Atlético/MG 3 x 0 Cruzeiro – Podia ter sido menos pior

Em Superclássicos como o do último fim de semana — no qual os dois times passam por bons momentos tanto nos resultados quanto no futebol mostrado — qualquer pequeno detalhe faz a diferença. E, para azar nosso, estas diferenças foram todas contra nós: a falha de Éverton, a expulsão de Bruno Rodrigo, substituições questionáveis de Marcelo Oliveira e, principalmente, a diferença na postura defensiva de ambos os times.

Talvez o lance que mais ilustre esta última diferença foi o primeiríssimo de todos. Assim que o juiz apitou, os jogadores do Cruzeiro não tocaram na bola imediatamente, esperando a reação dos rivais, que foi invadir o grande círculo atrás da bola, na ânsia de roubá-la o mais rápido possível. Tiveram de voltar, pois a bola ainda não estava em jogo, mas foi uma boa ilustração de como o Cruzeiro queria estudar o adversário em campo, enquanto o Atlético Mineiro queria pressionar o Cruzeiro e aumentar a velocidade do jogo.

Estratégia inicial

O 4-2-3-1 sem graça do Cruzeiro no primeiro tempo. Repare na falta de setas que indicam movimentação.

O 4-2-3-1 sem graça do Cruzeiro no primeiro tempo. Repare na falta de setas que indicam movimentação.

Nenhuma surpresa na escalação e no sistema de ambas as equipes, o 4-2-3-1. Como previsto, os times tiveram estratégias diferentes com a posse de bola: o Cruzeiro tentava cadenciar, tirando a velocidade do jogo, pois a intensidade favorece o estilo de jogo do rival. O Atlético Mineiro, por sua vez, acelerava assim que roubava a bola, pela mesma razão.

Mas, diferente do que este blogueiro imaginou, os esquemas de marcação também eram diferentes. Enquanto o Atlético Mineiro de fato fazia o encaixe individual por função, ou seja, “cada um no seu”, mas com uma sobra atrás — o Cruzeiro não fez o mesmo. Talvez por falta de entrosamento, mas os jogadores relutaram em sair de suas posições iniciais, fazendo uma espécie de marcação zonal meio capenga. Leandro Guerreiro não foi atrás de Ronaldinho por todo o campo, e o camisa 10 adversário passou por todas as quatro posições ofensivas, trocando frequentemente com Jô e Bernard. Isso confundia a marcação celeste, ilustrada no único lance de real perigo nos quinze minutos iniciais: ligação direta para Ronaldinho que, mesmo marcado por Léo e Ceará, conseguiu girar e bater pro gol, encontrando Fábio.

Desvantagem

Foi então que a intensidade que o Atlético Mineiro queria impor surtiu efeito. Éverton, com a bola dominada, foi pressionado imediatamente por Marcos Rocha e Bernard. Ao invés de se livrar da bola, tentou sair jogando e perdeu para o lateral atleticano, que entrou para dentro do campo e deu a Ronaldinho na esquerda, marcado de longe por Ceará. De primeira, ele achou Jô entrando livre entre os dois zagueiros para abrir o placar. Uma jogada de altíssima velocidade, mas que poderia ter sido evitada se os defensores cruzeirenses tivessem reações mais rápidas após a perda da bola. Coisas que certamente virão com mais entrosamento.

Com o controle do placar, a postura do time mandante mudou. Deixou de fazer pressão no campo adversário e ficava esperando o Cruzeiro em seu próprio campo, que, diferentemente das outras partidas, não se movimentava na frente como deveria. Borges ficou muito preso no duelo com Gilberto Silva, mesmo levando vantagem em certos lances; Éverton Ribeiro sumido com a marcação forte imposta por Richarlyson; Diego Souza tentando variar entre o centro e a direita, mas sem sucesso, e Dagoberto isolado do lado esquerdo.

Sem criatividade de trás — coisa que já falamos neste blog antes — o Cruzeiro não ameaçou o gol de Victor e tomava contra-ataques seguidos. Fábio salvou algumas bolas importantes, garantindo a desvantagem mínima até o fim do primeiro tempo.

Pequena melhora e expulsão

Com vários jogadores amarelados, Marcelo Oliveira resolveu mexer no time, mas tinha que escolher os jogadores que sairiam. Fez uma troca direta, com o nervoso Éverton dando lugar a Egídio, e tirou o apagado e amarelado Éverton Ribeiro para lançar Ricardo Goulart, que foi tentar dar mais criatividade à saída de bola. Deu certo por alguns minutos, com o Cruzeiro aparecendo mais no campo do rival, com Egídio fazendo boa jogada pela esquerda.

Porém, quando o Cruzeiro dava sinais de que podia reagir, Bruno Rodrigo levou o segundo amarelo e deixou o time celeste com dez jogadores. O segundo cartão foi inquestionável, mas o primeiro foi bobo — uma disputa aérea impossível de vencer contra Victor na área atleticana. Faltou tranquilidade ao zagueiro que vinha sendo o mais regular do time.

Se com onze contra onze, com o rival em boa fase, já era difícil, com um a menos ficou ainda mais. Assim, a estratégia correta era segurar o adversário num 4-4-1 com as linhas próximas, tentando sair em contra-ataques, principalmente nas costas de Marcos Rocha, o lateral que avançava mais. E o homem perfeito para isso era Dagoberto. Além de jogar naturalmente pelo lado esquerdo, justamente nas costas do lateral atleticano, ele era o único dos três homens de frente titulares com velocidade para recompor a linha defensiva e partir em contra-ataque.

