Atlético/PR 1 x 0 Cruzeiro – Hipertensão

Um pouco de pressão alta do Atlético Paranaense no início do jogo mais uma certa incompetência nas finalizações foi a receita amarga da terceira derrota seguida do Cruzeiro. Se Vágner Mancini já tinha de colocar as orelhas em pé, agora então precisa vencer e convencer para ter sobrevida no cargo. Não que eu concorde, pois a má fase não é culpa inteiramente do treinador, mas sabemos que no futebol, principalmente aqui em terras tupiniquins, o resultado importa muito mais do que o planejamento e o trabalho.

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, com Roger e Amaral invertendo e sem força pelo lado esquerdo

O Cruzeiro foi a campo no 4-3-1-2 losango, mas com Roger recuando pela direita e invertendo com Amaral. Na zaga, Alex Silva estreou no lugar de Victorino, vetado. Já o Atlético-PR veio no 4-3-3 com triângulo alto (4-1-2-3) armado pelo técnico uruguaio Juan Carrasco, com o veterano Paulo Baier num posicionamento interessante: o camisa 10 recuava para ser o primeiro volante, liberando seus companheiros de meio-campo Deivid e Liguera para atacar.

Logo de cara, o Atlético partiu para a marcação no alto do campo quando perdia a bola, sufocando os defensores cruzeirenses. Foram 20 minutos de uma excelente execução de pressing. Os três atacantes pressionavam os quatro defensores e os volantes eram perseguidos pelos dois meias. Paulo Baier regia de trás.

Nas raras vezes em que o Cruzeiro conseguia passar pelo meio-campo, o Atlético imprimia velocidade no contra-ataque, com intensa movimentação do trio ofensivo. Foi justamente num destes contra-ataques que saiu o gol da partida. Roger e Amaral estavam na ponta direita disputando a posse, mas perderam a bola, que chegou para o ex-cruzeirense Guerrón, desta vez aparecendo pelo lado esquerdo. O veloz equatoriano tinha a marcação de Diego Renan, mas sem cobertura. Leandro Guerreiro tenta chegar para fazer a sobra, mas Diego Renan já havia sido driblado e Guerrón já partia em velocidade. Antes do camisa 5 alcançá-lo, ele cruzou rasteiro para dentro da área azul. Alex Silva, o homem da sobra, não conseguiu cortar e Edigar Junio conseguiu aparecer entre Léo e Everton para completar. Méritos de Guerrón, mas houve falha na cobertura a Diego Renan e na hora de cortar a bola no cruzamento.

Do outro lado do campo, Anselmo Ramon ainda nem tinha visto a cor da bola. O centro-avante azul ficou esperando a bola chegar, mas o Atlético continuava a pressão. Do lado esquerdo, Marcelo Oliveira se preocupava em marcar Deivid, e Everton segurava o atacante que caísse por ali, na maioria das vezes Guerrón. O lado esquerdo ofensivo do Cruzeiro ficou novamente deserto. Roger recuava para buscar o jogo e tentar dar qualidade à saída, numa tentativa de cadenciar o jogo, para frear a velocidade que o time mandante queria impor. Mas foi dele o lance mais bizarro do jogo: num passe muito displicente para Léo, acabou entregando para o centro-avante Patrick avançar sozinho. Fábio cresceu, o camisa 11 se assustou e desperdiçou.

A partir dos 20 minutos, a pressão atleticana foi arrefecendo. Aos poucos o Cruzeiro foi ganhando espaço, mas os atacantes estavam muito bem marcados. O Cruzeiro tentava bolas longas para os atacantes, principalmente partindo de Roger. O repórter da TV até conseguiu pegar uma conversa do camisa 7 com Vágner Mancini, reclamando que não tinha alvos para fazer lançamentos. De fato, os dois atacantes azuis estavam encaixotados na defesa paranaense: Wellington Paulista até tentava se esquivar, mas foi bem vigiado pelo lateral esquerdo Héracles. Anselmo Ramon não caía pelo lado esquerdo e ficava tentando brigar com o zagueiro Manoel, com Bruno Costa na sobra.

Aos poucos o Cruzeiro foi equilibrando as ações, mas muito mais porque o Atlético já não conseguia pressionar no campo adversário (nenhum time no mundo consegue fazer isso durante os 90 minutos com tal intensidade). Quando a bola passava pelos meias atleticanos, o Cruzeiro levava mais perigo. Isso porque  Paulo Baier já não tem mais energia para ser o único volante à frente de sua zaga, e com o avanço de Amaral pela direita, as jogadas começaram a sair. As melhores chances foram com Roger, aos 29, quando WP tirou um zagueiro da área e o meia recebeu um lançamento longo de Diego Renan mas mandou para fora, e aos 47, em cobrança de falta cujo rebote WP não conseguiu aproveitar.

No intervalo, Vágner Mancini tirou Amaral, pouco produtivo no primeiro tempo, e estreou o veterano Souza. A equipe passou a um híbrido de 4-2-2-2 e 4-3-1-2 pelo posicionamento variável de Roger. Juan Carrasco tirou Liguera e lançou o volante Zezinho, mudando para um 4-2-1-3, talvez tentando liberar Paulo Baier para se aproximar mais da área adversária. Também trocou seu centro-avante: Bruno Mineiro na vaga de Edigar Junio.

