Criciúma 0 x 0 Cruzeiro – Enfrentando um 3-4-4-1-1

Este é um blog que fala principalmente de tática no futebol, e de vez em quando sobre estatísticas e gráficos também relacionados a futebol. A premissa principal é falar sobre essas coisas e somente sobre essas coisas, apenas dando pinceladas em outros assuntos que são importantes para os dois principais. Entretanto, quando o plano de jogo, a estratégia, a tática e a técnica dão todos certos, mas o resultado não vem assim mesmo, somente duas coisas explicam. Uma é o acaso do futebol, que de fato existe. Outra é a arbitragem.

Assim como o placar verdadeiro da partida foi 2×0, com gols de Marquinhos e Willian, o título deste texto é uma referência ao sistema tático “real” da equipe catarinense. Ora, isso dá mais de dez jogadores de linha, mas quando se consegue passar da defesa e do goleiro, aí foi preciso vencer outro trio: o de apitadores. E dessa vez o Cruzeiro não conseguiu vencer essa última “linha defensiva”.

Escalações

Criciúma no 4-4-1-1: volantes Serginho e Martinez causavam tripla marcação no lado da jogada e Paulo Baier ocupava o volante, forçando o passe de retorno aos zagueiros do 4-2-3-1 cruzeirense

Criciúma no 4-4-1-1: volantes Serginho e Martinez causavam tripla marcação no lado da jogada e Paulo Baier ocupava o volante, forçando o passe de retorno aos zagueiros do 4-2-3-1 cruzeirense

Sem Henrique, suspenso e lesionado, Nilton voltou à volância ao lado de Lucas Silva, reeditando a parceria que deu muito certo no ano passado. O goleiro Fábio ainda foi protegido pela sua linha defensiva, ainda com Mayke à direita, e também com Egídio na esquerda, e Dedé e Léo na zaga central. Mais à frente, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Marquinhos articulavam coletivamente com a ajuda de Marcelo Moreno na referência: o 4-2-3-1 imutável de Marcelo Oliveira.

O técnico do Criciúma, Wagner Lopes, sabia do poder de criação celeste e articulou seu time num 4-4-1-1 com muita movimentação defensiva, sempre para ter superioridade numérica no seu campo. A última linha de proteção da meta de Luís tinha Eduardo à direita, Fábio Ferreira e Gualberto centralizados e Giovanni à esquerda; e a segunda linha tinha João Vitor à direita, os (velhos conhecidos) volantes Serginho e Martinez pelo centro e do lado esquerdo fechava o atacante Silvinho. Tudo para compensar a falta de combatividade do veteraníssimo Paulo Baier, que se limitou a ocupar os volantes junto com o atacante solitário Gustavo.

Sem espaço

O plano de marcação do treinador do Criciúma funcionou bem no primeiro tempo, e consistia de três partes. Primeiro, aproximar as duas linhas, evitando o trânsito entre elas e o espaço — com a diferença de que era a linha média que se aproximava da de defesa, e não o contrário. Ou seja, o Criciúma marcou em bloco médio-baixo. Segundo, pressionar imediatamente o lateral do Cruzeiro que recebesse a bola, subindo o bote dos meias abertos e fazendo a rotação, de forma que o meia aberto do lado oposto fechava no centro. E terceiro, bloquear o passe de retorno para os volantes do Cruzeiro, ocupando-os com Paulo Baier e o atacante Gustavo, para evitar a inversão rápida para o lado fraco da marcação.

Essas medidas forçavam o Cruzeiro a voltar o lance para os pés dos zagueiros Dedé e Léo, que acabaram por ficar encarregados do primeiro passe. Nesse ponto, Henrique fez falta, pois vinha fazendo muito bem esse papel. Além disso, quando o Cruzeiro conseguia engatar os passes mais rapidamente, o movimento lateral dos volantes centrais, Serginho e Martinez, superlotava o lado da jogada, fazendo não dois contra dois mais sim três contra dois e um na sobra: o lateral pegava o ponteiro mais à frente, o ponteiro e o volante pegavam o lateral, que ainda tinham o outro volante na cobertura cercando Ricardo Goulart.

Mapa de passes do 1º tempo ilustra como foi difícil entrar na bem postada defesa catarinense e Criciúma usando muitas bolas longas

Mapa de passes do 1º tempo ilustra como foi difícil entrar na bem postada defesa catarinense e Criciúma usando muitas bolas longas

Mover, mover

A única forma de sair desse ferrolho seria se movimentar. E muito. Os meias do Cruzeiro se movimentaram bem, mas não foi suficiente. E aqui, cabe a cobrança: não adianta culpar o posicionamento adversário pela falta de gols. Cabe ao Cruzeiro, como melhor time do país, encontrar os espaços ou senão criá-los.

Não foi capaz, e o primeiro tempo se esvaiu com apenas três “meias chances” para o Cruzeiro: um contra-ataque desperdiçado em um chute ruim de Marquinhos; um cruzamento de Mayke que Moreno resvalou e achou Goulart, que finalizou duas vezes em cima do goleiro Luís, e a jogada que deveria ter sido gol: em rebote da cobrança de falta de Dedé, Nilton devolve pra área de cabeça e acha Goulart, que divide em lance normal com Fábio Ferreira. Marquinhos completa para o gol e marca, mas o Sr. Jaílson viu um empurrão inexistente de Goulart.

Do outro lado, Fábio devia ter pago ingresso. Pois simplesmente assistiu ao jogo em um lugar privilegiado do estádio Heriberto Hulse.

Fábio foi espectador privilegiado: dos 4 chutes do Criciúma no 1º tempo, nenhum foi na direção certa

Fábio foi espectador privilegiado: dos 4 chutes do Criciúma no 1º tempo, nenhum foi na direção certa

Observação e trocas

A segunda etapa começou sem trocas. Alguns amigos questionaram nas redes sociais, entendendo que Marcelo deveria fazer as trocas já no intervalo. A ideia, no entanto, era observar a postura dos catarinenses no segundo tempo. Caso eles saíssem um pouco mais, abririam mais espaços e o time que iniciou a partida poderia render mais; caso contrário, uma substituição teria que ser feita.

