Cruzeiro 5 x 0 Atlético/GO – Bom, mas nem tanto

O Cruzeiro reencontrou o Mineirão com uma pentagoleada sobre o Atlético Goianiense, com gols de cinco jogadores diferentes, e praticamente garantiu passagem às oitavas da Copa do Brasil. Entretanto, o jogo não foi tão bom taticamente, mas o Cruzeiro soube aproveitar as fragilidades do adversário para marcar. Ao contrário do que muitas críticas que li em vários sites, não achei uma exibição exemplar.

Escretes iniciais

Com Diego mais próximo de Vinicius Araújo, Cruzeiro pressionou a saída dois goianos no primeiro tempo, mas sem qualidade de passe

Com Diego mais próximo de Vinicius Araújo, Cruzeiro pressionou a saída dois goianos no primeiro tempo, mas sem qualidade de passe

Marcelo Oliveira mandou o mesmo time que enfrentou a Portuguesa no fim de semana, no já usual 4-2-3-1: o gol de Fábio protegido por Dedé e Bruno Rodrigo, com Mayke na direita e Egídio fechando pela esquerda. Nilton mais plantado liberava Souza, que se juntava ao trio de meias: Everton Ribeiro vindo da direita pro centro, Diego Souza por dentro mas se aproximando de Vinicius Araújo na frente e Luan um pouco mais preso à faixa esquerda.

O Atlético Goianiense de Renê Simões também veio no 4-2-3-1, mas com o posicionamento mais fixo. O goleiro Márcio teve Diogo Campos à direita, Artur e Diego Giaretta na zaga central e Ernandes na esquerda. Na dupla volância, Dodó e Marino ajudavam João Paulo por dentro, que era flanqueado por Pipico na destra e Jorginho na esquerda, todos procurando o centro-avante Ricardo Jesus.

Pressão na frente

Diferentemente do que fez contra a Portuguesa, logo no início do jogo o Cruzeiro avançou a marcação e forçava ou o chute longo ou a saída de bola errada do time goiano. Mas, ao recuperar a bola, não sabia muito bem o que fazer com ela. O Atlético Goianiense aproximava suas linhas e dificultava a saída pelo chão, fazendo com que os zagueiros e volantes cruzeirenses trocassem passes sem ser incomodados. Souza até tinha tempo com a bola, mas não consguia achar alvos à frente. Diego e Everton Ribeiro, muito marcados, não tinham condições de receber os passes com tempo para pensar o jogo, e assim o trabalho ofensivo era forçado para os laterais. Egídio saía mais que Mayke no início do jogo, mas foi numa jogada pela direita que saiu o primeiro gol, logo aos 10 minutos, com Diego Souza.

Como é de praxe, o gol mudou o jogo. O Atlético Goianiense ficou menos tímido e, quando conseguia sair da pressão no alto do campo imposta pelo Cruzeiro, conseguia achar bolsões de espaço justamente atrás dos ponteiros, particularmente Everton Ribeiro, que não volta tanto com o lateral adversário como Luan faz do outro lado. Num desses lances, Pipico conseguiu iludir a marcação e chutar de dentro da área, em falha de posicionamento de Dedé.

Já o Cruzeiro não diminuiu o seu ritmo, mas pecava na hora de decidir entre acelerar e cadenciar o jogo. Na expectativa de pegar a defesa goiana aberta, o Cruzeiro muitas vezes errava um passe bobo, pois queria acelerar demais o jogo quando não era necessário, e rapidamente concedia novamente a posse de bola. Quando encaixava o passe, porém, chegava com facilidade sobre a lenta defesa goiana. Assim, mesmo sem fazer muita força e com alguns problemas coletivos, o Cruzeiro dominava a partida, fazendo ainda mais dois gols de cabeça em cobranças de falta pelo lado: uma pela esquerda, com Souza mandando na cabeça de Vinicius Araújo, e outra pela esquerda, com Egídio assistindo Dedé.

Segundo tempo

No intervalo, Renê Simões trocou Jorginho por Robston e Pipico por Juninho. Robston foi jogar mais perto de Dodó, fazendo um terceiro homem de meio-campo, e João Paulo foi ser ponteiro esquerdo. Já Juninho foi uma substituição direta, para tentar explorar sua velocidade nas costas de Egídio — um espaço que o lateral deixa e que já foi citado neste blog. O time visitante acabou se postando num 4-3-3 que virava 4-1-4-1 sem a bola, encaixando ainda mais a marcação no time celeste. Isso equilibrou o jogo, e o Cruzeiro já não domínio escancarado da posse de bola e nem tanto domínio territorial. Não houve muitas chances para cada lado, porém.

E se o jogo já estava morno com o 3 a 0, o quarto gol esfriou a partida de vez. Egídio contava com a entrega tática de Luan para continuar apoiando, e na primeira investida ao ataque, cruzou para Vinicius Araújo. Um erro de linha de impedimento da zaga goiana e um corta-luz involuntário do garoto fizeram a bola sobrar limpa para Everton Ribeiro completar para o gol vazio.

Com dez

Após a expulsão e as mudanças, o Cruzeiro se encastelou num 4-4-1 bem compacto que não deu chances para o adversário

Após a expulsão e as mudanças, o Cruzeiro se encastelou num 4-4-1 bem compacto que não deu chances para o adversário

Pouco tempo depois do gol, Bruno Rodrigo foi expulso ao disputar de carrinho uma bola que ele mesmo errou na saída. Um erro infantil para um zagueiro experiente e com o jogo já decidido. Antes das substituições de recomposição, Nilton recuou para a zaga, Diego Souza afundou pra segunda linha e os dois ponteiros se alinharam a ela, ensaiando o 4-4-1 que estaria por vir — o esquema padrão para jogar com dez homens. Os sacrificados foram Everton Ribeiro e Diego Souza, com Léo indo compor a zaga e Nilton retornando ao meio-campo, e Tinga entrando pela direita.

