Especial: Prévia tática da decisão do Campeonato Mineiro 2013

Chegou a hora. Era previsível: o Superclássico decidirá o Campeonato Mineiro. E, pela primeira vez nos últimos anos, sem um claro favorito, pois era comum um dos times estar bem e o outro “mais ou menos”. Agora não: ambos provaram que podem jogar bem. Então, nada mais justo do que fazer uma prévia tática sobre o maior jogo de Minas Gerais. Vou além: com o Carioca e o Gaúcho decididos, e com a final do Paulista com dois times que não inspiram confiança, a decisão do Mineiro provavelmente será o maior jogo do Brasil nos próximos fins de semana.

Um pouco sobre o jogo contra o Villa

Mas antes, pra não dizer que não falei de flores, uma rápida pincelada sobre o jogo da volta das semifinais contra o Villa Nova. Muitos titulares foram poupados já pensando na decisão de domingo, naquilo que foi uma batalha dos losangos de meio-campo. Na verdade, batalha é modo de dizer, pois foi praticamente um ataque contra defesa, já que o objetivo claro do time de Nova Lima era perder de pouco pra ficar com o título simbólico de “Campeão do Interior”.

Rafael no gol, com Mayke, Paulão Bruno Rodrigo e Egídio na linha defensiva. Guerreiro foi o vértice baixo, com Tinga pela direita e Lucas Silva pela esquerda, e partindo do centro para as pontas, Ricardo Goulart. Diego Souza jogou mais à frente, uma espécie de segundo atacante, se aproximando de Borges. Um 4-3-1-2 losango, com os corredores pelos lados abertos para os laterais subirem até a intermediária adversária e encontrarem uma muralha. Tinga e Mayke combinaram bem mas tiveram dificuldade com a forte marcação do Villa, mas pelo lado esquerdo, boa aparição de Lucas Silva e Egídio, que coroou sua boa atuação com um belíssimo gol de falta.

Já no domingo, os treinadores devem escalar seus times no mesmo 4-2-3-1 costumeiro de suas equipes. E, apesar de jogarem no mesmo sistema base, a forma de atuar é diferente. Isso porque os jogadores que compõem os sistemas tem características diferentes.

Perto das balizas

130510_ataque_atleticomg_cruzeiroA começar pelas duas grandes áreas. Enquanto Jô é um centro-avante típico, grandalhão, com boa bola aérea tanto na disputa no meio quanto dentro da área para finalização, e boa retenção de bola, para esperar seus companheiros passarem e fazer o passe, Borges é mais oportunista e tem melhor senso de posicionamento. Léo e Bruno Rodrigo deverão fazer um jogo mais físico contra o atleticano, mas Réver e provavelmente Gilberto Silva terão um combate mais “leve” contra Borges. Marcelo deveria posicionar nosso camisa 9 mais em cima de Gilberto Silva, que é mais lento e menos técnico do que Réver.

130510_defesa_atleticomg_cruzeiroMas existe uma semelhança: ambos vão sair da área e tentar se desvencilhar da marcação dos zagueiros adversários. Borges deverá recuar um pouco mais para receber algumas bolas longe da perseguição dos zagueiros atleticanos, obrigando-os a sair à caça e abrindo espaço para Dagoberto e Diego Souza chegarem de trás. No Atlético Mineiro, que joga junto há mais tempo, o quarteto ofensivo roda mais, e provavelmente veremos Léo ir atrás de Jô até o meio-campo se for preciso. Cabe aos companheiros de linha defensiva fazerem a cobertura.

Meiúca

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No centro do meio-campo, nenhuma das duas equipes possui volantes que saem muito para o jogo. Um deles deverá ser destacado para fazer uma perseguição ao meia-central adversário: Pierre e Leandro Guerreiro serão as sombras dos camisas 10 do time adversário, Diego Souza e Ronaldinho. Mas, com a diferença de estilos dos meias, provavelmente Guerreiro fará uma marcação mais forte do que Pierre, já que Diego não é passador como Ronaldinho, mas sim carregador de bola, mais físico, chegando mais à área, quase como um segundo atacante.

Com isso Leandro Donizete e Nilton travarão um duelo particular. Marcadores por natureza, ambos terão uma função de chegar mais à frente para ser um quarto homem de meio nas ações ofensivas. No clássico do início do ano, Nilton foi mais participativo e deu uma ligeira vantagem no meio-campo para o Cruzeiro, que em clássicos faz toda a diferença.

Na destra

Pela direita, o jogo será menos intenso, apesar da presença do leve Bernard duelando com Ceará. Nos últimos clássicos, Ceará fez bem o papel primário de um lateral: defender. E com isso levou vantagem sobre Bernard na maioria das vezes. A única exceção foi o lance do primeiro gol na última rodada do Brasileirão 2012. Na reabertura do Mineirão, Bernard pouco produziu pelo lado esquerdo, principalmente por causa do bom trabalho defensivo do camisa 2

Na frente, Everton Ribeiro não deve explorar tanto a quina do campo, e sim entrar mais para o meio, também pelo fato de ser um ponteiro meia de origem, ao contrário dos outros três (Dagoberto pelo Cruzeiro, e Bernard e Tardelli pelo Atlético Mineiro, que são atacantes). Richarlyson deve acompanhá-lo onde for, também pelo fato de ser um lateral mais preso, que apoia pouco. Isso abre o corredor para Ceará subir e dar amplitude, mas com muita cautela para não abrir espaço às suas costas e proporcionar uma das armas mais usadas do adversário: a diagonal longa do lateral para o ponteiro oposto.