Assim, o sacrificado para a recomposição da zaga com a entrada de Paulão devia ser Borges ou Diego Souza, com preferência pelo primeiro, pois Diego é mais físico e tinha mais condições de disputar bolas aéreas e dar casquinhas para Dagoberto partir no um contra um. Mas Marcelo Oliveira tirou o camisa 11 e deixou dois jogadores lentos à frente. Estranhamente, após a expulsão, o Atlético Mineiro pareceu relaxar. E o Cruzeiro ficou mais com a bola, tentando achar passes no ataque despovoado e sem amplitude. Foi um período infrutífero de posse de bola, exceção feita à bola na trave de Diego Souza em chute de longe. Pelo menos serviu para manter o adversário longe do gol de Fábio.

Com um a menos, o Cruzeiro abriu os corredores para os laterais adversários ao invés de se plantar em duas linhas de quatro

Com um a menos, o Cruzeiro abriu os corredores para os laterais adversários, ao invés de se plantar em duas linhas de quatro

Aos poucos, o rival foi avançando as linhas e empurrando o Cruzeiro pra trás, até retomar o controle da bola. A instrução de Marcelo Oliveira após a substituição era fazer o 4-4-1, mas o time se portou mais numa espécie de 4-2-2-1, pois Diego não foi fechar o lado esquerdo como deveria, abrindo um corredor para os laterais apoiarem sem ter preocupações defensivas. Pela direita, Richarlyson ficou naturalmente mais preso, mas do outro lado Marcos Rocha avançava constantemente, o que teria implicações mais pro fim da partida.

Os outros gols

O segundo gol atleticano começou num escanteio mal cobrado por Ronaldinho. Mesmo assim, o Atlético manteve a posse da bola e rodou até chegar novamente a Ronaldinho, marcado por Egídio mas que não impediu novo cruzamento pra área. Paulão fez o corte e foi atrapalhado por Jô, e Léo, que não é zagueiro rápido, não conseguiu ir atrás de Tardelli para impedi-lo de aproveitar a sobra.

Sem ofensividade, já que àquela altura o Atlético mandava na posse de bola, o Cruzeiro nada mais fez. E o corredor aberto pelo lado esquerdo cobrou o seu preço. O terceiro gol foi de Marcos Rocha, pegando rebote da defesa de Fábio dentro da área, e sem nenhuma marcação por perto.

Cuca fez substituições, mas que não tiveram nenhum impacto tático na partida, e assim foi sacramentada a primeira derrota cruzeirense em 2013.

Dá pra virar?

É claro que é fácil apontar culpados, mas o futebol é um esporte coletivo. Se Léo estava falhando na zaga, se Bruno Rodrigo teve que fazer a falta em Ronaldinho e levar o segundo amarelo, é porque estiveram sobrecarregados, não tiveram ajuda defensiva na frente. Se Éverton perdeu a bola, foi porque não teve socorro ou linhas de passe fáceis após ser pressionado. Então o Cruzeiro inteiro é que foi abaixo, não só alguns jogadores.

Mas o futebol é maravilhoso. Não só porque, mesmo após derrotas como essa, onde se vê o maior rival sendo superior em praticamente todos os quesitos, o torcedor continue amando e torcendo pelo seu time, mas também porque ele já nos provou, inúmeras vezes, como é capaz de produzir resultados que ninguém espera. Um gol a cada trinta minutos não é nada surpreendente para quem já venceu este mesmo time por um placar bem mais elástico e em condições muito mais desfavoráveis — há que se considerar que o treinador e metade dos jogadores do rival estava presente naquele 6 a 1.

Para isso é preciso mudar. Mais do que de peças, mais do que de sistema, é preciso mudar de postura. O Cruzeiro da primeira partida respeitou demais a boa fase do Atlético Mineiro e não foi o Cruzeiro que nos acostumamos a ver neste início de ano — marcando forte, querendo a bola para si e tê-la nos pés. O Atlético jogou o que vem jogando sempre; o Cruzeiro é que não. É claro que eles poderiam vencer mesmo se o Cruzeiro jogasse tudo o que jogou até agora, pois assim é o futebol.

Mas que seria menos pior, seria.

Especial: Prévia tática da decisão do Campeonato Mineiro 2013

Chegou a hora. Era previsível: o Superclássico decidirá o Campeonato Mineiro. E, pela primeira vez nos últimos anos, sem um claro favorito, pois era comum um dos times estar bem e o outro “mais ou menos”. Agora não: ambos provaram que podem jogar bem. Então, nada mais justo do que fazer uma prévia tática sobre o maior jogo de Minas Gerais. Vou além: com o Carioca e o Gaúcho decididos, e com a final do Paulista com dois times que não inspiram confiança, a decisão do Mineiro provavelmente será o maior jogo do Brasil nos próximos fins de semana.

Um pouco sobre o jogo contra o Villa

Mas antes, pra não dizer que não falei de flores, uma rápida pincelada sobre o jogo da volta das semifinais contra o Villa Nova. Muitos titulares foram poupados já pensando na decisão de domingo, naquilo que foi uma batalha dos losangos de meio-campo. Na verdade, batalha é modo de dizer, pois foi praticamente um ataque contra defesa, já que o objetivo claro do time de Nova Lima era perder de pouco pra ficar com o título simbólico de “Campeão do Interior”.

Rafael no gol, com Mayke, Paulão Bruno Rodrigo e Egídio na linha defensiva. Guerreiro foi o vértice baixo, com Tinga pela direita e Lucas Silva pela esquerda, e partindo do centro para as pontas, Ricardo Goulart. Diego Souza jogou mais à frente, uma espécie de segundo atacante, se aproximando de Borges. Um 4-3-1-2 losango, com os corredores pelos lados abertos para os laterais subirem até a intermediária adversária e encontrarem uma muralha. Tinga e Mayke combinaram bem mas tiveram dificuldade com a forte marcação do Villa, mas pelo lado esquerdo, boa aparição de Lucas Silva e Egídio, que coroou sua boa atuação com um belíssimo gol de falta.

Já no domingo, os treinadores devem escalar seus times no mesmo 4-2-3-1 costumeiro de suas equipes. E, apesar de jogarem no mesmo sistema base, a forma de atuar é diferente. Isso porque os jogadores que compõem os sistemas tem características diferentes.