As linhas compactas do Cruzeiro eram mais que suficientes para Fábio se sentir seguro debaixo das traves. O Atlético Goianiense tinha mais a bola, naturalmente, mas não conseguia invadir a área para finalizar com mais qualidade — apenas chutes de longe eram tentados. Renê Simões ainda tentou lançar Caio na vaga de João Paulo, mas isso piorou o time, pois Caio foi jogar por dentro ao invés de ir pela esquerda, transformando o time num 4-3-1-2 losango. A regra padrão para se jogar contra dez jogadores é tentar abrir a defesa, com jogadores de ambos os lados, e o losango é um sistema conhecido por ser estreito. Ernandes bem que tentou apoiar, mas Tinga e Mayke seguraram bem as investidas do lateral esquerdo goiano.

Ainda sobrou tempo para Egídio roubar uma bola do zagueiro Artur e acertar um lindo chute de fora da área, completando a goleada. Mérito do lateral esquerdo, tão contestado pela torcida pela sua deficiência na marcação e por alguns passes afobados. Neste jogo, foi um dos principais jogadores em campo.

No fim, Marcelo Oliveira fez a última substituição, mantendo o 4-4-1 com Ricardo Goulart na vaga de Vinicius Araújo. A troca não foi só para o garoto ser aplaudido na saída, mas também porque Goulart consegue segurar mais a bola no pé ao invés de fazer pivô, limpando a jogada e cadenciando. Fosse para fazer pivô, o escolhido seria Anselmo Ramon, mas isso só faria sentido se os ponteiros fosse rápidos, coisa que Luan e Tinga certamente não são.

Um passo atrás

Estes dois jogos após a Copa das Confederações mostraram que o Cruzeiro perdeu um pouco do entrosamento conquistado até junho. É claro que as lesões de Dagoberto e Borges contribuíram para isso, mas o fator principal foi a chegada de Souza, um volante com características bem diferentes de Nilton e Leandro Guerreiro, que vinha sendo a dupla titular. Este era um problema que este blog já relatava no primeiro semestre, a falta de um volante passador. Pois bem, ele chegou, e com isso o time mudou sua característica. Ainda vai levar um tempo maior para o time se adaptar a isso.

Também é primordial que Marcelo Oliveira encontre uma solução para o pouco trabalho defensivo de Everton Ribeiro, e também para a cobertura de Egídio — ou fazer o lateral esquerdo treinar mais a defesa de seu setor. Hoje, estes são os setores que me parece mais vulneráveis na equipe celeste, e isso se tornará um problema ainda maior com a volta de Dagoberto, que não defende tanto quanto Luan.

E mais: com Dagoberto, Mayke e Souza, o time celeste passa a ter uma característica muito ofensiva, até um pouco desequilibrada, o que faz com que os passes errados sejam uma questão que deve ser resolvida o quanto antes. Não há problema em ter esta vocação para o ataque, desde que o time fique com a bola e seja atacado o mínimo possível — aí estão as filosofias de Barcelona e Espanha que não me deixam mentir. Errar um passe mais incisivo é normal, mas passes laterais e curtos não, e isso vem acontecendo com mais frequência que o aceitável.

Em suma, o meu desejo é que este passo atrás seja para que se dê dois passos pra frente depois. Sabemos que esta é a primeira temporada deste time, mas já tivemos algumas amostras de como a equipe pode render. A torcida do Cruzeiro já está esperando pelo menos uma vaga na Libertadores e/ou chegar longe na Copa do Brasil.

Objetivos possíveis, mas não fáceis de ser alcançados.

Cruzeiro 1 x 0 Corinthians – A defesa avançada e a velocidade

Com gols de Fábio e Dagoberto, o Cruzeiro venceu o Corinthians por 1 a 0 na Arena do Jacaré e voltou provisoriamente à liderança. Não, eu não escrevi errado. O jogo teve a contagem mínima com gol de Dagoberto, mas Fábio garantiu o placar em branco no primeiro tempo com ótimas defesas em chutes de Alexandre Pato.

O Cruzeiro teve muitas dificuldades em passar pela excelente defesa do Corinthians, e também sofreu em alguns momentos defensivamente no primeiro tempo, mas conseguiu uma vitória importante, mas que não pode esconder alguns defeitos táticos que devem ser corrigidos.

Sistemas iniciais

No primeiro tempo, a defesa alta foi explorada pela velocidade de Pato, e o quarteto ofensivo ficou estático demais

No primeiro tempo, a defesa alta foi explorada pela velocidade de Pato, e o quarteto ofensivo ficou estático demais

Ambos os treinadores optaram pelo mesmo esquema: o 4-2-3-1 tradicional das duas equipes. O Cruzeiro de Marcelo Oliveira tinha Fábio no gol, com Ceará à sua direita e Egídio à sua esquerda, flanqueando a dupla de zaga Dedé e Bruno Rodrigo. Leandro Guerreiro, mais plantado, e Nilton, um pouco mais à frente, eram os volantes que davam suporte ao trio de meias ofensivos, com Diego Souza centralizado e com a companhia de Everton Ribeiro mais contido à direita e Dagoberto mais espetado à esquerda. Na frente, Anselmo Ramon duelando com os zagueiros.

No Corinthians, a linha defensiva que protegeu o gol de Cássio foi armada por Tite com Paulo André e Gil na zaga, flanqueados por Alessandro na lateral direita e Fábio Santos do outro lado. Ralf foi o primeiro volante, tendo a seu lado Guilherme Torres mais solto. Na linha de três, Emerson pela direita, Danilo pela esquerda e Douglas por dentro procurando Alexandre Pato à frente.

