U. Sucre 0 x 0 Cruzeiro – Faltou pouco (e não foi ar)

Na estreia pela Libertadores, o Cruzeiro subiu a cordilheira e usou uma estratégia inteligente para minimizar os efeitos da altitude: dosar a intensidade. Para isso, tentou fechar os espaços e sair em velocidade, algo pouco comum nos últimos dois anos. Mas com o desenrolar do jogo, o time foi lentamente tendo mais posse de bola, mas não conseguiu se adaptar por completo à maior velocidade da bola na altitude e acabou voltando da Bolívia com apenas um ponto.

Formações iniciais

Cruzeiro no 4-2-3-1 com ponteiros recuando, desenhando duas linhas de quatro para partir em contra; Universitario no 4-3-3, com Silvestre livre e Cuesta articulando

Cruzeiro no 4-2-3-1 com ponteiros recuando, desenhando duas linhas de quatro para partir em contra; Universitario no 4-3-3, com Silvestre livre e Cuesta articulando

O Cruzeiro de Marcelo Oliveira não tinha nenhuma surpresa. O 4-2-3-1 costumeiro tinha Fábio no gol, Fabiano e Mena nas laterais e Léo e Paulo André no miolo de zaga. No suporte, Henrique e Willian Farias marcavam por dentro, com Willian e Marquinhos recompondo pelos lados. De Arrascaeta ficava ligeiramente mais atrás de Damião, ambos centralizados.

Já o Universitario do “DT” Julio Baldivieso entrou num 4-3-3 clássico: triângulo de base alta no meio-campo. Protegendo o gol de Robles, a linha defensiva tinha Ballivián pela direita, Filippetto e Barón no miolo e Camacho pela esquerda. No vértice baixo, o volante Silvestre fazia a saída, tendo Ribera mais contido para liberar Cuesta. À frente, Palavicini era o centroavante, com Bejarano pela direita e Castro pela esquerda.

Cruzeiro esperando

A partida começou com o Universitario mais com a bola, como esperado, por estar em casa. O Cruzeiro não pressionava alto, marcando a partir do meio-campo, esperando o avanço do time boliviano. Os ponteiros Marquinhos e Willian se alinhavam a Willian Farias e Henrique formando uma segunda linha de quatro, deixando De Arrascaeta e Damião à frente. Essa segunda linha fazia bem o trabalho de fechar as linhas de passe, deixando os zagueiros do time boliviano sem opções.

Pouca compactação

Porém, em alguns momentos, o Cruzeiro subia a pressão, mas só com o quarteto de frente. Os volantes não acompanhavam, e a linha defensiva ficava quase sempre mais próxima da área de Fábio, talvez porque era composta por jogadores lentos, e correr pra trás em lançamentos profundos por cima era um perigo. Isso “dividia” o time em dois, deixando um espaço entre o sexteto defensivo e os quatro da frente. Se a pressão não funcionava, os bolivianos achavam um passe nesse espaço e se aproximavam muito da área de Fábio.

Felizmente, os defensores foram bem e conseguiam neutralizar quase todas as investidas do Universitario. Henrique foi disparado quem mais teve recuperações de bola na partida, com 7 (dados da Conmebol). Paulo André e Léo venciam quase todos os duelos aéreos, e os laterais fizeram boa partida defensivamente, principalmente Mena, que tinha menos a ajuda de Willian do que Fabiano a de Marquinhos.

Dados da Conmebol mostram Cruzeiro roubando muito a bola: 21x2; só Henrique roubou 7

Dados da Conmebol mostram Cruzeiro roubando muito a bola: 21×2; só Henrique roubou 7

Transição rápida

Quando roubava a bola, a tentativa era sempre de resolver a jogada o mais rápido possível. Mas isso também era afetado pela altitude: com o ar mais rarefeito, a bola fica levemente mais rápida. E os jogadores não conseguiam acertar o tempo do passe, ou a força a aplicar na bola.

Um lance no primeiro tempo (aos 9 segundos do vídeo abaixo) exemplifica bem isso: De Arrascaeta mandou de primeira para Willian na esquerda, que ficou livre. Mas a bola foi um pouco mais longe que o ideal, fazendo Willian correr um pouco a mais pra recolher a bola e atrasar o tempo da jogada. Aí Willian esperou Damião entrar na área para executar o passe, mas novamente a bola foi um pouco mais rápida que o bigode queria, e Damião chegou atrasado.



Segundo tempo

No intervalo, Marcelo tirou Willian Farias por causa de um cartão amarelo desnecessário e lançou Willians. Além disso, ajustou melhor o posicionamento pra não dar tanto espaço na entrelinha. Assim, o jogo seguiu da mesma forma, mas o Universitario dessa vez não conseguia mais se aproximar tanto da área de Fábio, se limitando a tentar cruzamentos aéreas a partir da intermediária.