Na canhota

130510_esquerda_atleticomg_cruzeiroChegamos à região onde acredito ser a mais intensa da partida. Tanto Éverton quanto Marcos Rocha são laterais que apoiam bastante, com muito ímpeto ofensivo. Ao mesmo tempo, estarão a cargo de marcar atacantes rápidos, com características ligeiramente diferentes. Dagoberto é mais driblador, rápido, bom na vitória pessoal, enquanto Tardelli é um pouco mais lento, mas se movimenta mais pelo campo, chegando na área junto com Bernard pelo outro lado. Tanto Everton quanto Marcos Rocha correm riscos se subirem demais para o apoio, abrindo espaços para os adversários ponteiros explorarem.

Marcos Rocha é, na modesta opinião deste blogueiro, o ponto mais sensível do time adversário. Se Dagoberto estiver em tarde inspirada, dificilmente o lateral atleticano conseguirá pará-lo, pois não tem a mesma experiência e serenidade que Ceará tem na marcação de Bernard (duelos muito semelhantes, por sinal). Eu diria que ali é o caminho do gol, principalmente porque Diego Tardelli não recua tanto no trabalho defensivo, e isso pode causa uma sobrecarga favorável ao Cruzeiro naquele lado.

Semelhanças sem a bola…

É claro que o jogo não será restrito a estes duelos, devido à movimentação dos quartetos de frente e ultrapassagens do volante que sobrar e dos laterais para as ações ofensivas. Mas como no Brasil praticamente não se vê marcação por zona e sim individual por função — como bem disse Eduardo Cecconi em seu blog, o famoso “cada um pega o seu e vai com ele até o final” — esses devem ser os duelos mais comuns, pois tanto Cruzeiro quanto Atlético Mineiro se utilizarão deste sistema.

Além disso, é bem provável que ambos os treinadores ordenem seus homens de frente a marcar o adversário perto da área ofensiva, o famoso “pressing”. Portanto, podemos esperar muitos passes errados, muita “bola pro mato” e, principalmente, um jogo muito pegado, físico — provavelmente haverá mais cartões amarelos que o normal. Talvez um ou dois vermelhos.

… e diferenças com ela

Com a bola, porém, os dois times trabalham de maneira diferente. O Atlético Mineiro é intenso, aumenta a rotação do jogo e não tem medo de usar ligações diretas, principalmente em seu estádio. Isso porque tem um bom pivô, jogadores velozes pelas pontas e um passador nato no meio. O entrosamento de dois anos jogando junto sob o mesmo treinador também ajuda. Já o Cruzeiro é um time que valoriza a posse de bola e — pra usar um termo que Marcelo Oliveira gosta — tenta envolver o adversário, abrindo espaço entre as linhas com passes rápidos, mas com mais calma e escolhendo a hora de acelerar.

Em suma: ambos são times velozes, mas o Atlético Mineiro é intenso sempre, enquanto o Cruzeiro tenta variar. Como o primeiro jogo é no Independência, e o Atlético Mineiro tem que inverter a vantagem, provavelmente tentará acelerar o jogo a toda hora. Cabe ao Cruzeiro saber aproveitar isso, “cansando” o adversário e tocando a bola para trazer a partida para o seu gosto.

O primeiro grande teste

O primeiro grande teste -- para AMBAS as equipes

O primeiro grande teste — para AMBAS as equipes

Muito se fala sobre este ser o primeiro grande teste para o Cruzeiro na temporada. De fato, os adversários que o Cruzeiro enfrentou até aqui, com exceção da reabertura do Mineirão, respeitaram demais o Cruzeiro e não encararam de frente. Mas reitero a conclusão do post passado: o Cruzeiro enfrentou o mesmo nível de oposição nas temporadas anteriores e não teve o mesmo rendimento — a invencibilidade precisa sim ser levada em conta. Assim, por se tratar de um clássico, pela vantagem que o Cruzeiro tem, e pela confiança que o time passa à torcida, é possível dizer que o Cruzeiro é o time com mais chances de vencer o “badalado” Atlético Mineiro desta temporada.

E, pra ser sincero, com a bolinha que o São Paulo jogou na Libertadores, e com o nível do futebol brasileiro tão acima dos demais vizinhos sul-americanos… É o primeiro grande teste pra eles também.

 

Resende 1 x 2 Cruzeiro – O preço da preguiça

Bem consciente de sua superioridade sobre o adversário — o que pode ser bem perigoso no esporte bretão — o Cruzeiro venceu mais uma. Mas num lance de falta de sorte com uma pitada generosa de preguiça, terá de jogar a partida de volta contra o Resende no Mineirão.

Apesar de Marcelo Oliveira colocar o que é considerado o time titular em campo, à exceção de Ceará, o time claramente se poupou, pois sabia que o adversário era inferior. Mas o Resende, por sua vez, também sabia disso, e tratou de fechar todos os espaços possíveis para poder visitar o Mineirão. E não teriam conseguido se o Cruzeiro tivesse jogado com um pouco mais de afinco.

O Cruzeiro entrou no 4-2-3-1 usual, mas sem velocidade e movimentação dos homens de frente, imporantíssimos neste sistema

O Cruzeiro entrou no 4-2-3-1 usual, mas sem velocidade e movimentação dos homens de frente, importantíssimos neste sistema

O treinador do time da casa, Eduardo Allax, escalou o Resende num 4-3-1-2, mas diferente do comum para este sistema, o meio-campo não era um losango. A linha defensiva do goleiro Mauro era composta pelos zagueiros Marcelinho e Thiago Sales, Filipi Souza fechando pela direita e Kim na lateral esquerda. Os três volantes formavam uma parede na frente da área, com Dudu por dentro, Léo Silva na direita e Denilson na esquerda. Hiroshi ficava mais à frente e com a responsabilidade de puxar os contra-ataque, e era ladeado por Geovane Maranhão e Elias.