A combinação das três alterações do intervalo resultou em um Cruzeiro com mais espaço para tocar a bola no meio campo e um Atlético-PR “divorciado”, com uma enorme distância entre os três atacantes e os três jogadores de meio. Um filme que já vimos antes no nosso próprio time. O Atlético parou de pressionar alto e deixou o Cruzeiro jogar. Os laterais azuis começaram a aparecer mais à frente, e aos poucos o Cruzeiro foi desequilibrando a balança da posse a seu favor. A explicação era simples: com Souza e Roger, o time conseguia reter mais a posse de bola, e os volantes do time da casa tinham de se preocupar com os dois. Paulo Baier ficava sozinho e ainda tinha a companhia de LG e MO: 4 contra 3 no meio. Uma situação pela qual o Cruzeiro passou várias vezes no ano, dessa vez estava do lado contrário.

Até os 15 minutos, só o Cruzeiro havia criado chances. Juan Carrasco viu que seu time não ia sair do lugar, mas não tentou corrigir o erro: queimou a regra 3 lançando mais um volante marcador, Renan Teixeira, no lugar de Paulo Baier, efetivamente fazendo um bizarro 4-3-0-3. Sim, o time da casa ficou sem nenhum homem de ligação. É claro, essa função foi designada para os atacantes mais abertos, mas eles não conseguiram executá-la. O Atlético se defendia com 7 homens atrás da linha da bola, tentando partir em contra-ataques com bolas longas para a velocidade de seus pontas.

Era em vão. Marcelo Oliveira e Everton estavam combinando bem pelo lado esquerdo. Do lado direito, Wallyson foi a campo no lugar de WP para dar mais velocidade à saída. O esquema se manteve, mas o Cruzeiro agora tinha muito mais largura de ataque. Foi de Marcelo Oliveira a melhor chance do Cruzeiro para o empate. Everton mandou a Anselmo Ramon, que protegeu, fez o pivô e lançou ao camisa 8, entrando nas costas do lateral atleticano. Ele avançou até dentro da pequena área mas conseguiu mandar por cima do goleiro.

Após as alterações, a volta ao losango inicial, com muita posse de bola mas sem eficácia na criação e na conclusão

O lateral direito Gabriel Marques, que havia caído e deslocado o ombro, voltou para jogar no sacrifício, já que o Atlético já havia feito suas três alterações. Vágner Mancini, então, tentou aproveitar-se da situação lançando Gilson no lugar de Roger, empurrando Everton para o meio e mudando Marcelo Oliveira de lado, voltando ao losango no meio. Mas o tiro saiu pela culatra, pois Marcelo Oliveira não se aventurou tanto pela direita, e Gilson e Everton não conseguiram combinar tão bem e explorar a condição física debilitada de Gabriel Marques. O lateral do Atlético fez um fim de partida heróico, segurando seu próprio braço e não saindo de nenhuma dividida.

O Atlético viu que não conseguiria mais se impor e postou seus 11 homens atrás da linha da bola, dificultando de vez as ações do time celeste. Mesmo com mais posse de bola (cerca de 60% aos 30 do segundo tempo), o Cruzeiro não conseguiu mais criar boas chances e ainda tomou uma bola na trave num rápido contra-ataque rubro-negro. Mas uma coisa boa pode ser tirada desse final: o Cruzeiro não se desesperou e lançou chuveirinho na área (como é costumeiro com times que estão tentando o gol de qualquer jeito). A organização tática se manteve até o fim.

Talvez o empate fosse o resultado mais justo, pelo volume de jogo das duas equipes nas pontas do tempo da partida. No início, um Atlético elétrico, e no fim um Cruzeiro mais calmo, com mais posse, mas não tão elétrico. Porém, o Cruzeiro só jogou quando o adversário deixou. Mais uma vez. Souza deu qualidade ao meio-campo, pode ser titular. Alex Silva, apesar da falha no gol, também deu mais segurança em bolas aéreas. WP e Anselmo Ramon não jogaram bem. Talvez seja a hora de usar um ataque mais móvel. Os dois são centro-avantes, homens de referência: não podem mais jogar juntos.

Portanto, talvez o resultado mais “justo” fosse mesmo a derrota, mas com o Cruzeiro marcando gols. E, na Copa do Brasil, isso faria muita diferença para o jogo da volta.

Cruzeiro 1 x 2 América/MG – O problema nunca foi o esquema

Num ímpeto desorganizado, o Cruzeiro está fora das finais do Mineiro 2012 devido a uma excelente execução tática do América.

A formação inicial titular do Cruzeiro, com os dois meias que a torcida tanto queria, mas sem força pelo lado esquerdo

Vágner Mancini tinha todo o elenco à disposição, à exceção de Walter, e optou por entrar com o tradicional 4-2-2-2 que a torcida tanto pediu, com Roger e Montillo servido Anselmo Ramon e Wellington Paulista, deixando Wallyson de fora. Givanildo só não pôde contar com o lateral esquerdo Pará, lançando o jovem Bryan em seu lugar. No resto do time, sem mistério: o mesmíssimo 4-3-1-2 do primeiro jogo das semifinais.

Logo no início do jogo, o Cruzeiro mostrou sua proposta: atacar e muito. Anselmo Ramon recebeu de costas, girou e bateu pra fora. Seria um sinal do que o jogo seria. Mas logo no início o Cruzeiro sofreu um golpe: Rodriguinho recebeu na esquerda, ganhou no mano-a-mano com Diego Renan e conseguiu um cruzamento. Victorino estava na marcação de Alessandro, e atrapalhado pelo americano, cabeceou contra a própria meta.

