Náutico 0 x 0 Cruzeiro – Em branco de novo

Mostrando evolução defensiva mais uma vez, mas com uma queda brusca de criatividade, o Cruzeiro não sofreu gol de um esforçado Náutico no Recife. Mas também não fez, num jogo fraco tecnicamente pela segunda rodada do Brasileirão 2012.

O 4-2-2-2 torto cruzeirense da primeira etapa: quem dá amplitude de ataque pela direita?

O esquema de jogo mudou de Celso Roth mudou em relação à primeira rodada, com Everton saindo para a entrada do recém-contratado Tinga. Ambos são volantes de origem que jogam como meias, mas a diferença é que Everton joga mais aberto, e Tinga centraliza mais – região onde Montillo atua mais costumeiramente. A solução encontrada por Celso Roth para escalar ambos foi adiantar o argentino, transformando-o num segundo atacante. Souza trocou de lado e foi para a esquerda, e o Cruzeiro ficou num 4-2-2-2 torto, com Charles novamente tendo mais liberdade do que Amaral para sair com a bola.

O Náutico de Alexandre Gallo entrou num 4-2-2-1. Não, eu não errei a conta: somente 9 dos jogadores de linha guardavam posição. Araújo era servido por Cleverson e Ramon, e os 4 defensores tinham a proteção de Elicarlos e Glaydson. Derley, o jogador que faltou, ficou com a missão de ser a sombra de Montillo, e perseguia o camisa 10 por todo o campo, onde quer que fosse, até mesmo quando a posse de bola era do time da casa. O resultado é que o esquema do Náutico ficou bem difícil de definir. Por vezes parecia mais um 3-4-1-2, já que Derley afundava na caça à Montillo e com isso os laterais puderam atuar bem avançados, alinhados aos volantes.

Com o recuo de Derley no encalço de Montillo, os laterais avançavam, quase se alinhando ao dois meias atrás de Araújo no 4-3-2-1 (3-4-2-1) do Náutico

O Cruzeiro começou o da mesma forma que contra o Atlético/GO: marcando alto no campo. Deu certo, pois ora o Cruzeiro retomava a posse em uma posição melhor, ora a qualidade do passe do time da casa era muito reduzida, ocasionando chutões ou passes afoitos, facilitando os desarmes. O resultado foi mais posse de bola, e como a escola Barcelona nos ensina, consequentemente mais passes e mais finalizações, correto? Errado. O Cruzeiro teve um aproveitamento tanto de passes quanto de finalizações menor do que na primeira rodada. Das 9 conclusões, só uma foi ao alvo, o pior aproveitamento entre todos os times nas duas rodadas, de acordo com números da ESPN Brasil.

Ainda, com Souza preso do lado esquerdo, Tinga mais por dentro e Montillo tentando ser um segundo atacante, o time pouco usava o lado direito do ataque. Quando Montillo caía por ali, sempre acompanhado de Derley, acabava cercado por mais adversários. Lúcio, sem ter a quem marcar, jogou avançado e prendeu Diego Renan. O resultado é que, neste jogo, o Cruzeiro concentrou 10,6% da sua posse de bola na ponta esquerda contra 6,39% do outro lado. Contra o Atlético/GO, estes números eram 5,6% e 12,21% respectivamente, um indício de quanto Souza é atualmente responsável por fazer a bola chegar ao ataque.

O Náutico, sem opções, optou por esperar o Cruzeiro em seu campo para jogar na transição ofensiva, também conhecida como contra-ataque. Mas não obtinha muito sucesso, já que a defesa azul estava bem postada e não deixava espaços aos atacantes pernambucanos. Além disso, o Náutico conseguiu ter um aproveitamento de passes ainda pior que o Cruzeiro: apenas 80,4% de acerto (contra 82,68%).

A solidez defensiva é boa notícia, mas isso se refletiu na criatividade do time. Como já dito, poucos passes trocados, pouca qualidade nos que eram e poucas finalizações no alvo, apesar da maior posse de bola no primeiro tempo. Souza se movimentava pouco, preso na esquerda, Montillo parou na marcação implacável de Derley e Tinga foi um lutador, aparecendo para jogar em todos os setores do campo, mas recebendo poucas bolas e dando passes mais seguros (como se espera dele). Assim, foi uma primeira etapa chata, a não ser por uma bobeada de Fábio ao dominar com os pés que o Náutico não conseguiu aproveitar, e por um lance curioso do juiz que “desexpulsou” Charles ao transferir o que seria o segundo cartão amarelo do volante para Diego Renan, que também estava no lance. Sorte do camisa 7, pois foi ele de fato quem fez a falta.

No fim, Cruzeiro num 4-3-1-2 muito defensivo, com vários jogadores recuando demais

No segundo tempo o Náutico veio com mais gás, ou o Cruzeiro veio com menos, e a pressão alta já não era exercida. Com William Magrão, mais um estreante, no lugar do amarelado e “desexpulso” Charles, o Cruzeiro manteve o esquema, mas decidiu se afundar e sair na boa, dando liberdade para o primeiro passe dos volantes do Náutico. Derley até esqueceu Montillo por alguns momentos para tentar uma jogada mais profunda para seus companheiros, que agora tinham Rhayner e Souza nos lugares de Cleverson e Glaydson. O primeiro jogou como meia-atacante, fazendo mais companhia a Araújo; o segundo entrou como volante pela esquerda, no mesmo local onde Glaydson atuava: seis por meia dúzia em termos táticos, mas com pernas descansadas e com mais liberdade para infernizar a vida de Diego Renan e Amaral. Era um 4-3-2-1 com cara de 4-3-1-2.