Com isso, o Cruzeiro passou a ter mais posse de bola e conseguia chegar, mas pecou no último passe ou na finalização. Damião teve pelo menos duas chances, assim como de Arrascaeta, no seu último lance antes de ser substituído. Foi uma troca estranha a princípio, mas Marcelo explicou na coletiva pós-jogo que avaliou o uruguaio como um dos mais afetados pela altitude, não fisicamente mas tecnicamente.

Judivan + laterais expostos

Quem entrou em seu lugar foi Judivan, e a ideia de Marcelo era tanto marcar o volante Silvestre, vértice baixo do triângulo de meio do 4-3-3 boliviano, quanto dar velocidade na transição, já que o Cruzeiro conseguia roubar a bola até com certa facilidade.

Porém, à essa altura do jogo, Willian já não recompunha tão bem e expunha Mena ainda mais pelo lado esquerdo ao avanço do lateral Ballivián. Do outro lado, Marquinhos ainda conseguia voltar, mas também não marcava com mesmo afinco, deixando Fabiano no dois contra um. Marcelo então viu o problema e tentou corrigir com Joel na vaga do bigode, pelo lado esquerdo.

Um a menos

No fim, Cruzeiro com um a menos se postou num 4-4-1, mas não foi ameaçado, conseguindo até equilibrar na posse de bola

No fim, Cruzeiro com um a menos se postou num 4-4-1, mas não foi ameaçado, conseguindo até equilibrar na posse de bola

Teria sido uma boa alteração, pois os jogadores de fôlego renovado poderiam dar a velocidade que o Cruzeiro precisava para chegar com qualidade ao gol de Robles. Mas Joel só ficou 6 minutos em campo, expulso com o vermelho direto após uma entrada desnecessária no campo de ataque.

Com um a menos, Judivan saiu do centro e foi pra ponta esquerda, fazendo duas linhas de deixando apenas Damião à frente: 4-4-1. Uma pressão do time da casa era esperada, mas ela não veio, e mesmo com um a menos, a posse de bola foi equilibrada, com o Cruzeiro ameaçando a área do Universitario. Judivan não teve muita disciplina para recompor e deixou o lado esquerdo exposto, com Henrique se desdobrando para cobrir, mas o gol de Fábio não foi mais seriamente ameaçado até o fim do jogo.

Foi bom, mas poderia ter sido melhor

A estratégia usada pelo Cruzeiro em Sucre foi acertada, distribuindo o fôlego ao longo dos 90 minutos para não cansar antes da hora e correr riscos. Nesse ponto, o time foi surpreendeu positivamente, pois no fim parecia que poderia engrenar e chegar ao gol da vitória. Mas duas coisas frearam este movimento: a expulsão de Joel e a saída de De Arrascaeta.

O camaronês — que não parece, mas é mais jovem que Alisson e Mayke, por exemplo — entrou pilhado demais na marcação e acabou prejudicando o time com sua saída. Mesmo com um a menos, o Cruzeiro conseguiu ter alguma posse, o que dá a medida que com onze em campo, poderia ter feito uma pressão no fim.

Já a saída do também jovem uruguaio fez o Cruzeiro ser mais intenso com Judivan, numa tentativa de gastar o resto de oxigênio até o fim da partida e se impor fisicamente. Isso até aconteceu, mas sem o camisa 10, o time ficou pouco com a bola nos pés, acelerando muito. De Arrascaeta talvez pudesse ser o jogador que desse cadência, fazendo os bolivianos correrem atrás na marcação. Mas não dá pra ser engenheiro de obra pronta, criticando depois do acontecido. Naquele momento, Marcelo tinha de tomar uma decisão, e tomou.

Fica a impressão positiva de que o Cruzeiro foi um time tranquilo, sem pressa nem pilha excessiva, o famoso “espírito de Libertadores” (exceção feita à Joel). Se continuar com essa solidez defensiva, ajustando alguns pontos aqui e ali, e também evoluir ofensivamente, como é a tendência com o maior entrosamento, o Cruzeiro só tem a crescer.

Para o temor dos rivais.

Cruzeiro 2 x 0 Atlético/PR – Nada mudou

Começo este texto pedindo desculpas ao leitores por ter deixado passar a análise da partida contra o São Paulo no Morumbi. Como acontece de vez em quando, a vida nos atropela e temos que priorizar umas coisas sobre outras, e o Constelações acaba por ser preterido. Mas se você quiser ler boas análises a respeito daquela partida, acesse o blog Olho Tático, de André Rocha, ou então o blog Painel Tático, de Leonardo Miranda. Não são blogs exclusivos sobre o Cruzeiro e nem tem o estilo prolixo que é a marca do Constelações, mas não é por isso que deixam de ser ótimos textos.