Bola nas costas

O jogo começou com a marcação bem encaixada, com duelos bem definidos em campo — como é costume quando dois times postados num 4-2-3-1 se enfrentam. Quinze minutos se passaram com a ação totalmente concentrada do lado esquerdo do Cruzeiro, e sem nenhum dos oponentes levando clara vantagem sobre seu marcador, precisou acontecer algo diferente para que o primeiro lance de perigo fosse criado. Emerson recebeu a bola pela esquerda, e ao invés de tentar o fundo, trouxe para o meio. A marcação cruzeirense se indefiniu: Nilton deixou o atacante passar por ele, Diego estava muito avançado e Leandro Guerreiro do outro lado, mas longe. Quando Bruno Rodrigo subiu o bote, Emerson já estava à frente da área e passou a Alexandre Pato, nas costas de Dedé. Ali começava o pesadelo do atacante corintiano na noite, com Fábio como protagonista.

Depois desse lance, Pato começou a tentar explorar a velocidade. Primeiro saiu da área, tabelou com Danilo e entrou com velocidade, novamente nas costas de Dedé, mas concluiu pra fora. Depois, Recebeu uma ligação direta de Alessandro, ganhou na corrida do camisa 26 e parou novamente em Fábio. E por fim, em um lance de erro de domínio de Dedé, Pato recolheu um passe que nem era pra ele e novamente Fábio pegou.

Essas chances expuseram uma vulnerabilidade da defesa celeste: o posicionamento avançado, necessário para a compactação do time, mas que deixa espaços atrás para onde bolas incisivas, pelo chão ou pelo alto, podem ser tentadas. Contra um centroavante mais “tradicional”, ou seja, mais forte mas não tão veloz (por exemplo, Fred, Damião, Anselmo Ramon), é aceitável, pois Dedé e Bruno Rodrigo são zagueiros rápidos e conseguem se recuperar com facilidade. Mas Pato era um atacante de movimentação, veloz, e a característica muda. Contra jogadores rápidos na frente, a defesa não pode ficar tão alta.

Cruzeiro atacando

Com a bola, o Cruzeiro não conseguiu sair da forte marcação imposta pelos defensores corintianos, muito bem treinados por Tite. Os quatro defensores à frente de Cássio permaneceram alinhados durante quase todo o jogo, muito próximos e compactados do lado da bola, e ainda tinham o auxílio de Ralf, patrulhando a entrada da área e negando espaços a Diego Souza. Danilo acompanhava as subidas de Mayke pela direita e Emerson auxiliava Alessandro na marcação.

Com os três meias presos na marcação, sobrava aos volantes pensarem no jogo. Como já dissemos várias vezes aqui no blog, entretanto, o Cruzeiro não tem esse volante passador, que avança ao ataque. Nilton ficou no suporte para o giro da bola de um lado para o outro, mas não arriscava um passe mais vertical. Guerreiro ficou mais atrás na proteção e cobertura de contra-ataques. Mesmo assim, o Cruzeiro chegava perto da área corintiana, mas erros no último passe impediram o Cruzeiro de criar mais chances e o placar permaneceu em branco.

Segundo tempo

Com a correção do posicionamento defensivo, Marcelo usou a velocidade com Élber e Dagoberto nas pontas

Com a correção do posicionamento defensivo, Marcelo usou a velocidade com Élber e Dagoberto nas pontas

Já tendo feito uma troca, Marcelo Oliveira resolveu voltar com o mesmo time, assim como Tite. Mas algo havia mudado: o posicionamento da defesa. Um pouco mais recuada, atenta a eventuais infiltrações de Alexandre Pato e com mais vigor na marcação à frente da área. Com essa opção, o Cruzeiro dava campo para o Corinthians trabalhar mais a bola, e o time paulista não soube o que fazer com ela. Douglas pouco apareceu na partida, e Danilo e Emerson, pelos lados, estavam novamente bem marcados.

Assim, o Cruzeiro foi aos poucos dominando as ações. Aos 15, Marcelo trocou Anselmo por Luan. Com isso, Diego Souza passou a ser o homem mais avançado, Dagoberto foi temporariamente para a direita do ataque e Luan ficou na sua posição tradicional, ponteiro pela esquerda, com Everton Ribeiro como meia central. Era a tentativa de abrir ainda mais o jogo pelos lados, já que pelo centro era bem mais difícil com Ralf protegendo bem o setor.

Élber

Dez minutos depois, Everton Ribeiro daria seu lugar a Élber, que foi jogar na sua posição de costume: ponteiro direito. Dagoberto de voltaria ao lado esquerdo, e Luan recuaria para ser o meia central. O plano de atacar pelos lados ficava ainda mais claro, com dois jogadores velozes nas alas. E o plano funcionou, também porque o Cruzeiro subiu a marcação de novo, mas dessa vez com muito mais ímpeto, forçando o chutão corintiano. Em poucos minutos, Dagoberto seria derrubado pela esquerda e Élber teria duas chances para marcar, a segunda num domínio de bola magistral do passe pelo alto de Diego Souza, mas com uma conclusão horrorosa.

O pênalti pode não ter acontecido, mas o lance que o antecedeu foi um bom resumo do domínio territorial azul no segundo tempo. Passe para Luan, no círculo central, que girou e imediatamente lançou o garoto Élber ganhar na corrida de Fábio Santos e cair dentro da área, causando não só o pênalti mas a expulsão do lateral corintiano por acúmulo de amarelos.