E foi o que aconteceu. No início do segundo tempo, o Criciúma até saiu um pouco mais, mas apenas nas bolas paradas, mandando uma artilharia aérea na área do Cruzeiro para ver o que acontecia. Um futebol ruim, coisa de time sem repertório. A estratégia é válida, mas não é dá preferência deste. O Cruzeiro se viu defendendo mais do que o normal e não conseguia encaixar as sequências de passes. Mas logo o jogo voltou ao modo do primeiro tempo, e Marcelo tomou providências: mandou Willian na vaga de Marquinhos, dando total liberdade para Éverton Ribeiro se mexer por trás do ataque celeste.

A troca teria sido um sucesso se não fosse o árbitro, Sr. Jaílson, ter entrado em ação novamente. Éverton Ribeiro apareceu na esquerda, tabelou com Egídio e aplicou um corte seco no zagueiro, finalizando no ângulo oposto, tirando de Luís. O arqueiro do Criciúma ainda conseguiu encostar na bola, que beijou caprichosamente a trave e voltou nos pés de Moreno, em totais condições. Ele pegou mal o rebote, mas Willian, atrás da linha da bola, completou para as redes. O assistente viu impedimento.

Baier sai, Éverton recua

Cruzeiro antes da última troca: Willian próximo a Goulart e Ribeiro armando de trás, com Mayke pouco acionado pelo lado direito

Cruzeiro antes da última troca: Willian próximo a Goulart e Ribeiro armando de trás, com Mayke pouco acionado pelo lado direito

Wagner Lopes só tinha o contra-ataque como opção. Por isso, Paulo Baier teve que dar seu lugar ao veloz Lucca — aquele mesmo que passou pelo Cruzeiro no início do ano. O jovem foi jogar aberto à direita, centralizando Gustavo de vez. Silvinho manteve-se na esquerda, e estava configurado um 4-3-3, mas com três volantes preenchendo o meio. Isso acabou abrindo um espaço à frente da defesa do Cruzeiro, que era por onde Paulo Baier transitava. Quase que imediatamente, Éverton Ribeiro sentiu o espaço e já começou a buscá-lo, para armar o time de trás. O Cruzeiro passou a dominar a posse de bola ainda mais.

Sentindo o mesmo espaço, Marcelo Oliveira mudou pra vencer: oficializou Éverton Ribeiro como o “Pirlo cruzeirense”, tirando Lucas Silva e lançando Dagoberto no jogo. O camisa 11 foi para sua posição costumeira à esquerda, mas Willian não foi para a direita, ficou mais próximo de Goulart. Em teoria, Mayke teria campo livre para avançar, mas foi pouco acionado. Assim, o Cruzeiro forçou muito pela esquerda.

Wagner Lopes trocou de centroavante, uma troca física, por cansaço. O sistema não foi alterado. Faltando cinco minutos, Marcelo deu sua última cartada: Alisson na vaga de Moreno, mandando Goulart para a área. Agora havia cinco jogadores leves na frente e dois laterais apoiadores. Não se pode ser mais ofensivo do que isto. Porém, como definiu o próprio treinador na coletiva pós-jogo: faltou o “algo mais”, aquele toque final caprichado para chegar ao terceiro gol, que seria o primeiro válido. Infelizmente o zero teimou em permanecer no placar.

Mapa de passes do Cruzeiro no segundo tempo mostra como o time procurou muito mais o lado de Egídio do que o de Mayke

Mapa de passes do Cruzeiro no segundo tempo mostra como o time procurou muito mais o lado de Egídio do que o de Mayke

A oscilação normal e a “forçada”

Oscilar num campeonato tão longo e tão equilibrado é normal. Como dito pelo Marcelo Bechler: no Brasil não há nenhum Bayern. Perder pontos considerados mais fáceis é normal aqui. O próprio Cruzeiro fez isso no ano passado. Porém, encaixou uma sequência de 12 jogos sem perder, sendo 11 vitórias, e isso sim esteve fora da normalidade: o Cruzeiro de 2013 foi espetacular. Uma sequência que começou justamente a partir da 15ª rodada, a próxima do certame atual.

Mas a oscilação “normal” do Cruzeiro terminou no sábado. O time jogou o suficiente para fazer dois gols e voltar do sul com mais três pontos. Mas a arbitragem não deixou. E já são sete pontos pelo caminho: 2 contra o São Paulo (a falta invertida no último lance do jogo que gerou o gol de empate), 3 contra o rival citadino (os pênaltis, o inexistente marcado contra e o claro e cristalino não marcado a favor, além do impedimento ridículo da bandeirinha bonitona) e mais 2 agora.

A atuação foi um pouco abaixo do que a apresentada na última partida, mas mesmo assim foi suficiente pra vencer o Criciúma. Taticamente, não há do que reclamar: Marcelo mexeu bem e nos momentos certos, fez a leitura correta da partida. Se a vitória não veio, foi só por conta dos fatores externos já citados. Se o campeonato já seria mais difícil este ano por que os adversários diretos estão melhores, estes fatores fazem o bi se tornar ainda mais difícil. Ainda mais depois de já ter vencido o certame anterior. E ainda mais por ter nos encalços times que têm força política nos bastidores da entidade que rege o futebol.

Mesmo assim, o Cruzeiro mostrou novamente que tem bola pra vencer os 19 adversários do campo — e também os outros fora dele.

Botafogo 1 x 1 Cruzeiro – O futebol é mais importante que o resultado

O Cruzeiro foi ao Maracanã sabendo do tamanho da crise do Botafogo. Mesmo assim, tinha um discurso de respeito ao adversário. Quando a bola rolou, parecia que era o time celeste que jogava em casa: controle da posse de bola e de território, jogando bom futebol e buscando a vitória a todo instante. Foi superior técnica e taticamente, anulando a maioria das poucas ameaças que sofreu e procurando criar espaços diante da retranca carioca.

Não foi suficiente desta vez, muito por conta de um único erro coletivo e também do goleiro adversário, mas valeu. Pois não foi uma busca pelo resultado a qualquer custo, de qualquer jeito: existe uma filosofia por trás. E o Cruzeiro deste sábado foi o verdadeiro Cruzeiro, e isso é o mais importante.