Perto das balizas

130510_ataque_atleticomg_cruzeiroA começar pelas duas grandes áreas. Enquanto Jô é um centro-avante típico, grandalhão, com boa bola aérea tanto na disputa no meio quanto dentro da área para finalização, e boa retenção de bola, para esperar seus companheiros passarem e fazer o passe, Borges é mais oportunista e tem melhor senso de posicionamento. Léo e Bruno Rodrigo deverão fazer um jogo mais físico contra o atleticano, mas Réver e provavelmente Gilberto Silva terão um combate mais “leve” contra Borges. Marcelo deveria posicionar nosso camisa 9 mais em cima de Gilberto Silva, que é mais lento e menos técnico do que Réver.

130510_defesa_atleticomg_cruzeiroMas existe uma semelhança: ambos vão sair da área e tentar se desvencilhar da marcação dos zagueiros adversários. Borges deverá recuar um pouco mais para receber algumas bolas longe da perseguição dos zagueiros atleticanos, obrigando-os a sair à caça e abrindo espaço para Dagoberto e Diego Souza chegarem de trás. No Atlético Mineiro, que joga junto há mais tempo, o quarteto ofensivo roda mais, e provavelmente veremos Léo ir atrás de Jô até o meio-campo se for preciso. Cabe aos companheiros de linha defensiva fazerem a cobertura.

Meiúca

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No centro do meio-campo, nenhuma das duas equipes possui volantes que saem muito para o jogo. Um deles deverá ser destacado para fazer uma perseguição ao meia-central adversário: Pierre e Leandro Guerreiro serão as sombras dos camisas 10 do time adversário, Diego Souza e Ronaldinho. Mas, com a diferença de estilos dos meias, provavelmente Guerreiro fará uma marcação mais forte do que Pierre, já que Diego não é passador como Ronaldinho, mas sim carregador de bola, mais físico, chegando mais à área, quase como um segundo atacante.

Com isso Leandro Donizete e Nilton travarão um duelo particular. Marcadores por natureza, ambos terão uma função de chegar mais à frente para ser um quarto homem de meio nas ações ofensivas. No clássico do início do ano, Nilton foi mais participativo e deu uma ligeira vantagem no meio-campo para o Cruzeiro, que em clássicos faz toda a diferença.

Na destra

Pela direita, o jogo será menos intenso, apesar da presença do leve Bernard duelando com Ceará. Nos últimos clássicos, Ceará fez bem o papel primário de um lateral: defender. E com isso levou vantagem sobre Bernard na maioria das vezes. A única exceção foi o lance do primeiro gol na última rodada do Brasileirão 2012. Na reabertura do Mineirão, Bernard pouco produziu pelo lado esquerdo, principalmente por causa do bom trabalho defensivo do camisa 2

Na frente, Everton Ribeiro não deve explorar tanto a quina do campo, e sim entrar mais para o meio, também pelo fato de ser um ponteiro meia de origem, ao contrário dos outros três (Dagoberto pelo Cruzeiro, e Bernard e Tardelli pelo Atlético Mineiro, que são atacantes). Richarlyson deve acompanhá-lo onde for, também pelo fato de ser um lateral mais preso, que apoia pouco. Isso abre o corredor para Ceará subir e dar amplitude, mas com muita cautela para não abrir espaço às suas costas e proporcionar uma das armas mais usadas do adversário: a diagonal longa do lateral para o ponteiro oposto.

Na canhota

130510_esquerda_atleticomg_cruzeiroChegamos à região onde acredito ser a mais intensa da partida. Tanto Éverton quanto Marcos Rocha são laterais que apoiam bastante, com muito ímpeto ofensivo. Ao mesmo tempo, estarão a cargo de marcar atacantes rápidos, com características ligeiramente diferentes. Dagoberto é mais driblador, rápido, bom na vitória pessoal, enquanto Tardelli é um pouco mais lento, mas se movimenta mais pelo campo, chegando na área junto com Bernard pelo outro lado. Tanto Everton quanto Marcos Rocha correm riscos se subirem demais para o apoio, abrindo espaços para os adversários ponteiros explorarem.

Marcos Rocha é, na modesta opinião deste blogueiro, o ponto mais sensível do time adversário. Se Dagoberto estiver em tarde inspirada, dificilmente o lateral atleticano conseguirá pará-lo, pois não tem a mesma experiência e serenidade que Ceará tem na marcação de Bernard (duelos muito semelhantes, por sinal). Eu diria que ali é o caminho do gol, principalmente porque Diego Tardelli não recua tanto no trabalho defensivo, e isso pode causa uma sobrecarga favorável ao Cruzeiro naquele lado.

Semelhanças sem a bola…

É claro que o jogo não será restrito a estes duelos, devido à movimentação dos quartetos de frente e ultrapassagens do volante que sobrar e dos laterais para as ações ofensivas. Mas como no Brasil praticamente não se vê marcação por zona e sim individual por função — como bem disse Eduardo Cecconi em seu blog, o famoso “cada um pega o seu e vai com ele até o final” — esses devem ser os duelos mais comuns, pois tanto Cruzeiro quanto Atlético Mineiro se utilizarão deste sistema.

Além disso, é bem provável que ambos os treinadores ordenem seus homens de frente a marcar o adversário perto da área ofensiva, o famoso “pressing”. Portanto, podemos esperar muitos passes errados, muita “bola pro mato” e, principalmente, um jogo muito pegado, físico — provavelmente haverá mais cartões amarelos que o normal. Talvez um ou dois vermelhos.

