Cruzeiro 1 x 3 Botafogo – Nem tudo são espinhos

Usando o mesmo estilo de jogo do Cruzeiro no primeiro turno, para nosso azar, o Botafogo esperou um turno inteiro para devolver na mesma moeda a derrota sofrida naquela partida.

As formações iniciais

A movimentação de Leandro Guerreiro para que Everton pudesse avançar e formar um 4-1-4-1 foi fundamental para o equilíbrio das ações no início do jogo

Celso Roth tentou repetir o time da vitória sobre o Náutico, mas Charles foi suspenso e Sandro Silva foi para o jogo. Em uma primeira análise, foi uma opção estranha, já que Sandro é naturalmente reserva de Leandro Guerreiro na base do losango de meio-campo. Entretanto, com cinco minutos de jogo, a razão teria ficado mais clara, como veremos adiante. No início, o Cruzeiro se postou num 4-2-2-2 estreito demais: Fábio no gol, Léo na lateral direita, Everton na esquerda, Rafael Donato e Mateus fechando a defesa. Leandro Guerreiro e Sandro Silva protegiam a área e liberavam Tinga e Souza para armar. Na frente, Wallyson e Borges.

O Botafogo entrou no 4-2-3-1 tradicional: Renan debaixo das traves era defendido pela dupla de zaga Dória e Fábio Ferreira, flanqueados pelos laterais Lucas na direita e Márcio Azevedo na esquerda. Gabriel e Jádson na dupla volância, e mais à frente o quarteto ofensivo, com o trio Fellype Gabriel na direita, Andrezinho centralizado e Seedorf na esquerda atrás de Elkeson. No encaixe de marcação, ficou claro que Everton ficou sobrecarregado com a marcação de Fellype Gabriel e o avanço de Lucas. O mesmo ocorria do outro lado, com Léo tendo que se virar contra Seedorf e o ofensivo lateral esquerdo Márcio Azevedo. Assim, o Botafogo controlou o meio-campo, tinha mais posse e mais amplitude. O Cruzeiro nem pegou na bola nos cinco minutos iniciais.

Leandro Guerreiro e Everton

Então veio a mudança tática: Leandro Guerreiro deixou Sandro Silva marcando Andrezinho, e recuou à lateral esquerda para dar suporte a Everton e marcar Fellype Gabriel; Everton virou ponteiro esquerdo e foi marcar Lucas à frente. Do outro lado, Wallyson recuava acompanhando Márcio Azevedo e Léo ficou responsável por Seedorf. O novo 4-1-4-1 equilibrou a marcação e fazia o Cruzeiro ter mais volume, empurrando o Botafogo para trás. O setor mais perigoso do Cruzeiro era o esquerdo, e foi por este lado que saiu o gol: Souza recebeu por ali e lançou Borges em profundidade. Fábio Ferreira falhou e Borges saiu na cara de Renan, mas não conseguiu vencer o arqueiro botafoguense. Tinga, que vinha correndo para acompanhar o ataque, pegou o rebote num chute muito mais difícil que o de Borges e marcou seu primeiro gol com a camisa celeste.

O gol atordoou o Botafogo. O Cruzeiro teve volume, muito volume, e teve uma chance de ouro para ampliar com Everton, que estava vencendo o duelo contra o lateral direito Lucas. O volante-lateral disparou em velocidade, sua característica, e ao receber passe de Souza, em um só toque driblou seu marcador e invadiu a área. A opção era tocar para Wallyson, que vinha correndo do outro lado, marcar, mas ele chutou para fora. Um gol perdido que faria falta e poderia ter mudado a história do jogo.

A movimentação do quarteto ofensivo do Botafogo

O Botafogo foi controlando os nervos à medida que o Cruzeiro desperdiçava o bom momento. O quarteto ofensivo do Botafogo se movimentava, invertendo posições e tentando confundir a marcação cruzeirense, que estava muito bem. E conseguiram fazer isso por uma única vez. Souza ainda estapeava o gramado, reclamando de uma suposta falta que teria recebido, quando Fellype Gabriel, desta vez na direita, já cruzava a bola que atravessaria toda a área para encontrar Seedorf, que se movimentou às costas de Guerreiro e emendou um lindo chute de primeira no canto direito de Fábio. Com os ponteiros adversários invertidos, a marcação se confundiu.

Nem deu muito tempo de avaliar o impacto do gol, porque logo no minuto seguinte, o Botafogo viraria o jogo, novamente em passe de Fellype Gabriel para Seedorf. Desta vez eles estavam em suas posições iniciais, mas quem marcava Fellype Gabriel era Everton, já que Guerreiro estava vigiando Lucas neste lance. Quando o meia dominou dentro da área, Léo bobeou na marcação e Seedorf tomou-lhe à frente, recebeu o passe e finalizou no cantinho para decretar a virada.

Agora era a vez do Cruzeiro se sentir atordoado. O time começou a errar passes que não estava errando, fruto do nervosismo de um time ainda em formação e que está atrás no placar. Wallyson, que fazia boa partida defensivamente, não fez o mesmo atacando, e naturalmente começou a ser cobrado pela torcida, ávida pelo gol de empate. O nome de Élber era ouvido em alguns lugares da arquibancada. Mesmo assim, o Botafogo contentou-se em aguentar as tentativas cruzeirenses e tentar sair só na boa, o que não aconteceu nenhuma vez até o fim do primeiro tempo.