Sistemas e nomes

O 4-4-1-1 do Botafogo bloqueou os laterais celestes e forçou o 4-2-3-1 celeste a jogar pelo centro; Edilson era o puxador de contras

O 4-4-1-1 do Botafogo bloqueou os laterais celestes e forçou o 4-2-3-1 celeste a jogar pelo centro; Edilson era o puxador de contras

Para este jogo, Marcelo Oliveira lançou Mayke na vaga de Ceará, lesionado, pelo lado direito da linha defensiva do goleiro Fábio. Dedé e Léo repetiram o miolo e Egídio fechava o lado canhoto. Lucas Silva e Henrique mais uma vez fizeram a parceria na proteção e apoio ao ataque, se juntando ao trio de criativos: Everton Ribeiro à direita, Ricardo Goulart como central e Marquinhos à esquerda. Moreno completava o escrete na referência.

Vágner Mancini mudou em relação às últimas partidas. Ao invés do 4-3-1-2 losango esperado, para dar suporte a Carlos Alberto como criador no meio, o Botafogo entrou num 4-4-1-1, que variava para 4-2-3-1 com a bola. Jefferson teve Lúcio à direita e Júnior César à esquerda, com Bolivar e Dória protegendo o centro. Na segunda linha, Edilson fechava o lado direito, Bolatti e Gabriel protegiam a entrada da área e Rogério, estreante, foi escalado para fechar o lado esquerdo. Carlos Alberto, sem responsabilidade defensiva, ficava logo atrás de Emerson, que se movimentavam para os lados.

Flancos fechados

O Botafogo foi humilde e reconheceu a superioridade técnica do Cruzeiro, desde o início deixando claro qual era sua proposta de jogo: bloquear o Cruzeiro e partir em contra-ataques. Assim, deixava a bola com o Cruzeiro e não pressionava no alto do campo. Carlos Alberto apenas cercava Henrique e Lucas Silva, e Emerson fazia o mesmo com os zagueiros celestes.

Se a bola chegava a um dos laterais, no entanto, o Botafogo imediatamente subia a marcação. A ideia era forçar o jogo celeste pelo centro, e foi o que aconteceu: as duplas pelos lados fecharam os espaços de Mayke e Egídio. Sem a saída pelos lados, o Cruzeiro tinha duas opções pra compensar: invertendo o lado da jogada — pois os defensores do lado oposto compactavam o time horizontalmente para tirar o espaço dos toques rápidos dos meias celestes — ou os meio-campistas se movimentavam mais, dando mais opções de passe.

Mas as duas opções envolviam velocidade, e o Cruzeiro não aplicou velocidade suficiente para sair do ferrolho botafoguense. Tentou usar a solução conhecida: trocar passes rápidos pelo centro. Não havia espaço. Parecia que era o Cruzeiro que jogava em casa, tal era a proposta defensiva do adversário.

Erros e infelicidades

O Botafogo pouco chegou ao ataque. A rigor, Fábio só fez uma defesa difícil, em cobrança de falta de Edilson — bola parada. A estratégia com a bola era dar velocidade, principalmente com Edilson pela direita nas costas de Egídio. Incrível como todos os treinadores adversários tentam explorar essa brecha no sistema defensivo celeste.

Só não fez outra porque escorregou na hora do gol local. Mas o erro neste lance foi generalizado: Marquinhos e Egídio deixaram Lúcio escapar pela direita, fazendo Léo ter que sair na cobertura. O lateral cruzou e Dedé não conseguiu ganhar de Edilson, que nem cabeceou forte. A bola veio fácil, mas o escorregão tirou a possibilidade de Fábio espalmar.

A vantagem no placar fez o Botafogo se fechar ainda mais e praticamente abdicou do ataque. Tanto é que só foi finalizar de novo já na metade do segundo tempo, quando o jogo já estava empatado. De sua parte, o Cruzeiro jogou o seu futebol, sem afobação. Tocou a bola, tentou achar espaços, se movimentou, mas não foi suficiente para empatar ainda no primeiro tempo.

Em destaque, o momento do jogo em que Fábio foi mero espectador: depois de conseguir o gol, o Botafogo não chutou nenhuma vez até levar o empate

Em destaque, o momento do jogo em que Fábio foi mero espectador: depois de conseguir o gol, o Botafogo não chutou nenhuma vez até levar o empate

Alugando o campo ofensivo

O time do empate era uma espécie de 4-3-3 com Ribeiro armando de trás, Willian e Dagoberto nas pontas e Lucas Silva sozinho na volância

O time do empate era uma espécie de 4-3-3 com Ribeiro armando de trás, Willian e Dagoberto nas pontas e Lucas Silva sozinho na volância

O segundo tempo começou sem mudanças, tanto em peças quanto nos sistemas e nas propostas. Aos dez, a entrada criminosa de Emerson em Henrique lesionou o volante e foi a deixa para Marcelo abrir o time: tirou Henrique e lançou Willian como ponteiro direito, recuando Éverton para ser um armador recuado. No mesmo movimento, Dagoberto substituiu Marquinhos: menos poder de marcação, mas mais verticalidade e drible. Com a proposta do Botafogo, não era tão arriscado.

As trocas surtiram efeito e Cruzeiro alugou o campo ofensivo. Willian mandou no travessão antes da blitz que resultou no gol celeste. Éverton Ribeiro teve que cruzar duas vezes, com os zagueiros na área todo o tempo, para achar Dedé que fez a deixadinha para Léo. O zagueiro fez um gol típico de centroavante: girou e bateu sem olhar. A bola bateu no travessão e quicou dentro da meta.

Com o empate, o Botafogo voltou à estratégia do zero a zero: sair em contra-ataques. E desta vez havia espaço, pois com um volante só a cobertura dos laterais é mais difícil. Mancini — que àquela altura já havia trocado Bolatti por Rodrigo Souto sem modificar nada — sacou Rogério e lançou Júlio César, tentando replicar a função de Edilson do outro lado: um “assistente de lateral” que puxa contra-ataques. Marcelo respondeu com Nilton na vaga de Moreno, avançando Goulart para a referência.