Já o Cruzeiro foi escalado por Marcelo Oliveira no mesmo padrão que você, caro leitor assíduo deste blog, já está acostumado a acompanhar. De trás pra frente e da direita pra esquerda: Fábio no gol; Mayke (na vaga de Ceará), Léo e Bruno Rodrigo e Everton na linha defensiva; Leandro Guerreiro e Nilton na volância; e Everton Ribeiro, Diego Souza e Dagoberto atrás de Borges. Nenhuma novidade.

Bloqueio pelo centro

O treinador Eduardo Allax talvez tenha entrado neste blog e lido sobre a facilidade que Diego Souza teve na entrada da área na primeira semifinal contra o Villa (sim, eu sei que não). Isso porque plantou os três volantes fazendo uma muralha contra Diego Souza. O camisa 10, sem imprimir mesma movimentação de jogos anteriores, ficou sumido na primeira etapa. Além disso, Allax plantou os laterais para fazer a cobertura dos volantes de lado, que saíam à caça dos meias cruzeirenses e ainda fazia seus atacantes recuarem pelos flancos com Mayke e Everton. Quase um 4-5-1.

O Cruzeiro ficou muito com a bola nos pés (quase 70%) mas era previsível, lento, sem intensidade. Não tentou achar espaços entre as linhas, não tentou se movimentar para confundir a marcação carioca. O 4-2-3-1 estava lá, rígido, sem nenhuma maleabilidade. E aqui esbarramos num velho problema: a volância pouco criativa. Leandro Guerreiro e Nilton são bons marcadores, mas não os vejo fazendo mais do que entregar para um meia ou lateral quando têm a bola nos pés.

E basicamente foi isso o que aconteceu no primeiro tempo, um jogo modorrento, moroso, como o próprio Marcelo Oliveira definiu em entrevista após a partida. A melhor ilustração sobre isso, no entanto, é o “narrador” do tempo real da ESPN Brasil no site: “Fulano está fora do jogo”, “Cruzeiro toca a bola”, “O jogo está equilibrado”, “O Cruzeiro fez 18 gols nos últimos jogos”. Pouco era sobre o que acontecia dentro de campo, o que, ironicamente, era de fato o que acontecia em campo.

Leve pisada no acelerador

No intervalo, Allax lançou o veteraníssimo Acosta na vaga de Geovane Maranhão. Foi quase um seis por meia dúzia, tirando o fato de que Acosta, pela experiência, tinha mais qualidade para fazer a retenção da bola longa e esperar os companheiros mais rápidos — e jovens — chegarem para a trama ofensiva. O treinador do Resende pode ter pensado que o Cruzeiro ficaria naquela passividade o jogo todo, mas não. Com o mesmo time do primeiro tempo, o Cruzeiro entrou mais intenso e não demorou a causar problemas. A movimentação dos meias — principalmente de Dagoberto — e a velocidade nos passes foram determinantes, e o Cruzeiro chegou ao primeiro gol justamente assim: jogada rápida para Dagoberto pela esquerda, que partiu para o drible veloz e cruzou forte. A zaga rebateu pra frente e Éverton Ribeiro, presente no meio da área, pegou o rebote fatal.

Logo depois, Nilton ampliaria em chutaço de fora da área, o que ilustra bem o que acabei de dizer ali em cima. Nilton não é um jogador criativo mas tinha bastante espaço para avançar. Então, usou sua melhor arma ofensiva: o chute. Com um volante com mais qualidade de passe, mais visão de jogo, muito provavelmente algum defensor teria de deixar a formação para encurtar a marcação neste volante, e isso consequentemente abriria mais espaços em outros setores que estavam congestionados, dando mais liberdade para os meias.

Mudança tática num time, psicológica no outro

Após o gol, Eduardo Allax tirou seu lateral direito Filipi Souza e lançou Guto, que foi jogar na meia direita. Uma tímida tentativa de alcançar um gol que provocaria a partida de volta. Com isso, o volante Léo Silva foi puxado para a lateral e o Resende agora estava num típico 4-2-2-2, mas ainda com a maioria dos jogadores com atribuições defensivas. Já o Cruzeiro voltou a fritar o jogo depois do placar “necessário” construído. Quis se poupar e ficar com a bola, confiando na sua própria capacidade de manter o time adversário longe de seu próprio gol.

Marcelo Oliveira pressentiu o placar perigoso e lançou Ricardo Goulart na vaga de Everton Ribeiro, tanto para “energizar” o time como para poupar o camisa 17, que jogava com um torcicolo homenageado na hora do gol. Depois entrou Élber na vaga de Diego Souza, e Goulart foi para o centro, com Élber na direita.

Não deu muito tempo pra avaliar. Num ataque despretensioso, a bola sobrou para Guto na entrada da área. Nilton estava perto e podia ter tentado bloquear o chute, mas não foi com aquela vontade (veja aos 02:10 neste vídeo na repetição por trás do gol). A bola saiu torta, pegou em Léo no meio do caminho e matou o goleiro Fábio. Era a morosidade cobrando o seu preço no futebol.

O gol animou o time da casa, que tentou vir pra cima na vontade, mas faltou qualidade. O Cruzeiro também não mostrou vontade de eliminar o jogo de volta, e com isso, dia 22, no Mineirão, tem mais.