Para recuperar-se da derrota para o perseguidor mais próximo, era imperativo ao Cruzeiro não só vencer o Atlético/PR em casa, como também fazer um bom jogo e mostrar que o revés foi só um pequeno obstáculo e não o início de uma oscilação. E depois de uma primeira etapa um pouco travada, principalmente pela rigidez ofensiva ao invés da fluidez costumeira, o Cruzeiro melhorou no segundo tempo e venceu com certa facilidade. Mesmo porque, quase não teve trabalho defensivamente.

Escalações

Os alas do 3-4-1-2 paranaense eram forçados a recuar, dando espaços para os laterais do 4-2-3-1 celeste, que por sua vez teve pouca intensidade na frente

Os alas do 3-4-1-2 paranaense eram forçados a recuar, dando espaços para os laterais do 4-2-3-1 celeste, que por sua vez teve pouca intensidade na frente

Marcelo Oliveira teve Henrique e Egídio de volta, mas não pôde contar com Goulart, suspenso. Assim, o goleiro Fábio teve sua linha defensiva formada por Mayke à direita, Dedé e Léo no meio e Egídio à esquerda. Henrique e Lucas Silva faziam a proteção e apoiavam o trio formado por Éverton Ribeiro pela direita, Júlio Baptista centralizado e Alisson pela esquerda. Na frente, o flecheiro Marcelo Moreno.

Já o Atlético/PR de Claudinei Oliveira inovou: tentou parar o líder em sua casa usando uma linha de três zagueiros. A meta de Weverton era protegida pelo trio de defensores Gustavo à direita, Cléberson no centro e Willian Rocha à esquerda. Os alas Sueliton e Natanael se alinhavam aos volantes Deivid e João Paulo, com Marcos Guilherme na ligação procurando os avantes Marcelo e Douglas Coutinho. No papel era um 3-4-1-2, mas não foi isso o que aconteceu, como veremos à frente.

O velho problema

Quem acompanha o blog sabe que vira e mexe bato nessa tecla. Um sistema com linha defensiva de três homens não funciona contra uma equipe que jogue com dois ponteiros abertos e um único centroavante, pois a marcação fica indefinida pelos lados. Os alas ficam em um dilema: se voltam para marcar os ponteiros, a linha de três se transforma em linha de cinco, o centroavante fica com dois na sobra: excesso em um setor significa falta em outro setor do campo, significando perda de posse de bola. Caso os alas permaneçam altos para marcar o avanço dos laterais adversários, aí a defesa fica no mano a mano contra o centroavante e os ponteiros, além de abrir vários buracos nos setor devido às distâncias que os zagueiros tem que percorrer.

O time paranaense escolheu voltar com os alas, o que significou muita liberdade para Mayke e Egídio avançarem. Os volantes até tentavam fazer a cobertura com movimentação lateral, mas como o Cruzeiro tinha mais meio-campistas centrais (três contra dois) conseguia tocar a bola com facilidade. Com isso, a estatística de posse de bola do Cruzeiro bateu na casa dos 80% em um dado momento do jogo.

Pouca mobilidade

Mas, se o Cruzeiro chegava fácil até a intermediária, passar dali era bem mais complicado. Éverton Ribeiro até que tentou se mexer e dar intensidade, tentando aparecer em outros setores que não o direito. Mas seus companheiros não o acompanhavam: Júlio Baptista jogava quase como um segundo atacante, ficando muito avançado quase todo o tempo e sempre na faixa central; Alisson, por sua vez, combinou bem com Egídio, foi intenso e veloz, mas não saiu do lado esquerdo. Com os meias estáticos, a marcação do Atlético/PR era facilitada.

Mesmo assim, o time celeste conseguiu abrir o marcador num lance de Alisson. E o gol fez o jogo mudar. O Atlético/PR desfez o sistema e mudou para duas linhas de quatro: os três zagueiros se “moveram” para a esquerda para acomodar o recuo oficial de Sueliton, deixando Natanael pela esquerda na segunda linha, também composta pelos dois volantes e Marcos Guilherme. Um clássico 4-4-2 em linha, que foi suficiente para diminuir o domínio sobre a bola do Cruzeiro, mas não para atacar com qualidade.