Com a vantagem, o América se fechou ainda mais e se preocupava mais em defender do que incomodar em contra-ataques. Assim, deu campo ao Cruzeiro, que chegava até a intermediária até com certa facilidade. O time tinha mais posse de bola (chegou a 60% na metade do primeiro tempo), mas esbarrou no mesmo problema dos últimos jogos: a falta de criatividade no meio. Mesmo com Roger e Montillo em campo, ainda havia algum espaço entre os defensores e atacantes, sendo que Roger estava no primeiro grupo e Montillo no segundo. Roger mais uma vez afundou entre os volantes para fazer a bola rodar, cadenciar o jogo. Mas os outros jogadores pareciam não querer cadenciar e queriam resolver logo. WP e AR mal pegavam na bola e finalizavam, muitas vezes sem estarem em boas condições para isso.

Montillo, por sua vez, novamente teve Dudu em seu encalço. Recentemente ele disse que, no esquema com três atacantes, era mais difícil fugir do homem-a-homem, pois havia pouco espaço pelos lados, já que os pontas ocupam estes setores. No jogo de hoje, o argentino de fato participou mais do jogo e tentou sim cair pelos lados, mas esteve longe de ser o jogador decisivo de outros jogos. Dudu fez um excelente jogo e reduziu muito a efetividade do camisa 10.

Anselmo Ramon, como de costume, jogou enfiado entre os zagueiros, mas a bola chegou pouco a ele. WP caía pela direita e tinha a marcação direta de Bryan, com a cobertura de Leandro Ferreira. Não chegou a ser anulado, mas também não foi efetivo. Roger, quando subia (e, por vezes, até quando recuava) era vigiado pelo mesmo Leandro Ferreira, que forçava o camisa 7 a se livrar logo da bola. Sobrava sempre para Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira, que não fizeram um bom jogo ofensivamente. O último errou muitos passes e esteve longe de sua forma usual.

O jogador mais lúcido era Everton. Mas, como já dito neste espaço antes, ele tem tendência a centralizar, pois é meia de formação. Portanto, a ponta esquerda do Cruzeiro foi um setor pouco utilizado no primeiro tempo. Uma indicação disso é que o Cruzeiro teve 26% de sua posse pela esquerda do meio-campo, mas apenas 9% pela esquerda no ataque. Mesmo assim, foi dele a jogada do pênalti que WP conseguiu desperdiçar para vestir a camisa do Inacreditável Futebol Clube.

Sem criatividade e afobado nas jogadas pelo chão, restou ao Cruzeiro fazer o chuveirinho na área, para tentar aproveitar a boa presença de área de Anselmo Ramon e Wellington Paulista. Foram 13 cruzamentos no primeiro tempo, somente dois certos (no segundo tempo o Cruzeiro errou todos os 13 cruzamentos que tentou). De tanto insistir, o Cruzeiro chegou ao empate, não numa jogada aérea, mas na presença de área de WP. Diego Renan disputou uma bola pelo alto com o zagueiro, a bola foi em direção ao zagueiro Gabriel, que, ao tentar cortar o lance, acabou jogando para trás dando um presente para o camisa 9, que desta vez fez o gol.

O gol deu mais ânimo para o Cruzeiro, mas o América, com a cabeça fria, resolveu manter um pouco mais de posse. E para seu próprio espanto, conseguiu e até criou algumas chances. Porque este é o diagnóstico do Cruzeiro das últimas partidas: um time que passa aperto quando o adversário resolve manter a posse, já que deixa jogar, e somente consegue levar mais perigo se o adversário chamar o Cruzeiro para seu campo e abdicar do ataque. Foi assim contra o Uberaba, contra o Atlético/MG e na ida contra o América, quando o Cruzeiro só conseguiu gols na base da vontade, mas não em jogadas construídas e trabalhadas. Protagonismo, só quando o adversário quis.

Na saída para o intervalo, o meia Rodriguinho do América resumiu bem: “temos que manter mais posse na frente para que o Cruzeiro não tenha tanto volume”. E foi realmente isso o que houve no primeiro tempo: muito volume, mais posse (54%), mas pouco eficaz (4 finalizações certas de 13 tentativas).

Não houve alterações no intervalo, mas o Cruzeiro voltou a campo num losango, com Roger pela direita e LG na proteção à zaga. Num primeiro momento, o novo posicionamento até parecia dar certo, pois aso 4 minutos o América fazia uma marcação bem alta, e o Cruzeiro conseguiu sair numa linha de passe pelo chão sem dificuldades. A bola chegou a Everton na esquerda, que foi para o meio com a bola e, ao perceber que não havia ninguém na direita para o passe (Diego Renan estava mais preso hoje) resolveu ir ele mesmo até receber uma falta na entrada da área. Roger mandou no travessão.

Mas não demorou muito para o Cruzeiro começar a errar na saída de bola e o América aproveitar estes erros. Em um deles, Moisés recebeu uma bola livre na direita (Everton não estava por ali) e centrou para Alessandro completar. A bola caprichosamente bateu nos pés de Fábio, que já estava vencido, e ficou viva na frente do gol. Diego Renan tirou em cima da linha.

Vágner Mancini lançou Wallyson na vaga de Marcelo Oliveira. Com isso, Everton foi para o meio-campo, Diego Renan inverteu de lado e Wallyson foi jogar na ala direita. Sem a bola, Leandro Guerreiro afundava entre os zagueiros, empurrando Leo para a direita, desenhando um 4-3-3, com Roger ao lado de Everton e Montillo mais avançado à frente. Com ela, Guerreiro saía para fazer a primeira bola do 3-4-3 losango. Givanildo percebeu que o Cruzeiro era vulnerável na recomposição e lançou Bruno Meneghel no lugar de Alessandro para puxar os contra-ataques.