Pecados futebolísticos

É claro que os jogadores do Cruzeiro tinham plena consciência de que eram superiores, bem como os do Resende. Não há dúvida que se o Cruzeiro aplicasse a mesma vontade de vencer que teve contra o Atlético no primeiro jogo da temporada, por exemplo, venceria por goleada. Mas os jogadores se pouparam e acharam que fariam o gol quando bem entendessem. Bem, isto até aconteceu, mas os deuses do futebol cobram seu preço. O gol de Guto foi uma punição para a preguiça demonstrada em campo.

Mesmo assim, o gosto amargo do jogo de volta poderia ter sido evitado se tivéssemos mais qualidade na volância, algo que venho falando já há alguns posts. Com um volante chegando como um quarto homem, com bom passe e boa visão de jogo, certamente o Resende teria sofrido mais gols e provavelmente não feito nenhum.

Mas nem tudo são espinhos. Se olharmos por outro ponto de vista, o Cruzeiro venceu uma equipe semifinalista de Taça Rio — superando inclusive equipes da série A — sem jogar o seu melhor futebol, e simplesmente porque não quis fazer isto. Então, quando quiser jogar tudo que sabe, podemos esperar algo de muito bom. Talvez eu esteja um pouco otimista demais, mas o Cruzeiro deu mostras em outras partidas que que pode ir muito longe nesta temporada. O melhor início de ano da história do Cruzeiro, superando até 2003, é um indício. Sim, o nível dos adversários enfrentados não foi dos melhores, mas o Cruzeiro enfrentou este mesmo nível de oposição nos anos anteriores e não teve o mesmo desempenho. Portanto, o otimismo é justificado.

O Campeonato Mineiro foi bem usado por Marcelo Oliveira para encaixar o time. O resultado: 95% de aproveitamento, que provavelmente será aumentado no próximo jogo contra o Villa, em ritmo de treino.

Um número melhor que qualquer outro time no Brasil tem — nem o “badalado” rival. Então é hora de colocar este número à prova.

Villa Nova 0 x 4 Cruzeiro – Variações sobre um mesmo tema

Uma sutil mas interessante variação tática foi mais um dos fatores que praticamente garantiram a vaga na final do Campeonato Mineiro ao Cruzeiro, na vitória por 4 a 0 sobre o Villa Nova em Nova Lima.

Se na primeira fase o Villa Nova havia sido o adversário mais difícil para o escrete celeste, muito pelo fato de simplesmente ter mais jogadores no centro do meio-campo em um gramado pequeno, no jogo deste domingo Marcelo Oliveira soube neutralizar esta vantagem fazendo número em outro lugar do campo: os flancos.

Escalações iniciais

O 4-2-3-1 usual, mas com os três fazendo uma diagonal que variava para o losango no meio, com o avanço de Nilton e a centralização de Ribeiro

O 4-2-3-1 usual, mas com os três fazendo uma diagonal que variava para o losango no meio, com o avanço de Nilton e a centralização de Ribeiro

Com a bola, Marcelo posicionava sua equipe no 4-2-3-1 usual, com o gol de Fábio sendo protegido pelos zagueiros Léo e Bruno Rodrigo,

e com os laterais Mayke na direita, no lugar do lesionado Ceará, e Éverton na esquerda. Leandro Guerreiro e Nilton formara novamente a dupla de volantes, com o segundo com mais liberdade para atacar que o primeiro. Éverton Ribeiro fez o ponteiro direito, mas com a tendência costumeira de centralizar, se aproximando de Diego Souza, e abrindo o corredor. Do outro lado, mais espetado e entrando em diagonal na área, Dagoberto procurava Anselmo Ramon, o centro-avante de referência.

O Villa Nova de Alexandre Barroso veio no mesmo 4-3-1-2 losango do jogo da primeira fase. O goleiro William Nobre viu Rodrigo Dias à sua direita e Hyago à sua esquerda, flanqueando os zagueiros Heitor e Marco Tiago. Cléber Monteiro foi o cabeça-de-área, com os carrileros Max Carrasco e Marcelo Rosa à frente, ajudando Tchô, a ponta de cima do losango. Na frente, Rafael Gomes e Eraldo esperavam as bolas.

A variação tática

O jogo começou com o Cruzeiro sufocando o Villa Nova em seu próprio campo durante alguns minutos, com uma marcação pressão bem alta, sem deixar o time da casa ter longos períodos de posse de bola. Quando o ritmo da marcação diminuiu naturalmente, o Villa Nova conseguiu ter um pouco mais a bola nos pés e a variação tática apareceu. Everton Ribeiro marcava o volante e não o lateral, e Nilton saía para dar combate no meio. Na prática, era um 4-3-1-2 losango com o avanço do volante e o recuo e centralização do meia.

Com Leandro Guerreiro mais plantado para marcar Tchô, todos os passes simples dos zagueiros do Villa tinham sido cortados. Os laterais saíam pouco, e quando saíam, também não tinham a quem passar a bola. A mudança foi sutil, mas bem eficiente, já que a bola não chegava em Tchô, o principal jogador da partida na primeira fase. Fábio praticamente não tocou na bola no primeiro tempo.