No segundo tempo, o contra-ataque fatal

No intervalo, Celso “atendeu” o pedido da torcida e mandou Élber a campo no lugar de Wallyson. Também, tirou Sandro Silva do jogo e mandou Wellington Paulista. Com isso, Everton voltou à lateral, Leandro Guerreiro voltou ao meio campo mas Tinga não recuou e continou sendo meia: era um 4-3-3 clássico, com triângulo alto no meio – um 4-1-2-3 para ser mais exato, mas com WP mais centralizado do que aberto pela esquerda. No Botafogo, Fellype Gabriel deu lugar ao centro-avante Willian, com Elkeson voltando para o meio-campo aberto pela direita, mantendo o 4-2-3-1.

Foram dez minutos de tentativas pelo alto e cruzamentos infrutíferos na área. O Botafogo se defendia e tentava sair em contra-ataques, quase sempre com Seedorf pela esquerda. Em uma bola parada, a zaga botafoguense conseguiu fazer exatamente isso. Seedorf e Guerreiro apostaram corrida, vencida pelo primeiro, que num toque só pôs na frente e tirou do alcance do volante. Imediatamente mandou para o centro, onde chegavam nada menos do que quatro jogadores adversários sem marcação. Fábio ameaçou sair, recuou e só saiu de vez quando Jádson dominou, mas foi driblado. Everton não conseguiu salvar a conclusão.

Outras tentativas

No fim, Cruzeiro com muita gente no ataque tentando diminuir no abafa, num 4-2-1-3 com Everton bem avançado e até Mateus saindo para o jogo

Com o jogo decidido aos 10 do segundo tempo, Celso Roth resolveu que não queria mais tomar contra-ataques deste tipo e recompôs o meio com William Magrão no lugar de Souza. Agora era Tinga quem ficava centralizado, com William Magrão tendo certa liberdade para avançar. O Cruzeiro não jogava pelo chão, e insistia muito nas bolas aéreas, tanto com Everton pela esquerda quanto com Élber pela direita. Dominou a posse, muito mais por estratégia do Botafogo de absorver as investidas do que por mérito próprio. Oswaldo de Oliveira, então, fez sua segunda mexida, para fechar o time e segurar o resultado: tirou Willian, aquele mesmo que entrou no início do segundo tempo, para colocar o zagueiro Brinner, e fazer um 5-3-1-1 para matar o quase 3-2-3-2 cruzeirense com o posicionamento alto de Everton.

Mesmo assim, o Cruzeiro ainda teve forças para criar algumas chances, como na jogada de WP recebendo passe de Borges, que fez o pivô. O atacante não foi fominha e passou a Everton que chegava livre pelo lado esquerdo, mas o chute foi dividido com o goleiro Renan e a bola saiu raspando a trave. Mas foi só.

Derrota com pontos positivos?

Não devemos atribuir o revés sempre a erros nossos. Há mérito do outro lado e é preciso reconhecer isso. Taticamente foi um jogo igual, a diferença foi na técnica: quando o Botafogo teve as chances, converteu, e o Cruzeiro não. Se Everton fizesse aquele gol no primeiro tempo, o jogo teria sido outro, mas o “se” não existe no futebol. O que vale é o resultado final — que na não tão modesta opinião deste blogueiro, sempre é justo. O Botafogo fez uma excelente partida e executou melhor a sua estratégia.

Assim, posso até estar exagerando um pouco nesta análise — pois quem me conhece sabe que sou otimista por natureza — mas acredito que este time que jogou ontem é muito mais consistente e equilibrado do que o do início do ano com Vágner Mancini, e até mesmo do que aquele do início do campeonato. É claro que ainda há muitas coisas a melhorar, mas a evolução em relação ao início do ano é clara. Por exemplo, ao contrário do que se imagina, Roth tem feito cada vez menos experiências, e portanto podemos dizer que o time tem sim uma estrutura tática. Everton me parece uma realidade pelo lado esquerdo, principalmente na parte ofensiva, tendo suporte; Wallyson ainda precisa ganhar mais confiança ofensiva, mas tem se destacado taticamente, o que é fundamental.

É sempre bom lembrar que o Cruzeiro jogou sem Ceará e Montillo, peças fundamentais nesse esquema e que dariam outra característica ao time. Também temos Lucas Silva e Charles como opções para o meio, e Martinuccio, meia canhoto, pode se integrar ao grupo em breve.

Portanto, apesar da derrota, vejo pontos positivos. Mas infelizmente, creio que só vamos ter frutos no ano que vem — isso se não mudarem o treinador, é claro.

Cruzeiro 3 x 0 Náutico – Virada tática

Depois de tomar um baile tático no primeiro tempo, Celso Roth errou na primeira mas acertou na segunda substituição, abrindo caminho para o maior placar cruzeirense do Campeonato até aqui.

Wallyson muito centralizado no 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, estreitando o time e facilitando a marcação encaixada do superlotado meio-campo do Náutico

Primeiro onze

Roth repetiu o sistema pelo quinto jogo seguido, mandando a campo um 4-3-1-2 losango formado por Fábio no gol, Léo novamente mais preso na lateral direita, Everton mais solto na esquerda, e Rafael Donato e Mateus fechando o centro da defesa. De volta ao time, Leandro Guerreiro foi a base do meio-campo, que ainda tinha Tinga pela esquerda e Charles pela direita. Substituto do vetado Montillo, Souza foi o homem de ligação no topo do losango, pensando o jogo para Wallyson e Borges.