No fim, o Corinthians ainda tentou o empate meio que no desespero, partindo para o ataque com tudo como não tinha feito no jogo todo, mas com um a mais o Cruzeiro não levou mais sustos.

Problemas novos e velhos

É preciso valorizar a vitória, porque foi construída primeiro com um grande goleiro, que evitou os gols que fatalmente mudariam o rumo do jogo, e depois com os acertos de Marcelo Oliveira, no posicionamento da defesa e principalmente nas substituições. Mas o resultado poderia ter sido bem mais tranquilo se tanto o treinador como os jogadores tivesse uma leitura de jogo melhor e mais rápida, reposicionando a defesa para evitar as chances de Pato. Ontem Fábio defendeu tudo, mas em outros dias e contra outros atacantes, isso pode não acontecer.

E, novamente, faltou criatividade ante uma defesa bem posicionada. O Cruzeiro tem boas armas ofensivas, como a movimentação dos meias, bolas aéreas e o jogo pelos lados. Mas o jogo central não flui, pois Diego Souza não é um meia de criação e sim de chegada, e os volantes são muitos mais marcadores que passadores. Não raro era ver o Cruzeiro atacando por um lado, com um dos ponteiros, e Diego Souza e Anselmo Ramon enfiados na área, sem ninguém para receber um passe na entrada da área.

O primeiro problema será resolvido com o tempo, já que é típico de falta de entrosamento e pouca experiência, do treinador e jogadores. Já o segundo pode ser resolvido com a contratação de Souza, apresentado hoje. Então a tendência é melhorar ainda mais, principalmente com a parada para a Copa das Confederações.

A vitória veio. Mas diferente do que a maioria pensa, não é só isso que importa.

Botafogo 2 x 1 Cruzeiro – Aquele ditado

Em outros esportes, ser melhor que o adversário em uma partida ou disputa quase sempre leva à vitória. Mas no futebol essa relação é bem menos direta: você pode ser melhor que o seu adversário em vários aspectos, mas mesmo assim sair de campo derrotado. É o famoso resultado “injusto” (entre aspas porque este blogueiro não acredita em injustiças no futebol).

Foi assim na partida contra o Botafogo em Volta Redonda. O Cruzeiro fez uma partida taticamente quase perfeita no primeiro tempo, mas não conseguiu transformar este domínio em gols, e alguns erros técnicos causaram oportunidades para o time adversário, que, mais eficiente nas finalizações, converteu as chances. O resultado foi ruim, mas taticamente foi uma excelente partida do time azul, o que projeta boas perspectivas.

Onze inicial

O 4-2-3-1 de marcação avançada e compacta fez o Cruzeiro ter mais posse e criar mais chances, quase todas desperdiçadas

O 4-2-3-1 de marcação avançada e compacta fez o Cruzeiro ter mais posse e criar mais chances, quase todas desperdiçadas

O cruzeirense já sabe qual é o time titular do Cruzeiro, e foi esse 4-2-3-1 que iniciou a partida, com a exceção de Borges, lesionado. Fábio no gol, Ceará e Egídio nas laterais direita e esquerda, Dedé e Bruno Rodrigo fazendo a parceria de zaga. À frente da área, Leandro Guerreiro e Nilton faziam a dupla volância atrás da conhecida linha de três meias: Everton Ribeiro partindo da direita para o centro se aproximando de Diego Souza, e Dagoberto mais incisivo pelo lado esquerdo. À frente, Anselmo Ramon foi o centro-avante substituto.

O Botafogo se postou no mesmo esquema, mas Oswaldo de Oliveira não tinha Fellype Gabriel, passador, e portanto teve de fazer mudanças. Protegendo o gol de Renan, os zagueiros Bolívar e Antônio Carlos formavam a linha defensiva com os laterais Lucas pela direita e Júlio César pela esquerda. Mais à frente, os volantes Marcelo Mattos e Gabriel davam suporte aos meias Lodeiro pela direita, Seedorf centralizado e Vitinho pela esquerda. Na frente, Rafael Marques.

Marcação alta, passe errado

Logo no início já se pôde perceber a diferença nas posturas defensivas: o Cruzeiro com um time compacto, linha defensiva alta e intensidade na marcação, com os quatro ofensivos pressionando os zagueiros e laterais e prevenindo passes para os volantes botafoguenses. Provocada a bola longa, os zagueiros cruzeirenses recolhiam a bola com tranquilidade para iniciar mais um ataque. Já o Botafogo se contentava em esperar o Cruzeiro em seu campo, deixando a última linha do Cruzeiro bem à vontade com a bola nos pés, tentando fechar os passes em sua própria intermediária.

Jogar com a defesa avançada é excelente para fechar os espaços, mas tem uma única vulnerabilidade: a velocidade em bolas verticais atrás da defesa. Normalmente, se um jogador tem tempo com a bola nos pés, pode tentar encaixar um desses passes. Esse homem era para ser Seedorf, mas o meio-campo cruzeirense marcava bem e não deixava o holandês ter liberdade ao receber a bola. É irônico, portanto, que este passe tenha vindo dos pés de um cruzeirense: Leandro Guerreiro. O camisa 55 tomou à frente de Vitinho e passou pra trás procurando Dedé, mas passou no contrapé do zagueiro, deixando a bola livre atrás da defesa azul. O próprio Vitinho vinha na corrida e tomou à frente de ambos, levando até a grande área e passando a Lodeiro do outro lado, que avançava sem marcação, já que a defesa ainda corria para trás.

Chances desperdiçadas

Após o gol, o Cruzeiro precisou de um certo tempo, mas voltou à estratégia do início da partida. O resultado foi uma posse de bola “barcelonesca” para o time celeste, que ultrapassou os 60% em um determinado momento da partida. Ter mais posse geralmente significa criar mais chances, mas que foram desperdiçadas em conclusões ruins ou decisões erradas no último passe.