… e diferenças com ela

Com a bola, porém, os dois times trabalham de maneira diferente. O Atlético Mineiro é intenso, aumenta a rotação do jogo e não tem medo de usar ligações diretas, principalmente em seu estádio. Isso porque tem um bom pivô, jogadores velozes pelas pontas e um passador nato no meio. O entrosamento de dois anos jogando junto sob o mesmo treinador também ajuda. Já o Cruzeiro é um time que valoriza a posse de bola e — pra usar um termo que Marcelo Oliveira gosta — tenta envolver o adversário, abrindo espaço entre as linhas com passes rápidos, mas com mais calma e escolhendo a hora de acelerar.

Em suma: ambos são times velozes, mas o Atlético Mineiro é intenso sempre, enquanto o Cruzeiro tenta variar. Como o primeiro jogo é no Independência, e o Atlético Mineiro tem que inverter a vantagem, provavelmente tentará acelerar o jogo a toda hora. Cabe ao Cruzeiro saber aproveitar isso, “cansando” o adversário e tocando a bola para trazer a partida para o seu gosto.

O primeiro grande teste

O primeiro grande teste -- para AMBAS as equipes

O primeiro grande teste — para AMBAS as equipes

Muito se fala sobre este ser o primeiro grande teste para o Cruzeiro na temporada. De fato, os adversários que o Cruzeiro enfrentou até aqui, com exceção da reabertura do Mineirão, respeitaram demais o Cruzeiro e não encararam de frente. Mas reitero a conclusão do post passado: o Cruzeiro enfrentou o mesmo nível de oposição nas temporadas anteriores e não teve o mesmo rendimento — a invencibilidade precisa sim ser levada em conta. Assim, por se tratar de um clássico, pela vantagem que o Cruzeiro tem, e pela confiança que o time passa à torcida, é possível dizer que o Cruzeiro é o time com mais chances de vencer o “badalado” Atlético Mineiro desta temporada.

E, pra ser sincero, com a bolinha que o São Paulo jogou na Libertadores, e com o nível do futebol brasileiro tão acima dos demais vizinhos sul-americanos… É o primeiro grande teste pra eles também.

 

Quatro jogos e perspectivas

Antes de mais nada, este blogueiro pede desculpas aos leitores por ter ficado tanto tempo ser dar satisfações. Entrei em um momento de mudança na vida — literalmente — e por isso fiquei sem infra-estrutura necessária para escrever os posts (leia-se: internet e computador).

Então, para não deixar de falar sobre nenhum dos jogos passados, aqui vão notas rápidas sobre os quatro últimos jogos.

Villa Nova 2 x 4 Cruzeiro

Em alguns jogos, o equilíbrio entre as equipes é simplesmente uma questão de número no centro do meio-campo. Que o Cruzeiro tem um elenco superior ao do Villa Nova todos sabemos, mas neste jogo o Villa tinha um quarteto no centro do campo, com o seu 4-3-1-2 losango frente ao 4-2-3-1 do Cruzeiro. Os dois volantes e Tchô, o meia central, se deram melhor em relação a Leandro Guerreiro e Nilton, que não conseguiam marcar os três. A partida tendeu para o domínio do time da casa no primeiro tempo simplesmente por isso.

Já no segundo, Marcelo Oliveira lançou Tinga para fazer um 4-1-2-3 que acertou a marcação: Guerreiro ficou responsável apenas por Tchô, e mesmo perdendo o duelo algumas vezes, como no gol de empate do Villa Nova, conseguiu tirar a liberdade que o camisa 10 adversário tinha na primeira etapa.

Mas com a mudança, Diego Souza foi jogar aberto do lado direito, deixando o time sem um meia central. Com isso, o time equilibrou o centro do meio-campo, mas criou pouco. A entrada de Ricardo Goulart aconteceu justamente para resolver este problema. Com ambos os times com meio-campo em losango, a qualidade técnica fez diferença e o Cruzeiro marcou mais dois gols.

Em suma: quando tinha apenas 2 meio-campistas (já que Diego Souza marca pouco) contra 4 do adversário, o Cruzeiro foi dominado. Com Tinga, o 3 x 4 equilibrou, e com Goulart, o número de meio-campistas se igualou, e aí o Cruzeiro se sobressaiu.

América 1 x 4 Cruzeiro

O América do técnico Paulo Comelli quis jogar de igual para igual contra o Cruzeiro no Mineirão. E foi amplamente dominado, principalmente porque, diferente dos outros times do campeonato, foi um time que tentou sair para o jogo e deu espaço para os jogadores de frente do Cruzeiro.

Também num 4-2-3-1, o time de Paulo Comelli foi facilmente repelido pela linha defensiva celeste. Com Rodriguinho, o meia central, encaixotado entre os volantes, Fábio Júnior tinha que sair muito da área, e Fábio quase não viu a cor da bola.

Já o Cruzeiro, desta vez com Ricardo Goulart na vaga do suspenso Dagoberto, imprimiu movimentação e confundiu a marcação americana. Já aos 16 minutos o Cruzeiro vencia por dois a zero, em jogadas de bola áerea. Depois disso apenas controlou as ações, repelindo as investidas do América com propriedade. Ainda sofreria um gol em falha de Leandro Guerreiro na cobrança de escanteio, mas matou o jogo logo em seguida com excelente trama pela direita com Everton Ribeiro e Ceará e a conclusão de Borges.

O 4-2-3-1 foi mantido do início ao fim. Apesar do placar e do domínio, os volantes ainda tiveram pouca participação ofensiva e uma certa dificuldade na marcação. Acredito ser o setor mais frágil da equipe no momento, ao contrário da maioria dos comentaristas e torcedores que dizem ser a defesa.

CSA 0 x 3 Cruzeiro

Eliminar o segundo jogo era esperado. Mas o futebol apresentado, preguiçoso, não. Era quase como se o Cruzeiro soubesse que tinha que fazer pouca força para avançar de fase, e assim foi. Já o CSA jogava a vida, provavelmente o jogo de maior visibilidade que o time terá no ano, e por isso foram pra cima, com muita velocidade.