Alexandre Gallo certamente estudou as partidas do Cruzeiro. O Náutico entrou armado num 3-4-2-1 variava para um 3-5-1-1, lotando o meio campo. O gol de Gideão foi protegido por Ronaldo Alves, Alemão e Jean Rolt. No meio, uma linha defensiva alta, com Patric na direita correndo por todo o flanco com Everton, João Paulo na esquerda tentando explorar as costas de Léo, e Dadá e Souza combatendo muito pelo centro, junto com Martinez, que tinha mais liberdade para se juntar ao ataque formado por Lúcio atrás de Araújo.

Alta densidade demográfica

Logo nos primeiros minutos já ficava claro a tônica da primeira etapa: o time visitante, com dois homens a mais no meio-campo, tinha mais opções de passe e ficou mais com a bola no pé. Os jogadores cruzeirenses apertavam a marcação, mas sempre havia um pernambucano livre. Porém, com poucos alvos à frente, o meio-campo do Náutico não produziu nada muito incisivo. As principais jogadas do adversário vinham pelos flancos, principalmente pelo esquerdo, onde Léo ficava mais preso e esperava o avanço do ala esquerdo João Paulo.

A superlotação do setor central fazia o Cruzeiro ficar sem espaço para pensar o jogo quando tinha a bola, recorrendo a passes arriscados e errando a maioria deles, aumentando ainda mais a posse de bola do time adversário. Com o tempo, o Cruzeiro passou a ignorar o meio-campo e procurar a ligação direta, mas Borges não tem perfil de disputa pelo alto e quase sempre perdia. E mesmo quando ganhava, a segunda bola era sempre do Náutico, pelo simples fato de ter mais gente por perto.

A ponta direita

Outro fator tático interessante do primeiro tempo foi a postura de Wallyson. Como em quase todos os esquemas com três zagueiros, as áreas mais vulneráveis do sistema pernambucano eram os flancos de sua defesa. Quando o time adversário tem um jogador aberto no ataque, ou um zagueiro tem que sair da área para cobrir, ou o ala perde a vantagem de marcar à frente e tem que recuar. Infelizmente, Wallyson não repetiu as boas atuações táticas das últimas partidas e insistia em ficar próximo a Borges, talvez numa tentativa de fazer número. Do outro lado, Everton não apoio tanto devido ao posicionamento alto de Patric, mas mesmo assim criou algumas boas jogadas, como no passe recebido de Souza por cima da defesa em velocidade.

No intervalo, as equipes não mexeram nas peças, mas Celso Roth percebeu o problema na ponta direita e chamou a atenção de Wallyson, que voltou jogando mais aberto. Imediatamente a equipe melhorou de produção e chegou a criar três boas oportunidades, todas pela ponta direita e com a participação de Wallyson. O bandeira deu três impedimentos seguidos. Estranhamente, o time parou de jogar por ali, recorrendo cada vez mais às bolas longas para a disputa pelo alto e tentativa de pegar a sobra — o chamado jogo de “primeira e segunda bola” que Celso Roth tanto menciona em suas entrevistas quando se refere ao tipo de jogo praticado no Independência.

Um erro e um acerto

Aos 15 minutos, os primeiros movimentos dos treinadores: Gallo mandou Kim, mais veloz, na vaga de Araújo, e Lúcio deu lugar a Rogerinho. O sistema permaneceu. No Cruzeiro, Celso Roth tirou Charles, contundido, e lançou Wellington Paulista. Estava claro que ele queria insistir na disputa pela primeira bola no alto, e WP consegue fazer isso melhor do que Borges. Mas o novo 4-3-3 cruzeirense tinha ainda menos jogadores no meio, e tomou um susto justamente no flanco que Charles protegia — o direito. Kim passou por Donato e tocou a João Paulo, que entrava sem marcação na área. Ele centrou, mas Souza não conseguiu finalizar.

Roth então iluminou-se e tirou Wallyson do jogo, mandando Élber fazer a função de ponteiro direito, um pouco mais longe da área, fechando o lado, mas aberto e procurando a velocidade. E mal o garoto entrou, já criou problemas: três lances de perigo pelo lado direito, o terceiro resultando na falta que originou o primeiro gol. O gol foi um lance de oportunismo de Borges, mas na opinião deste blogueiro, era questão de tempo, com o lado esquerdo pernambucano sendo explorado por Élber com qualidade.

Espaço

Após as alterações, Élber explorando a vulnerabilidade do flanco esquerdo do Náutico e Sandro Silva igualando o número de jogadores de meio, no 4-3-2-1 que pendia para a direita

Gol este que mudou o panorama da partida. O Náutico, naturalmente, teve que abandonar sua estratégia de lotar o meio-campo e atacar. Gallo gastou sua última cartada mandando o atacante Romero a campo no lugar do volante Dadá. Os três zagueiros permaneceram compondo a última linha do agora 3-4-1-2 pernambucano. Um minuto depois, Borges sairia para a entrada de Sandro Silva, e assim o Cruzeiro tinha dois volantes puramente de marcação à frente da área — um 4-3-2-1 torto: cinco contra cinco no meio, mas sem um jogador pela esquerda do ataque.

Mas não fez diferença, porque quem ultimamente tem dado amplitude pela esquerda é Everton. Foi com ele que nasceu o segundo gol, em uma belíssima linha de passe. Everton puxou o contra-ataque por aquele lado, tocou a WP que estava aberto pela esquerda. Num altruísmo surpreendente para um atacante, WP devolveu a Everton, que já estava pelo meio. Ele viu Élber do outro lado, vindo como um raio e sem marcação — da forma como Wallyson devia fazer desde o primeiro tempo. O jovem dominou e fuzilou no canto esquerdo alto de Gideão.