Aos poucos, o Cruzeiro começou a ter mais e mais dificuldade de saída de bola, já que o América recuava cada vez mais e fazia uma marcação perfeita. Para além da linha do meio-campo, os jogadores azuis tinham pouquíssimo espaço. WP não conseguia vencer Rodrigo Heffner pela esquerda e tinha que recuar ainda mais para tentar participar do jogo, mas era improdutivo. Wallyson até ganhava de Bryan pela esquerda e tinha chances, mas sua opção de passe era sempre ruim (ou inexistente, já que os atacantes se posicionavam na pequena área para concluir pelo alto). Dudu continuava perseguindo Montillo, que estava sumido no jogo, e Roger já estava cansado. Everton continuou sendo o melhor cruzeirense em campo, mas também errava.

Uma tentativa de explicar a formação cruzeirense após todas as alterações; meias de volante, volantes de zagueiros e zagueiro de lateral

O América levava perigo em contra-golpes e assustava, mas a pressão do Cruzeiro só aumentava. Em um dado momento, foi possível observar os 11 jogadores do América dentro da sua própria área. Mas a pressão era desordenada. Élber entrou no lugar de Diego Renan, fazendo Everton voltar para a lateral esquerda. A formação ficou um tanto confusa, uma espécie de 3-2-3-2, com Élber na esquerda, Montillo pelo meio e Wallyson na direita atrás dos dois centro-avantes. Roger era volante e nem aparecia no ataque mais. Everton subia para atacar e o Cruzeiro ficava com apenas dois defensores.

Sem sucesso, Mancini preparava Bobô no lugar de WP para dar mais estatura e força e jogar a bola na área (claramente uma estratégia de desespero). Mas foi forçado a mudar, já que Victorino levou uma cotovelada ao disputar uma bola aérea e saiu de campo sangrando. O Cruzeiro só ficou com um zagueiro de ofício em campo, e a formação a essa altura era quase impossível de entender.

O gol de Fábio Júnior, nos acréscimos, dá uma idéia disso. Na hora do lançamento, era Léo que estava encurtando em China (que havia entrado no lugar de Rodriguinho, o melhor em campo), tendo Amaral e Leandro Guerreiro mais centralizados na última linha de defesa. Amaral que não é zagueiro, sai da marcação de Bruno Meneghel, que parte em velocidade. Everton, perdido, deu condições, mas parou pedindo impedimento. Ficaram dois contra Fábio.

Léo cerca China, Amaral se “esquece” de Bruno Meneghel, já pedindo bola, e Everton, fora da imagem, dá condições

É preciso entender que o adversário foi melhor. Executou sua proposta tática com precisão e segurou o ataque sem criatividade do Cruzeiro. Mesmo com três meias e três atacantes. Ao Cruzeiro, restou a Copa do Brasil. Se não chegar ao menos em uma semi-final, pode sobrar para o técnico, e todo o trabalho de 4 meses é jogado fora (infelizmente, mas no Brasil é assim). Mas, como o título do post diz, o problema nunca foi a formação tática, mas sim sua execução.

É compreensível que 2012 seja um ano de mudanças, afinal é uma administração nova, um time novo (diferente da era Adilson Batista, na qual o meio-campo jogava junto há muito tempo). É compreensível que não seja um ano de conquistas. Mas é preciso mudar para que o ano não seja de vergonhas.

Na coletiva do fim do jogo, ao ser perguntado se o Cruzeiro iria brigar na rabeira do Brasileiro novamente, Montillo foi categórico: “No”. E, depois de uma pausa, emendou: “Tomara que no.”

Tomara que “no”, Montillo. Tomara que “no”.

Cruzeiro 3 x 2 Uberaba – Uma virada preguiçosa

Sonolento no primeiro tempo, o Cruzeiro virou o jogo no “abafa” contra o Uberaba na Arena do Calçado, domingo em Nova Serrana.

No primeiro tempo, Cruzeiro num 4-3-1-2 com Élber estacionado na direita, um deserto na esquerda e um abismo entre defesa e ataque

Vágner Mancini pois poupou vários titulares para a partida de volta contra a Chapecoense pela Copa do Brasil. Diego Renan, Anselmo Ramon, Wallyson e Leandro Guerreiro deram lugar a Everton, Bobô, Élber e Amaral. Roger entrou na articulação no lugar do suspenso Montillo, e Thiago Carvalho entrou para ganhar ritmo, já que Léo está suspenso do jogo de quarta-feira.

O Uberaba entrou com uma proposta defensiva em seu 4-3-2-1, com Gustavinho e Gabriel Davis atrás do solitário atacante Araújo.

Foi um jogo sem muita graça taticamente, com o Cruzeiro visivelmente preguiçoso e desentrosado. O que mais se destacou, no entanto, foi a maneira divorciada com a qual o Cruzeiro jogava. Roger recuava para fazer a saída, mas WP, que tentou se movimentar mais, e Élber, estacionado na ponta direita, não recompunham com a perda de posse de bola. Quando roger avançava, também não voltava depois pra defender. Assim, os 7 ou 6 jogadores mais recuados do Cruzeiro ficavam muito distantes dos 3  ou 4 mais avançados.

Dois momentos que ilustram o divórcio entre os defensores e os atacantes cruzeirenses

O jogador mais avançado do Uberaba, Araújo, marcava o volante cruzeirense que ficava na proteção e com isso, o time do Triângulo tinha 5 ou 6 homens no meio-campo, contra apenas 3 cruzeirenses. O resultado direto é que o Cruzeiro tinha dificuldade em furar o bloqueio vermelho, mesmo com Roger, que não fez uma boa partida, recuando para qualificar a saída. Os flancos também não eram boas vias, já que Marcos e Everton pouco avançavam. O lateral direito tinha Élber à sua frente, que estava sumido atrás da marcação e não dava opções de passe. Já o camisa 6 centralizava quando subia, invertendo com Marcelo Oliveira, e portanto, não fossem as raras incursões de WP pela canhota, aquela seria uma área deserta do ataque azul.

