Seis vitórias seguidas fazer até mesmo os adversários mais fortes mudarem — não só na estratégia como também no sistema de jogo. O Atlético Paranaense respeitou o Cruzeiro, e mesmo após treze partidas invicto, mudou. Não adiantou muito: as seis vitórias viraram sete num jogo de três estágios bem distintos, e que poderia ter sido bem mais tranquilo se o juiz e a bandeirinha não fossem tão “apressadinhos”.
Plataformas iniciais
Com Borges de volta, Marcelo Oliveira pode escalá-lo no comando do ataque e escalou ao trio “titular” de meias, com Éverton Ribeiro partindo da direita, Ricardo Goulart centralizado e Willian pela esquerda. Nilton e Lucas Silva foram novamente os parceiros na proteção da área, e a defesa foi formada pelos zagueiros centrais Dedé e Bruno Rodrigo, com Egídio na lateral esquerda e Mayke, na vaga do poupado Ceará, na direita — todos capitaneados pelo goleiro Fábio.
Vágner Mancini não podia contar com o longevo Paulo Baier, e mudou a forma de jogar de sua equipe para encarar o líder no Mineirão. Foi um tradicional 4-3-1-2 losango, mas com compensações defensivas. Debaixo das traves, Weverton teve sua linha defensiva formada por Léo à direita, Manoel e Luiz Alberto no miolo e Maranhão, volante, fechando o lado esquerdo. Bruno Silva ficou plantado à frente da zaga, Deivid à direita e João Paulo à esquerda eram os apoiadores e Everton centralizado na ligação. No ataque, Marcelo fechava o lado esquerdo e Éderson ficava mais por dentro.
Encaixe de marcação
O Atlético começou o jogo muito compacto, com as linhas bem próximas e com perseguições bem definidas. No meio, Deivid colava em Goulart, e os dois apoiadores perseguiam os volantes celestes. Éverton, o meia de ligação, por vezes fechava o espaço no centro sem ter um jogador designado, por vezes fechava o lado direito para bater com Mayke. Marcelo caía pela direita para impedir os avanços de Egídio, e Éderson preferia marcar Dedé à distância.
Assim, ninguém marcava Mayke diretamente. Talvez Mancini esperasse por ali a presença de Ceará, que passa menos que o jovem lateral. Portanto ali era o setor de preferência de saída de bola. Por vezes, Éverton, o meia de ligação, caía por ali para cercar, e por vezes o volante lateral Maranhão subia a marcação no garoto.
Profundidade e velocidade
Mas a defesa do time paranaense jogava alta, um dos requisitos principais para a compactação, dificultando as ações celestes entre as linhas. Também por isso, nos quinze primeiros minutos, o Cruzeiro cadenciou, estudando a melhor forma de sair e atacar, sem dar velocidade. Nesse período, Mayke parecia um tanto nervoso, errando alguns passes bobos e errando domínios de bola, mas depois que o mapa da mina foi descoberto, o Cruzeiro acelerou e intensificou a movimentação. Preferiu a direita e bolas em profundidade, para pegar a defesa atleticana correndo pra trás.
Éverton Ribeiro, Willian, Egídio e o próprio Mayke arremataram contra Weverton nesse período, quase sempre em jogadas de passe vertical nas costas da defesa — assim como o escanteio que originou o gol: bola em profundidade para Mayke finalizar em cima de Weverton que mandou pra fora. Na cobrança, Nílton inverteu os papéis com Dedé e completou sozinho para o gol, de primeira, numa bola difícil — ela ainda resvalou na trave antes de entrar.
Mesmo com a vantagem, o Cruzeiro não se deu Logo depois, a arbitragem anularia o segundo gol legítimo e que poderia dar outra cara à partida. No fim do primeiro tempo, Borges também teria oportunidade de ampliar, novamente em jogada de profunidade, mas desta vez sim, ele estava impedido.
Cansaço?
No segundo tempo, a marcação ofensiva do Atlético mudou. Marcelo passou a acompanhar Éderson na semi-pressão aos zagueiros, deixando os laterais livres. A segunda etapa começou como terminou a primeira: antes do relógio ter dado uma volta completa Willian já tinha arriscado para o gol. Depois, Nilton quase fez o segundo num cabeceio, mas Weverton pegou no cantinho e Borges desperdiçou o rebote. Depois Lucas Silva tentaria mais uma vez de fora da área, mas o chute foi bloqueado.
E foi só. Inexplicavelmente — ou, pensando melhor, talvez pela questão física — o Cruzeiro reduziu a velocidade do jogo e deu campo ao Atlético Paranaense. Convidado a atacar, e atrás no placar, o Atlético aceitou a proposta e avançou suas linhas. As três finalizações do primeiro tempo já tinham agora a companhia de mais duas — todas para fora, é verdade, mas agora as estratégias haviam se invertido: o Cruzeiro esperava para contra-atacar e o Atlético tinha mais a bola.
Controle defensivo
Marcelo então promoveu duas trocas de uma só vez. Borges e o amarelado Éverton Ribeiro deram suas vagas e Júlio Baptista e Alisson. Júlio foi ser o central, empurrando Goulart para frente, e Alisson fechou o lado esquerdo, com Willian invertendo. Pernas novas para tentar segurar a bola no ataque e não correr riscos de um injusto empate. Vágner Mancini respondeu tirando Deivid e lançando o meia Felipe, e logo depois mandou Dellatorre na vaga de Marcelo, soltando o time num 4-3-3. A partir daí o Atlético teve mais posse, mas não teve muita eficiência. Foi só aí que Fábio fez sua única defesa no jogo, a única finalização certa do time paranaense durante todo o jogo.
Mancini ainda tentou colocar um homem de área, Roger, na vaga de Éderson, para a famosa tática da bola aérea, mas o Cruzeiro controlava bem o jogo defensivamente e não permitia cruzamentos. A posse de bola atleticana assustava, mas não era produtiva, e era o Cruzeiro quem tinha mais chances de marcar em contra-ataques. No fim, a troca de Willian por Lucca e a sequência interminável de escanteios com Júlio Baptista decretaram o fim da partida.
Chegou a hora
A vitória do Cruzeiro foi incontestável, diante de um rival direto na ponta da tabela. O jogo só equilibrou no fim porque o Cruzeiro cansou — lembrando que o Atlético não jogou com seu time titular no estadual, e por isso tem um condicionamento físico melhor. Mesmo assim, houve superioridade da defesa celeste sobre o ataque adversário. Não custa lembrar que o Atlético é o segundo time que mais finaliza no campeonato, perdendo apenas para o próprio Cruzeiro. A partida de sábado, no entanto, foi a terceira da equipe paranaense com menos finalizações nas 21 primeiras rodadas — o Atlético só concluiu menos contra Corinthians (na 8ª rodada) e Atlético/MG (10ª).
Encaixar uma sequência de treze jogos sem derrota não é para qualquer equipe. Vágner Mancini chegou ao Atlético Paranaense e conseguiu isso, mas diante de um Cruzeiro que impõe respeito antes mesmo das partidas, mudou sua equipe e conheceu seu primeiro revés — mesmo sendo, na modesta opinião deste blogueiro, a estratégia certa para enfrentar o líder em sua própria casa.
Resta saber se o Botafogo, agora o único rival mais próximo com a derrota do Grêmio, também respeitará o Cruzeiro, modificando ao menos sua estratégia de jogo, ou se irá tentar encarar o time celeste de igual para igual no Mineirão.
Cá pra nós: se Oswaldo de Oliveira preferir a segunda opção, tem muito mais chance de sair derrotado.