Exemplos: bola de Guerreiro para Ceará ultrapassar livre pela direita, que cruzou fazendo a bola sobrar nos pés de Anselmo Ramon. O 99 chutou duas vezes em cima do goleiro, desperdiçando grande oportunidade. Em outro lance, já após o gol merecido de empate, Éverton Ribeiro ganhou de seu marcador e avançou até a área, mas tentou driblar a cobertura quando tinha Anselmo Ramon penetrando livre e de frente para o gol para concluir no centro.

Um bom resumo está no número de finalizações. Enquanto o time mandante concluiu 4 vezes, o Cruzeiro concluiu 8, o dobro. Mas em gol foram apenas 3 para cada lado: 75% de eficiência contra 38%.

Quem não faz…

As máximas do futebol são folclóricas, mas não seriam máximas se não acontecessem frequentemente. Muricy Ramalho, recém-demitido do Santos, diria que “a bola pune”.

Pelo amarelo no primeiro tempo — e não pelo erro individual — Leandro Guerreiro deu seu lugar a Lucas Silva no intervalo. A intenção era prender Nilton e soltar o garoto, que vai bem mais à frente do que os volantes titulares, para justamente ter ainda mais a posse de bola e ao mesmo tempo não desproteger a retaguarda. Deu certo e o Cruzeiro já chegou criando chances com Diego Souza aos 5 (para fora), Everton Ribeiro, aos 7 (em cima da zaga) e Dagoberto aos 8 (defendida por Renan). A virada parecia questão de tempo.

Mas aos 10, Nilton levantou demais o pé dentro da área, num lance totalmente controlado, e o juiz apontou um pênalti altamente contestável. Pênalti convertido, e a nova desvantagem no placar parece ter desanimado os jogadores, que sabiam estar dominando a partida e mesmo assim sofreram um gol — é o futebol. O Botafogo cresceu na partida e o Cruzeiro já não tinha o mesmo físico para fazer a pressão alta, o que equilibrou o confronto. O jogo cadenciado favoreceu Seedorf, que até aquela altura fazia um jogo tímido. O holandês começava a aparecer perigosamente na partida, tendo tempo com a bola nos pés para pensar o melhor passe.

Outras substituições

Aos 20, Dagoberto, escondido no jogo, deu seu lugar a Luan. O posicionamento é o mesmo, mas a característica muda, pois Luan é mais físico que o camisa 11. Sete minutos depois, Everton Ribeiro, que vem deixando a desejar, cedeu seu lugar a Ricardo Goulart. Diego Souza foi para a direita e Goulart ficou por dentro. As alterações não mudaram o panorama do jogo, que seguiu equilibrado com chances de parte a parte, mas desperdiçadas — desta vez por ambos os times.

No Botafogo, a primeira mudança foi aos 38, com o volante Renato entrando na vaga de Lodeiro. Isso liberou Vitinho para se movimentar pelos dois lados, com Renato mais preso para dar mais consistência ao meio-campo. Depois foram substituições protocolares para ganhar tempo e garantir o resultado.

Evoluir sempre

Sem analisar o que foi a partida, um torcedor mais desavisado pode achar que o Botafogo tem um time melhor que o Cruzeiro. Este blogueiro discorda, e afirma categoricamente que o Cruzeiro é mais time que o Botafogo, principalmente se considerarmos a desvantagem no tempo de trabalho do treinador. A marcação avançada, sufocando o Botafogo em seu próprio campo é fruto de um trabalho bem feito e mostra que Marcelo quer um futebol moderno no Cruzeiro de 2013.

Mas como não é só a parte tática que traz resultados, outros aspectos causaram o revés de sábado. Passes errados em momentos chave, decisões erradas na conclusão da jogada, finalizações ruins — tudo entra na conta da parte técnica. E o desânimo após o segundo gol botafoguense também impediu um eventual empate, já que permitiu ao Botafogo que crescesse na partida. É preciso, portanto, treinar estas situações mais exaustivamente. Aparentemente, é o que será feito.

Mais uma vez: taticamente, foi uma excelente partida. Ainda é preciso corrigir algumas coisas aqui e acolá, principalmente na chegada à frente de um dos volantes, algo que insisto nesse blog há algum tempo. Defensivamente, é preciso afinar a compactação e a marcação alta, que tem que ser mais sincronizada, mas o Cruzeiro me parece uma equipe bem sólida.

Uns dirão que o empate seria o resultado mais justo, mas eu não. O resultado “justo” seria a vitória. Mas assim é o futebol.

Cruzeiro 4 x 0 Resende – Placar “mentiroso”

Quem lê este título pode achar que este blogueiro ficou maluco. Afinal o Cruzeiro foi bem superior ao Resende ontem no Mineirão pela Copa do Brasil e mereceu a vitória elástica. Mas o título tem razão de ser: o Cruzeiro foi tão superior que deveria ter feito mais gols, caso tivesse acertado mais o pé nas finalizações.

Taticamente, as novidades foram a liberdade de Dedé e a variação de ritmo de jogo, mostrando novas facetas para a disputa do Campeonato Brasileiro, dignas de um time bem treinado.

Escalações

Os avanços de Dedé e dos laterais foram marcantes no móvel 4-2-3-1 cruzeirense do 1º tempo

Os avanços de Dedé e dos laterais foram marcantes no móvel 4-2-3-1 cruzeirense do 1º tempo

O maleável 4-2-3-1 de Marcelo Oliveira teve Fábio debaixo das traves, Dedé na zaga direita e Bruno Rodrigo na esquerda. Ceará e Egídio, titular mais uma vez, foram os laterais. A dupla de volantes foi a mesma de sempre, Guerreiro e Nilton, atrás do trio Everton Ribeiro, Diego Souza e Dagoberto, todos procurando a referência na área ofensiva, Borges.