Além disso, quando tinha a bola, o Uberaba tinha plena liberdade para tocar a bola sem ser incomodado. O Cruzeiro não encurtava espaços e o Uberaba, que veio pra se defender, parece ter ficado surpreso com o espaço que tinha e pouco chegou ao terço final do campo.

O gol uberabense ilustra bem a situação. Gabriel Davis lançou uma bola quase do meio-campo, onde havia espaço, e achou Gustavinho em velocidade para cabecear e Fábio defender. Nenhum defensor celeste acompanhou o lance e Araújo pegou aproveitou o rebote.

Note de onde Gabriel Davis cruza para achar Gustavinho livre dentro da área

Mesmo após o gol, o desinteresse e a apatia continuaram. O Uberaba recuou ainda mais e passou a jogar no erro cruzeirense, que era frequente, principalmente no último passe. Os contra-ataques se tornaram frequentes e perigosos. E o primeiro tempo assim terminou, sonolento.

O técnico celeste revelou, na entrevista coletiva ao fim do jogo, ter dado uma bronca bem dada nos jogadores no intervalo. Ele classificou o time como preguiçoso, mas não fez nenhuma alteração. Aparentemente, a bronca deu certo, pois só aos 5 minutos de jogo o Uberaba teve sua primeira posse de bola. O time celeste avançou suas linhas e ficava bem mais tempo no campo de ataque. Roger passou a jogar mais perto do gol e Wellington Paulista se movimentava mais. Marcelo Oliveira e Everton combinavam bem pelo lado esquerdo. Mas o último passe ainda continuava ruim, dando o contra-ataque para o Uberaba.

O segundo gol uberabense foi uma infelicidade do lateral Marcos. Claro que o cruzamento veio num contra-ataque nas costas de Everton, que estava bem avançado. Mas foi um passe despretensioso que não tinha alvo certo: a ofensiva adversária já estava sob controle. Não é o caso de se dizer que Marcos estava no lugar errado.

Antes do gol, Wallyson já estava preparado para ir a campo no lugar do apagado Bobô. Foi jogar na meia-esquerda, um pouco mais recuado. WP foi para a referência. Depois, Fábio Lopes entrou na vaga de Marcos e foi para a ponta esquerda, Amaral passou a revezar com Victorino na lateral direita e o Cruzeiro passou a um 4-3-3 mais clássico, com triângulo de base alta no meio, com Marcelo Oliveira na volância, comandando a saída. Era a tentativa de Mancini de sufocar o Uberaba com a superpopulação no campo de ataque. Já no Uberaba, Paulo César Catanoce tirou Gabriel Davis e lançou o atacante Marlon, fazendo um losango com Gustavinho de trequartista, mas voltando para defender. A ideia era explorar ainda mais os contra-ataques com bolas longas, para tentar o mano-a-mano com os dois defensores cruzeirenses.

A virada começou por causa de dois fatores. Primeiro, o mesmo lado esquerdo que ficou despovoado no primeiro tempo agora estava bem movimentado. Por ali, Wallyson, Everton e Fábio Lopes eram demais para o lateral Éder. E a movimentação dentro da área de WP também era interessante, já que os outros dois atacantes azuis ficavam fora da área, atraindo a marcação. Disputando contra apenas um único marcador, o camisa 9 cabeceou certeiro um cruzamento de Wallyson da esquerda para diminuir.

Após as alterações, Cruzeiro na forma mais clássica do 4-3-3, com dois meias, Victorino liberado e WP comandando a área

Éder saiu para a entrada do zagueiro Alberto, que foi para a mesma posição: lateral-direito. Reforçar a marcação era preciso, pensou Paulo César Capanoce. Vágner Mancini não quis saber e lançou Gilson no lugar de Roger, que já estava em marcha lenta, empurrando Everton para o meio. Wallyson inverteu de lado e foi para a ponta direita, e Élber ficou na articulação mais central junto com Everton. O jogo passou a ser praticamente de um time só, ainda que o Cruzeiro pecasse no último passe novamente.

A última substituição do Uberaba foi a entrada de Jeferson no lugar de Gustavinho. Alteração direta, apenas para ter sangue novo para puxar os contra-ataques: o losango no meio-campo se manteve. Mas a expulsão de Gabriel Elói dois minutos fez com que o técnico uberabense reconfigurasse a equipe num 4-4-1, com o recuo de Jeferson para a segunda linha. Vágner Mancin plantou Amaral e Thiago Carvalho e liberou Victorino para atacar. E numa insistência pelo lado direito, Wallyson recuperou a bola, achou WP livre dentro da área, que foi ao fundo e cruzou com força. A bola bateu no uruguaio depois da defesa do goleiro e entrou. Era o empate.

O jogo seguiu na mesma toada, e o Uberaba se defendendo bravamente, mesmo já rebaixado e com os jogadores sabendo que seriam dispensados no dia seguinte. Os jogadores caíam no gramado para forçar atendimentos, retardavam o jogo ao máximo. O Cruzeiro chegava sempre com muitos jogadores no ataque e errava ou na assistência ou na conclusão. Mas um personagem improvável apareceu e resolveu o jogo. Marcelo Oliveira bloqueou bem Wellington no meio-campo, que teve de girar para trás. Foi perseguido e, com a ajuda de Élber, desarmado. Marcelo Oliveira passou livre em velocidade e recebeu do garoto, tirando seu marcador com estilo e cruzando para WP, livre na pequena área, decretar a virada nos acréscimos. Há que se notar que havia ainda dois outros jogadores celestes dentro da área para apenas um zagueiro.