Júlio por Willian

Já depois do primeiro gol,  o Atlético/PR voltaria a ter defesa com 4 homens, e assim foi até o final; Cruzeiro só saiu do 4-2-3-1 bem no finzinho com Nilton entre as linhas

Já depois do primeiro gol, o Atlético/PR voltaria a ter defesa com 4 homens, e assim foi até o final; Cruzeiro só saiu do 4-2-3-1 bem no finzinho com Nilton entre as linhas

No intervalo, Júlio Baptista seria substituído por Willian, por lesão sofrida ainda no primeiro tempo. Mas calhou de a substituição ter dado outra cara ao Cruzeiro: Willian foi pra direita, centralizando Éverton. Alisson permaneceu do lado esquerdo. Apesar de ser da opinião de que Éverton rende mais partindo da direita, nesse caso específico foi bom, pois deu ao Cruzeiro o que faltava no setor central: intensidade, tanto ofensiva quanto defensiva. Os três meias se aproximavam e trocavam passes rápidos, lembrando muito os bons momentos do Cruzeiro de 2013.

O aspecto que acabou gerando o segundo gol, no entanto, foi a intensidade aplicada na marcação alta. Em um trabalho conjunto dos quatro homens de frente, o Cruzeiro forçou o erro da defesa do Atlético/PR, a bola sobrou pra Moreno que conduziu, viu Willian passar por um lado e Éverton passar por outro, mas no instinto de centroavante, resolveu mandar o sapato dali mesmo. Décimo primeiro gol do flecheiro, agora artilheiro isolado artilheiro do certame.

Com dois gols de vantagem o Cruzeiro tirou o pé e só controlou. Claudinei trocou Natanael por Sidcley, depois Douglas Coutinho por Mosquito, mas nada foi mudado no sistema tático. Marcelo Oliveira aproveitou e tirou Alisson, amarelado na comemoração do primeiro gol, lançando Marlone na faixa central — e aqui cabe um comentário: o reserva imediato de Goulart na função de central é Júlio Baptista, mas Marcelo tem preparado Marlone para jogar nessa posição também, já pensando à frente quando Goulart, novamente convocado, estará com a Seleção.

No fim, Claudinei ainda mudaria João Paulo por Hernani, numa tentativa de dar criatividade ao meio-campo, ao passo de que Marcelo Oliveira lançou Nilton na vaga de Éverton Ribeiro, posicionando à frente da defesa e atrás e Lucas e Henrique, com Marlone abrindo para configurar um 4-3-3. Mas Fábio nem viu a bola passar perto de seu gol e o dois a zero ficou até o final.

Alisson fez um excelente jogo e só errou um único passe nos 90 minutos: intensidade sem perder qualidade. Só falta se aventurar para longe do lado esquerdo.

Alisson fez um excelente jogo e só errou um único passe nos 90 minutos: intensidade sem perder qualidade. Só falta se aventurar para longe do lado esquerdo.

Mais um muro derrubado

Os adversários vem ao Mineirão e, cada um à sua maneira, tentam parar o Cruzeiro. Duas linhas de quatro, árvore de natal, três zagueiros — todos os sistemas falharam. Se não há um ponto em comum entre eles, então o xis da questão está do outro lado: é a inegável capacidade ofensiva que o time celeste tem em seus domínios. O respeito dos adversários só aumenta, e foi construído com um cartel impressionante de onze vitórias seguidas no Mineirão. E é esse mesmo respeito que faz com que, mesmo em uma noite não tão inspirada ofensivamente, o Cruzeiro saia com uma vitória inconteste.

Com a derrota do São Paulo em Curitiba, a vantagem voltou a ser de sete pontos, com a diferença de que agora são duas rodadas a menos pra o fim do campeonato. Mas o mais importante, contudo, é que o Cruzeiro mostrou não ter entrado na descendente como muita gente apostava. Afinal, a equipe vinha de um empate contra o Fluminense e uma vitória suada contra o Bahia no Mineirão. O futebol apresentado, se não foi brilhante, foi muito mais sólido e consistente que o dos outros times.

No fim das contas, é isso que decide quem será o campeão.

Goiás 0 x 1 Cruzeiro – Exagero na dose

O Serra Dourada é o maior campo do Brasil. O gramado possui as medidas máximas permitidas pela regra 1 para jogos oficiais internacionais, 110 x 75 m. O Mineirão usa as medidas oficiais para jogos da Copa, 105 x 68 m. A diferença parece pequena, mas não é: só nas laterais, são 3,5 metros a mais de espaço para cada lado — provavelmente a largura do quarto ou sala onde você está agora lendo este texto.

Um campo com medidas tão grandes tem influência direta na estratégia de marcação de uma equipe no jogo. É preciso dosar o desgaste físico, pois não há como aplicar a mesma intensidade de marcação que se usa num campo como o Mineirão, por exemplo, pois corre-se o risco de cansar em demasia no fim da partida e ficar em desvantagem numérica em alguns setores.

Foi esse controle que o Cruzeiro tentou fazer em Goiânia neste domingo. Mas exagerou na dose e quase correu o risco de perder dois pontos.

