — tenta envolver o adversário, abrindo espaço entre as linhas com passes rápidos, mas com mais calma e escolhendo a hora de acelerar.

Em suma: ambos são times velozes, mas o Atlético Mineiro é intenso sempre, enquanto o Cruzeiro tenta variar. Como o primeiro jogo é no Independência, e o Atlético Mineiro tem que inverter a vantagem, provavelmente tentará acelerar o jogo a toda hora. Cabe ao Cruzeiro saber aproveitar isso, “cansando” o adversário e tocando a bola para trazer a partida para o seu gosto.

O primeiro grande teste

O primeiro grande teste -- para AMBAS as equipes

O primeiro grande teste — para AMBAS as equipes

Muito se fala sobre este ser o primeiro grande teste para o Cruzeiro na temporada. De fato, os adversários que o Cruzeiro enfrentou até aqui, com exceção da reabertura do Mineirão, respeitaram demais o Cruzeiro e não encararam de frente. Mas reitero a conclusão do post passado: o Cruzeiro enfrentou o mesmo nível de oposição nas temporadas anteriores e não teve o mesmo rendimento — a invencibilidade precisa sim ser levada em conta. Assim, por se tratar de um clássico, pela vantagem que o Cruzeiro tem, e pela confiança que o time passa à torcida, é possível dizer que o Cruzeiro é o time com mais chances de vencer o “badalado” Atlético Mineiro desta temporada.

E, pra ser sincero, com a bolinha que o São Paulo jogou na Libertadores, e com o nível do futebol brasileiro tão acima dos demais vizinhos sul-americanos… É o primeiro grande teste pra eles também.

 

O tamanho dos gramados do Brasileirão 2012

Certamente os leitores fantasma deste blog já devem ter ouvido Celso Roth falar que o Independência é um “campo rápido”. Ele diz isso por causa das dimensões do gramado, que teoricamente são “reduzidas”, e que fariam o jogo ser mais veloz no sentido de que qualquer chutão chega na área adversária facilmente, que por sua vez favoreceria times de menor qualidade técnica, que recorrem ao contra-ataque.

Na última quarta-feira, o discurso contrário pôde ser ouvido: o Serra Dourada, por ser um campo grande, faz o jogo ficar lento, difícil de correr, dando à partida um ritmo cadenciado de posse de bola. Engraçado, porque o Cruzeiro fez exatamente o oposto. Talvez tenha se acostumado a jogar no Independência, mas mesmo que não faça tanta diferença tecnicamente, a postura de treinadores e jogadores tem sido diferentes de acordo com os tamanhos dos campos, como o contrastante exemplo dos jogos contra os dois Atléticos, um no Independência e o outro no Serra Dourada, o que influi diretamente na estratégia da equipe em uma determinada partida — e portanto na parte tática.

Das 20 17 regras do futebol, definidas pela FIFA, a que define o campo de jogo é a Regra 1, que diz que o campo deve ter entre 90 e 120 metros de comprimento, e entre 45 e 90 metros de largura (ou seja, é possível termos um campo quadrado, de 90 m x 90 m, mas isso é uma outra história). Em competições internacionais, a variação é mais restrita, e o comprimento fica entre 100 e 110 m e a largura entre 64 e 75 m. Ainda, na Copa do Mundo, os gramados devem ter a dimensão fixa de 105 x 68 m.

Acredite se quiser, estes campos são válidos para partidas não oficiais: 120 x 45 m (esq) e 90 x 90 m (dir). A grande área o círculo central estão em escala.

Para saber mais, o Constelações foi buscar as dimensões dos gramados dos principais estádios do Brasileirão 2012. Os dados vieram depois de extensas pesquisas na Internet:

Estádio Comprimento (m) Largura (m)
Aflitos (Náutico) 105 70
Arena Barueri (Palmeiras) 107 70
Beira-Rio (Internacional) 108 72
Canindé (Portuguesa) 103,4 70,5
Couto Pereira (Coritiba) 109 72
Engenhão (Flamengo, Fluminense e Botafogo) 105 68
Ilha do Retiro (Sport) 105 78
Independência (Cruzeiro e Atlético/MG) 105 68
Moisés Lucarelli (Ponte Preta) 107 70
Morumbi (São Paulo) 108,25 72,7
Olímpico (Grêmio) 105 68
Orlando Scarpelli (Figueirense) 105 70
Pacaembu (Corinthians) 105 68
Pituaçu (Bahia) 110 68
São Januário (Vasco) 110 70
Serra Dourada (Atlético/GO) 110 75
Vila Belmiro (Santos) 105,8 70,3

Análise

Isto posto, vamos colocar a tabela acima em forma de gráfico para vermos as diferenças:

 

Relação entre comprimento e largura dos principais palcos do Brasileirão 2012

Quanto mais à direita um ponto, mais comprido é o campo, e quanto mais para a esquerda, mais curto. De maneira análoga, quanto mais pra cima, mais largo, quanto mais pra baixo, mais estreito. A linha azul no gráfico representa a “proporção média” entre comprimento e largura de todos os campos analisados, ou seja, à medida que se aumenta o comprimento, aumenta-se a largura proporcionalmente.

Análise

Olhando o gráfico, dois pontos chamam a atenção de cara: a Ilha do Retiro, o campo mais largo do Brasileirão, com impressionantes 78 m. São dez metros a mais que o Independência, ou seja, cinco metros de cada lado. Para se ter uma ideia, uma quadra de vôlei tem seis metros de largura, ou seja, é um espaço onde cabem três jogadores lado a lado e com conforto.