A qualidade defensiva mostrada no primeiro tempo aos poucos foi sendo minada, com algumas falhas individuais que poderiam comprometer todo o plano. O trio ofensivo do time de Pernambuco promovia movimentação e atuavam sempre próximos, tentando confundir a marcação azul. Diego Renan ficou cada vez mais preso, e os volantes já não tinham liberdade para manter a posse da bola, mesmo que ineficiente, como no primeiro tempo. A situação estava se invertendo.

Aos 15, Celso Roth enxergou o óbvio e sacou Souza, mais lento, e promoveu a entrada de Everton. O volante foi jogar na mesma posição que jogou no primeiro jogo, aberto pela esquerda. Mas infelizmente a situação não mudou: o Náutico continuava encurtando os espaços e até obrigou Fábio a fazer algumas defesas difíceis. Alexandre Gallo então soltou o time de vez, com Rodrigou Tiuí na vaga de Ramon para fazer um 4-3-3, e Celso Roth respondeu logo em seguida lançando Wallyson no lugar do cansado Tinga. Wallyson foi fazer companhia ao inoperante WP e Montillo recuou para sua posição de origem. O Náutico tinha, de fato, apenas um volante, principalmente se considerarmos que Derley continuava vigiando Montillo de perto, e o argentino o arrastava para fora de posição (se é que havia uma para o camisa 150).

O Cruzeiro só foi ter uma posse de bola mais tranquila aos 29 minutos, que parou num impedimento de WP. Pouco para quem marcava pressão com sucesso no início da partida a agora recuava suas linhas para tentar um chutão de contra-ataque para os atacantes. Até Montillo, que normalmente não recua tanto, estava jogando à frente da sua própria área cercando os espaços do trio ofensivo.

6-3-1?

Mas não teve de fazer muito esforço, já que o Náutico martelava, mas já não finalizava tanto e se contentava com jogadas de bola parada. Talvez pelo cansaço do adversário, nos últimos minutos o Cruzeiro conseguiu segurar mais a bola, mas sem o ímpeto do ataque. Só podia dar em um zero a zero entediante.

Jonathan Wilson, autor do livro Inverting the Pyramid: A History of Football Tactics, disse bem em seu blog no The Guardian: “Simetria não é essencial, mas o equilíbrio é”. O Cruzeiro jogou sem simetria mas mostrou que agora sabe se defender melhor. Mas agora precisa encontrar equilíbrio e mostrar que sabe atacar também, como o próprio Roth disse na coletiva após o jogo.

Melhor pra ele, pois aqui é Cruzeiro: futebol ofensivo sempre foi a nossa marca. Chega de zero a zero, eu quero é ver gol.

Atlético/PR 1 x 0 Cruzeiro – Hipertensão

Um pouco de pressão alta do Atlético Paranaense no início do jogo mais uma certa incompetência nas finalizações foi a receita amarga da terceira derrota seguida do Cruzeiro. Se Vágner Mancini já tinha de colocar as orelhas em pé, agora então precisa vencer e convencer para ter sobrevida no cargo. Não que eu concorde, pois a má fase não é culpa inteiramente do treinador, mas sabemos que no futebol, principalmente aqui em terras tupiniquins, o resultado importa muito mais do que o planejamento e o trabalho.

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, com Roger e Amaral invertendo e sem força pelo lado esquerdo

O Cruzeiro foi a campo no 4-3-1-2 losango, mas com Roger recuando pela direita e invertendo com Amaral. Na zaga, Alex Silva estreou no lugar de Victorino, vetado. Já o Atlético-PR veio no 4-3-3 com triângulo alto (4-1-2-3) armado pelo técnico uruguaio Juan Carrasco, com o veterano Paulo Baier num posicionamento interessante: o camisa 10 recuava para ser o primeiro volante, liberando seus companheiros de meio-campo Deivid e Liguera para atacar.

Logo de cara, o Atlético partiu para a marcação no alto do campo quando perdia a bola, sufocando os defensores cruzeirenses. Foram 20 minutos de uma excelente execução de pressing. Os três atacantes pressionavam os quatro defensores e os volantes eram perseguidos pelos dois meias. Paulo Baier regia de trás.

Nas raras vezes em que o Cruzeiro conseguia passar pelo meio-campo, o Atlético imprimia velocidade no contra-ataque, com intensa movimentação do trio ofensivo. Foi justamente num destes contra-ataques que saiu o gol da partida. Roger e Amaral estavam na ponta direita disputando a posse, mas perderam a bola, que chegou para o ex-cruzeirense Guerrón, desta vez aparecendo pelo lado esquerdo. O veloz equatoriano tinha a marcação de Diego Renan, mas sem cobertura. Leandro Guerreiro tenta chegar para fazer a sobra, mas Diego Renan já havia sido driblado e Guerrón já partia em velocidade. Antes do camisa 5 alcançá-lo, ele cruzou rasteiro para dentro da área azul. Alex Silva, o homem da sobra, não conseguiu cortar e Edigar Junio conseguiu aparecer entre Léo e Everton para completar. Méritos de Guerrón, mas houve falha na cobertura a Diego Renan e na hora de cortar a bola no cruzamento.