O segundo gol matou a reação pernambucana, que desistiu de marcar pressão em cima do campo e ficou assistindo a defesa cruzeirense tocar a bola. Era só esperar o apito do árbitro, mas ainda havia tempo para mais. Tinga, que não fez uma boa partida nem técnica nem taticamente, explorou a defesa avançada e entregue do Náutico, alcançando a linha de fundo e centrando rasteiro para WP fazer o dele no fim da partida.

Conclusão

A vitória pode ter sido a maior do Cruzeiro no campeonato, mas não pode esconder alguns erros táticos cometidos, principalmente no primeiro tempo. Wallyson voltou a oscilar taticamente, e com isso seu jogo técnico também cai. Além disso, Celso Roth precisa arrumar um jeito de sair da armadilha dos 3 zagueiros e a consequente lotação do meio-campo, se quiser continuar jogando com o 4-3-1-2 losango.

Mas há pontos positivos. Everton, que foi muito contestado no início do ano — e mesmo neste campeonato no jogo contra o Grêmio — mais uma vez, demonstrou consistência pela esquerda: por ora, o problema da lateral está, no mínimo, atenuado. Na direita, Léo jogou “improvisado” — por falta de uma palavra melhor — pela terceira vez seguida, também sem comprometer. E Élber, um garoto ainda, mostrando ter competência para ser um reserva que pode mudar a cara da partida, principalmente jogando na função de ontem: ponteiro pela direita. Já vislumbro um time com Montillo e Élber de ponteiros…

Celso Roth disse na entrevista coletiva que torce para que o tão sonhado “equilíbrio” esteja começando a ser encontrado. É o que todos torcemos, e que, pelo menos a princípio, parece mesmo estar sendo alcançado.

Atlético/GO 0 x 2 Cruzeiro – Pobre, mas eficiente

Jogando totalmente fora das características históricas do Cruzeiro, com aplicação defensiva de maneira até perigosa, o Cruzeiro conseguiu vencer o Atlético/GO no “enorme” Serra Dourada ontem em Goiânia e começa a dar sinais de uma base construída. Não agrada aos olhos, mas foi eficiente e nesse momento é o que o clube precisa.

Formações iniciais

O mesmo 4-3-1-2 losango dos últimos três jogos: lateral subindo com o apoio de um volante na cobertura, atacante aberto voltando com o lateral adversário, Montillo caindo pelas pontas. Seria o princípio de uma base?

Celso Roth repetiu o 4-3-1-2 losango dos últimos três jogos, mas não o onze inicial. Fábio no gol teve Léo novamente à sua direita, Everton à sua esquerda e Rafael Donato e Thiago Carvalho centralizados à sua frente. Com a suspensão de Leandro Guerreiro, Sandro Silva assumiu a base do losango, com Charles à esquerda, mais recuado cobrindo os avanços de Everton, e Tinga à direita, mais à frente fazendo quase uma dupla com Montillo, o enganche. À frente, Wallyson caindo pela direita e voltando com o lateral, e Borges enfiado entre os zagueiros.

O Atlético/GO veio no mesmo sistema, mas os dois atacantes ficavam mais centralizados, fazendo o time ficar mais estreito. O gol de Márcio era protegido por Gustavo e Reniê, que por sua vez eram flanqueados pelo ofensivo Diogo Campos à direita e Eron à esquerda. Defendendo a área, Dodô era ajudado por Marino pela direita e Ernandes pela esquerda. Wesley era o responsável pela ligação para Ricardo Bueno e Patric.

Com as marcações bem encaixadas, tudo virava uma questão de estratégia. E já no início ficava claro a de Celso Roth: marcar atrás, com as linhas bem compactadas, e sem fazer pressão alta, correndo atrás do adversário. Muito se falou do tamanho do campo; de fato, o Serra Dourada é o maior campo do Brasileirão, com 110 m x 75 m, mesmas dimensões do antigo Mineirão mas bem maior que o novo Independência (105 x 68). Por isso, o jogo mais lento, mais cadenciado, tanto pela falta de marcação pressão do Cruzeiro como pela tentativa do Atlético de rodar o time, trocando passes na linha do meio-campo.

Entretanto, quando recuperava a bola, o Cruzeiro era intenso. Partia logo para a definição, sem trocar passes, sem muita paciência. Isso por que nem nossos volantes nem Montillo tem característica de cadenciar o jogo. Assim, o Cruzeiro teve pouca posse de bola, porque resolvia rápido: aos 8, já havia finalizado duas vezes contra nenhuma do Atlético/GO, que àquela altura já ficava mais tempo com a bola.

Montillo

Outra nota tática interessante é que, com os laterais desprotegidos, já que seu meio-campo e ataque eram muito estreitos, Montillo acabou conseguindo criar muitas oportunidades quando combinava com os jogadores abertos pelos flancos. Assim saíram boas jogadas com Everton pela esquerda — que tinha liberdade para avançar com a cobertura de Charles — e assim saiu o escanteio que originou o gol, em jogada de Wallyson com Montillo pelo lado direito. Oportunismo puro de Borges, num lance em que ainda teve a participação de Léo dentro da área.

Depois do gol, o Cruzeiro retraiu ainda mais, tentando sair nos contra-ataques. Mas foi exagerado. O Atlético conseguia chegar até a intermediária e ficava tocando, rodando, tentando achar uma brecha, mas as linhas de marcação do Cruzeiro estavam muito bem postadas. Mesmo assim, às vezes aparecia um buraco, que só não era aproveitado pelo time da casa porque os jogadores faziam escolhas erradas no último passe. Fábio só foi fazer uma defesa, que nem foi tão difícil assim, aos 39 do segundo tempo.