O outro campo que se destaca é o Serra Dourada. O campo do Atlético/GO possui as dimensões máximas para partidas internacionais, sendo o maior do Brasileirão 2012. Além de ser o segundo mais largo de todos, é o mais comprido, ao lado de São Januário e Pituaçu, com 110 metros de comprimento.

Pituaçu, aliás, é um caso estranho. É um dos mais compridos, mas ao mesmo tempo é um dos mais estreitos, juntamente com outros 4 estádios: Independência, Engenhão, Olímpico e Pacaembu.

O Canindé é o campo mais curto. São apenas 103,4 metros de comprimento — quase 7 em relação aos mais compridos.

Além disso, nada menos do que sete equipes mandam seus jogos em gramados que possuem as medidas “oficiais”: Flamengo, Fluminense e Botafogo (Engenhão), Cruzeiro e Atlético/MG (Independência), Grêmio (Olímpico) e Corinthians (Pacaembu). Ainda, se considerarmos uma tolerância de um metro para cada lado em cada dimensão, podemos incluir neste bolo o Canindé, Aflitos e Orlando Scarpelli, a Vila Belmiro e a Arena Barueri e Moisés Lucarelli, todos com até um metro a mais (ou menos) em cada lado do campo. Com isso, o número de times mandantes em campos “rápidos” sobe para 13, fazendo com que nada menos do que 65% do campeonato se desenrole neste tipo de gramado.

Diferenças entre as dimensões de alguns dos campos do Brasileirão 2012. As áreas penais e o círculo central estão em escala.

Conclusão

É claro que haverá defensores dos campos grandes. Basta saber que os antigos Maracanã e Mineirão, ambos templos do futebol brasileiro e mundial, possuíam campos de 110 x 75, as mesmas dimensões do Serra Dourada atual. Portanto, podemos considerar que os brasileiros gostam de futebol de posse, com jogo ritmado, sem a correria e os chutões que os campos menores proporcionam. Basta olhar  o gráfico e ver que a maioria dos campos do Brasil é igual ou maior que o “padrão FIFA” de 105 x 68 — dimensões que fazem com que o jogo fique mais brigado, e como só o Barcelona é o Barcelona, nenhuma outra equipe consegue manter a posse de bola por longos períodos em campos com essas medidas.

Entretanto, isso pode gerar um problema a longo prazo. Mesmo considerando que a maioria dos jogadores da Seleção Brasileira joga fora do Brasil, em gramados europeus, os jogadores daqui que forem convocados poderão ter mais dificuldade em se adaptar aos gramados de uma eventual Copa do Mundo que disputarem. Até mesmo jogadores que fizerem sucesso por aqui e forem vendidos para o exterior poderão ter dificuldades. Em uma pesquisa rápida, a maioria dos grandes estádios do futebol mundial estão nas medidas FIFA:

  • Old Trafford (Manchester United)
  • Emirates Stadium (Arsenal)
  • Stanford Bridge (Chelsea)
  • Camp Nou (Barcelona)
  • Santiago Bernabéu (Real Madrid)
  • Allianz Arena (Bayern de Munique)
  • San Siro (Internazionale e Milan)
  • Olimpico di Roma (Roma e Lazio)
  • Bombonera (Boca Juniors)
  • Monumental de Núñez (River Plate)

Particularmente, gosto de campos grandes que proporcionam um futebol mais vistoso com equipes que possuem jogadores técnicos. Infelizmente não é o caso do nosso Cruzeiro atual. Além disso, jogos disputados mais na física e na correria do que na técnica sempre serão vistos com desconfiança por este blogueiro. Aparentemente, porém, é o destino cruzeirense jogar em campos com as medidas “oficiais” — o Mineirão terá suas dimensões mantidas após a Copa do Mundo. Além disso, a tendência é que cada vez mais estádios adotem essas medidas ao longo do tempo. Assim, a adaptação é mais que necessária.

Só nos resta torcer para que, a médio prazo, tenhamos um time técnico o suficiente para conseguir ter longos períodos de posse e objetividade para controlar o jogo, como — porque não — o Barcelona atual.

Bem-vindos ao Constelações

Olá, e sejam bem-vindos ao blog Constelações. Eu sou Christiano Candian, um programador empolgado com futebol, particularmente com o Cruzeiro Esporte Clube, e também fã de estatísticas de um modo geral.

As duas coisas somadas me levaram a procurar estatísticas de futebol, e do Cruzeiro especialmente. No processo, achei blogs e sites sobre análise tática, e achei a coisa mais legal do mundo. Agora sou um estudioso da área, e com este blog pretendo, também, melhorar cada vez mais nesse assunto. Assim, o principal assunto do blog será a análise tática dos jogos do Cruzeiro ao longo desta temporada de 2012. Com sorte, quem sabe em 2013 a coisa tenha andado de uma forma legal.

Este blog tem também, pretensiosamente, a intenção de desenvolver uma metodologia de coleta de dados e um aplicativo web para visualizar estes dados aqui, para facilitar e ilustrar as análises que tentarei fazer.

É importante lembrar que, como eu disse acima, sou só um empolgado/estudioso. NÃO sou jornalista e NÃO sou profissional da área. Além disso, blogs são, no meu modo de ver, espaços dissertativos, ou seja, o que estará escrito aqui representa a minha opinião sobre o assunto que estiver sendo escrito e somente isso. Não tenho a intenção de ser referência, mesmo que um dia o blog seja famoso.

Portanto, meus futuros leitores (visto que escrevo este post no momento do nascimento do blog, quando exatamente zero pessoas o visitam diariamente), a sorte está lançada. Dizem que manter blogs sempre atualizados é uma coisa difícil, mas acredito que neste caso, muito assunto vai existir. Só resta saber se conseguirei tornar estes assuntos suficientemente relevantes. Como diria Adilson Batista, “vamos aguardar”.