Lições que podem ser tiradas deste jogo: Élber é um jogador jovem, tem técnica, mas precisa ter mais inteligência tática. Isso significa pensar por si próprio e ocupar os espaços da maneira certa, e não ficar preso somente a um setor do campo porque o técnico pediu. Definitivamente, WP rende muito mais quando joga dentro da área. Temo que ele e Anselmo Ramon tenham que disputar a mesma posição. E é preciso encarar todos os jogos com a mesma seriedade, mesmo se poupando para uma decisão de vaga como na quarta-feira pela Copa do Brasil, mesmo já classificado para as semi-finais do Mineiro.

Porque neste jogo conseguimos virar na base da pressão, mas em outro o adversário se defenderá muito bem e poderemos não conseguir. E este jogo, com certeza, já vai estar valendo muito.

Chapecoense 1 x 1 Cruzeiro – O pasto e as vacas magras

A péssima condição do gramado da Arena Índio Condá, em Chapecó, não escondeu a atuação ruim do Cruzeiro no empate de 1 tento com a Chapecoense. Walter empatou usando a arma do adversário, a bola aérea, muito porque o gramado não deixava a bola rolar e prejudicava a equipe mais técnica. Mesmo assim o Cruzeiro teve mais chances de fazer o gol.

A formação inicial do Cruzeiro, desta vez com Everton na esquerda, que tende a centralizar mais, e DR na direita sendo atrapalhado pela má atuação de WP

Vágner Mancini escalou o Cruzeiro no 4-2-1-3 habitual, mas com uma mudança nas laterais: provavelmente devido à má atuação no Superclássico, Marcos foi sacado para dar lugar a Everton, mudando Diego Renan de lado. Com a alteração, o técnico esperava diminuir a desvantagem numérica no meio-campo, com Everton tendendo a centralizar mais e deixar Wallyson mais aberto. A Chapecoense lotou o meio com 6 homens num 3-4-2-1, com João Paulo à frente de Athos e Neném.

No encaixe de marcação, o lateral direito William ficou responsável por vigiar Wellington Paulista, e por isso ficou mais plantado, enquanto Eliomar teve mais liberdade, batendo com Everton; os três zagueiros marcavam Wallyson e Anselmo Ramon; Wanderson perseguia Montillo em qualquer lugar do campo; os dois meias, Athos e Neném, observavam mais de longe os volantes cruzeirenses; e João Paulo tentava sair da marcação de Léo com Victorino na sobra. Diogo Roque, volante da Chapecoense, não tinha a quem marcar e muito menos tinha marcação, por isso ficou à vontade com a bola.

Do lado do Cruzeiro, esse homem era Diego Renan pela direita. O lateral até tentou apoiar, mas foi impedido de ter uma atuação melhor por causa de Wellington Paulista, que fez um péssimo primeiro tempo. o camisa 9 não conseguiu ganhar praticamente nenhuma bola de William, e quando Diego Renan ou outro jogador aparecia para ajudar, ele nunca passava a bola. Foi uma surpresa ele não ter sido substituído já no intervalo. Do outro lado, Wallyson recuava e abria para sair da marcação de Fabiano. Mas o jogo não fluiu pelo lado direito no primeiro tempo, pois os Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira estavam preferindo o setor central, abusando das bolas longas.

Mesmo com inferioridade numérica no meio-campo, o Cruzeiro acabou criando mais chances de gol que o adversário. A pontaria dos atacantes, principalmente de Anselmo Ramon, no entanto, não estava ajudando. A Chapecoense conseguiu seu gol numa jogada de bola parada, chuveirinho na área – e todos no Cruzeiro disseram que sabiam que esse era o ponto forte do time do Sul. Falha de marcação de Marcelo Oliveira, que era o responsável pela marcação no zagueiro Souza, autor do gol. Ele nem chegou a subir para disputar a bola.

A entrada de Walter no lugar de Wallyson no intervalo foi uma surpresa. Não pela entrada de Walter, mas sim pelo jogador substituído: o homem certo a deixar o campo seria Wellington Paulista. Mancini justificou após o jogo que, como o campo era ruim, o jogo passou a ser muito aéreo e de força, ao invés de técnica, o que desfavorecia o camisa 7 cruzeirense. Discordo, pois na verdade o Cruzeiro é que escolheu não jogar pelo setor esquerdo, onde Wallyson ficava livre de marcação quando recuava.

Com Walter, Anselmo Ramon passou para a esquerda e disputava espaço com o lateral direito Rafael Mineiro, que tinha substituído William, amarelado, no intervalo. Com Neném recuando para a terceira linha pela esquerda, a Chapecoense efetivamente fez as famosas duas linhas de quatro, com Athos articulando para João Paulo no 4-4-1-1. No Cruzeiro, Walter foi para a referência, e o Cruzeiro passou a jogar mais pela canhota. Do outro lado, Diego Renan teve mais liberdade, pois Neném não é bom marcador, é mais articulador. Ele recebeu uma bola pelo alto de Léo, explorando espaço aberto por WP, que recuou puxando a marcação – um dos poucos acertos dele na partida. O lateral tinha a opção de servir o camisa 9, mas (talvez sabiamente) optou por cruzar a bola diretamente na área. Walter apareceu no meio dos zagueiros da Chapecoense para empatar. Muito se falou sobre a estatura e a força dos zagueiros catarinenses antes e durante a partida, mas este gol prova que posicionamento conta mais do que estatura.