Movimentação ofensiva

Com a bola, o Cruzeiro executou brilhantemente o 4-2-3-1 “diagonal”. A linha de três meias se encontravam constantemente em campo, com toques curtos e rápidos, provocando efeitos dominó de cobertura no sistema defensivo villanovense. A marcação do time adversário era atraída para os flancos, principalmente para a esquerda. Com a marcação concentrada, um espaço imenso se abriu à frente da área, e o Cruzeiro aproveitou. O primeiro gol saiu em uma falta sofrida por Everton Ribeiro naquele setor, e nos dois seguintes Diego Souza teve todo o tempo e espaço do mundo para calibrar o chute e vencer William Nobre de fora da área.

A jogada do terceiro gol: Ribeiro atrai a marcação e tira dois adversários da jogada com o passe de calcanhar, liberando toda a entrada da área para Diego Souza

A jogada do terceiro gol: Ribeiro atrai a marcação e tira dois adversários da jogada com o passe de calcanhar, liberando toda a entrada da área para Diego Souza

A intensidade foi tal que aos 36 do primeiro tempo o jogo já estava resolvido.

Substituições

Alexandre Barros tentou soltar mais seus laterais colocando o zagueiro Evaldo no lugar do volante Marcelo Rosa. No novo 3-4-1-2, os laterais ficam mais altos. Foi uma boa mexida, e não muito arriscada. Logo no começo Fábio finalmente trabalhou, defendendo um cabeceio à queima-roupa do zagueiro Heitor em cruzamento na área.

Mas para reequilibrar a partida, era preciso mais que liberar os laterais. Por isso Tchô tentava se movimentar para sair da perseguição de Leandro Guerreiro, mas o volante levou a melhor no duelo e a principal arma criativa do Villa Nova ficou apagada. O Cruzeiro continuou comandando as ações, e só não ampliou antes porque Diego Souza driblou meio time e não concluiu na hora certa. Mas o quarto gol veio, num contra-ataque com o próprio Diego Souza e Everton Ribeiro. O camisa 17 recebeu na área e, com muita tranquilidade, tirou dois jogadores antes de concluir sem chances para William Nobre.

Imediatamente após o gol, Marcelo lançou Ricardo Goulart na vaga de Dagoberto. Provavelmente a intenção era dar novo ânimo ao time, para continuar buscando o gol. No Villa, Alexandre Barroso tentou sua última cartada mandando Maurim na vaga de Hyago, mas sem alterar o plano tático. O jogador até que avançou bastante, explorando o lado direito do Cruzeiro que Everton Ribeiro deixou de cobrir com a entrada de Goulart, mas sem sucesso.

Vinicius Araújo e Tinga foram a campo nos lugares de Anselmo Ramon e Everton Ribeiro. O cabeludo, quando entrou, foi filmado fazendo um três com a mão e sinalizando para alguém ir para o outro lado. Não deu pra entender muito o que significava, mas provavelmente era a manutenção do 4-2-3-1, sendo que Tinga cobriria o lado direito, Ricardo o centro e Diego o esquerdo. Mesmo assim houve troca de posições, porque Diego não recuava tanto para defender, ao contrário dos outros dois meias. Mas nada de mais aconteceu até o fim da partida, com o Cruzeiro claramente se poupando e satisfeito com o resultado.

Deu liga?

É tentador dizer que o time de Marcelo Oliveira se consolidou tão precocemente. Porém, é inegável a evolução enquanto equipe: os toques rápidos e curtos que envolveram a defesa villanovense no primeiro tempo são prova de que os jogadores já se acham em campo com facilidade, criando espaços uns para os outros.

Além disso, ter uma variação tática e não perder a qualidade é um indicativo de trabalho avançado. É mais comum o treinador chegar e tentar primeiro ter uma base tática bem treinada, antes de pensar em variações com os mesmos onze jogadores. O reposicionamento para o losango não é tão radical, pelas características dos jogadores: Everton Ribeiro já centraliza naturalmente, enquanto Dagoberto já fica mais avançado. Praticamente foi preciso apenas oficializar Guerreiro como o primeiro homem e soltar Nilton, algo que antes não era definido.

Mas ainda há espaço para melhorar mais. Com a posse da bola, o Cruzeiro tem jogado fluentemente, mas pode se beneficiar com a entrada de um volante que saiba jogar, que chegue mais à frente. E quando o Cruzeiro se defende, ainda precisa melhorar a pressão no alto do campo, que precisa ser mais coordenada entre os quatro homens ofensivos, para encurtar os espaços e recuperar a bola o mais rápido possível.

O jogo de hoje contra o Resende será mais uma oportunidade para este time mostrar que não é fogo de palha. Mas o primeiro teste verdadeiro será a final do Campeonato Mineiro, que muito provavelmente será contra o “badalado” rival. Eu diria que chegamos assustando, tão fortes quanto eles. Talvez até mais.

Tupi 0 x 2 Cruzeiro – Um time diferente

Usando uma formação diferente, o Cruzeiro jogou para o gasto, fez dois gols e concluiu a primeira fase do Campeonato Mineiro 2013 com incríveis 94% de aproveitamento. É o melhor início de temporada da história celeste, acima até de 2003, o ano da tríplice coroa.

Com as ausências de Everton e Everton Ribeiro, por acúmulo de cartões, e o primeiro lugar garantido na primeira fase, Marcelo Oliveira promoveu modificações, e deu chances para os laterais e reservas volantes — setores da equipe que pouco variaram desde o início do ano. Oportunidade para Mayke e Egídio, os laterais reservas, além de Lucas Silva poder mostrar seu jogo.