Mas tanto o Atlético martelou que conseguiu um pênalti, aos 40, cometido por Wallyson no lateral esquerdo Eron numa jogada de ultrapassagem. Pra nossa sorte — que todo bom goleiro também tem que ter — Márcio mandou pra fora.

Na saída para o intervalo, Borges disse que não estavam marcando no avançado porque o campo é grande demais, o que confirmou a estratégia pensada pelo treinador celeste.

Segundo tempo e alterações

O Atlético/GO voltou com duas alterações: Reniê, contundido, deu lugar a outro zagueiro, Diego Giaretta, e Joilson entrou na vaga de Marino. O sistema se alterou levemente, já que por ser um pouco mais ofensivo, Joilson às vezes dava para o time uma cara de 4-2-2-2, tentando se aproximar de Wesley e dos atacantes.

O Cruzeiro voltou o mesmo. Tanto na escalação, quanto no sistema, quanto na estratégia: marcando atrás, compactado, sem dar espaços entre as linhas. Os jogadores do Atlético tinham todo o tempo do mundo para levantar a cabeça e olhar o jogo, mas não faziam isso com qualidade, e o jogo seguiu na mesma toada, mas desta vez com o Cruzeiro também com poucas chances.

O Cruzeiro manteve o 4-3-1-2 até o fim do jogo, com linhas compactadas, losango de meio quase planificado negando espaços — mas com medo de se afastar da própria área

Aos 8, Montillo saiu, preservado, para a entrada de Souza. O tipo de jogo que se desenhou era perfeito para o veterano meia: cadenciado, com ritmo baixo e espaço para passar a bola. Foi o que ele fez, segurando a posse, esperando a movimentação dos companheiros e passando. A domínio goiano arrefeceu um pouco, e o Cruzeiro acabou avançando suas linhas, permanecendo compactado. Mas logo o Atlético achou um caminho por cima da defesa, apesar de o atacante estar em claro impedimento. Fábio salvou o gol e o erro da assistente, e o time ficou com medo de se afastar da própria área.

Celso Roth tentou solucionar o problema mandando Wellington Paulista para o jogo no lugar de Borges, com a intenção de reter a bola, fazendo o pivô. E em seu primeiro lance, ele conseguiu segurar a bola e passar a Tinga, que numa jogada típica de Montillo, ia ganhando de seu marcador até ser empurrado dentro da área. Pênalti que WP converteu e não comemorou.

Com a vantagem, o Cruzeiro se retraiu de vez e se contentou e aguentar a pressão do time goiano até o apito final. Diogo Campos, atacante que jogava na lateral direita, saiu para a entrada de Felipe, que também é atacante, mas que foi jogar no meio. Com isso, Joilson foi fazer o lado direito, mas mais centralizado. Roth então tirou Everton e pôs Diego Renan, que é melhor marcador, para fechar ainda mais aquele lado e acabar com qualquer tentativa do time da casa. Fábio nem foi ameaçado e os três pontos vieram.

Conclusão

Um jogo taticamente desinteressante, apesar da boa atuação defensiva do Cruzeiro. Na opinião deste blogueiro, entretanto, foi uma estratégia exagerada: não era necessário ficar tão atrás, tão longe dos jogadores com a bola do Atlético/GO. O tamanho do campo não pode servir de desculpa. Também, o trabalho defensivo foi facilitado pela má qualidade do time adversário, que também não fez boa partida. Fosse um time um pouquinho mais técnico, certamente o resultado não seria tão bom.

De qualquer forma, Celso Roth parece ter realmente gostado do 4-3-1-2 losango (apesar da partida em Curitiba). O treinador achou um jeito de dar amplitude pela esquerda do ataque, com o volante esquerdo cobrindo os avanços de Everton. Do outro lado, Fabinho/Wallyson parecem ter encontrado seus lugares no campo, e quando Ceará voltar, terão ainda mais companhia para sobrecarregar o lado esquerdo adversário. No meio-campo, Leandro Guerreiro é titular absoluto na base do losango, e Montillo no topo, combinando com os jogadores abertos: resta saber quem serão os volantes de lado de confiança do treinador. Lucas Silva pra mim merece uma sequência.

Vamos torcer para que encaixemos mais duas vitórias em casa no mesmo sistema, ganhando tranquilidade e confiança, para diminuir a instabilidade no campeonato.

E quem sabe voltar a ser o Cruzeiro de futebol vistoso e ofensivo, que todos gostamos e estamos acostumados a ver.

Cruzeiro 2 x 2 Atlético/MG – Justiça

Este artigo era para ter outro título, mas diante do gol irregular, mas chorado, feito na raça, eu resolvi mudá-lo. Afinal, o Cruzeiro não merecia perder em um jogo que conseguiu executar tão bem sua estratégia de anular as principais peças adversárias — pelo menos enquanto havia onze da cada lado.

Formações

O 4-3-1-2 losango cruzeirense do primeiro tempo, que anulou o quarteto ofensivo do Atlético Mineiro com Guerreiro marcando Ronaldinho e Leo de lateral preso perseguindo Bernard

Como previ no artigo anterior, Celso Roth escalou um time totalmente diferente dos três que apresentei como opção, e escalou um 4-3-1-2 losango: o gol de Fábio foi defendido por Thiago Carvalho e Matheus na zaga, já que Léo foi para a lateral direita, com Everton do outro lado. Leandro Guerreiro, centralizado à frente da área, teve Lucas Silva pela esquerda e Tinga pela direita. No topo do losango, Montillo criava para Fabinho, mais aberto pela direita, e Borges, enfiado entre os zagueiros.