Do outro lado do campo, Anselmo Ramon ainda nem tinha visto a cor da bola. O centro-avante azul ficou esperando a bola chegar, mas o Atlético continuava a pressão. Do lado esquerdo, Marcelo Oliveira se preocupava em marcar Deivid, e Everton segurava o atacante que caísse por ali, na maioria das vezes Guerrón. O lado esquerdo ofensivo do Cruzeiro ficou novamente deserto. Roger recuava para buscar o jogo e tentar dar qualidade à saída, numa tentativa de cadenciar o jogo, para frear a velocidade que o time mandante queria impor. Mas foi dele o lance mais bizarro do jogo: num passe muito displicente para Léo, acabou entregando para o centro-avante Patrick avançar sozinho. Fábio cresceu, o camisa 11 se assustou e desperdiçou.

A partir dos 20 minutos, a pressão atleticana foi arrefecendo. Aos poucos o Cruzeiro foi ganhando espaço, mas os atacantes estavam muito bem marcados. O Cruzeiro tentava bolas longas para os atacantes, principalmente partindo de Roger. O repórter da TV até conseguiu pegar uma conversa do camisa 7 com Vágner Mancini, reclamando que não tinha alvos para fazer lançamentos. De fato, os dois atacantes azuis estavam encaixotados na defesa paranaense: Wellington Paulista até tentava se esquivar, mas foi bem vigiado pelo lateral esquerdo Héracles. Anselmo Ramon não caía pelo lado esquerdo e ficava tentando brigar com o zagueiro Manoel, com Bruno Costa na sobra.

Aos poucos o Cruzeiro foi equilibrando as ações, mas muito mais porque o Atlético já não conseguia pressionar no campo adversário (nenhum time no mundo consegue fazer isso durante os 90 minutos com tal intensidade). Quando a bola passava pelos meias atleticanos, o Cruzeiro levava mais perigo. Isso porque  Paulo Baier já não tem mais energia para ser o único volante à frente de sua zaga, e com o avanço de Amaral pela direita, as jogadas começaram a sair. As melhores chances foram com Roger, aos 29, quando WP tirou um zagueiro da área e o meia recebeu um lançamento longo de Diego Renan mas mandou para fora, e aos 47, em cobrança de falta cujo rebote WP não conseguiu aproveitar.

No intervalo, Vágner Mancini tirou Amaral, pouco produtivo no primeiro tempo, e estreou o veterano Souza. A equipe passou a um híbrido de 4-2-2-2 e 4-3-1-2 pelo posicionamento variável de Roger. Juan Carrasco tirou Liguera e lançou o volante Zezinho, mudando para um 4-2-1-3, talvez tentando liberar Paulo Baier para se aproximar mais da área adversária. Também trocou seu centro-avante: Bruno Mineiro na vaga de Edigar Junio.

A combinação das três alterações do intervalo resultou em um Cruzeiro com mais espaço para tocar a bola no meio campo e um Atlético-PR “divorciado”, com uma enorme distância entre os três atacantes e os três jogadores de meio. Um filme que já vimos antes no nosso próprio time. O Atlético parou de pressionar alto e deixou o Cruzeiro jogar. Os laterais azuis começaram a aparecer mais à frente, e aos poucos o Cruzeiro foi desequilibrando a balança da posse a seu favor. A explicação era simples: com Souza e Roger, o time conseguia reter mais a posse de bola, e os volantes do time da casa tinham de se preocupar com os dois. Paulo Baier ficava sozinho e ainda tinha a companhia de LG e MO: 4 contra 3 no meio. Uma situação pela qual o Cruzeiro passou várias vezes no ano, dessa vez estava do lado contrário.

Até os 15 minutos, só o Cruzeiro havia criado chances. Juan Carrasco viu que seu time não ia sair do lugar, mas não tentou corrigir o erro: queimou a regra 3 lançando mais um volante marcador, Renan Teixeira, no lugar de Paulo Baier, efetivamente fazendo um bizarro 4-3-0-3. Sim, o time da casa ficou sem nenhum homem de ligação. É claro, essa função foi designada para os atacantes mais abertos, mas eles não conseguiram executá-la. O Atlético se defendia com 7 homens atrás da linha da bola, tentando partir em contra-ataques com bolas longas para a velocidade de seus pontas.

Era em vão. Marcelo Oliveira e Everton estavam combinando bem pelo lado esquerdo. Do lado direito, Wallyson foi a campo no lugar de WP para dar mais velocidade à saída. O esquema se manteve, mas o Cruzeiro agora tinha muito mais largura de ataque. Foi de Marcelo Oliveira a melhor chance do Cruzeiro para o empate. Everton mandou a Anselmo Ramon, que protegeu, fez o pivô e lançou ao camisa 8, entrando nas costas do lateral atleticano. Ele avançou até dentro da pequena área mas conseguiu mandar por cima do goleiro.