O mapa de passes mostra como o Cruzeiro jogou o tempo todo no campo adversário; foi a partida em que o Cruzeiro mais trocou passes em todo o campeonato

O mapa de passes mostra como o Cruzeiro jogou o tempo todo no campo adversário; foi a partida em que o Cruzeiro mais trocou passes em todo o campeonato

O fator Jefferson

Risco controlado, o Cruzeiro seguiu atacando, e a bola não saía do campo de ataque. Quando o Botafogo conseguia interceptar, só respondia com chutões para frente, onde não havia ninguém de cinza. Vágner Mancini ainda tentou dar um novo fôlego para a estratégia de contra-ataques com Zeballos na vaga do inoperante Carlos Alberto, mas não funcionou.

Já o time celeste buscava a vitória, mas não a qualquer custo. Com calma, mas com velocidade, tocando a bola pelo chão, sem muitos chuveirinhos na área. Só tentava o jogo aéreo quando era bola parada. Nilton cabeceou duas vezes: na primeira Jefferson milagrou, e na segunda beijou caprichosamente a trave direita. Depois, o Cruzeiro fez uma espécia de contra-contra-ataque: o time local errou sua tentativa de pegar a defesa celeste aberta e o Cruzeiro aproveitou o espaço para realizar um contra-ataque lindíssimo, partindo do meio-campo e levando a bola até dentro da área, onde Éverton perdeu a bola.

O Cruzeiro tentou 18 vezes contra a meta de Jefferson: um gol (preto), duas na trave (azul) e seis defendidas por Jefferson (vermelho escuro)

O Cruzeiro tentou 18 vezes contra a meta de Jefferson: um gol (preto), duas na trave (azul) e seis defendidas por Jefferson (vermelho escuro)

O Cruzeiro seguiu tentando, inclusive com Dagoberto no finalzinho, quando Jefferson fez novamente uma defesa espetacular e garantiu o empate.

Jogar bem sempre: somos Cruzeiro

Se no futebol os resultados fossem decididos como na ginástica artística ou nos saltos ornamentais, onde há uma junta de juízes que dão suas notas para quem foi melhor, certamente o Cruzeiro teria saído vencedor. Foi a equipe que buscou o gol a todo instante, não se alterou com o resultado adverso e o mais importante: não foi só na base da raça. Teve técnica e tática, bem aplicadas, e que só não geraram o resultado por que o goleiro adversário foi o melhor em campo.

Mesmo assim, o resultado positivo teria acontecido se o Cruzeiro não tivesse cometido seu único deslize grave na partida. O erro de marcação do lado esquerdo, a falha de Dedé e o escorregão de Fábio foi uma sequência de eventos desafortunados que nos tiraram dois pontos. Deve-se sim tentar corrigir os erros, mas é impossível anulá-los por completo. Nenhum time no mundo consegue fazer uma partida perfeita.

No fim, o que fica é que o Cruzeiro jogou bem, não se conformou com o empate e buscou o resultado, mesmo fora de casa. Postura de time que quer ser campeão novamente. E com bom futebol, que é o mais importante. Quando César Menotti assumiu a Seleção Argentina em 1974, definiu como um de seus mandamentos que “não me interessa ganhar de 1 x 0 com gol de falta; quero vencer por superar futebolisticamente o nosso rival”. Em outras palavras, o que o treinador campeão mundial em 1978 quis dizer é que jogar bem é mais importante que jogar apenas pelo resultado de apenas um jogo. No longo prazo, a filosofia e o bom futebol trarão mais vitórias.

Mas não as garantem. Pos isso, sendo Cruzeiro, prefiro empatar jogando bem do que vencer jogando um futebolzinho chulé.

Diagnósticos e perspectivas

O inverno acabou (inVerno, com V). Ele foi longo e tenebroso. Mas acabou, e aqui estamos.

Este espaço não é atualizado desde a final do Campeonato Mineiro, e muita coisa aconteceu desde então. O Brasileirão começou, técnicos já caíram, jogadores foram convocados para a Copa (ou não), e a Libertadores entrou em sua fase eliminatória, nas oitavas e quartas de final.

Brasileirão: dois estilos

Taticamente, alguns pontos chamam a atenção. No Brasileiro, o 4-2-3-1 se manteve como sistema base, mas com o time alternativo, as características dos jogadores são diferentes, e portanto, o time tem um estilo distinto do considerado titular.

Primeiro, a diferença nas laterais. Ceará e Samudio são mais marcadores do que apoiadores — ainda que o paraguaio tenha surpreendido com a qualidade na frente — e contrastam com os estilos ofensivos de Mayke e Egídio. Assim, os volantes tem que ficar um pouco mais presos para fazer a cobertura, e por isso Nilton e Souza são os escolhidos.

Mais à frente, temos Tinga como central, um jogador que ocupa bem os espaços e sempre está perto da bola para ajudar um companheiro, mas que não possui a mesma visão de jogo e qualidade de passe de Ricardo Goulart. Como ponteiros, Marlone e Willian são mais incisivos e verticais, no que se assemelham a Dagoberto, mas Luan é mais trombador e também é muito ofensivo, diferente de Éverton Ribeiro.

Todas essas diferenças acabam por favorecer Marcelo Moreno, que é um centroavante diferente de Borges ou Júlio Baptista. Com jogadores ofensivos e verticais pelos lados, o jogo celeste acaba sendo muito pelos flancos e pouco pelo meio. O resultado é um número maior de cruzamentos na área, o que favorece o boliviano pelo seu bom posicionamento na área: nos dois primeiros jogos, contra Bahia e Atlético/PR, o gol da vitória veio num cabeceio de Moreno. Não é por acaso.

O time titular jogou na segunda rodada contra o São Paulo: o número de cruzamentos em relação ao time alternativo da primeira e terceira rodadas é bem menor

O time titular jogou na segunda rodada contra o São Paulo: o número de cruzamentos em relação ao time alternativo da primeira e terceira rodadas é bem menor

Já na última partida, contra o Coritiba, o Cruzeiro jogou mais no estilo 2013, já que estavam em campo Éverton Ribeiro, Goulart, Dagoberto e Borges — o quarteto “clássico”. Um estilo que pode ser resumido no lance do segundo gol: Goulart recebe de Fábio, avança, passa a Borges e imediatamente começa a corrida para entrar na área, lendo a jogada que se desenhava. Borges, o único jogador do elenco que faz o pivô com qualidade, segura o zagueiro e toca de primeira para Éverton Ribeiro na direita. Livre, o camisa 17 acha Goulart dentro da área, que entrou livre de marcação para concluir e recolocar o Cruzeiro na frente.