Para tentar parar os laterais cruzeirenses, o técnico Paulo Campos escalou o Resende num esquema pouco usual: o 4-4-2 britânico, com duas linhas atrás dos atacantes. Defendendo o gol de Mauro, os zagueiros Admilton e Thiago Sales foram flanqueados por Marcelo à direita e Kim à esquerda. A segunda linha tinha os meias Guto e Rafael Carioca abertos, com Denilson e Valdeci fechando a entrada da área. Na frente, Acosta e Geovani Maranhão.

Estilos de defesa

De cara, o que chamou a atenção foi a pegada cruzeirense. Os jogadores disputavam a bola como se fosse uma final, parecendo

que estavam em desvantagem. Marcação curta e alta, com correria pra roubar a bola o mais rápido possível. Quando tinha a bola, sabia alternar velocidade com a paciência, um pouco diferente do jogo cadenciado que vinha desenvolvendo no início da temporada. Isso é uma grande evolução, já que torna o time mais imprevisível e dificulta bastante o trabalho defensivo adversário.

Se o plano defensivo de Marcelo Oliveira deu certo, o mesmo não pode ser dito do treinador do time visitante. Primeiro porque deixou os atacantes Acosta e Geovani Maranhão na linha do meio-campo, sem pressionar a saída de bola, dando muita liberdade para os zagueiros e volantes cruzeirenses pensarem o jogo sem ser incomodados. E depois porque usou marcação individual por setor — ou seja, o jogador persegue o adversário que ingressar na sua zona até o fim da jogada. Com a movimentação constante do ataque do Cruzeiro, espaços abriam-se em profusão na retaguarda do Resende.

Jogo lateral

Espaços esses que eram aproveitados por Ceará e Egídio. Com os volantes do Resende tentando bloquear a entrada da área pelo meio, era um caminho natural procurar os flancos. Os ponteiros da segunda linha do Resende, Guto e Rafael Carioca, até que tentavam acompanhar os avanços dos laterais cruzeirenses pelo setor, mas eram sobrecarregados com a chegada de trás de Guerreiro e Nilton. Além disso, ainda havia o suporte dos meias. E foram em jogadas nestes setores que se originaram os lances de bola parada dos dois primeiros gols.

Tudo isso contribuiu para que este fosse o jogo em que o Cruzeiro menos tivesse posse de bola pelo meio: apenas 20,98%, bem abaixo da média de 29,03% até o jogo anterior. Pelos lados, os números demonstram a imprevisibilidade do time: aproximadamente 38% de posse pela esquerda e 40% pela direita (números da Footstats disponibilizados no site da ESPN Brasil).

Zagueiro ofensivo

Este ligeiro favorecimento do Cruzeiro pelo lado direito talvez seja explicado pelos constantes avanços de Dedé. Bem na sua característica, o estreante da noite tinha liberdade total para se juntar ao ataque, num movimento que parecia estar treinado há muito tempo. Guerreiro e Nilton se alternavam na recomposição da zaga quando Dedé avançava como homem-surpresa.

O interessante é que esta movimentação é uma forma diferente de resolver um problema que este blog já vem levantando há algum tempo, que é a falta de um volante criativo e ofensivo no meio-campo celeste. Com um dos volantes defensivos cobrindo a zaga, Dedé pode ser este homem, arrastando consigo a marcação e abrindo espaços preciosos para seus companheiros. É claro que a postura defensiva do Resende, tentando evitar uma goleada histórica, contribuiu para que Dedé tivesse todo o espaço que teve. Mas não deixa de ser uma característica que deve ser bem explorada pelo time celeste no Brasileiro.

Segundo tempo

Nilton se machucou no último lance da etapa inicial e teve de ser substituído no intervalo. Marcelo Oliveira escolheu Lucas Silva, e com isso Dedé passou a ficar mais contido, já que o garoto tende a avançar mais para o ataque e dar opção de passe do que os dois volantes titulares. Mas fora isso, não houve nenhuma mudança tática significativa. Já no Resende, Paulo Campos fez uma dupla substituição: Vinicius Casão entrou na vaga de Guto mas ficou mais avançado, numa tentativa de contar os avanços de Egídio; e Deoclécio entrou na vaga de Denilson para cobrir aquele setor, formalizando um 4-3-3 “defensivo”, ou seja, com três jogadores em linha no meio, ao invés do triângulo usual.

Mas logo as três minutos o Cruzeiro ampliaria em contra-ataque bem executado, iniciado por um bote certeiro de Egídio, que passou por Everton Ribeiro antes de Borges fuzilar de fora da área. A imensa vantagem fez com que o Cruzeiro passasse a tocar mais do que dar velocidade, mas sem chegar os níveis alarmantes de preguiça do jogo de ida em Volta Redonda. E o Resende, já sem esperanças de se classificar, simplesmente queria terminar a partida de forma honrosa, talvez marcando um gol num estádio de Copa do Mundo. A soma destes dois fatores fez com que o jogo ficasse um pouco mais lento.

Mais uma estreia

Com a entrada dos jovens, um 4-2-3-1 mais "tradicional", com dois ponteiros de fato e um volante que sai mais para o jogo

Com a entrada dos jovens, um 4-2-3-1 mais “tradicional”, com dois ponteiros de fato e um volante que sai mais para o jogo

Aos 15, Élber entrou na vaga de Everton Ribeiro, mantendo o 4-2-3-1 inicial mas com o garoto bem mais aberto pela direita. No Resende, Acosta daria lugar a Clebson Monga, uma substituição direta de centro-avante por centro-avante. E no Cruzeiro, Dagoberto deixaria o campo para a estreia de Lucca, que também jogou aberto na esquerda.