Sistemas iniciais

No primeiro tempo, ambas equipes no 4-2-3-1, espalhados, e se movimentando pouco no enorme campo do Serra Dourada

No primeiro tempo, ambas equipes no 4-2-3-1, espalhados, e se movimentando pouco no enorme campo do Serra Dourada

Como de costume, Marcelo Oliveira manteve o 4-2-3-1. Sem Mayke, Henrique e Ricardo Goulart, todos poupados para evitar lesões, Fábio teve sua linha defensiva formada por Ceará, Dedé, Léo e Egídio. Nilton reeditou a parceria com Lucas Silva no meio-campo, dando suporte a Willian na direita, Éverton Ribeiro como central e Alisson pela esquerda. Na frente, Moreno.

O Goiás não foi a campo com três zagueiros, como informou o SporTV no início da transmissão. Ricardo Drubscky também armou um 4-2-3-1, com Renan no gol, Jackson e Felipe Macedo como zagueiros, Moisés na lateral direita e Léo Veloso na esquerda. Valmir Lucas entrou como volante preso, com David tendo ligeiramente mais liberdade. O quarteto ofensivo tinha Thiago Mendes na direita, Tiago Real por dentro e Samuel na esquerda atrás de Bruno Mineiro.

Ritmo lento: Sonolência ou estratégia?

O jogo começou e parecia não ter começado, tal a lentidão que os jogadores de ambas as equipes colocavam em campo. Muitos amigos nas redes sociais já cornetavam, dizendo da sonolência do time, mas este blogueiro preferiu avaliar pelo lado da estratégia: se poupar para não cansar no enorme gramado do Serra Dourada. Assim, não vimos o Cruzeiro que normalmente vemos em outras partidas, aplicando pressão sobre a zaga adversária para roubar a bola e tocando com velocidade e intensidade quando a tinha nos pés.

Quando o Cruzeiro acelerou, chegou ao gol. Bola roubada no meio-campo, a defesa do Goiás ainda estava se arrumando, mas Éverton Ribeiro, de frente e sem marcação, tinha três opções de passe: Ceará, que já passava na direita; Alisson, totalmente livre pelo lado esquerdo com o lateral Moisés correndo para alcançá-lo; e Marcelo Moreno, marcado por um zagueiro e com outro na sobra. A escolha de Éverton foi a mais difícil: um passe em profundidade, fora do alcance da cobertura e apostando na velocidade do boliviano, que concluiu cruzado para marcar. Oitava assistência de Éverton no certame, o líder no quesito.

Talvez pela facilidade, os jogadores de certa forma se acomodaram. Conseguiam repelir as investidas goianas com facilidade, e não quiseram correr muito mais para fazer o segundo e matar logo a partida.

Segundo tempo

Nenhuma mudança houve depois do intervalo. A única diferença foi que o Cruzeiro passou a ter mais posse de bola na intermediária ofensiva ao invés da defensiva, mas com poucas tentativas de passe agudo. Só aos 15 o jogo mudaria um pouco, com Drubscky trocou Moisés por Murilo, um meia, passando Valmir Lucas para a lateral direita. Murilo foi jogar aberto na direita, e os dois Tiagos ficaram mais próximos por dentro do campo, com Real mais à direita e Mendes mais à esquerda. Uma espécie de 4-3-3, pendendo muito para a direita.

O mapa de passes do 2º tempo (Opta) mostra como o Goiás insistiu pela direita, tendo um jogador aberto naquele setor (Murilo) mas não do outro lado

O mapa de passes do 2º tempo (Opta) mostra como o Goiás insistiu pela direita, tendo um jogador aberto naquele setor (Murilo) mas não do outro lado

No Cruzeiro, Egídio deu seu lugar a Samudio. Naquele momento, achei que fosse para poupar e dar mais segurança, mas Egídio teve um problema na mão e teve que sair. Depois, com Alisson por Dagoberto, Marcelo queria definir a partida de uma vez, mas não foi o que aconteceu. O Goiás começou a ocupar a intermediária ofensiva e trocar passes muito próximo da área de Fábio, muito porque o Cruzeiro não dava pressão sobre o homem da bola neste setor. Um risco desnecessário, já que seria melhor ocupar o meio-campo e empurrar o time verde para trás.

Com Henrique, Cruzeiro fechou o meio-campo mas abriu os corredores, permitindo vários cruzamentos -- um risco desnecessário

Com Henrique, Cruzeiro fechou o meio-campo mas abriu os corredores, permitindo vários cruzamentos — um risco desnecessário

Marcelo Oliveira tentou mexer no time com Henrique na vaga de Willian, numa rara modificação de sistema tático. O Cruzeiro se postou num 4-3-1-2, com Henrique e Lucas ligeiramente mais avançados que Nilton no meio. Dagoberto se juntou a Moreno no ataque e Éverton ficou na ligação. O meio-campo central ficou mais forte defensivamente, mas sem jogadores abertos o Cruzeiro abriu os corredores, e o Goiás que começou a atacar com seus dois laterais ao mesmo tempo. O resultado foi uma profusão de bolas na área, que o Cruzeiro conseguia afastar até com certa facilidade. Mas novamente corria riscos desnecessários.