O Atlético veio no 4-2-3-1 já manjado de Cuca, com Victor debaixo dos paus, Marcos Rocha na lateral direita, Júnior César na lateral esquerda, e Réver e Leonardo Silva fazendo a dupla de zaga atrás dos volantes Pierre e Leandro Donizete. Na frente, o quarteto ofensivo e maior arma da equipe: Ronaldinho flanqueado por Danilinho na direita e Bernard na esquerda, atrás do centro-avante Jô.

Duelos

No encaixe de marcação, Fabinho recuava acompanhando Júnior César, para evitar o dois contra um deste e Bernard em cima de Léo. Léo, aliás, fez uma partida excelente, praticamente tirando o veloz meia-esquerda adversário da partida. Do outro lado, Lucas Silva repetiu a excelente movimentação do jogo contra o Bahia e deu a segurança necessária para Everton  — naquela ocasião foi Ceará — se aventurar na frente. Foi assim que saiu o primeiro gol: Montillo, caído, teve excelente visão de jogo e achou o volante-lateral no campo de ataque, livre de Danilinho, que era o seu marcador natural. Ele avançou e fez excelente cruzamento para Wallyson tomar à frente de Júnior César e vencer Victor no seu primeiro toque na bola, em substituição ao lesionado Fabinho.

No meio-campo, Ronaldinho era praticamente figura nula no jogo, muito devido ao bom trabalho de Leandro Guerreiro. O camisa 5 vencia quase todas as disputas, e quando perdia, obrigava o ex-melhor do mundo a fazer um passe sem perigo, para o lado ou para trás. Ronaldinho só aparecia nas bolas paradas — obras do senhor apitador, que marcava quase todas as disputas aéreas vencidas pelo Cruzeiro como cargas faltosas, sem usar o mesmo critério do outro lado.

Essas faltinhas perto da área começaram a me lembrar o jogo contra o Coritiba. A nossa sorte é que Ronaldinho errou quase todas as cobranças. Só no escanteio é que ele conseguiu acertar (mais ou menos), achando Jô na primeira trave, que desviou para trás e Leonardo Silva acertou um chute que nunca mais vai acertar na vida, num dos últimos lances do primeiro tempo.

Depois das expulsões

Os times vieram sem alterações no intervalo. Era previsível, porque o Atlético, apesar de ter dominado a posse de bola no meio-campo, foi muito bem marcado pelo Cruzeiro e ofereceu pouco perigo. Fábio não fez praticamente nenhuma defesa difícil. Portanto, ambos os treinadores, dentro de suas propostas, queriam ver mais de suas equipes.

Mas aí choveu. Primeiro foi só um copo, depois um pedaço de bolo, que gerou um entrevero entre Bernard e Leandro Guerreiro. E aí caiu uma tempestade DE copos d’água. Sete minutos depois, Guerreiro e Bernard levaram o amarelo, que era o segundo para os dois: o atleticano porque discutiu com Matheus no primeiro tempo, e o cruzeirense porque reclamou corretamente de uma carga faltosa marcada pelo juiz ao disputar bola com Jô pelo alto.

Após as expulsões, Cruzeirou ousou num 4-2-1-2, que equilibrou a posse de bola, mas não substituiu o marcador de Ronaldinho que teve mais espaço que deveria

O Cruzeiro perdeu mais com a saída de Guerreiro do que o Atlético com a saída de Bernard. Os treinadores não mexeram nas formações, com o Atlético com sem um jogador aberto pela esquerda, onde estaria Bernard, num 4-2-2-1, e o Cruzeiro sem um volante na frente da área, espaço que foi ocupado com o recuo de Tinga e Lucas Silva, num 4-2-1-2. Porém, a marcação não era mais tão forte em Ronaldinho, que começou a aparecer, rodando a bola e cadenciando o jogo. A marcação do Cruzeiro nos outros jogadores, porém, continuava forte.

Quase no fim, Pierre fez falta forte em Montillo e levou o segundo amarelo, fazendo 10 contra 9. Na cobrança da falta, o cruzamento é afastado pela defesa atleticana, e a bola sobra para Ronaldinho e Marcos Rocha. Eles trocam passes, Marcelo Oliveira (que havia entrado no lugar de Everton, também lesionado, sem alterar a formação) dá o bote, mas erra. Marcos Rocha, único alvo possível de um passe, está marcado e Ronaldinho avança. É desafiado por Lucas Silva, mas também passa por ele, invade a área e é novamente combatido por Marcelo Oliveira, que quase consegue desarmá-lo, mas a bola fica para o pé direito do meia. De frente para Fábio, escolheu o canto e marcou.

Nem só devido a erros coletivos é que se sofrem gols. Existe mérito do outro lado, e esse — infelizmente para nós — é um exemplo clássico.

Empate na raça

O mundo estava de cabeça para baixo: o Atlético vencia o Cruzeiro com dois gols tecnicamente bonitos, e o Cruzeiro é que era o time aguerrido. Quem diria — os papéis históricos estavam invertidos. Mas se era para ser assim, então que fosse: o Cruzeiro foi com tudo e Fábio nem apareceu mais na imagem da TV. Os últimos minutos foram de pressão constante, com MUITAS bolas levantadas na área e muita gente para finalizar. Foi muito perigoso, porque um contra-ataque ali seria mortal.

No que parecia ser o último lance, Júnior César tentou ganhar tempo, o juiz deu mais um minuto corretamente, e nesse minuto, Montillo fez falta, não marcada pelo péssimo árbitro, e o Cruzeiro recuperou a bola, achando o argentino aberto pela esquerda, que cruzou para o pé bom do zagueiro Matheus dentro da área. A bola ainda bateu na trave antes de decretar o justo empate do Superclássico.