Renovado com a energia dos jovens, o Cruzeiro passou a buscar mais o gol, e ele naturalmente veio em jogada dos dois ponteiros. Élber recebeu na direita e achou Lucca dentro da área, totalmente sem marcação, que concluiu com eficiência. Gol logo na estreia para um jogador muito promissor, garantindo a goleada “oficial” (porque 3 x 0, para este blogueiro, não é goleada, nem nunca foi).

Agora é o Brasileirão

A classificação para a terceira fase da Copa do Brasil era mais que esperada, e foi com autoridade, com superioridade durante os 180 minutos. O Cruzeiro jogou bem tecnicamente (apesar de algumas finalizações erradas) e taticamente, mostrou ter peças de reposição e vontade mesmo em partidas em que possui grande vantagem. Ainda houve a estreia de dois reforços que pareciam estar entrosados há muito tempo. É o que dizem: em time bem montado, o encaixe de novas peças é mais fácil.

Então, por tudo isso, acredito que o Cruzeiro está preparadíssimo para a disputa do Brasileirão. Alguns comentaristas ainda não colocam o Cruzeiro como favorito: neste guia, por exemplo, o Cruzeiro está no mesmo patamar do Santos — o que é ridículo — e atrás de Botafogo, Inter, Grêmio e São Paulo, que são no máximo do mesmo nível. Mas como não jogamos o Paulista nem o Carioca — que cá pra nós, são campeonatos bem fraquinhos — e estamos fora da Libertadores (por enquanto), ninguém sabe da força do nosso time senão nós cruzeirenses.

Mas talvez assim seja melhor. Cinco rodadas antes da Copa das Confederações mostrarão ao resto do Brasil que o velho Cruzeiro, que todos temem, está de volta.

Cruzeiro 2 x 1 Atlético/MG – Com onze contra onze é outra história

O Cruzeiro venceu o seu rival, consolidando os 100% de aproveitamento no Mineirão em 2013 e quase conseguiu uma título histórico sobre o melhor time que o rival teve nos seus últimos anos. Uma partida que serviu para provar que o caneco era sim uma possibilidade bem real, não fosse a expulsão no primeiro jogo — àquela altura o jogo estava 1 x 0 e o Cruzeiro ensaiava uma reação.

O jogo em si foi muito mais decidido em termos de estratégia do que propriamente na parte tática, mas o Cruzeiro soube explorar bem alguns pontos fracos do Atlético Mineiro e venceu merecidamente.

O onze inicial

No 1º tempo, Diego Souza e Everton Ribeiro ocuparam os volantes adversários para dar liberdade a Dagoberto nas costas de Marcos Rocha pela esquerda

No 1º tempo, Diego Souza e Everton Ribeiro ocuparam os volantes adversários para dar liberdade a Dagoberto nas costas de Marcos Rocha pela esquerda

Marcelo Oliveira mandou o 4-2-3-1 usual a campo, com duas mudanças na linha defensiva de Fábio: Paulão na vaga do suspenso Bruno Rodrigo e Egídio promovido à lateral esquerda. Léo e Ceará na direita completaram a defesa. Leandro Guerreiro se plantou na cabeça da área, tendo Nilton a seu lado como suporte. À frente, Diego Souza se movimentava, ajudado por Everton Ribeiro à direita e Dagoberto pela esquerda, no posicionamento mais espetado de costume. Borges foi a referência dentro da área ofensiva.

O Atlético Mineiro de Cuca,  também no 4-2-3-1, veio com a mesma defesa do primeiro jogo, contrariando expectativas pela volta de Leonardo Silva à zaga. O gol de Victor foi mais uma vez defendido por Réver e Gilberto Silva, flanqueados por Marcos Rocha pela direita e Richarlyson pela esquerda. No lugar do suspenso Pierre, Josué fez a dupla volância com Leandro Donizete. E à frente, o quarteto ofensivo costumeiro: Tardelli partindo da direita, Bernard da esquerda, Jô de centro-avante e Ronaldinho na faixa central.

Estratégias

Com grande vantagem no placar agregado, o Atlético Mineiro jogou todo o primeiro tempo se poupando. Talvez já estivessem pensando na partida pela Libertadores, mas não foi a postura “normal” do time rival, aquela que vem arrancando elogios pelo Brasil afora: intensidade e marcação avançada. Um estilo de jogo que se encaixa mais na proposta cruzeirense, de rodar a bola, cadenciar e esperar os momentos certos para acelerar o jogo. Assim, os quatro homens de frente dos visitantes limitaram-se a dar o primeiro combate na linha de meio-campo, tentando pegar um erro de passe do Cruzeiro para encaixar um contra-ataque.

Porém, o Cruzeiro foi paciente, mesmo sabendo que devia fazer três gols e não levar nenhum para ser campeão. Tocou a bola com paciência e aos poucos achou as brechas na marcação atleticana. Mas não sem se arriscar, pois assim é o futebol, e o Atlético Mineiro teve algumas chances em contra-ataques nas costas dos laterais — mais especificamente Egídio, que apoiava com mais intensidade. Do outro lado, Ceará venceu mais uma vez o duelo com Bernard e foi seguro na marcação, apoiando só na boa.