Já Ricardo Drubscky trocou seus dois atacantes para poder encaixar passes em profundidade e pegar a defesa celeste correndo pra trás. Não tinha funcionado até o último lance da partida, quando a postura cautelosa demais quase cobrou seu preço. Uma bola espirrada de Léo acabou servindo de passe para Esquerdinha. Dedé foi com ele e ganhou na bola, mas o juiz viu pênalti, que David mandou pra fora.

Segurando demais

Esta partida contra o Goiás mostrou que o Cruzeiro está ciente de sua capacidade e também tem maturidade para acelerar o jogo quando bem entende. É compreensível que os jogadores não quisessem se aplicar tanto na marcação, visto o tamanho do campo e a maratona de jogos que está por vir. No entanto, talvez tenha exagerado no freio. Era preciso acelerar um pouco, mas apenas um pouco, não a ponto do desgaste físico ser um fator. E seria suficiente para que o Cruzeiro não corresse os riscos que correu no fim da partida.

No empate contra o Botafogo e na vitória que só valeu um ponto contra o Criciúma, o time foi elogiado pela busca constante do gol e pelo jeito de jogar ofensivo e consciente. Apesar de ter valido mais pontos, esta partida não merece tantos elogios quanto as outras. O Cruzeiro quase perdeu dois pontos por puro desleixo. O tamanho do campo é um atenuante, mas não pode ser a única desculpa.

Que bom que a maioria dos próximos jogos será em campos menores, e assim poderemos ver o Cruzeiro verdadeiro em ação.

Cruzeiro 3 x 1 Villa Nova – O dilema da centroavância

O título deste artigo é uma pegadinha. Quem lê rapidamente pode pensar que é uma crítica aos jogadores desta posição, mas não se trata disso. Na noite de quarta, Marcelo Oliveira encontrou, sem querer — ou não — uma solução para a repentina escassez de centroavantes que o Cruzeiro passou a ter com a lesão de Borges no último sábado. Com a venda de Vinícius Araújo, de repente Marcelo Moreno passou a ser a única opção “nativa” para a posição.

Falo dos quatro meias que jogaram em um determinado período do jogo, como veremos mais adiante. Para este blogueiro, foi o melhor momento da equipe na partida, em que pese o relaxamento que os jogadores já estavam àquela altura com o 3 a 0 no placar.

Formação

Cruzeiro no 4-2-3-1 costumeiro e com a movimentação que lembrou o time do ano passado; Villa numa formação muito adaptada para defender, com cobertura de João Paulo e Léo tendo que escolher o lateral que marcava

Cruzeiro no 4-2-3-1 costumeiro e com a movimentação que lembrou o time do ano passado; Villa numa formação muito adaptada para defender, com cobertura de João Paulo e Léo tendo que escolher o lateral que marcava

O Cruzeiro iniciou o jogo no mesmo 4-2-3-1 de sempre. Quem lê o blog já está acostumado e sabe de cor: Fábio no gol; Ceará e Egídio nas laterais e Dedé e Bruno Rodrigo no miolo; Souza mais preso e Lucas Silva mais solto como volantes, atrás de Éverton Ribeiro partindo da direita para dentro, Ricardo Goulart se movimentando no meio e Dagoberto mais espetado e mais à esquerda. Na frente, Marcelo Moreno brigando com os zagueiros.

Foi difícil definir um esquema para o time do Villa Nova. Paulinho Kobayashi — aquele mesmo — montou uma linha defensiva com quatro homens, mas o lateral Chiquinho preferia subir para bater com Egídio e com isso o volante João Paulo descia para a cobertura em Dagoberto — os dois se encontraram o jogo inteiro. Ferrugem ficou mais preso como volante à frente da área e liberava Igor para subir um pouco mais, mas o camisa 11 do Villa também teve mais atribuições defensivas que ofensivas. Mancini ficou na ligação e tentava encontrar os atacantes Léo, pelos lados, e Paulo Henrique, centralizado como referência. Algo como um 4-3-1-2, mas com o meio sem ser em losango.

Flanqueando o adversário

Essa formação tinha o objetivo de tirar os espaços do Cruzeiro em seu setor mais produtivo, o meio-campo ofensivo. Com ferrugem fazendo as coberturas, João Paulo grudado em Dagoberto e Igor cercando Éverton Ribeiro, e ainda tendo a ajuda em alguns momentos de Léo e Mancini, Kobayashi tentou vencer o setor pela tática da horda — quanto mais gente, mais difícil. Mas aqui cabe a metáfora do cobertor curto: se se coloca gente demais em um lugar, falta em outro. E nesse caso foi nas laterais.