A defesa do Cruzeiro jogava bem alta, longe de sua própria área, para compactar o time. Mas isso só funciona se os jogadores de frente também fizerem marcação avançada, o que não acontecia. Assim, o CSA tocava a bola e o Cruzeiro esperava, deixando espaços atrás de sua própria defesa. E time da casa, num moderno 4-1-2-3, jogava bolas longas para jogadores rápidos que tinha abertos, nas costas dos nossos laterais. Para nossa sorte, a pontaria deles não estava boa e pelo menos três chances reais foram mandadas pra fora.

Ofensivamente, o Cruzeiro parecia, de fato, bem preguiçoso. Os gols aconteceram mais por bobeira da defesa do time alagoano do que por mérito celeste. O primeiro numa bola longa de Dagoberto, na direita, para Diego Souza. A defesa estava mal posicionada e deixou o camisa 10 entrar livre. O segundo em um pênalti cometido atabalhoadamente pelo zagueiro. Somente o terceiro pode ser considerado superioridade técnica: Ricardo Goulart recebeu o passe final de uma trama rápida de passes, driblou um marcador, ganhou na força do segundo e concluiu sem chances para o goleiro.

O jogo provou a força do elenco cruzeirense, que mesmo jogando com pouca vontade, mostrou ser forte o suficiente para construir o placar. Entretanto, a mesma preguiça causou dificuldades desnecessárias. Portanto, não foi um jogo bom para se tirar alguma conclusão.

Cruzeiro 5 x 0 Nacional

Ah, goleadas. Como elas têm o poder de enganar o torcedor. Basta fazer uma grande soma de gols num mesmo jogo e automaticamente tudo fica bem, a torcida se empolga e tal. Felizmente, não era esse o caso.

É claro que se deve levar em conta a fragilidade do Nacional, que está brigando para sobreviver no Módulo I do Campeonato Mineiro. Mas é justamente contra estes é que o poderio do time mais capacitado tem que aparecer. E assim foi feito: o Cruzeiro jogou como se fosse um jogo decisivo (não, confirmar a liderança na primeira fase do estadual não dá esse caráter à partida). Ricardo Goulart entrou na vaga do suspenso Diego Souza e promoveu a mesma intensa movimentação de jogos anteriores, e foi o senhor da partida.

O Nacional se entrincheirou numa espécie de 4-3-3 defensivo, contra o 4-2-3-1 costumeiro de Marcelo Oliveira. Os três da frente estreitavam e bloqueavam a saída pelo meio, mas deixavam as laterais livres. Além disso, os volantes cruzeirenses não eram pressionados e buscavam a bola no pé dos zagueiros para iniciar o jogo, quase sempre jogando para um dos laterais. E dali, a bola circulava tranquilamente para os três armadores, trocando de posição a todo momento.

Sem a bola, o Cruzeiro pressionava no alto do campo, com muita sede de roubar a bola. Foi a pressão alta mais intensa até aqui no ano. Quando o Nacional tinha a bola, não tinha muito tempo pra pensar, pois o quarteto ofensivo do Cruzeiro encurtava os espaços dos zagueiros, obrigando ao chutão ou passe errado. Os gols saíram naturalmente, em erros do Nacional provocados pela marcação intensa do Cruzeiro e ataques velocíssimos.

Todos os quatro jogadores de frente participaram dos dois primeiros gols: no primeiro, o tiro de meta ruim veio parar nos pés de Goulart, que de letra achou Everton Ribeiro, que finalizou de fora da área. No segundo, Borges se desloca e tabela com Dagoberto, deixando o companheiro na cara do gol. Já o terceiro foi uma jogada dos defensores: Nilton a Bruno Rodrigo, que de peito passou a Leo dentro da área. O zagueiro cruzeirense ainda marcaria mais um de cabeça em bola parada, ainda no primeiro tempo.

No segundo, o time desacelerou, naturalmente. Mesmo assim, Élber completaria a goleada “roubando” a bola na jogada individual de Ricardo Goulart, tamanha a facilidade que o Cruzeiro criou na partida, muito devido à sua própria atuação.

Outro ponto a se destacar é que, nas raras vezes em que era marcado em seu próprio campo, o Cruzeiro evitava ao máximo a bola longa para o ataque. O objetivo era manter a bola nos pés e construir a jogada de trás. É uma mudança sutil de postura, mas que revela como Marcelo Oliveira quer sua equipe.

Perspectivas

Notadamente, existe uma preocupação da torcida e da crítica em geral com o setor defensivo do Cruzeiro. Quase todos localizam a instabilidade nos zagueiros, mas este blogueiro pensa que o problema está na volância. Leandro Guerreiro e Nilton são bons marcadores, mas não estão com funções definidas. Não sabemos quem sai mais e quem fica mais (pense em Paulinho e Ralf, por exemplo).

Mas, Dedé chegou. E com ele a segurança na zaga que a torcida precisava. Porém, estou esperando muito mais os testes de Henrique ou Lucas Silva no meio para ver como se encaixam neste time. Aparentemente, Lucas Silva jogará neste domingo contra o Tupi, mas não será um 4-2-3-1 e sim num 4-3-1-2 losango ao lado de Tinga, com Nilton no suporte e Diego Souza na ligação. Terá liberdade para atacar. Sorte para o garoto.

Ademais, o time está se encaixando mais rápido do que esperávamos, e não só o time titular. O Cruzeiro hoje tem mais do que 11 titulares, e isso é um luxo que poucos times no Brasil podem ter. O esquema base está definido, variações estão sendo treinadas e têm dado certo em determinadas situações de jogo. Podemos esperar, sim, um bom ano em 2013.

Cruzeiro 3 x 1 Tombense – Foi na técnica

Para abrir este post, recorro novamente a Jonathan Wilson, autor do livro “Inverting the Pyramid” sobre a história da tática no futebol, em uma frase que utilizou em seu blog no jornal inglês The Guardian: “Simetria não é essencial, mas o equilíbrio é”.