Após as alterações, a volta ao losango inicial, com muita posse de bola mas sem eficácia na criação e na conclusão

O lateral direito Gabriel Marques, que havia caído e deslocado o ombro, voltou para jogar no sacrifício, já que o Atlético já havia feito suas três alterações. Vágner Mancini, então, tentou aproveitar-se da situação lançando Gilson no lugar de Roger, empurrando Everton para o meio e mudando Marcelo Oliveira de lado, voltando ao losango no meio. Mas o tiro saiu pela culatra, pois Marcelo Oliveira não se aventurou tanto pela direita, e Gilson e Everton não conseguiram combinar tão bem e explorar a condição física debilitada de Gabriel Marques. O lateral do Atlético fez um fim de partida heróico, segurando seu próprio braço e não saindo de nenhuma dividida.

O Atlético viu que não conseguiria mais se impor e postou seus 11 homens atrás da linha da bola, dificultando de vez as ações do time celeste. Mesmo com mais posse de bola (cerca de 60% aos 30 do segundo tempo), o Cruzeiro não conseguiu mais criar boas chances e ainda tomou uma bola na trave num rápido contra-ataque rubro-negro. Mas uma coisa boa pode ser tirada desse final: o Cruzeiro não se desesperou e lançou chuveirinho na área (como é costumeiro com times que estão tentando o gol de qualquer jeito). A organização tática se manteve até o fim.

Talvez o empate fosse o resultado mais justo, pelo volume de jogo das duas equipes nas pontas do tempo da partida. No início, um Atlético elétrico, e no fim um Cruzeiro mais calmo, com mais posse, mas não tão elétrico. Porém, o Cruzeiro só jogou quando o adversário deixou. Mais uma vez. Souza deu qualidade ao meio-campo, pode ser titular. Alex Silva, apesar da falha no gol, também deu mais segurança em bolas aéreas. WP e Anselmo Ramon não jogaram bem. Talvez seja a hora de usar um ataque mais móvel. Os dois são centro-avantes, homens de referência: não podem mais jogar juntos.

Portanto, talvez o resultado mais “justo” fosse mesmo a derrota, mas com o Cruzeiro marcando gols. E, na Copa do Brasil, isso faria muita diferença para o jogo da volta.

Atlético/MG 2 x 2 Cruzeiro – Fraqueza nos flancos mas força na cabeça

Vulnerável em seus dois flancos no primeiro tempo, o Cruzeiro teve frieza ártica para se reequilibrar e empatar o primeiro Superclássico do ano.

Note o posicionamento recuado de Guilherme e a liberdade de Bernard pela esquerda no mesmo lance

Nenhum dos dois treinadores mexeu no esquema de costume de suas equipes: o Cruzeiro no 4-2-1-3, com Wallyson pelo lado esquerdo e Wellington Paulista do lado oposto, e o Atlético Mineiro no 4-2-2-2, que com a presença de Bernard aberto pela esquerda e Danilinho um pouco mais centralizado, mas pela direita, por vezes variava para um 4-2-3-1, com Guilherme vindo jogar mais recuado na articulação central.

Além disso, para compensar a agressividade de seu lateral direito Marcos Rocha, Cuca orientou Richarlyson a ficar mais plantado, vigiando WP. Com mais os dois zagueiros, o Atlético Mineiro ficava numa situação de mano-a-mano em sua defesa contra o trio de ataque azul. Porém, isso não chegou a ser um problema, pois como havíamos previsto no fim do último post como um potencial problema, o Atlético pressionou os laterais e os volantes cruzeirenses e matou a saída de bola adversária. Marcos, que deveria vigiar Bernard, não fez uma boa partida, e cedeu bastante espaço ao meia atleticano. Do outro lado, Diego Renan e Marcelo Oliveira não se acertavam na marcação de Marcos Rocha e Danilinho, que centralizava mais. Pierre ficou no encalço de Montillo, liberando Filipe Soutto para duelar com Leandro Guerreiro. Eram 7 contra 7 no campo ofensivo, com ou sem posse de bola.

O domínio territorial e de posse de bola, no entanto, não vinha se traduzindo em chances para a equipe do Atlético Mineiro. A rigor, a maior chance de gol saiu em uma jogada de contra-ataque que Marcelo Oliveira salvou, não sendo, portanto, resultado direto da maior imposição em campo. O gol saiu numa movimentação inteligente de Bernard e numa falha de marcação de Diego Renan. O meia atleticano arrastou Marcos consigo para dentro da área, liberando um mundo de espaço para Richarlyson avançar e cruzar. Se um baixinho como Danilinho teve que se agachar para cabecear a bola dentro da pequena área, isso indica falha de marcação.

Bernard arrastou Marcos para o meio da área, abrindo espaço para Richarlyson cruzar para Danilinho, que se livrava de Diego Renan

Mesmo depois do gol, o panorama não mudou muito. Porém, a pressão na saída de bola finalmente deu resultado no lance do segundo gol. Fábio tentou sair pelo lado, mas o Atlético Mineiro conseguiu recuperar a posse de bola com André, que arrastou Leo para fora da área. Ele passa a Danilinho, que passa para Guilherme – novamente mais recuado para fazer o último passe – que devolve para Danilinho, novamente livre da marcação de Diego Renan. Leo, que deveria estar acompanhando André, preferiu encurtar em Guilherme, deixando André livre para invadir a área. Danilinho conseguiu passar a bola por baixo de Fábio e achar André livre para completar.