A formação inicial do Cruzeiro tinha um losango no meio, com muito apoio dos laterais mas pouca movimentação de Diego Souza

A formação inicial do Cruzeiro tinha um losango no meio, com muito apoio dos laterais mas pouca movimentação de Diego Souza

O 4-3-1-2 losango cruzeirense teve Rafael no gol, Mayke pela direita e Egídio pela esquerda da linha defensiva, composta ainda por Bruno Rodrigo e Léo no miolo de zaga. Nilton foi o vértice mais baixo do losango, com Tinga pela direita e Lucas Silva pela esquerda no papel de carrileros — os jogadores que atuam pelos lados do losango. Na ligação, Diego Souza, com Dagoberto pelos lados e Borges centralizado na frente.afael

O Tupi veio num tradicionalíssimo 4-2-2-2, o quadrado no meio-campo. O goleiro Jordan teve Lobinho e Fabrício protegendo a área, com Thiago Ryan pelo flanco direito e Dieguinho fechando o lado oposto. Felipe Lima e Maicon Douglas defendiam o meio-campo, atrás dos meias Paulinho e Rafael Assis. Na frente, Vinicius e Wesley.

Embates pelos lados

Os dois sistemas, o losango e o quadrado, tem em comum o fato de tentarem criar superioridade no centro do meio-campo com quatro jogadores, mas ao mesmo tempo abrindo mão de amplitude ofensiva. Por isso dependem bastante do avanço dos laterais, que fazem parte da linha defensiva, para abrirem o jogo e dar opção de passe pelas pontas. Portanto, quando estes sistemas se enfrentam, normalmente vemos uma briga direta entre os laterais: o direito marcar o esquerdo do time adversário e vice-versa.

Porém, como tem acontecido frequentemente no Campeonato Mineiro, quem ficou mais com a bola foi o Cruzeiro, e, consequentemente, os laterais avançaram mais. Mayke e Egídio utilizaram bem o espaço concedido. As principais jogadas ofensivas saíam pelos flancos. O primeiro gol foi um belo exemplo: Tinga puxou a marcação, esperou a passagem de Mayke a lançou uma bola longa para o jovem. Do cruzamento veio a falha de Thiago Ryan, que Dagoberto não perdoou.

O losango

Diego Souza jogou em função diferente: a de trequartista, enganche, ponta-de-lança. É a ponta de cima do losango, o pensador do time, a mesma função de Alex em 2003. Mas o camisa 10 de 2013, também por ter uma característica diferente, teve uma atuação tímida. Ficou escondido na marcação e não se movimentou para receber a bola. Quando recebia, não fazia uma distribuição de jogadas que se espera da função.

A escalação de Diego nesta posição, portanto, deve ser questionada. É até compreensível, pois ele é um jogador que tem um certo nome, e isso atrai a marcação adversária, abrindo espaços para outros jogadores. Mas a característica de Diego não é a de pensar o jogo e criar jogadas, e sim a de conduzir a bola com vigor físico. Sem um jogador de suporte a seu lado, como Everton Ribeiro, por exemplo, para dividir a atenção da defesa, Diego tende a sumir na marcação, pois não se movimenta muito também.

Tinga e Lucas Silva eram os volantes com liberdade pra sair. O primeiro teve um excelente jogo, combinando com Mayke frequentemente pela direita e aparecendo na frente para desafogar o jogo. Lucas Silva, pela esquerda, ficou um pouco mais preso, procurando menos a Egídio. O garoto da base teve um trabalho mais defensivo, porém tentava buscar a primeira bola para iniciar o jogo.

Jogo sem pressão

Talvez por já estar garantido no primeiro lugar, o Cruzeiro não fez pressão na defesa adversária como em outros jogos. Ao invés de pressionar alto, Borges, Diego Souza e Dagoberto se colocavam à frente dos zagueiros, fechando um passe direto nos pés dos volantes do Tupi. A intenção, acredito, era chamar cada vez mais o time de Juiz de Fora — que precisava da vitória para ainda ter chances de se classificar — e partir num contra-ataque para matar o jogo. E assim foi feito: bola roubada, contra-ataque velocíssimo, de Tinga para Dagoberto, que de primeira achou Egídio entrando em altíssima velocidade na cada do goleiro. O lateral driblou Jordan e, ao invés de marcar o gol, deu para Borges, que briga pela artilharia. Uma jogada que mostra a consciência que o time tem de suas ações em campo.

De sua parte, o Tupi também preferiu não incomodar os zagueiros do Cruzeiro. Mas a superioridade dos laterais e a movimentação dos volantes, que vinham buscar a bola nos pés dos zagueiros para iniciar o movimento ofensivo, sobrepujou a marcação do time adversário com facilidade, e o Cruzeiro chegou sem maiores problemas.

Substituições

No segundo tempo, o técnico Felipe Surian tentou consertar uma das laterais, trocando Thiago Ryan por Ygor na direita. Não deu muito certo, e o Cruzeiro continuava sendo superior em ambos os lados do campo. Aos 19, Marcelo Oliveira lançou Élber na vaga de Lucas Silva, refazendo o 4-2-3-1, com Dagoberto indo ser ponteiro esquerdo de vez. Mas o Cruzeiro já se poupava claramente e a mudança não teve muito impacto. Depois Diego Souza saiu para dar lugar a Ananias, transformando o time num híbrido de 4-2-3-1 com 4-4-1-1. E Borges, que não vai jogar na próxima rodada por ter levado a terceira advertência, foi substituído por Anselmo Ramon, para dar ritmo ao provável substituto.

No Tupi, as entradas de Cassiano e Ademílson, atacantes, nos lugares de Paulinho e Felipe Lima, meia e volante, respectivamente, também não funcionaram bem. O Tupi partiu para o tudo ou nada numa espécie de 4-2-4. Com o meio-campo esvaziado, o Cruzeiro controlou o jogo e Rafael foi pouco incomodado.