Depois de mais uma jogada errada de WP, Mancini finalmente percebeu o óbvio e tirou o atacante do jogo, lançando Roger. O esquema tinha mudado para 4-2-2-2, mas com dois homens de área. Roger não jogou como volante como nas partidas iniciais do Campeonato Mineiro, mas sim como um meia de ligação. O jogo ficou mais truncado, com o Cruzeiro com mais posse mas sem conseguir penetrar nas duas barreiras catarinenses, e a Chapecoense ameaçando com Athos, o jogador mais lúcido do time. Vágner Mancini lançou, então, Élber no lugar de Diego Renan, plantou Leandro Guerreiro à frente da zaga e deslocou Marcelo Oliveira para a direita, para cobrir as investidas do garoto. Era uma espécie de losango super ofensivo, montado para pressionar e buscar a vitória.

Após as alterações, o 4-2-2-2 com Elber cuidando de todo o setor direito e MO cobrindo seus avanços; após a expulsão de Leo, LG na zaga e Élber mais plantado

Mas a expulsão de Léo, com cartão vermelho direto, atrapalhou os planos. Élber ficou bem mais plantado do que o planejado pela lateral direita, e Leandro Guerreiro foi para a zaga ao lado de Victorino. Marcelo Oliveira teve a companhia de Roger, e Montillo voltou a ficar sozinho na criação. O 4-2-1-2 cruzeirense levou sustos, pois Élber não é lateral e muito menos marcador, e por ali a Chapecoense deu um certo trabalho para Fábio. Mas não produziu gols, e forçou o segundo jogo com um empate na bagagem.

É fato que o campo atrapalhou, mas a atuação ruim de WP e a boba expulsão de Léo atrapalharam ainda mais. A qualidade do campo não pode servir de desculpa, e nem esconder que o Cruzeiro não fez uma boa atuação. Fosse a Chapecoense um pouco mais ofensiva e não tão previsível, sairia do jogo com uma vitória. Ainda há muito o que melhorar: WP precisa voltar a jogar e parar de reclamar; Anselmo Ramon, como homem de referência, não pode perder tantos gols; as marcações individuais têm conseguido diminuir o poder de ataque de Montillo, que parece desinteressado; e os atacantes abertos têm que ajudar mais na recomposição, já que Montillo praticamente não volta.

Mesmo num pasto, o jogo foi de vacas magras. Mas a continuar assim, talvez as vacas fiquem magras durante toda a temporada.

Atlético/MG 2 x 2 Cruzeiro – Fraqueza nos flancos mas força na cabeça

Vulnerável em seus dois flancos no primeiro tempo, o Cruzeiro teve frieza ártica para se reequilibrar e empatar o primeiro Superclássico do ano.

Note o posicionamento recuado de Guilherme e a liberdade de Bernard pela esquerda no mesmo lance

Nenhum dos dois treinadores mexeu no esquema de costume de suas equipes: o Cruzeiro no 4-2-1-3, com Wallyson pelo lado esquerdo e Wellington Paulista do lado oposto, e o Atlético Mineiro no 4-2-2-2, que com a presença de Bernard aberto pela esquerda e Danilinho um pouco mais centralizado, mas pela direita, por vezes variava para um 4-2-3-1, com Guilherme vindo jogar mais recuado na articulação central.

Além disso, para compensar a agressividade de seu lateral direito Marcos Rocha, Cuca orientou Richarlyson a ficar mais plantado, vigiando WP. Com mais os dois zagueiros, o Atlético Mineiro ficava numa situação de mano-a-mano em sua defesa contra o trio de ataque azul. Porém, isso não chegou a ser um problema, pois como havíamos previsto no fim do último post como um potencial problema, o Atlético pressionou os laterais e os volantes cruzeirenses e matou a saída de bola adversária. Marcos, que deveria vigiar Bernard, não fez uma boa partida, e cedeu bastante espaço ao meia atleticano. Do outro lado, Diego Renan e Marcelo Oliveira não se acertavam na marcação de Marcos Rocha e Danilinho, que centralizava mais. Pierre ficou no encalço de Montillo, liberando Filipe Soutto para duelar com Leandro Guerreiro. Eram 7 contra 7 no campo ofensivo, com ou sem posse de bola.

O domínio territorial e de posse de bola, no entanto, não vinha se traduzindo em chances para a equipe do Atlético Mineiro. A rigor, a maior chance de gol saiu em uma jogada de contra-ataque que Marcelo Oliveira salvou, não sendo, portanto, resultado direto da maior imposição em campo. O gol saiu numa movimentação inteligente de Bernard e numa falha de marcação de Diego Renan. O meia atleticano arrastou Marcos consigo para dentro da área, liberando um mundo de espaço para Richarlyson avançar e cruzar. Se um baixinho como Danilinho teve que se agachar para cabecear a bola dentro da pequena área, isso indica falha de marcação.

Bernard arrastou Marcos para o meio da área, abrindo espaço para Richarlyson cruzar para Danilinho, que se livrava de Diego Renan

Mesmo depois do gol, o panorama não mudou muito. Porém, a pressão na saída de bola finalmente deu resultado no lance do segundo gol. Fábio tentou sair pelo lado, mas o Atlético Mineiro conseguiu recuperar a posse de bola com André, que arrastou Leo para fora da área. Ele passa a Danilinho, que passa para Guilherme – novamente mais recuado para fazer o último passe – que devolve para Danilinho, novamente livre da marcação de Diego Renan. Leo, que deveria estar acompanhando André, preferiu encurtar em Guilherme, deixando André livre para invadir a área. Danilinho conseguiu passar a bola por baixo de Fábio e achar André livre para completar.