Léo é tirado da área por André, e Danilinho tabela com Guilherme sem que Diego Renan o acompanhasse; Léo prefere marcar Guilherme do que acompanhar André, que invade a área sem ser incomodado

Ao final da partida, Vágner Mancini negou que o esquema tivesse sido o culpado pela má atuação do Cruzeiro no primeiro tempo. Eu concordo com ele: se existem só três homens no meio-campo, é preciso que os atacantes abertos recuem para ajudar a recomposição, mas WP e principalmente Wallyson não fizeram isso. Assim, o Cruzeiro ficou virtualmente com 3 (LG, MO e Montillo) contra 6 (Marcos Rocha, jogando bastante avançado, Pierre, F. Soutto, Danilinho, Bernard, e por vezes, Guilherme). A má atuação dos laterais Marcos e Diego Renan, e dos ponteiros Wallyson e WP é que contribuiu para a fraqueza celeste nos flancos.

O 4-2-2-2 celeste após as alterações, com Roger ao lado de Montillo e os volantes mais livres

No intervalo, Wallyson saiu para entrada de Roger, desfazendo o 4-3-3. Além disso, Vágner Mancini lançou Everton no lugar de Marcos, mandando Diego Renan para a direita. A diferença é que Roger não foi jogar como volante, como nas primeiras partidas do ano, e sim como meia, um pouco mais recuado mas ao lado de Montillo. Essa simples mudança reequilibrou o meio-campo: com dois meias avançados, os volantes do Atlético Mineiro já não tinham tanta liberdade para apoiar o ataque. Everton vigiava Danilinho, Diego Renan seguia Bernard e os dois zagueiros cuidavam da dupla de ataque adversária. Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira estava, de repente, livres para apoiar mais ou dobrar a marcação nos meias abertos.

Com a marcação encaixada, o jogo ficou equilibrado, com chances de parte a parte. Pierre já não tinha tanto êxito em marcar Montillo, que agora tinha mais liberdade com Roger a seu lado. Numa das arrancadas, o argentino tabelou, invadiu a área e driblou Renan Ribeiro. Sem ângulo, cruzou de esquerda para Anselmo Ramon, que conseguiu perder.

Com o jogo equilibrado, os laterais passaram a avançar um pouco mais. Depois de Marcelo Oliveira recuperar uma bola ainda no campo de ataque, ele passou a Diego Renan, aparecendo na frente. O lateral fez o cruzamento, mas a bola desviou no zagueiro atleticano e chegou até Anselmo Ramon, que, como um bom centro-avante, acreditou na jogada e mandou pro fundo das redes, depois da falha do goleiro. Mas é preciso destacar que também há méritos para o cruzamento: o goleiro só falha em bolas que vão até ele. Se o cruzamento fosse evitado, a falha não existiria.

Bola roubada por Marcelo Oliveira e o posicionamento avançado de Diego Renan, o que não ocorreu no primeiro tempo, logo antes do cruzamento para o primeiro gol celeste

O gol assustou um pouco o time atleticano. Cuca tirou Bernard, que já não conseguia mais levar vantagem em cima de Diego Renan e espetou Neto Berola pela esquerda em seu lugar. Apesar de ser um meia no lugar de um atacante, o esquema praticamente se manteve. Depois, Cuca tirou André, bem anulado pela zaga celeste, para a entrada de Mancini. Este passaria à articulação junto com Danilinho e Guilherme se tornaria atacante clássico ao lado de Neto Berola, um 4-2-2-2 sem muita variação, espelhando o esquema do adversário.

A máxima no futebol é: se espelhar o esquema, a técnica sobressai. E a técnica, no time celeste, tem nome e sobrenome: Walter Montillo. O meia argentino, que já havia forçado um cartão amarelo de Pierre, roubou uma bola no meio-campo, avançou atraindo a marcação de dois atleticanos e mandou uma cavadinha espetacular achando Anselmo Ramon dentro da área. O centro-avante dominou com um pé e chutou com o outro, no giro. O justo empate havia chegado.

Montillo atrai a marcação de dois adversários e dá a cavadinha no meio dos zagueiros atleticanos achando Anselmo Ramon para o empate

Walter já havia entrado no lugar de WP antes do gol, mas não alterou muito o esquema. Montillo continuava vencendo Pierre, que acabaria levando o segundo amarelo e sendo expulso. Vendo que perderia o meio-campo, Cuca lançou um terceiro zagueiro, Luiz Eduardo, no lugar do atacante Guilherme, alterando o esquema para uma espécie de 3-5-1. Os laterais passaram a jogar no meio-campo e, incrivelmente, o Atlético Mineiro voltava a ter um homem a mais no setor, mesmo com dez homens em campo. O resultado foi mais posse de bola, mas sem ter referências na frente. O Cruzeiro não teve dificuldades para segurar o adversário, mas tampouco se lançou à frente para tentar vencer a partida.

As duas conclusões mais importantes a serem tiradas deste jogo são: primeiro, o esquema com três atacantes é sim muito interessante, mas serão necessárias muitas correções para levar este esquema ao Brasileirão e às fases finais da Copa do Brasil. Ou Vágner Mancini cobra aplicação tática de seus jogadores, ou então abandona o esquema e volta com quatro no meio. Segundo, há que se destacar o fator psicológico do Cruzeiro na recuperação durante o segundo tempo. Com frieza, como deve ser, diminuiu o ritmo do jogo e se impôs aos poucos.