 

Este gol é simbólico porque ilustra bem o papel de Goulart e o de Borges, não só taticamente como em termos de estilo de jogo. Não consigo enxergar Júlio Baptista fazendo nenhum dos dois papéis, por exemplo. Nem mesmo Marcelo Moreno fazendo esta jogada pivô, pois a sua característica seria dominar e tentar girar no zagueiro para poder concluir. Em suma, Borges é o melhor centroavante para o estilo de jogo de 2013, mas Moreno é o mais adequado para o estilo do time reserva.

O aspecto mental

Já na Libertadores, porém, o time não foi tão bem, em termos de resultados. Isso, na modesta opinião deste escriba, se deve muito mais ao fator psicológico e mental do que propriamente ao técnico ou tático, dentro de campo. É um característica, não da Libertadores, mas sim de torneios neste formato eliminatório, com uma partida de ida e volta.

Explico: em um torneio de pontos corridos, com 38 rodadas, ao sofrer um gol por um erro de tempo de bola, um desarme mal sucedido, enfim, um lance bobo, o impacto psicológico não é tão grande. Isso porque cada partida se encerra em si mesma, no sentido de que não importa quantos gols foram sofridos, o que importa é vencer aquela partida em questão e somar três pontos. O impacto de um gol sofrido, seja em casa ou fora, é diluído ao longo das rodadas.

Porém, num torneio de mata-mata, o impacto de um gol é altíssimo. Pois um erro pode decidir o confronto e a permanência ou não na competição. Isso acontece em todos os torneios que usam este formato: Copa do Mundo, Liga dos Campeões e, é claro, a Libertadores da América. Isso ainda é agravado pela regra do gol fora de casa, o famoso gol qualificado como critério de desempate — uma regra da qual este blogueiro discorda frontalmente.

Cerro Porteño

Foi o que aconteceu com o Cruzeiro nos dois confrontos. Contra o Cerro, uma partida boa até o momento do gol dos paraguaios, praticamente na única vez em que foram ao ataque, numa jogada de escanteio inexistente. Ao sofrer o gol em casa, o time se enervou e começou a falhar também tecnicamente. No fim, nada de tática: blitz na área adversária até o gol no apagar das luzes de Samudio, que minimizou o prejuízo.

No jogo da volta, o Cruzeiro escapou de sofrer gols no primeiro tempo. Os paraguaios estavam em ritmo mais acelerado, e o Cruzeiro tentando tirar a velocidade do jogo, mesmo com o zero a zero desfavorável. Estratégia ou imposição do adversário? Não saberemos. Mas na etapa final o Cruzeiro entrou correndo mais, disputando mais bolas. Não é o “espírito de Libertadores” que todos pregam, não; isso vale para qualquer campeonato. É a tal intensidade, tanto ofensiva quanto defensiva, que o Cruzeiro tanto usou em 2013 para sobrar no Brasileiro, que faltou no jogo.

A expulsão de Bruno Rodrigo por acúmulo de advertências parecia selar a eliminação, mas o gol de Dedé numa bola improvável reacendeu este espírito. Com a vantagem, o Cruzeiro se imbuiu em defender, mesmo com dez em campo um 4-4-1 que, com as câimbras de Samudio, teve Éverton Ribeiro na lateral esquerda, com o paraguaio indo ser o centroavante. Era praticamente 11 contra 9, mas o Cruzeiro se defendeu bem e ainda marcou mais um em erro da defesa do Cerro.

San Lorenzo

A classificação para as quartas veio, e ainda com a pressão adicional de ser o único brasileiro ainda vivo na competição. Porém, a forma como ela veio indicava que não estava tudo bem. Algo precisava ser feito, principalmente na parte mental. Desta vez, o primeiro jogo foi fora de casa, e foi, sem dúvida, a pior partida da equipe no certame continental. O Cruzeiro quis garantir um resultado médio para poder resolver em casa, mas pagou o preço de ficar atrás, jogando contra sua própria natureza de jogo.

As estatísticas da Conmebol provam: apenas 4 finalizações, todas de média e longa distância e erradas; apenas 174 passes, muito abaixo da média da equipe; e 8 desarmes contra 23 do time do Papa.

É claro que o resultado era plenamente reversível. Mas mais uma vez o impacto psicológico do gol sofrido fez a diferença. Nesta partida, Marcelo resolveu lançar Nilton e Marcelo Moreno na equipe titular, sacando Lucas Silva e Ricardo Goulart. A princípio, achei que fosse para liberar os laterais para o ataque e sufocar o San Lorenzo, mas depois da partida Marcelo Oliveira revelou que queria aproveitar a bola aérea do volante — a mesma explicação podia ser dada para a entrada de Moreno e a permanência de Júlio.

Até os 10 minutos, o Cruzeiro amassava o San Lorenzo, mesmo sem finalizar muito. Nilton e Moreno entraram na equipe para disputarem pelo alto, mas a bola não chegava por ali. Com Ribeiro e Júlio Baptista, a bola não rodava tanto pelos lados e os cruzamentos não saíam, e tampouco o Cruzeiro chegava pelo centro, pois Éverton Ribeiro não tem o mesmo entendimento com Júlio do que com Goulart, já que o primeiro segura mais a bola e cadencia.

O gol do San Lorenzo, porém, destruiu o espírito da equipe. Samudio saiu por lesão, piorando ainda mais a situação. Bruno Rodrigo, Marcelo Moreno e Éverton Ribeiro tentaram: o primeiro sendo absoluto na defesa, o segundo com muita luta e várias finalizações que pararam no goleiro adversário, e o terceiro sem medo de chamar a responsabilidade e tentar conduzir a equipe à frente. Mas o nervosismo atrapalhou, e quando o Cruzeiro chegava, o goleiro adversário estava em noite inspirada. O empate saiu, só aos 30 do segundo tempo, mas ainda era preciso mais dois gols. Não deu tempo.