Conclusão: o diamante

Normalmente, não gosto de falar em justiça, porque sempre acho o resultado justo. Jogar melhor, como já disse aqui, é executar melhor a sua estratégia do que o adversário. A do Cruzeiro era ser reativo, a do Atlético era propor o jogo, e por isso, no primeiro tempo, o Cruzeiro jogou melhor. No segundo, com as expulsões, as coisas se equilibraram, e por isso, a derrota teria sido injusta na modesta opinião deste blogueiro. Por isso, também, troquei o título original deste artigo, que era “Tempestade de copos d’água”. Era um trocadilho, caso saíssemos de campo com a derrota, para não fazermos do eventual revés um problema maior que seria.

Um aspecto digno de nota: exceção feita à virada contra o Botafogo no Engenhão, foi a primeira vez no Campeonato que o Cruzeiro ficou atrás no placar e conseguiu buscar o empate. Bom para o psicológico da equipe, que é tão importante quanto a tática.

Taticamente, aliás, aparentemente terei que dar mão à palmatória e assumir que o Cruzeiro vem funcionando bem nesse 4-3-1-2 losango, esquema do qual não sou fã. Montillo é meia-atacante, e não um meia clássico que volta par buscar o jogo e dar ritmo, girar o time: o argentino é sempre intenso. E por isso precisa de um trio de volantes que saiba jogar também. Lucas Silva e Tinga me parecem ter ganhado a condição de titulares, junto com  Guerreiro, que infelizmente está suspenso para o próximo jogo. Resta saber quem será o companheiro de Borges no ataque, já que Fabinho se contundiu e também está fora da abertura do returno. Wallyson é o candidato natural, e Ceará deve voltar à lateral direita.

Em inglês, o losango de meio é chamado de diamond — diamante. Se o losango vingar, podemos dizer que Celso Roth achou um diamante numa mina que não era nada promissora. Mas como diria um treinador que fez fama por aqui, “vamos aguardar”.

Três alternativas para o Superclássico

Depois de muito tempo, o encontro entre Cruzeiro e Atlético Mineiro voltou a ser um clássico: ambos os times bem na tabela (levando em conta o prognóstico de ambos no início do campeonato) e com o rival melhor do que o Cruzeiro após muitos embates em que a situação era invertida. Assim, após ler as notícias de lado a lado na semana inteira, esperando pra saber se Ceará iria ou não para o jogo, quem seria a dupla de zaga e como seria composto o meio-campo cruzeirense, tento apresentar aqui alternativas de Celso Roth para o jogo de domingo.

O time adversário é o de sempre: o mesmo 4-2-3-1 empregado por Cuca desde o início do ano, mas desta vez com peças novas. Victor no gol, Marcos Rocha de volta à lateral direita e Júnior César do lado oposto; Leonardo Silva — o vira-casaca — e Réver no miolo de zaga. À frente, Pierre e Leandro Donizete fazem a dupla volância, atrás de Ronaldinho, o articulador principal e com tendências de cair pela esquerda. Flanqueando-o, Danilinho ou Guilherme pelo lado direito e Bernard pelo esquerdo. À frente, Jô brigando com os zagueiros.

Do nosso lado, Victorino está fora do jogo, Ceará é dúvida e não se sabe quem será escalado na lateral esquerda: Everton ou Diego Renan, dependendo da situação de Ceará. Para a zaga, levando em conta o estilo de Jô, a dupla de zaga ideal seria composta por um zagueiro forte, para marcar diretamente o centro-avante — nesse caso, seria Léo — e um com bom posicionamento de sobra, que seria Victorino. Mas na ausência deste último, Thiago Carvalho deve entrar em seu lugar. Outra opção seria fazer uma zaga com Léo e Donato, mas essa seria uma dupla pesada, correndo riscos contra os rápidos Bernard e Danilinho.

Caso Ceará não possa jogar, duas opções se apresentam. Deslocar Diego Renan para a direita para manter o equilíbrio defesa/ataque por aquele lado, ou destacar Leo para o setor, com a finalidade exclusiva de anular Bernard. Isso faria o Cruzeiro perder ofensividade, mas aumentaria muito o poder de marcação.

E na lateral esquerda, Diego Renan é mais lento que Everton, que se destaca mais no apoio mas não defende tão bem quanto o primeiro. Como Danilinho é menos ofensivo que Bernard, talvez Everton seja a melhor opção.

Como se trata de um clássico, abrirei uma exceção e colocarei os jogadores do time adversário nos diagramas abaixo.

 

Opção 1 – Equilíbrio

Minha alternativa preferida: um 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo, Tinga se movimentando para opção de passe de segurança, Guerreiro na cola de Ronaldinho e marcação especial do lado direito

A primeira opção é mandar a campo um 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo, como na partida contra o Palmeiras, que este blogueiro considera ser a melhor do time no certame atual. Naquele jogo, a dupla de volantes era Guerreiro e Charles, ao passo de que nesta deverá ser Guerreiro e Lucas Silva, com uma diferença: contra o time paulista, Guerreiro perseguia Daniel Carvalho, que caía mais pela direita. Contra o rival, Guerreiro será muito provavelmente o marcador de Ronaldinho, que tem uma tendência maior a cair pela esquerda do ataque — direita da defesa adversária.