Vágner Mancini soube cobrar de seus comandados e fazer as mexidas certas. Mas podia tê-las feito ainda no primeiro tempo. Portanto, nota 7 para ele.

Caldense 0 x 5 Cruzeiro – O laboratório ideal

Com a tarefa facilitada pela boba expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo, o Cruzeiro não precisou fazer força para golear a Caldense hoje em Poços de Caldas. Uma clara demonstração de que o time pode se adaptar a diferentes formações dependendo das situações de jogo encontradas.

No primeiro tempo, Cruzeiro no 4-3-3 com Anselmo Ramon na referência e atacantes abertos recompondo para formar um meio-campo com 5 homens

O Cruzeiro veio a campo com o mesmo 4-3-3 que começou as últimas duas partidas, porém com Anselmo Ramon na referência e Marcelo Oliveira na parceria com Leandro Guerreiro. A Caldense veio num tradicional 4-3-1-2, tendo Fábio Neves na articulação atrás dos atacantes Max e Luisinho.

A Caldense começou com tudo, pressionando o Cruzeiro no alto do campo, que teve que ceder a posse em alguns momentos. Porém, o Cruzeiro devolveu na mesma moeda, e em pouco tempo a bola passou a ficar mais tempo em pés azuis do que verdes. A defesa jogava avançada, para tentar empurrar o adversário em seu próprio campo, e com isso a Caldense chegou a ter algumas oportunidades de contra-ataque com o rápido Luisinho, mas sem sucesso.

Ofensivamente, o Cruzeiro tinha mais posse, mas não conseguia passar pela bem montada defesa da Caldense. O primeiro volante Mário era o responsável por marcar Montillo, mas quando o argentino saía da zona central, ele não ia atrás, a marcação mudava de jogador e a estrutura defensiva com 9 homens atrás da bola se mantinha. Assim, o time azul optou por jogadas mais agudas, de menos probabilidade de sucesso, mesmo tendo maior posse de bola. Quando perdia a posse, deixava de pressionar, numa tentativa de atrair um pouco mais a defesa da Caldense para si e jogar em velocidade.

Não foi bem assim que saiu o primeiro gol, mas a falta cobrada rapidamente por Montillo, deixando WP cara a cara com Glaysson e originando o pênalti – convertido pelo próprio atacante – ilustram a proposta de jogo dos visitantes. Atrás no placar, a Caldense tentou sair um pouco mais, avançando seus volantes e laterais, mas isso deixou espaços cruciais atrás destes últimos. E os atacantes abertos trataram de explorar este espaço: logo no minuto seguinte ao gol, Wallyson recebeu, livre, uma inversão em diagonal, numa jogada muito parecida com o segundo gol de Montillo contra o Villa Nova, e cruzou rasteiro, mas nenhum atacante aproveitou. Cinco minutos depois, foi a vez de WP emendar um cruzamento de primeira, mas para fora, também naquele setor.

A expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo só facilitou um jogo que já estava totalmente controlado. A Caldense não mudou o esquema, mantendo somente Luisinho à frente. Se o camisa 11 voltasse para recompor o meio, os volantes azuis tinham todo o tempo do mundo para conectar-se às variadas opções not ataque. Mas se Luisinho ficava à frente, o Cruzeiro tinha um homem a mais no meio, e assim o jogo passou a ser ataque contra defesa. Os visitantes ganhavam todas as segundas bolas, e os zagueiros Victorino e Thiago Carvalho quase não tinham trabalho.

O segundo gol veio após um escanteio cabeceado por Anselmo Ramon e defendido à queima-roupa por Glaysson. A sobra, como esperado, ficou com o lateral Marcos, que achou Montillo no meio e correu para a área, no “contra-fluxo” da defesa adversária. Marcos recebeu a devolução do argentino na medida para dar um tapa de primeira e achar três cruzeirenses livres. A defesa da Caldense acusava impedimento enquanto Victorino comemorava seu primeiro gol com a (nova e lindíssima) camisa cruzeirense.

O primeiro tempo terminou na mesma toada, com WP recebendo passe dentro da área de uma posição aberta, mas desta vez nenhum companheiro estava dentro da área.

O técnico Ademir Fonseca ainda tentou arriscar no intervalo, tirando seu principal articulador, Fábio Neves, e lançando um novo parceiro de ataque para Luisinho, Félix, mudando para um ousado 4-3-2. Mas os planos do treinador da Caldense foram por água abaixo quando Leandrão errou um passe em seu próprio campo e WP aproveitou, avançando com seus dois companheiros de ataque contra dois zagueiros apenas. A conclusão plástica de Anselmo Ramon para o cruzamento de WP resolveu o jogo, e o Cruzeiro passou a administrar. Fonseca fez mais duas alterações, mas trocando seis por meia dúzia em termos táticos, ao invés de fechar seu time e tentar evitar mais gols.

Sem necessidade de correr atrás, o Cruzeiro deixava a Caldense com a bola, sabendo que tinha todos os espaços controlados, esperando o erro do adversário. E num desses erros, o quarteto ofensivo funcionou mais uma vez. WP, aberto pela esquerda, avançou com a bola, vendo Montillo disparar para receber pelo flanco da área. Lançado, o camisa 10 passou com a facilidade que lhe é característica pelo seu marcador e cruzou na cabeça de Wallyson, livre na pequena área.