Este equilíbrio é o sonho de todo treinador de futebol: defender e atacar com a mesma eficiência, em todos os setores do campo. Mas o que se viu ontem do Cruzeiro, na vitória por 3 a 1 sobre o Tombense no Mineirão, foi uma equipe sem simetria mas também sem equilíbrio. Ataque e defesa tiveram momentos diferentes durante a partida, e a vitória só veio pela diferença técnica existente entre os dois elencos.

Formações

O 4-2-3-1 da primeira etapa tinha a tendência de cair para a esquerda, com E. Ribeiro mais por dentro e Everton apoiando mais que Ceará

O 4-2-3-1 da primeira etapa tinha a tendência de cair para a esquerda, com E. Ribeiro mais por dentro e Everton apoiando mais que Ceará

Marcelo Oliveira escalou o Cruzeiro no seu já habitual 4-2-3-1, com Fábio no gol e sua linha defensiva composta por Ceará à direita, Thiago Carvalho (substituindo Bruno Rodrigo, contundido) e Paulão no miolo de zaga e Éverton na lateral esquerda. Nilton e Leandro Guerreiro mais uma vez fizeram dupla na volância, suportando Everton Ribeiro à direita, Diego Souza centralizado e a novidade Luan de ponteiro esquerdo, todos procurando Anselmo Ramon na frente.

Já o Tombense veio, como esperado, em um sistema super-defensivo para segurar o ataque azul. O técnico Marcelo Cabo mandou a campo um 4-3-2-1. O gol de Glaycon foi defendido pelos zagueiros Andrezinho e Alexandre, flanqueados por Ari na direita e Guilherme Lazaroni na esquerda. O trio de volantes era formado por Mateus Silva pela direita, Serginho por dentro e João Guilherme na esquerda. À frente, Joílson na ligação tinha a companhia do atacante Éder Luiz. Só Adeílson ficava mais à frente.

A árvore de natal e a assimetria

Dois fatores chamaram a atenção no primeiro tempo. O primeiro era que a marcação do Tombense, que lembrava uma árvore de natal, foi desenhada para forçar a posse de bola do Cruzeiro para lados do campo. Os três jogadores da frente fechavam as linhas de passe no meio, forçando os zagueiros do Cruzeiro a procurarem as laterais. Os volantes Nilton e Leandro Guerreiro, que normalmente se revezam para tentar achar o primeiro passe, quase não viam a bola em seus pés.

O outro fator que o time do Cruzeiro “pendia” para o lado esquerdo, uma vez que Everton Ribeiro, um “ponteiro de pé invertido” (canhoto na direita), tinha a tendência de centralizar mais, ao invés de ficar aberto, perto da linha lateral. Do outro lado, Luan fazia exatamente o contrário: ficava o mais aberto possível, tentando achar uma corrida em diagonal ou buscar a linha de fundo para o cruzamento.

Com isso, o time perdia amplitude no ataque (ou seja, não “alargava” o campo, tentando abrir a defesa adversária) e facilitava a marcação do Tombense. Este problema seria facilmente resolvido se Diego Souza revezasse com Everton Ribeiro na ponta direita, arrastando a marcação consigo e abrindo espaço para ele e ao mesmo tempo dando mais uma opção de passe. Mas o camisa 10 se movimentou pouco e quase não participou do jogo ofensivo.

Ceará bem que tentou ser a opção pelo lado direito, mas o lateral apoiou pouco, não só por ser estar “sozinho” naquele lado como também pelas opções de passe dos companheiros, que sempre buscavam o lado canhoto do campo.

O resultado pode ser visto nos números: de acordo com os dados coletados pela Footstats e publicados no site da ESPN Brasil, o Cruzeiro passou 43,09% de sua posse no lado esquerdo do campo, contra apenas 30,75% do lado direito. Uma discrepância grande.

Curiosamente, o gol saiu num momento em que Luan e Everton Ribeiro estavam invertidos. E numa tabela entre os dois Evertons é que saiu a conclusão do lateral que provocou o rebote para o garoto Vinicius Araújo — que havia entrado no lugar do lesionado Anselmo Ramon sem alterar o sistema — abrir o marcador.

Segundo tempo

Marcelo Cabo tirou um de seus volantes, Mateus Silva, e lançou o atacante Tiago Azulão, que foi jogar de ponteiro esquerdo. Joílson foi para a direita e Eder Luiz ficou centralizado, configurando um 4-2-3-1 que variava para um 4-4-1-1 sem a posse de bola. Talvez o treinador do Tombense queria dobrar a marcação nos dois lados do campo e ao mesmo tempo ter uma saída de contra-ataque para buscar o empate.

Porém, assim como na primeira etapa, o Cruzeiro continuava dominando a posse de bola, mas desta vez com ainda mais dificuldade para penetrar na bem postada defesa adversária. O Cruzeiro só chegava quando tocava rápido a bola, virando o jogo pelo chão mas com velocidade, o que acontecia só esporadicamente.

Somente aos 12 minutos Marcelo Oliveira mexeu: sacou Luan e lançou Dagoberto, que foi jogar espetado pelo lado esquerdo, quase como um segundo atacante. Era um 4-2-3-1 com uma variação interessantíssima para o 4-2-2-2 (com Everton Ribeiro centralizando e Dagoberto avançando). Mas a mudança mais importante com a alteração foi no estilo: Dagoberto prefere a velocidade, enquanto Luan tentava mais na força física. O time ficou mais leve e mais vertical.

Domínio visitante

Porém, com o ataque melhorando, a defesa começou a piorar. Com menos jogadores marcando nos flancos ofensivos, já que Dagoberto não acompanhava o lateral e Everton Ribeiro frequentemente estava na parte central do campo, o Tombense começou a achar uma saída de bola sem pressão. A marcação celeste, que no início do jogo era no campo adversário, agora era em bloco médio, fazendo pressão somente quando a bola já havia ultrapassado a linha divisória. O time de Tombos começou a “gostar” do jogo e saiu um pouco mais. A defesa do Cruzeiro respondia passivamente, deixando os jogadores adversários pensarem.