Nas coletivas pós-jogo, tanto na ida quanto na volta, Dedé e Marcelo Oliveira se referiram à postura do Cruzeiro na Argentina. O zagueiro dizia que era estratégia, já era esperado que eles atacassem e a ordem era segurar. Já o treinador disse que nem sempre isso acontece porque o time quer, mas sim porque o adversário impõe a condição. Então fiquei na dúvida: quem está certo? Foi o San Lorenzo que impôs ao Cruzeiro a condição de apenas se defender, ou o Cruzeiro que escolheu assim para poder decidir a vaga no Mineirão?

Não há como responder, mas meu palpite era de que a ordem era sim se defender, pois era sabido que o ponto forte do time argentino é não sofrer gols, o que indica que o ataque não é tão poderoso assim. É claro que não é tão simples, mas partindo disso, o mais ousado seria atacar o San Lorenzo em sua própria casa, mesmo correndo o risco dos contra-ataques.

Pode parecer fácil falar depois dos jogos, mas a verdade é que o Cruzeiro, enquanto equipe, ainda carece de experiência para não se enervar com resultados adversos em torneios eliminatórios. A Copa do Brasil, no segundo semestre, será mais uma boa oportunidade para medir este aspecto.

Perspectivas

Uma formação possível, bem ousada, que privilegia o ataque: um 4-1-4-1 que aproxima Goulart e Ribeiro, com laterais ofensivos e ponteiros verticais

Uma formação possível, bem ousada, que privilegia o ataque: um 4-1-4-1 que aproxima Goulart e Ribeiro, com laterais ofensivos e ponteiros verticais

Olhando para frente, nas partidas em que precisava construir um resultado (a volta contra o San Lorenzo e contra o Coritiba, após sofrer novo empate), o Cruzeiro apresentou uma formação interessante, que eu gostaria muito de ver iniciando um jogo. Um dos volantes saía para a entrada de mais um ponteiro: com isso, Éverton Ribeiro recuava e fazia o segundo volante, para tentar construir o jogo de trás. Na prática, era um 4-3-3/4-1-4-1, com Ribeiro e Goulart próximos no centro do campo, Willian e Dagoberto pelas pontas e um centroavante.

Uma formação bem ofensiva, especialmente na partida contra o Coritiba, quando Mayke e Egídio estavam em campo. Atacar com 7 jogadores (2 laterais, 4 meias e o centroavante) é uma postura muito ousada e que pode dar certo para resolver as partidas o quanto antes. Seria um sistema ideal para usar nos pontos corridos, sem correr o risco de um gol sofrido dar um choque psicológico grande na equipe. É improvável, porém, que Marcelo Oliveira abandone o bom e velho 4-2-3-1, pelo menos para iniciar as partidas.

Assim, mesmo fora da Libertadores, a perspectiva ainda é boa. Mas fica a lição: em mata-mata, o fator psicológico conta muito mais do que em pontos corridos. E é preciso aprimorar esta aspecto enquanto equipe, mesmo que individualmente o Cruzeiro possua jogadores experientes. É errando que se aprende. Já foram duas (Copa do Brasil 2013 e Libertadores 2014). Na próxima, com certeza, será melhor.

2014: o ano da Copa… Libertadores

O Constelações está de volta. O único blog de análise tática assumidamente sem compromisso com a análise neutra — aqui é só o Cruzeiro que interessa — abre seus trabalhos em 2014 com uma opinião sobre os novos contratados e um resumo sobre as duas primeiras partidas do ano.

Mas antes, cabe uma rápida explicação: as últimas rodadas do Brasileirão 2013 foram atenciosamente vistas por este que vos escreve. Porém, como sabem, este não é o meu trabalho principal (adoraria que fosse) e portanto não posso me dedicar a ele como gostaria. Some-se a isso as viagens e festas de fim de ano, nas quais fiquei sem meu equipamento para escrever os textos (um computador), passou-se o tempo, as análises não foram escritas e deixaram de ser relevantes.

Entretanto, não acredito ter perdido muita coisa. Afinal o Cruzeiro foi totalmente outro após a conquista do título, jogando mais para festejar com a torcida do que para vencer. O mesmo 4-2-3-1 permaneceu até o final, mas com equipes do outro lado jogando a vida para não caírem para a segunda divisão — uns conseguiram, outros não.

Reforços

Os inscritos para a Libertadores 2014.

Os inscritos para a Libertadores 2014

Mas 2014, o ano da Copa (Libertadores), chegou. E com ele, novos contratados apareceram na Toca II: Rodrigo Souza, Samudio, Marlone e Marcelo Moreno.

O primeiro é volante, mais de contenção, e portanto jogaria na posição que é atualmente do Nilton. Confesso que não sei se o jogador tem a mesma qualidade de passe e chegada na área em bolas paradas, a conferir.

O lateral esquerdo Samudio foi uma excelente contratação. Vem para ser a sombra que Egídio precisava, já que Éverton chegou a ser titular no Campeonato Mineiro mas perdeu a posição novamente e não jogou mais. O gringo traz a experiência de Libertadores que possui e será muito importante quando Egídio, ainda dono da posição, não puder jogar. Não conheço a característica do jogador, se é lateral mais defensivo (como Ceará) ou tem mais ímpeto (como Mayke e Egídio). Se eu tivesse que apostar, apostaria no primeiro caso.

Marlone é uma jovem promessa que apareceu muito bem no Vasco no ano passado. É ponteiro, podendo jogar pelos dois lados mas preferencialmente o esquerdo. Está na disputa com Willian, Dagoberto e Luan por esta vaga — sim, porque do lado direito, Éverton Ribeiro é o dono indiscutível da posição. E pode ter sido uma contratação já pensando numa provável saída de Éverton Ribeiro para o futebol europeu.

Já Moreno é velho conhecido da torcida celeste. Foi o artilheiro da Libertadores de 2008, a primeira da era Adílson Batista. Volta quatro anos mais experiente, depois de uma temporada razoável no Grêmio e no Flamengo, onde amargou a reserva de Hernane. Centroavante, possui bola aérea forte, mas tem características bem diferentes dos outros centroavantes Borges e Anselmo Ramon (e de Vinícius Araújo, que já se foi). Confesso que estou com um pé atrás com esta contratação, pois precisávamos de centroavantes móveis e não de mais uma referência na área (Borges e Anselmo já servem a esse propósito), mas pode também ser um indicativo de que Marcelo Oliveira está disposto a mudar o estilo de jogo se for preciso.