O 4-2-4 ultra-ofensivo no fim do jogo, com intenso revezamento dos homens de frente e zagueiros adiantados

O quarto gol fez Mancini abrir seu laboratório. Primeiro, tirou Leandro Guerreiro, de característica mais defensiva, para lançar Amaral, um volante que sai mais para o jogo. Marcelo Oliveira passou a ficar mais tempo recuado, e o 4-3-3 se manteve, mas mais ofensivo, algo como um 4-1-2-3. Depois, Diego Renan deu lugar ao garoto Élber, que entrou na articulação central. Marcelo Oliveira foi para a lateral esquerda e Montillo virou atacante, transformando o Cruzeiro numa espécie de 4-2-4 ultra ofensivo. O sexteto ofensivo promoveu uma intensa movimentação, se revezando nas quatro posições frontais constantemente. Além disso, Everton ainda entrou no lugar de Marcelo Oliveira na esquerda, para dar ainda mais ofensividade ao time azul.

Nesse momento, talvez a melhor descrição para a formação seja provavelmente um 2-4-4, pois o domínio era tal que não havia necessidade de os laterais recomporem a última linha de defesa. Nos últimos lances da partida, era comum ver Victorino e Thiago Carvalho além da linha do meio-campo, sem a companhia de Marcos e Everton, que avançavam para combinar aos atacantes abertos. Anselmo Ramon nem teve que saltar para cabecear o quinto gol em centro de Amaral, tal era a fragilidade do sistema defensivo do time de Poços.

Ao fim do jogo, Vágner Mancini disse na entrevista coletiva que o Cruzeiro ainda não jogou contra um adversário à altura. De fato, o resultado não pode empolgar. Contra times mais experientes, nas fases finais da Copa do Brasil e no Brasileiro, o Cruzeiro não terá tanta facilidade. Mas também disse que “o trabalho é feito para finais de campeonato”. Portanto, os jogos contra times menores – leia-se, primeira fase do Campeonato Mineiro e fases iniciais da Copa do Brasil – são o campo de experiências ideal para se chegar às grandes competições com o time formado. E um time formado é aquele que consegue jogar em diferentes esquemas táticos e diferentes situações de jogo.

Vágner Mancini vai, aos poucos, controlando as variáveis e obtendo resultados. Experimentando variações com calma, sem pressa, como um cientista. Quem sabe, no futuro, tenhamos uma máquina engenhosa. De fazer gols.

Cruzeiro 2 x 0 Villa Nova – Quando o craque tem espaço

Montillo se aproveitou das raras vezes em que teve alguma liberdade para dar a sexta vitória seguida ao Cruzeiro contra o Villa Nova hoje em Sete Lagoas.

Cruzeiro no 4-3-3 com Walter de centroavante e Anselmo Ramon aberto pela esquerda, variando para o 4-2-3-1 na fase defensiva

Vágner Mancini optou por uma formação ofensiva, com Everton e Wallyson substituindo o suspenso Marcelo Oliveira e o lesionado Roger, efetivamente compondo um 4-3-3, com Walter de centro-avante e Anselmo Ramon aberto pela esquerda. Já o Villa Nova veio a Sete Lagoas num 3-5-2 clássico, com Francismar na articulação central e os laterais-alas Alex Santos e Zé Rodolfo bem avançados, como é característico do esquema.

Nos primeiros 10 minutos, o Cruzeiro teve total domínio de posse de bola, mas claramente sentiu a falta de Roger na intermediária defensiva para qualificar a saída. Os passes eram lentos e o Villa Nova tinha bastante tempo para encurtar os espaços e se fechar atrás com 9 homens. Nas poucas vezes em que os mandantes arriscavam, as decisões de passe não eram boas e o time perdia a posse de bola. A pressão no alto do campo, porém, fazia o time visitante recorrer a bolas longas para o ataque, que sempre chegavam aos pés de cruzeirenses para mais uma tentativa.

O erro grotesco de passe de Gilson, que produziu mais um milagre de Fábio aos pés do bom lateral Alex Santos, pareceu acordar o Villa Nova. Francismar não era vigiado de perto nem por Leandro Guerreiro, que ficava mais recuado na proteção à zaga, e nem por Everton, que se lançava mais à frente pelo setor esquerdo. O camisa 10 villanovense jogou exatamente no espaço entre os dois, produzindo bons lances. E, com três homens no meio contra cinco adversários, o Cruzeiro não conseguia fechar os espaços do adversário e criar espaços para si próprio.

A primeira finalização cruzeirense só veio depois de uma jogada de muita raça de Montillo. O argentino disputou a bola no chão com um adversário e conseguiu espanar para a chegada de Marcos. O centro achou Anselmo Ramon, que cabeceou fraco. No lance, o atacante bateu a cabeça em um defensor e viria a ser substituído 5 minutos depois. Durante o atendimento ao camisa 11, foi interessante notar a postura do time de Nova Lima. Com um a mais, os visitantes tentaram sobrecarregar o meio-campo com o avanço de um dos defensores, mas o Cruzeiro se fechou bem e evitava jogadas mais agudas.