No fim, o Cruzeiro se postou num 4-2-2-2 com muito mais movimentação ofensiva, mas desorganização na defesa

No fim, o Cruzeiro se postou num 4-2-2-2 com muito mais movimentação ofensiva, mas desorganização na defesa

Quando o Tombense já era melhor no jogo, o Cruzeiro ampliou, justamente num contra-ataque. Bola rebatida, passe para Vinicius Araújo, que estava bem aberto pela esquerda, sem marcação. Ele avançou e cruzou rasteiro para o outro lado da área. Everton Ribeiro, que já tinha passado da linha da bola, recuou e concluiu com muita tranquilidade, sem chances para Glaycon.

Logo após o gol, Éder Luiz cedeu seu lugar a Alex, em mais uma tentativa de Marcelo Cabo em pressionar o Cruzeiro. O jogador foi jogar de meia central, mantendo o 4-2-3-1. Marcelo Oliveira queria garantir a vitória e sacou Diego Souza, apagado no jogo, lançando o garoto Élber. Dagoberto virou atacante de vez e o 4-2-2-2 estava oficializado, com quatro jogadores leves se movimentando à frente.

Mas o domínio do time de Tombos continuou. O Cruzeiro sofreu um gol em lance de bola parada, com Adeílson, e quase sofreu o empate minutos depois. Fábio, que já havia feito um milagre antes, impediu um lance e Tiago Azulão mandou pra fora em outro. A tranquilidade só veio quando, em um lance — ironicamente — de contra-ataque, Élber encontrou Dagoberto aberto pela direita do ataque. O camisa 11, dominou e esperou a chegada de Élber para devolver a bola num passe milimétrico que furou o sistema defensivo. O jovem meia bateu no canto alto esquerdo e deu números finais à partida.

Vencer sem convencer?

A vitória veio, a liderança foi mantida, mas não sem um certo sufoco. O Tombense esteve muito bem armado em campo pelo técnico Marcelo Cabo, e o resultado veio muito mais na habilidade técnica dos jogadores cruzeirenses do que na disposição tática. Nesse aspecto, arrisco dizer até que o Tombense foi superior — cumpriu muito bem o papel de travar o ataque cruzeirense.

É claro alguns fatores, como ficar duas semanas sem jogar, a atuação discreta de Diego Souza — muito marcado e sem inspiração para se movimentar e sair dela — e a pouca participação dos volantes nas ações ofensivas fizeram o Cruzeiro ficar mais previsível, facilitando o trabalho defensivo adversário. O time melhorou no segundo tempo ofensivamente com as substituições promovidas, mas caiu muito defensivamente. Fosse o Tombense um time mais técnico, certamente sairia com um resultado melhor do Mineirão.

Um time ofensivo e envolvente, como quer Marcelo Oliveira, pode ser equilibrado. Mas isso requer entrosamento (foi apenas o quarto jogo oficial do Cruzeiro na temporada) e que os jogadores executem funções para além das que estão designados: atacantes têm que marcar e defensores têm que jogar. Coisas que faltaram ao Cruzeiro ontem e que só o tempo poderá trazer.

De fato, ainda há muito trabalho a fazer.

Cruzeiro 2013: Ofensividade e protagonismo como objetivos

Alô cruzeirense! Que em 2013 a sua cruzeiridade continue te dando alegrias!

Depois das férias de verão e da grandiosa movimentação do mercado, o blog de análise tática preferido da imensa torcida cruzeirense está de volta. Sim, esperei um momento em que as negociações já estivessem mais calmas e, portanto, com o elenco do Cruzeiro mais definido para a temporada que se inicia. E já que o assunto deste blog é tática, vamos a ela.

Comecemos pelo treinador. Marcelo Oliveira teve dois bons anos no Coritiba e uma passagem terrível no Vasco. No time paranaense, Marcelo jogou quase sempre no 4-2-3-1, que parece ser seu esquema preferido. No primeiro jogo do Brasileirão do ano passado contra o Cruzeiro, foi essa a formação escolhida. Depois, quando já estava no Vasco, o treinador mineiro preferiu o 4-3-1-2 losango — era seu primeiro trabalho no time carioca e ainda não havia tido tempo para alguma coisa diferente.

O elenco do Cruzeiro de 2013 parece numeroso demais, mas não é. Também proporciona boas variações táticas

O elenco do Cruzeiro de 2013 parece numeroso demais, mas não é. Também proporciona boas variações táticas

Com as contratações, que com toda a certeza têm o dedo de Marcelo, o Cruzeiro agora possui um elenco que proporciona variações táticas. Além disso, a saída de Montillo para o Santos, por incrível que pareça, dá alternativas interessantes taticamente, ainda que pelo lado técnico seja uma perda considerável. O leitor deste blog certamente se lembra da insistência do blogueiro em pedir o argentino como ponteiro durante a temporada passada. Mas, ao que parece, Montillo não gostava de marcar, e por isso era escalado com três volantes dando suporte. Infelizmente, o futebol moderno exige que todos marquem e que todos joguem. Estou curioso pra ver como o Muricy vai resolver este problema no Santos.

Mas o assunto aqui é Cruzeiro. E nos primeiros jogos-treino e do amistoso contra o Mamoré, Marcelo parece ter escolhido o esquema vencedor de sua passagem pelo time paranaense para iniciar o trabalho. O 4-2-3-1 do amistoso contra o Mamoré teve Fábio no gol, linha defensiva com Ceará e Egídio nas laterais e Paulão e Bruno Rodrigo no miolo de zaga. Leandro Guerreiro, que terminou o ano passado jogando na zaga, voltou à volância ao lado de Nilton. Everton Ribeiro pela direita, Diego Souza centralizado e Everton pela esquerda articulavam atrás do garoto Vinicius Araújo no comando do ataque.