Léo ficou mais pela direita no início do jogo e encontrava Egídio algumas vezes, mas do outro lado não havia ninguém para impedir Ceará de jogar. O lateral avançava tranquilamente até a linha divisória e entregava bolas limpas para os meias criarem, e até mesmo fazia jogadas de ultrapassagem encontrando Fábio Fidélis na linha de fundo. Quando Léo inverteu de lado, aí foi a vez de Egídio aproveitar, pois agora o lado esquerdo estava no mano a mano. E num avanço de Souza pela esquerda, a marcação do Villa ficou com gente a menos e saiu a tabela que originou o gol contra que abriu o placar.

Depois do gol, Léo retornou para a direita para tentar parar Egídio, mas o estrago já tinha sido feito. Mesmo assim, o lado esquerdo continuou sendo o mapa da mina, pois Dagoberto estava vencendo o duelo contra João Paulo, fazendo o segundo em uma jogada típica de ponteiro de pé trocado: destro na esquerda. Puxou para dentro, ficou de frente e emendou uma bola rasteira que imobilizou o goleiro Bráz.

Moreno

Quando disse no primeiro texto do ano que fiquei com um pé atrás em relação à contratação de Marcelo Moreno, me referia ao estilo de jogo que o boliviano-brasileiro pede: jogo de referência, homem-alvo na área. Isso tem uma vantagem e uma desvantagem. A vantagem é que acrescenta uma opção de estilo, a bola aérea ofensiva com bola rolando. O Cruzeiro fez muitos gols pelo alto no ano passado, mas quase sempre através de seus zagueiros e volantes, e em bolas paradas. Os meias e atacantes preferem usar os pés, mesmo dentro da área. Mas essa característica também é uma desvantagem: sendo um centroavante mais de força, típico homem-alvo, Moreno participa menos da construção das jogadas — Borges não participava muito, mas Moreno participa menos ainda. Isso pode eventualmente sobrecarregar o trio de meias, mas não chega a ser um problema, apenas uma opção por um estilo de jogo ou outro.

Com ele em campo, portanto, o Cruzeiro precisará se adaptar a estas características de seu jogador mais avançado, e começou a fazer isso nesta partida. Os laterais e ponteiros sempre buscavam o cabeceio do camisa 18, que teve muitas dificuldades em desenvolver seu jogo. Mas no fim do primeiro tempo, numa bola milimétrica de Éverton Ribeiro — aparecendo pela esquerda na troca de posições típica deste Cruzeiro — Moreno acertou um “cabeçazo”, forte, sem chances para Bráz. Primeiro gol dele no retorno, e todas as memórias da torcida celeste da Libertadores de 2008 voltaram naquele momento.

A “inovação”

No início do segundo tempo, Moreno deu lugar a Willian, e o Cruzeiro jogou sem centroavantes de ofício, com 4 meias que se movimentam muito: um inovador 4-2-4-0

No início do segundo tempo, Moreno deu lugar a Willian, e o Cruzeiro jogou sem centroavantes de ofício, com 4 meias que se movimentam muito: um inovador 4-2-4-0

No intervalo, Marcelo Oliveira optou por poupar Moreno pensando na Libertadores. Talvez fosse um medo de uma lesão que deixaria o Cruzeiro sem centroavantes. Com a entrada de Willian, era imaginado que Ricardo Goulart avançasse, deixando Éverton Ribeiro como meia central e Dagoberto e Willian pelos lados. Mas Ricardo Goulart, como meia de ofício, tende a deixar a área e se aproximar do meio-campo, se juntando ao trio de meias. E nesta partida ele fez isso muitas vezes. Além disso, Dagoberto e Willian também são ponteiros agudos, que invadem a área para concluir sempre que podem. Somente Éverton Ribeiro ficava mais por trás, pensando o jogo.

Assim, a formação celeste mudou para uma espécie de 4-2-1-3, mas que eu prefiro chamar de um inovador 4-2-4-0 — sim, pois todo o quarteto ofensivo participava da construção na frente da área adversária, sem nenhum homem fixo como referência na frente. rotação de posições provocava várias linhas de passe rápidas e inteligentes que levaram os defensores villanovenses à loucura. Pena que as conclusões não foram lá essas coisas.