Caminhos do gol

Com os flancos bloqueados, restou ao time rival atacar pelo centro. Mas Ronaldinho se aquietou diante da ótima marcação individual de Leandro Guerreiro — que desta vez se limitou a fazer apenas isso, como na partida inaugural da temporada. Assim, restou a Jô tentar desarrumar a defesa cruzeirense. O grandalhão até que ganhou alguns duelos individuais, mas sempre havia mais cruzeirenses que atleticanos na segunda bola, e assim a principal jogada aérea estava comprometida.

No Cruzeiro foi o inverso. Richarlyson era lateral zagueiro e quase nunca apoiava, mas o ímpeto ofensivo natural de Marcos Rocha abria espaço às suas costas. Dagoberto explorou muito bem este setor, ajudado pela movimentação de Diego Souza e Éverton Ribeiro, que ocupavam os volantes adversários em duelos sem claros vencedores, obrigando Gilberto Silva a fazer a cobertura no um contra um. Assim nasceu o lance do primeiro pênalti. O drible veloz venceu a experiência e o próprio Dagoberto converteu o pênalti sofrido.

A desvantagem no placar não mudou a postura do time visitante, que continuava assistindo a posse paciente do Cruzeiro e tentando partir em velocidade. O lance do segundo pênalti mostra a diferença de atitude: Richarlyson foi tranquilo demais para uma bola que parecia perdida, enquanto Borges foi com sede ao pote, resultando no pênalti convertido que reduziu a vantagem atleticana ao mínimo.

Segundo tempo

Sem alterações, os times voltaram com posturas diferentes. O Atlético Mineiro avançou a marcação e tentou ficar mais com a bola nos pés, e aí o jogo mudou de lado. O time visitante tentou sair pro abafa para marcar logo o gol que praticamente selaria o caneco. Mas o Cruzeiro se defendia bem e só deixou a meta de Fábio ser ameaçada em um chute de Jô na trave. Mas esse estilo de jogo não era suficiente, pois o Cruzeiro precisava de mais um gol e não de se defender, e por isso Marcelo Oliveira mandou Ricardo Goulart na vaga de Diego Souza. Goulart é mais criativo e tentaria passes mais incisivos.

A alteração surtiu algum efeito, já que o jogo ficou mais equilibrado, com uma chance de cada lado: Réver em cabeceio para linda defesa de Fábio e Borges em lance de contra-ataque que Victor defendeu. Logo depois desse lance, ele sairia para Anselmo Ramon, numa tentativa de Marcelo Oliveira de usar o feitiço contra o feiticeiro: bola longa para o pivô disputar de cabeça ou segurar para os companheiros chegarem, afastando o time rival da área defensiva.

Erro fatal

No fim, o Cruzeiro foi para o abafa, muito mais na vontade, mas não superou a linah de 5 defensores do rival

No fim, o Cruzeiro foi para o abafa, muito mais na vontade, mas não superou a linha de 5 defensores do rival

Durante dez minutos, nos quais houve somente trocas diretas — Ceará por Mayke, e no rival, Bernard por Luan, e Jô por Alecsandro — o jogo ficou aberto, com qualquer lado podendo marcar. O Cruzeiro teve chances e ensaiava um domínio quando Egídio, que ironicamente era um dos melhores do jogo, errou um passe e entregou a bola para Luan, que avançou pra cima de Léo. O próprio Egídio dobrou a marcação com o zagueiro e Luan caiu dentro da área. O pênalti inexistente foi marcado, e o gol do rival esfriou o que poderia ser um fim de jogo eletrizante.

A partir daí o Cruzeiro foi pra cima mais na vontade. O Atlético se contentou em segurar o Cruzeiro, sabendo que agora tinha dois gols de vantagem. Na única alteração tática da partida, Cuca mandou Leonardo Silva a campo na vaga de Diego Tardelli, fechando a porta da área num 5-3-1-1 com o recuo dos alas para a linha dos três zagueiros e explorando o contra-ataque, que agora era cedido amplamente pelo Cruzeiro. Marcos Rocha quase faz um golaço assim, mas Fábio salvou.

O Cruzeiro ainda teve algumas finalizações, e Luan ainda seria expulso por falta em Dagoberto, faltando três e acréscimos para terminar, mas se sentou no gramado após o cartão e a confusão que se sucedeu enterrou as esperanças dos gols necessários.

Foi por pouco

A segunda vitória do Cruzeiro sobre o rival no ano foi inconteste e merecida, provando que o time atleticano não está tão à frente como pregam. O título não veio, mas a vitória, com autoridade, mostrou que o Cruzeiro tinha sim time para fazer frente ao tão “badalado” rival também no primeiro jogo. Não há como negar que a expulsão de Bruno Rodrigo foi fator determinante para o placar elástico naquela partida.

Com cinco meses de trabalho, um time ainda em formação conseguiu equilibrar uma decisão praticamente perdida contra uma equipe que joga junto há dois anos. O início de trabalho é excelente. É claro que os jogadores precisam se entrosar ainda mais, tendo em vista que alguns jogadores ainda nem estrearam, como Dedé e o possível volante passador que virá, assim como o próprio Marcelo Oliveira precisa conhecer mais as características de seus jogadores e ter a leitura correta do jogo em situações adversas.

Assim, se o Cruzeiro fosse campeão, não seria nada surpreendente. Apenas serviria para alertar o Brasil todo o que nós, cruzeirenses, já sabemos desde o ínicio da temporada: o bom e velho Cruzeiro está de volta e vai brigar na frente nesta temporada. Por outro lado, o fato de não termos campeonado tenha este único aspecto bom: ninguém vai olhar para nós como favoritos, e todos apostarão suas fichas em outras equipes. Enquanto isso o Cruzeiro vai comendo pelas beiradas, e quando prestarem atenção, já estaremos à frente.

Como bons mineiros.