A entrada de Rudnei no lugar de Anselmo Ramon reequilibrou a equipe no 4-3-1-2 losango habitual. Leandro Guerreiro pôde se concentrar mais em Francismar e deixar Rudnei e Everton com mais liberdade. Os laterais cruzeirenses passaram a avançar muito mais, pois não encontravam mais a barreira natural dos atacantes muito abertos. Walter continuou na referência e Wallyson jogou mais recuado, procurando Montillo. Um exemplo disso foi o primeiro gol, um efeito dominó de uma jogada de Wallyson: ao driblar seu marcador na meia-direita, indefiniu a marcação de Carciano, que não sabia se encurtava em Wallyson ou acompanhava Montillo, que se posicionava para receber. A bola chegou ao argentino que, com espaço e avançando perigosamente, fez o zagueiro central Álvaro deixar a marcação de Walter para tentar barrar o camisa 10. O passe genial por cima achou o atacante que, agora livre dentro da área, só teve o trabalho de bater no canto esquerdo de Elisson.

Em seu melhor momento no jogo, um Cruzeiro num 4-3-3 com muita mobilidade, com Élber na articulação central e Montillo aberto pela direita, de onde saiu o golaço do argentino

No segundo tempo, Mauro Fernandes lançou o veloz Thiaguinho no lugar do lateral esquerdo Zé Rodolfo. O meia jogou bem aberto pela esquerda e pôde atacar sem preocupações, já que Carciano e o volante Higo faziam a cobertura pelo setor. A estratégia deu certo e o lado direito da defesa celeste passou por apuros. O chute para fora de Thiaguinho, em uma jogada iniciada por ele próprio para Henrique e Francismar servir, foi o sinal de alerta para o Cruzeiro recuar a sua linha de volantes e segurar Marcos. Os ataques dos visitantes passaram a não ter tanto efeito, pois Thiaguinho já não tinha tanta liberdade, mas em contra-partida os próprios mandantes não conseguiam atacar com perigo também.

O técnico do Villa Nova então tentou sobrecarregar a defesa azul, colocando o atacante Vinícius. Mas tirou o jogador errado de campo: Francismar, o principal articulador da equipe. Thiaguinho e Eliandro não conseguiram suprir com a mesma criatividade, e o efeito foi que o Villa Nova passou a ter apenas quatro jogadores no meio, o mesmo número que o Cruzeiro. O Villa perdeu em posse, e, para piorar (ou melhorar, do ponto de vista azul), Vágner Mancini lançou o jovem Élber no lugar de Gilson, com Everton indo ocupar a lateral esquerda. O garoto ocupou a faixa central do meio-campo, empurrando Montillo para o ataque, e sem Francismar para vigiar, Leandro Guerreiro pôde fazer a dupla de volantes com Rudnei, fazendo um 4-2-1-3 bem ao estilo da Seleção Brasileira de Mano Menezes.

Não demorou muito a surtir efeito. Em dois lances, Montillo foi lançado pelo lado direito do ataque, em velocidade e sem marcação. No primeiro, centrou rasteiro para Élisson defender a conclusão de Élber e o rebote de Wallyson. No segundo, recebeu inversão de Wallyson, cortou para dentro deixando o volante Anderson Toto na saudade e concluiu rasteiro. Golaço.

Anderson Toto, diga-se de passagem, havia entrado no lugar do zagueiro central Álvaro, fazendo o Villa voltar a ter uma linha de 4 jogadores atrás. No momento do gol, porém, a equipe visitante parecia estar jogando no início do século com 2 zagueiros e 3 volantes, como pode se ver na imagem abaixo.

Acredite, Montillo está sozinho, sem marcação, fora do quadro, momentos antes de fazer o segundo gol do Cruzeiro (globo.com)

Um 2-3-5? Certamente que não, mas sim a velocidade da jogada pegou os laterais villanovenses desprevenidos.

Com a boba expulsão de Walter, o Villa Nova se mandou à frente e Mancini lançou Amaral no lugar de Wallyson. O Cruzeiro recuou bastante num 5-3-1, com Montillo sozinho à frente e Leandro Guerreiro se posicionando afundado entre Victorino e Leo. Os visitantes tiveram muito espaço na intermediária ofensiva, mas o Cruzeiro defendeu bem sua área e cozinhou o jogo até o tempo acabar.

Se por um lado vemos pequena evolução, jogo a jogo, no 4-3-1-2 losango, os jogadores ainda têm certa dificuldade ao executar outros esquemas, já que a vitória por 6 x 0 sobre o fraquíssimo Rio Branco não pode servir de parâmetro. No entanto, o Campeonato Mineiro (e a Copa do Brasil nestas primeiras fases) são excelentes laboratórios para testar o comportamento do time em posicionamentos diferentes. A decisão de se jogar com três na frente contra um 3-5-2 provavelmente não é a melhor, mas é improvável que, no decorrer da temporada, o Cruzeiro vá enfrentar times mais experientes que joguem neste esquema.

Mas, uma coisa é certa: temos um jogador que decide, mesmo sem espaço. Com espaço então…

Nota: Somente ao preparar as imagens deste último post é que percebi que o posicionamento dos zagueiros Léo e Victorino está invertido. Como todos sabem, Léo joga na direita e Victorino na esquerda. A partir do próximo post, tudo estará normal.