Cruzeiro 1 x 0 URT

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O ano começou como terminou ano passado: o mesmo 4-2-3-1, porém com Souza na vaga de Nilton. Os outros dez eram os de sempre: Fábio no gol, Ceará e Egídio nas laterais, Dedé e Bruno Rodrigo na zaga, Lucas Silva de volante avançado e Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Dagoberto na linha de três meias atrás de Borges. Nada de novo.

Como também não foi novidade o número de finalizações celestes: 35, sendo 14 na direção do gol, contra apenas 6 da URT. Isso porque o time de Patos de postou com uma trinca de volantes, dois meias mais abertos para barrar as subidas dos laterais e um atacante apenas, que não fazia pressão em Dedé e Bruno Rodrigo. Assim, o Cruzeiro avançava até quase na intermediária ofensiva sem ser incomodado, e só sofria marcação mais pesada a partir daí.

A movimentação da trinca de meias do ano passado estava lá, ainda um pouco enferrujada, mas era intensa o suficiente para por vezes afundar um ou dois volantes patenses na linha defensiva e abrindo espaço logo à frente da área. Esse espaço gerou uma profusão de chances, que só não foram melhor aproveitadas porque o goleiro Guilliano estava em tarde inspirada, e também o pé ainda não me pareceu bem calibrado. Era o primeiro jogo da temporada, afinal.

Marcelo fez trocas simples, apesar de não serem diretas. Dagoberto por Willian, Júlio Baptista por Borges (com Goulart temporariamente na referência) e Goulart por Moreno. Manteve-se o 4-2-3-1 e o placar de 1 a 0 construído no fim do primeiro tempo.

Caldense 0 x 0 Cruzeiro

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

Já no sul de Minas foi diferente. A Caldense, com um bom time armado pelo técnico Leonardo Condé, não teve a mesma postura da URT e avançou suas linhas de marcação. Jogando no mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, tinha o veloz Diney na esquerda, e Éverton Maradona comandando o meio-campo central. Em teoria, não havia superioridade numérica em nenhum setor do campo, mas o time de Poços tinha mais energia e preparo físico, jogando com muita velocidade tanto no ataque como na defesa. O Cruzeiro, sem o mesmo condicionamento, tentava tirar a velocidade do jogo, e por isso ficava com a bola mais tempo mas sem produzir nada.

Nesta feita, Marcelo Oliveira teve que trocar Borges por Moreno diretamente, devido a lesão do camisa 9 ainda no primeiro tempo. Depois, Júlio Baptista entrou na vaga de Willian (que havia começado o jogo pela esquerda na vaga do poupado Dagoberto), fazendo Ricardo Goulart jogar pela esquerda na linha de três, mas “a la Éverton Ribeiro”: puxando para o centro, devido sua tendência de estar por dentro do campo, e ao mesmo tempo explorando o espaço que Júlio Baptista tentava criar com incursões à grande área.

E por fim, Éverton Ribeiro, que errou muitos passes neste jogo, saiu para a entrada de Élber. A tentativa era a da velocidade, ultrapassagens pelos lados para levantar a bola para Moreno na área, mas não houve sucesso.
E, em suma, foi assim o jogo: a Caldense jogando a vida, pois qualquer ponto nos confrontos com os time da capital pode valer uma vaga na semifinal, e o Cruzeiro ainda tentando encontrar um ritmo e recuperando a questão física. O zero a zero acabou sendo um resultado condizente, em que pese o time da casa ter tido mais chances.

Ainda é pré-temporada

Lembremos que o Cruzeiro jogou sua última partida em 2013 no dia 8 de dezembro. Somemos o mês de férias e o mês de pré-temporada e chegamos à data de 8 de fevereiro: o dia em que aí sim podemos passar a cobrar um pouco mais do Cruzeiro, ainda que seja o início da temporada. Portanto, estes primeiros jogos só servem como pré-temporada de fato, mesmo que sejam jogos oficiais. A estreia na Libertadores é no dia 12 contra o Real Garcilaso, e até lá o Cruzeiro ainda vai evoluir física e tecnicamente.

Taticamente, a evolução continua, mas já é um time bastante amadurecido com o sucesso na temporada passada.

Cruzeiro 2 x 2 Ponte Preta – À brinca

Dois descuidos da zaga, no início e no finzinho do jogo, tiraram os três pontos do Cruzeiro de ressaca pelo título conquistado oficialmente em Salvador. Méritos da Ponte Preta, que se defendeu bem e aproveitou as pouquíssimas oportunidades de gol que teve.

Mas ouso dizer que caso o Cruzeiro tivesse encarado o jogo “à vera” e não “à brinca”, o resultado com certeza seria outro.

Sistemas iniciais

Ataque contra defesa: teoricamente a Ponte veio num teórico losango, mas Rildo e Adrianinho afundavam tanto que parecia um 4-5-1 em linha

Ataque contra defesa: teoricamente a Ponte veio num teórico losango, mas Rildo e Adrianinho afundavam tanto que parecia um 4-5-1 em linha

O Cruzeiro, como todos sabem — menos o cara que faz a arte com a disposição tática antes dos jogos na TV — joga no seu costumeiro 4-2-3-1, mas desta vez com muitas novidades. Fábio, que será o primeiro jogador a colocar a mão na taça no dia 1º de dezembro, não foi poupado e defendeu a baliza celeste mais uma vez, protegido pelos zagueiros Paulão e Léo, com Ceará e Éverton fechando a defesa pelas laterais. Souza e Henrique formaram a dupla volância, dando suporte a Júlio Baptista como central e a Éverton Ribeiro e Willian de ponteiros, com Ricardo Goulart na frente.

Jorginho escalou a Ponte Preta num teórico 4-3-1-2 losangal. Na prática o desenho se deformou pela postura defensiva do time de Campinas na partida. O gol de Roberto foi defendido por Artur à direita, César e Ferron no miolo e Uendel à esquerda. Baraka era o “cão de guarda” da defesa, e era acompanhado nessa tarefa por Fernando Bob e Fellipe Bastos como os vértices laterais do losango. Adrianinho era o único meia criativo, com o atacante Rildo posicionado quase como um ponteiro esquerdo e Leonardo centralizado na referência.