Léo é tirado da área por André, e Danilinho tabela com Guilherme sem que Diego Renan o acompanhasse; Léo prefere marcar Guilherme do que acompanhar André, que invade a área sem ser incomodado

Ao final da partida, Vágner Mancini negou que o esquema tivesse sido o culpado pela má atuação do Cruzeiro no primeiro tempo. Eu concordo com ele: se existem só três homens no meio-campo, é preciso que os atacantes abertos recuem para ajudar a recomposição, mas WP e principalmente Wallyson não fizeram isso. Assim, o Cruzeiro ficou virtualmente com 3 (LG, MO e Montillo) contra 6 (Marcos Rocha, jogando bastante avançado, Pierre, F. Soutto, Danilinho, Bernard, e por vezes, Guilherme). A má atuação dos laterais Marcos e Diego Renan, e dos ponteiros Wallyson e WP é que contribuiu para a fraqueza celeste nos flancos.

O 4-2-2-2 celeste após as alterações, com Roger ao lado de Montillo e os volantes mais livres

No intervalo, Wallyson saiu para entrada de Roger, desfazendo o 4-3-3. Além disso, Vágner Mancini lançou Everton no lugar de Marcos, mandando Diego Renan para a direita. A diferença é que Roger não foi jogar como volante, como nas primeiras partidas do ano, e sim como meia, um pouco mais recuado mas ao lado de Montillo. Essa simples mudança reequilibrou o meio-campo: com dois meias avançados, os volantes do Atlético Mineiro já não tinham tanta liberdade para apoiar o ataque. Everton vigiava Danilinho, Diego Renan seguia Bernard e os dois zagueiros cuidavam da dupla de ataque adversária. Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira estava, de repente, livres para apoiar mais ou dobrar a marcação nos meias abertos.

Com a marcação encaixada, o jogo ficou equilibrado, com chances de parte a parte. Pierre já não tinha tanto êxito em marcar Montillo, que agora tinha mais liberdade com Roger a seu lado. Numa das arrancadas, o argentino tabelou, invadiu a área e driblou Renan Ribeiro. Sem ângulo, cruzou de esquerda para Anselmo Ramon, que conseguiu perder.

Com o jogo equilibrado, os laterais passaram a avançar um pouco mais. Depois de Marcelo Oliveira recuperar uma bola ainda no campo de ataque, ele passou a Diego Renan, aparecendo na frente. O lateral fez o cruzamento, mas a bola desviou no zagueiro atleticano e chegou até Anselmo Ramon, que, como um bom centro-avante, acreditou na jogada e mandou pro fundo das redes, depois da falha do goleiro. Mas é preciso destacar que também há méritos para o cruzamento: o goleiro só falha em bolas que vão até ele. Se o cruzamento fosse evitado, a falha não existiria.

Bola roubada por Marcelo Oliveira e o posicionamento avançado de Diego Renan, o que não ocorreu no primeiro tempo, logo antes do cruzamento para o primeiro gol celeste

O gol assustou um pouco o time atleticano. Cuca tirou Bernard, que já não conseguia mais levar vantagem em cima de Diego Renan e espetou Neto Berola pela esquerda em seu lugar. Apesar de ser um meia no lugar de um atacante, o esquema praticamente se manteve. Depois, Cuca tirou André, bem anulado pela zaga celeste, para a entrada de Mancini. Este passaria à articulação junto com Danilinho e Guilherme se tornaria atacante clássico ao lado de Neto Berola, um 4-2-2-2 sem muita variação, espelhando o esquema do adversário.

A máxima no futebol é: se espelhar o esquema, a técnica sobressai. E a técnica, no time celeste, tem nome e sobrenome: Walter Montillo. O meia argentino, que já havia forçado um cartão amarelo de Pierre, roubou uma bola no meio-campo, avançou atraindo a marcação de dois atleticanos e mandou uma cavadinha espetacular achando Anselmo Ramon dentro da área. O centro-avante dominou com um pé e chutou com o outro, no giro. O justo empate havia chegado.

Montillo atrai a marcação de dois adversários e dá a cavadinha no meio dos zagueiros atleticanos achando Anselmo Ramon para o empate

Walter já havia entrado no lugar de WP antes do gol, mas não alterou muito o esquema. Montillo continuava vencendo Pierre, que acabaria levando o segundo amarelo e sendo expulso. Vendo que perderia o meio-campo, Cuca lançou um terceiro zagueiro, Luiz Eduardo, no lugar do atacante Guilherme, alterando o esquema para uma espécie de 3-5-1. Os laterais passaram a jogar no meio-campo e, incrivelmente, o Atlético Mineiro voltava a ter um homem a mais no setor, mesmo com dez homens em campo. O resultado foi mais posse de bola, mas sem ter referências na frente. O Cruzeiro não teve dificuldades para segurar o adversário, mas tampouco se lançou à frente para tentar vencer a partida.

As duas conclusões mais importantes a serem tiradas deste jogo são: primeiro, o esquema com três atacantes é sim muito interessante, mas serão necessárias muitas correções para levar este esquema ao Brasileirão e às fases finais da Copa do Brasil. Ou Vágner Mancini cobra aplicação tática de seus jogadores, ou então abandona o esquema e volta com quatro no meio. Segundo, há que se destacar o fator psicológico do Cruzeiro na recuperação durante o segundo tempo. Com frieza, como deve ser, diminuiu o ritmo do jogo e se impôs aos poucos.

Vágner Mancini soube cobrar de seus comandados e fazer as mexidas certas. Mas podia tê-las feito ainda no primeiro tempo. Portanto, nota 7 para ele.