Agora é pra valer

Na próxima fase, o Cruzeiro vai jogar contra o Villa Nova, que foi o adversário mais difícil na fase de classificação. Naquela oportunidade, o Cruzeiro só equilibrou o jogo quando começou a colocar mais jogadores marcadores no meio-campo para segurar o ímpeto de Tchô, principal cabeça pensante do time de Nova Lima. Só foi superior quando espelhou o 4-3-1-2 losango do Villa com Ricardo Goulart na ligação. Mas é bem provável que Marcelo Oliveira entre com o 4-2-3-1 novamente, com a dupla volância responsável pela marcação de Tchô e do outros volantes que subirem.

Por falar em volância, é bem improvável que Marcelo Oliveira faça uma surpresa nesse setor. A tendência é a volta de Leandro Guerreiro e Nilton. Ambos são mais destruidores de jogadas do que passadores, e insisto que falta um jogador com essa característica no setor. Tinga fez muito bem esse papel contra o Tupi — apesar de ter sido em um sistema diferente — e também quando tem entrado nos jogos.

Mas o mais importante mesmo é que agora existe o clima de decisão. Finalmente saberemos como o Cruzeiro vai se comportar em partidas eliminatórias (a partida contra o CSA não serviu para muita coisa), que valem de verdade.

Finalmente.

Quatro jogos e perspectivas

Antes de mais nada, este blogueiro pede desculpas aos leitores por ter ficado tanto tempo ser dar satisfações. Entrei em um momento de mudança na vida — literalmente — e por isso fiquei sem infra-estrutura necessária para escrever os posts (leia-se: internet e computador).

Então, para não deixar de falar sobre nenhum dos jogos passados, aqui vão notas rápidas sobre os quatro últimos jogos.

Villa Nova 2 x 4 Cruzeiro

Em alguns jogos, o equilíbrio entre as equipes é simplesmente uma questão de número no centro do meio-campo. Que o Cruzeiro tem um elenco superior ao do Villa Nova todos sabemos, mas neste jogo o Villa tinha um quarteto no centro do campo, com o seu 4-3-1-2 losango frente ao 4-2-3-1 do Cruzeiro. Os dois volantes e Tchô, o meia central, se deram melhor em relação a Leandro Guerreiro e Nilton, que não conseguiam marcar os três. A partida tendeu para o domínio do time da casa no primeiro tempo simplesmente por isso.

Já no segundo, Marcelo Oliveira lançou Tinga para fazer um 4-1-2-3 que acertou a marcação: Guerreiro ficou responsável apenas por Tchô, e mesmo perdendo o duelo algumas vezes, como no gol de empate do Villa Nova, conseguiu tirar a liberdade que o camisa 10 adversário tinha na primeira etapa.

Mas com a mudança, Diego Souza foi jogar aberto do lado direito, deixando o time sem um meia central. Com isso, o time equilibrou o centro do meio-campo, mas criou pouco. A entrada de Ricardo Goulart aconteceu justamente para resolver este problema. Com ambos os times com meio-campo em losango, a qualidade técnica fez diferença e o Cruzeiro marcou mais dois gols.

Em suma: quando tinha apenas 2 meio-campistas (já que Diego Souza marca pouco) contra 4 do adversário, o Cruzeiro foi dominado. Com Tinga, o 3 x 4 equilibrou, e com Goulart, o número de meio-campistas se igualou, e aí o Cruzeiro se sobressaiu.

América 1 x 4 Cruzeiro

O América do técnico Paulo Comelli quis jogar de igual para igual contra o Cruzeiro no Mineirão. E foi amplamente dominado, principalmente porque, diferente dos outros times do campeonato, foi um time que tentou sair para o jogo e deu espaço para os jogadores de frente do Cruzeiro.

Também num 4-2-3-1, o time de Paulo Comelli foi facilmente repelido pela linha defensiva celeste. Com Rodriguinho, o meia central, encaixotado entre os volantes, Fábio Júnior tinha que sair muito da área, e Fábio quase não viu a cor da bola.

Já o Cruzeiro, desta vez com Ricardo Goulart na vaga do suspenso Dagoberto, imprimiu movimentação e confundiu a marcação americana. Já aos 16 minutos o Cruzeiro vencia por dois a zero, em jogadas de bola áerea. Depois disso apenas controlou as ações, repelindo as investidas do América com propriedade. Ainda sofreria um gol em falha de Leandro Guerreiro na cobrança de escanteio, mas matou o jogo logo em seguida com excelente trama pela direita com Everton Ribeiro e Ceará e a conclusão de Borges.

O 4-2-3-1 foi mantido do início ao fim. Apesar do placar e do domínio, os volantes ainda tiveram pouca participação ofensiva e uma certa dificuldade na marcação. Acredito ser o setor mais frágil da equipe no momento, ao contrário da maioria dos comentaristas e torcedores que dizem ser a defesa.

CSA 0 x 3 Cruzeiro

Eliminar o segundo jogo era esperado. Mas o futebol apresentado, preguiçoso, não. Era quase como se o Cruzeiro soubesse que tinha que fazer pouca força para avançar de fase, e assim foi. Já o CSA jogava a vida, provavelmente o jogo de maior visibilidade que o time terá no ano, e por isso foram pra cima, com muita velocidade.