Colocar Montillo pelo lado esquerdo do meio-campo faz com que o argentino tenha menos marcação, e consiga usar sua melhor arma: o drible. Passando por Marcos Rocha, que fatalmente seria seu marcador, Montillo teria campo livre para cruzar, bater pro gol ou enfiar uma bola para Borges ou quem estiver na área. E Tinga, que já tem tendências centralizadoras, jogando pelo meio, serviria muito mais como um ponto de apoio no meio do pentágono formado pelos volantes, meias abertos e centro-avante, sendo o passe de segurança. O ideal seria ter um meia cadenciador por ali, alguém como Souza, suspenso, ou Roger, já fora do clube, para fazer a bola rodar e inverter as jogadas, mas infelizmente não temos este jogador disponível no elenco para este jogo.

Do outro lado, Fabinho como ponteiro direito teria funções mais defensivas, acompanhando Júnior César e ajudando na marcação ao lado mais forte do Atlético: o esquerdo. Por ali, cairiam Ceará, na sua posição natural e marcando o garoto Bernard; Guerreiro, marcando Ronaldinho quando este pendesse para o lado esquerdo; Lucas Silva ajudando na sobra e Fabinho marcando Júnior César. O meio-campo fica esvaziado, mas Tinga pode recuar e guardar o meio contra os dois volantes do Atlético que não tem tanto poder de ataque assim. O perigo ficaria do outro lado: Montillo teria que recuar acompanhando Marcos Rocha, para evitar que Diego Renan fique no dois contra um contra ele e Danilinho.

 

Opção 2 – Conservadorismo

Um 4-4-1-1 que fecha bem os flancos e aproveita a velocidade de Montillo para contra-atacar; mas perigoso porque chama demais o Atlético com o apoio dos laterais liberado

Outra opção é assumir que o rival vive um momento melhor e se fechar, partindo nos contra-ataques velozes num 4-4-1-1, com Montillo atrás de Borges como únicas peças ofensivas à frente das duas linhas de quatro. A grande vantagem dessa formação é compactar as linhas e tirar o espaço das ações ofensivas adversárias, espanando as bolas para as pontas para Montillo, que tentaria jogar nas costas dos laterais. Assim, Everton à frente de Diego Renan pelo lado esquerdo para fechar o lado direito de ataque do Atlético, e Ceará e Lucas Silva ou Tinga para fechar o lado direito. Sem espaço para articular, os jogadores do Atlético tenderiam a subir cada vez mais, para tentar um abafa, dando ainda mais espaço para Montillo ganhar uma bola rebatida e conduzir até a área adversária em velocidade.

Não é a opção preferida deste blogueiro e muito menos deverá ser a de Celso Roth, pois é muito perigoso chamar o time adversário pra cima, principalmente levando em consideração que o jogo será “em casa”: somente a exigente e mal-acostumada torcida do Cruzeiro estará presente. Jogar recuado contra o Atlético, na cabeça dos torcedores, é assumir a inferioridade diante do maior rival — mesmo que isso seja atualmente um fato — fazendo com que a chance da torcida se virar contra o time seja muito grande.

 

Opção 3 – Ousadia

Ousadia total: jogar sem centro-avantes de ofício, explorando velocidade e posse de bola, com Montillo de “falso nove” e jogadores rápidos pelos lados

A opção mais ousada é usar o que eu chamaria de 4-3-3-0, com dois jogadores rápidos como ponteiros — por exemplo, Wallyson e Fabinho, Montillo por dentro na posição de meia-atacante “falso 9” e ganhar em número do Atlético no meio-campo: 6 jogadores contra 5, ou 4 contra 3 se considerarmos apenas a faixa central. Isso deixaria os zagueiros do Atlético livres, mas sem alvos para direcionar os passes, forçando-os ao passe longo por cima. Com as linhas compactas e menos gente no meio-campo, fica mais difícil ganhar a segunda bola disputada por Jô e os zagueiros ou volantes cruzeirenses, frustrando as ações ofensivas adversárias.

Entretanto, ao recuperar a bola, o trio ofensivo teria que ter muita inteligência tática e técnica para saber se movimentar e dar opções de passe para contornar a dupla de zaga atleticana, o que acredito que os jogadores têm, mas só conseguiriam executar se tiverem confiança, que é uma coisa que me parece em falta atualmente.

 

Mas…

É muito provável que Celso Roth mande a campo um time diferente dos três que postei aqui, mas é certo que Guerreiro será o marcador de Ronaldinho. Resta saber como Montillo será escalado, e de que forma Tinga jogará: se mais recuado, como volante fazendo um tripé — e consequentemente um losango no meio, o que na opinião deste blogueiro seria um suicídio — ou se jogará mais avançado, à frente dos outros dois volantes. O mais provável é que ele mantenha Montillo por dentro e desloque Tinga para o lado, com Fabinho do outro — algo próximo do que foi feito no jogo contra o Sport, mas com os ponteiro invertidos. Lucas Silva deverá ficar mais liberado para se juntar ao ataque, pois os volantes adversários não deverão combatê-lo no alto do campo. Os laterais deverão ficar um pouco mais presos, principalmente o direito, devido à presença de Bernard por ali.

A chave do jogo, entretanto, será Montillo. Se ele jogar por dentro, terá de brigar com Pierre e Leandro Donizete para conseguir encaixar um passe. Se jogar pelo lado, terá somente Marcos Rocha pela frente — teoricamente um jogador com menos poder de marcação que seus companheiros volantes. Além do fato óbvio de ser apenas um jogador contra dois no meio.

Pode ser um jogo amarrado ou solto — depende da estratégia cruzeirense apenas. O outro time, todo mundo sabe como joga.