Estacionando o ônibus

Antes do gol, o jogo já dava sinais de que seria praticamente um exercício de ataque contra defesa. E na primeira investida, cochilo de Léo na marcação de Leonardo, que iniciou a jogada sob a marcação do zagueiro, mas entrou na área para concluir livre. Talvez porque Léo se acostumou a jogar na esquerda da zaga quando fez parceria com Dedé — quando joga ao lado de Paulão, ele fica no seu lado preferido, o direito, no qual já foi até lateral.

O gol só fez acentuar a característica do jogo. Desesperada para fugir do rebaixamento, a Ponte Preta só se defendia. Nem contra-ataques arriscava, deixando apenas Leonardo já na sua intermediária defensiva como o homem mais avançado. O losango de meio-campo se planificou, Rildo voltava acompanhando Ceará, e Adrianinho afundava entre os volantes, transformando o time praticamente um 4-5-1 — assim mesmo, com cinco jogadores quase alinhados no meio-campo.

Sem conseguir entrar na defesa campineira, o Cruzeiro abusou de cruzamentos e finalizou bastante, mas com pouco perigo. E a partir dos 30 minutos, a Ponte conseguiu sair um pouco de trás e aproveitava algumas falhas provenientes do desentrosamento dos defensores do Cruzeiro: dois jogadores na pressão da bola e nenhum na cobertura, por exemplo, abrindo espaços que normalmente o Cruzeiro não cede.

Flagrante do desentrosamento da defesa celeste: nesta bola, Paulão devia dar o combate e Ceará devia estar em Rildo, mas o atacante ficou sozinho para receber

Flagrante do desentrosamento da defesa celeste: nesta bola, Paulão devia dar o combate e Ceará devia estar em Rildo, mas o atacante ficou sozinho para receber

Segunda etapa

Após virar o intervalo na frente, Jorginho acreditou na proposta. Apenas trocou Fellipe Bastos por Magal, na direita do “losango” — entre aspas porque o jogo voltou ao padrão ataque-defesa do primeiro tempo, fazendo com que a Ponte afundasse o seu meio-campo para marcar o Cruzeiro. Só que desta vez, Éverton Ribeiro começou a jogar pra valer: chamou o jogo pra si e começou a distribuir como nunca, mas as finalizações dos companheiros não eram boas.

Depois de quinze minutos, Marcelo Oliveira resolveu que era hora de tentar vencer, para dar alegria ao torcedor uberlandense. Em duas trocas, mandou Élber e Vinícius Araújo nas vagas de Júlio Baptista e Henrique, inovando: montou um 4-2-3-1 com Élber, Goulart e Willian atrás de Vinícius, mas com Éverton Ribeiro como um “armador recuado”, posicionado como volante, mas que só tinha a função de pensar o jogo. Na prática, era um 4-1-4-1/4-3-3, pois a Ponte praticamente não atacava.

Virada

Após as trocas, Cruzeiro todo no ataque, mesmo quando já vencia, com Éverton Ribeiro distribuindo: o risco era ter marcação frouxa no meio-campo. Assim saiu o segundo gol do time de Campinas

Após as trocas, Cruzeiro todo no ataque, mesmo quando já vencia, com Éverton Ribeiro distribuindo: o risco era ter marcação frouxa no meio-campo. Assim saiu o segundo gol do time de Campinas

A terceira troca, Éverton por Luan, já estava preparada antes mesmo do empate, num cabeceio de Souza em cobrança de escanteio de — não poderia ser outro — Éverton Ribeiro. Luan entrou como lateral-esquerdo mesmo, indicando a vontade de Marcelo de atacar a todo custo. Àquela altura, Willian já fazia mais companhia a Vinícius Araújo dentro da área ofensiva do que a Éverton Ribeiro no meio. Goulart passou à esquerda e o time ficou numa espécia de 2-1-3-4 — sim, porque os laterais estavam tão avançados que já não eram mais defensores.

Jorginho lançou Elias na vaga de Adrianinho numa troca direta, de meia por meia, mas era um jogador descansado. E pouco depois, mandou Rafael Ratão na vaga de Rildo, que neste jogo não foi atacante e sim “marcador de lateral”. Mas o jogo não mudou, e mais uma vez Éverton decidiu: recebeu um passe de Vinícius Araújo e viu a movimentação do garoto, colocando uma bola precisa e preciosa para o camisa 30 chutar de primeira e fazer um dos gols mais bonitos da rodada.

O Cruzeiro até que tentou mais vezes, mas em mais um descuido — desta vez de todo o sistema defensivo — a Ponte conseguiu achar o empate, num contra-ataque nem tão rápido assim, mas que pegou a defesa celeste se recompondo. Quem erra a interceptação do passe para Leonardo é Souza, que está fazendo a cobertura de Paulão, voltando lentamente de um ataque. Como era o único volante, não havia marcadores para impedir o passe original de Elias.

Filosofia vitoriosa

No primeiro texto do ano, este blog destacou o provável estilo de jogo que o Cruzeiro teria este ano, baseado nas contratações feitas. Seria um resgate do futebol ofensivo, de toque de bola, que é a escola histórica do Cruzeiro. Deu muito certo, ainda mais considerando que é uma equipe ainda em processo de amadurecimento.

Sim, pois como disse Fábio na sua entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN Brasil: “depois da eliminação para o Flamengo na Copa do Brasil, chegamos à conclusão de que nós não sabíamos jogar nos defendendo”. E sabendo dessa limitação, a partir dali o Cruzeiro arrancou para o título jogando da forma que sabe: atacando sempre, com intensidade.

Mas a frase também indica que há espaço para melhorar. Um time maduro consegue se adaptar sem problemas às características de uma partida, e haverá sim momentos em que o adversário tentará atacar de todas as formas. A Libertadores é uma competição que tem esse lado.

É preciso, portanto, saber variar a estratégia, mas sem variar o estilo. Porque deixar de ser um time de toque de bola, jamais.