A defesa do Cruzeiro jogava bem alta, longe de sua própria área, para compactar o time. Mas isso só funciona se os jogadores de frente também fizerem marcação avançada, o que não acontecia. Assim, o CSA tocava a bola e o Cruzeiro esperava, deixando espaços atrás de sua própria defesa. E time da casa, num moderno 4-1-2-3, jogava bolas longas para jogadores rápidos que tinha abertos, nas costas dos nossos laterais. Para nossa sorte, a pontaria deles não estava boa e pelo menos três chances reais foram mandadas pra fora.

Ofensivamente, o Cruzeiro parecia, de fato, bem preguiçoso. Os gols aconteceram mais por bobeira da defesa do time alagoano do que por mérito celeste. O primeiro numa bola longa de Dagoberto, na direita, para Diego Souza. A defesa estava mal posicionada e deixou o camisa 10 entrar livre. O segundo em um pênalti cometido atabalhoadamente pelo zagueiro. Somente o terceiro pode ser considerado superioridade técnica: Ricardo Goulart recebeu o passe final de uma trama rápida de passes, driblou um marcador, ganhou na força do segundo e concluiu sem chances para o goleiro.

O jogo provou a força do elenco cruzeirense, que mesmo jogando com pouca vontade, mostrou ser forte o suficiente para construir o placar. Entretanto, a mesma preguiça causou dificuldades desnecessárias. Portanto, não foi um jogo bom para se tirar alguma conclusão.

Cruzeiro 5 x 0 Nacional

Ah, goleadas. Como elas têm o poder de enganar o torcedor. Basta fazer uma grande soma de gols num mesmo jogo e automaticamente tudo fica bem, a torcida se empolga e tal. Felizmente, não era esse o caso.

É claro que se deve levar em conta a fragilidade do Nacional, que está brigando para sobreviver no Módulo I do Campeonato Mineiro. Mas é justamente contra estes é que o poderio do time mais capacitado tem que aparecer. E assim foi feito: o Cruzeiro jogou como se fosse um jogo decisivo (não, confirmar a liderança na primeira fase do estadual não dá esse caráter à partida). Ricardo Goulart entrou na vaga do suspenso Diego Souza e promoveu a mesma intensa movimentação de jogos anteriores, e foi o senhor da partida.

O Nacional se entrincheirou numa espécie de 4-3-3 defensivo, contra o 4-2-3-1 costumeiro de Marcelo Oliveira. Os três da frente estreitavam e bloqueavam a saída pelo meio, mas deixavam as laterais livres. Além disso, os volantes cruzeirenses não eram pressionados e buscavam a bola no pé dos zagueiros para iniciar o jogo, quase sempre jogando para um dos laterais. E dali, a bola circulava tranquilamente para os três armadores, trocando de posição a todo momento.

Sem a bola, o Cruzeiro pressionava no alto do campo, com muita sede de roubar a bola. Foi a pressão alta mais intensa até aqui no ano. Quando o Nacional tinha a bola, não tinha muito tempo pra pensar, pois o quarteto ofensivo do Cruzeiro encurtava os espaços dos zagueiros, obrigando ao chutão ou passe errado. Os gols saíram naturalmente, em erros do Nacional provocados pela marcação intensa do Cruzeiro e ataques velocíssimos.

Todos os quatro jogadores de frente participaram dos dois primeiros gols: no primeiro, o tiro de meta ruim veio parar nos pés de Goulart, que de letra achou Everton Ribeiro, que finalizou de fora da área. No segundo, Borges se desloca e tabela com Dagoberto, deixando o companheiro na cara do gol. Já o terceiro foi uma jogada dos defensores: Nilton a Bruno Rodrigo, que de peito passou a Leo dentro da área. O zagueiro cruzeirense ainda marcaria mais um de cabeça em bola parada, ainda no primeiro tempo.

No segundo, o time desacelerou, naturalmente. Mesmo assim, Élber completaria a goleada “roubando” a bola na jogada individual de Ricardo Goulart, tamanha a facilidade que o Cruzeiro criou na partida, muito devido à sua própria atuação.

Outro ponto a se destacar é que, nas raras vezes em que era marcado em seu próprio campo, o Cruzeiro evitava ao máximo a bola longa para o ataque. O objetivo era manter a bola nos pés e construir a jogada de trás. É uma mudança sutil de postura, mas que revela como Marcelo Oliveira quer sua equipe.

Perspectivas

Notadamente, existe uma preocupação da torcida e da crítica em geral com o setor defensivo do Cruzeiro. Quase todos localizam a instabilidade nos zagueiros, mas este blogueiro pensa que o problema está na volância. Leandro Guerreiro e Nilton são bons marcadores, mas não estão com funções definidas. Não sabemos quem sai mais e quem fica mais (pense em Paulinho e Ralf, por exemplo).

Mas, Dedé chegou. E com ele a segurança na zaga que a torcida precisava. Porém, estou esperando muito mais os testes de Henrique ou Lucas Silva no meio para ver como se encaixam neste time. Aparentemente, Lucas Silva jogará neste domingo contra o Tupi, mas não será um 4-2-3-1 e sim num 4-3-1-2 losango ao lado de Tinga, com Nilton no suporte e Diego Souza na ligação. Terá liberdade para atacar. Sorte para o garoto.

Ademais, o time está se encaixando mais rápido do que esperávamos, e não só o time titular. O Cruzeiro hoje tem mais do que 11 titulares, e isso é um luxo que poucos times no Brasil podem ter. O esquema base está definido, variações estão sendo treinadas e têm dado certo em determinadas situações de jogo. Podemos esperar, sim, um bom ano em 2013.