Um resgate da identidade?

Ainda que o Mamoré seja um adversário mais fraco, e que se postou defensivamente num 3-5-1-1 quase que na totalidade da partida, o Cruzeiro de 2013 mostrou, pelo menos neste jogo, que quer recuperar a sua característica: futebol ofensivo com posse de bola, ser o protagonista do espetáculo. Com exceção de Fábio e dos zagueiros, todos os outros jogadores participavam da transição ofensiva. Típico de um time que quer construir a jogada, quer ser propositivo, em contraste com o jogo reativo e de contra-ataques do ano passado.

A primeira cara do Cruzeiro de 2013: um 4-2-3-1 propositivo e com bastante movimentação, principalmente de Diego Souza e Everton Ribeiro

A primeira cara do Cruzeiro de 2013: um 4-2-3-1 propositivo e com bastante movimentação, principalmente de Diego Souza e Everton Ribeiro

Ceará apoiou mais do que este blogueiro esperava, visto que nas últimas partidas do ano passado ele atuava quase como um terceiro zagueiro. Do outro lado, Egídio mostrou ser um lateral com bastante ímpeto ofensivo. Leandro Guerreiro e Nilton foram claramente instruídos a fazer o primeiro passe e carregar a bola (o segundo mais que o primeiro, por característica). O trio de meias se movimentava bastante, principalmente Everton Ribeiro e Diego Souza, que pareciam se conhecer há algum tempo e trocavam de posição com frequência. Everton ficou mais pelo lado esquerdo fazendo boas tramas com Egídio. E na frente, Vinicius Araújo demonstrou ter fome de gol. Finalizava em qualquer oportunidade boa, e ainda aparecia pra fazer jogadas e tabelas. Certamente será a revelação da base do Cruzeiro para este ano.

Sem a bola

Quando perdia a bola, o Cruzeiro tentou fazer o famoso pressing (marcação adiantada com o time compactado, fechando as linhas de passe). Claramente instruídos neste sentido, os jogadores de frente do Cruzeiro fechavam em cima dos defensores do Mamoré para roubar a bola, forçar um passe errado ou, no mínimo, um passe longo para a frente ou para o outro lado. Se fosse na direção do ataque, a zaga do Cruzeiro logo pegava a sobra, a famosa segunda bola depois da disputa de cabeça pelo alto (a primeira bola). Se fosse virada de jogo, então o time rodava e fechava do outro lado, repetindo o movimento.

Este movimento, porém, requer muita coordenação. Novamente, o famoso entrosamento. Muitas vezes o Cruzeiro adiantava as linhas mas não ficava compactado o suficiente para impedir que o adversário achasse um passe curto, porque o companheiro do jogador que estava pressionando a bola não fechou corretamente a linha de passe. Somente com muitos treinos o Cruzeiro poderá executar isto com qualidade, e isso só virá com o tempo. Mas o fato de se tentar já é um excelente indício do que o treinador quer.

Dagoberto

Reforço mais badalado do Cruzeiro, Dagoberto foi a primeira alteração do segundo tempo. Entrou no lugar de Egídio. Com isso, Everton passou à lateral esquerda, Diego Souza foi ser ponteiro e Dagoberto entrou mais por dentro. Poucos minutos depois, Diego Souza saiu do jogo, e portanto foram poucos minutos para ver em campo o que será o provável trio de meias titular da temporada. Entretanto, acredito que o posicionamento será diferente. Dagoberto deverá ser o ponteiro esquerdo e Diego deverá ficar mais por dentro.

Depois disso foi uma sucessão de alterações que dificultam qualquer análise. O máximo que consegui enxergar foi que, em um determinado momento, o 4-2-3-1 se transformou num 4-4-2 inglês, com Dagoberto um pouco mais atrás de Ricardo Goulart e à frente de uma linha de quatro homens no meio. Outra variação tática interessante: duas linhas de quatro sem centro-avante fixo. Novamente, um indício de time com muita movimentação.

Para o clássico

Uma possível escalação e sistema de jogo para a reinauguração do Mineirão: Ricardo Goulart centralizado, Ceará cuidando de Bernard e Guerreiro de Ronaldinho

Uma possível escalação e sistema de jogo para a reinauguração do Mineirão: Ricardo Goulart centralizado, Ceará cuidando de Bernard e Guerreiro de Ronaldinho

Diego Souza provavelmente será o titular durante o ano, mas com os problemas de documentação, está fora do clássico. Ricardo Goulart entra e deve jogar na mesma posição, a articulação central. Os outros dez jogadores deverão ser os mesmos que começaram a partida em Patos de Minas — a única dúvida é Anselmo Ramon ou Vinicius Araújo. Aposto no segundo.

A entrada de Goulart faz o time ficar mais leve no ataque. Então podemos esperar um Cruzeiro retendo a bola e tentando achar espaços na defesa adversária, enquanto o time rival deverá explorar a velocidade de seus ponteiros Bernard e Araújo, municiados por Ronaldinho. Este, aliás, deverá ser bem marcado por Leandro Guerreiro, liberando Nilton mais para o apoio. Ceará também deve ficar mais na cola de Bernard.

O aspecto tático mais interessante, porém, será do lado esquerdo do ataque azul. Egídio e Everton contra Marcos Rocha e Araújo. Quatro jogadores muito ofensivos, e portanto, a aplicação tática será fator determinante no setor.

É isso, estamos de volta. O ano de 2013 começa no domingo, na tão esperada e aguardada reinauguração do Mineirão. Normalmente não compareço aos clássicos devido aos problemas de violência das torcidas. Mas este é diferente. Vamos conhecer o Novo Mineirão, a única e verdadeira casa do Cruzeiro Esporte Clube.