Veja o posicionamento do quarteto ofensivo  meias quando o Cruzeiro jogou sem centroavante, e veja o desenrolar desse lance aqui

Veja o posicionamento do quarteto ofensivo meias quando o Cruzeiro jogou sem centroavante, e veja o desenrolar desse lance aqui

“De volta” ao 4-2-3-1

O ritmo arrefeceu um pouco após a entrada de Marlone na vaga de Dagoberto, mas continuava empolgado este blogueiro. Porém, ao ver Júlio Baptista se preparando para entrar no gramado, bateu a frustração, pois era sabido que sua entrada iria “travar” o time. Júlio tem bom passe e boa finalização, mas não se movimenta tanto, e sua entrada faria o time ficar engessado.

Ao invés de ir jogar na meia central, onde sempre entra, deixando Ricardo Goulart como centroavante, para minha surpresa foi o próprio Goulart quem saiu. Éverton Ribeiro ficou “sozinho” na meia central e Júlio foi ser centroavante. Era mais uma tentativa de Marcelo de solucionar a falta de centroavantes no elenco celeste.

A entrada de Júlio teve o efeito de tirar a intensidade de movimentação na frente, e sem o ímpeto o Cruzeiro começou a administrar e relaxou demais, chamou o Villa Nova para seu campo — que àquela altura já não tinha mais nada a perder — e num momento de relaxamento total, Fábio errou a saída de bola e a zaga não conseguiu tirar, gerando novo ataque do Villa que culminou no gol de Mancini, completamente sozinho na frente de Fábio, para fechar o placar.

Uma possível formação, sim senhor

Jogar sem centroavante não é nenhuma novidade — o Barcelona vem fazendo isso há muitos anos. Mas o time catalão é um pouco diferente, no sentido de que sua base em um 4-3-3, com um volante preso (Busquets) e dois passadores (Xavi e Fábregas) no meio, com um “falso 9” (Messi) que recua, faz número no setor e abre espaço para os ponteiros e meias invadirem a área. No caso do Cruzeiro, o sistema de partida foi um 4-2-3-1, com um volante a mais e um meia a menos. Um sistema que, na modestíssima opinião deste escriba, funcionou muito bem.

Mas é difícil imaginar que Marcelo Oliveira vá testar esta formação mais vezes. O mais provável é que Moreno seja mesmo o titular ou Júlio ou Goulart (desta vez mais avançado mesmo) faça as vezes de centroavante. Seria um sopro de novidade tática no Brasil, um país tão carente neste aspecto do futebol — infelizmente, para os brasileiros o aspecto tático é pouco importante, sendo a parte técnica o principal.

De qualquer forma, foi ótimo ver o Cruzeiro relembrando sua melhor forma do ano passado, que trouxe o título nacional inconteste. Uma forma que, como este blog previu no primeiro texto de 2013, resgata a escola de jogo do Cruzeiro, tão tradicional e histórica que tem até um ditado popular.

Que sigamos sendo rápidos e rasteiros — como o ataque do Cruzeiro.

Cruzeiro 5 x 3 Criciúma – Sempre há espaço para melhorar

O Cruzeiro voltou a ser o Cruzeiro da sequência de doze rodadas invictas que encantou o Brasil — mas só durante trinta minutos. Depois disso, inventou de diminuir a velocidade do jogo, coisa que não sabe (ainda) fazer, expôs seus problemas defensivos e levou um baita susto ainda na primeira etapa. Mas se ainda não é um time maduro para mudar o estilo durante a partida, teve capacidade mental suficiente para conseguir “desvirar” o placar, se aproximando muito do tri.

Formações táticas

O 4-3-1-2 losango do Criciúma tentou lotar o meio-campo mas deu liberdade aos laterais do 4-2-1-2 celeste e só se defendeu durante meia hora

O 4-3-1-2 losango do Criciúma tentou lotar o meio-campo mas deu liberdade aos laterais do 4-2-1-2 celeste e só se defendeu durante meia hora

O Cruzeiro foi para o jogo no seu 4-2-3-1 usual, mas com mudanças no estilo dos jogadores que o compunham. Do gol, Fábio viu sua linha defensiva ser formada por Ceará à direita, Egídio à esquerda e Dedé e Léo compondo a zaga central. Com Nilton suspenso, Henrique fez o papel do primeiro volante na companhia a Lucas Silva, e Dagoberto foi o escolhido para a vaga de Ricardo Goulart no trio de meias, composto também por Willian, desta vez à direita, e Éverton Ribeiro, “oficializado” como central. Na frente, Borges enfiado entre os zagueiros.

Argel Fucks armou o Criciúma tendo o 4-3-1-2 losango como base, mas altamente adaptável para se defender do ataque celeste. A meta de Gallato foi defendida pelos zagueiros Matheus Ferraz e Fábio Ferreira, que por sua vez eram flanqueados por Sueliton na lateral direita e Marlon na esquerda. Henik foi o volante mais defensivo, com Ricardinho jogando mais à direita e João Vitor mais pela esquerda, mas ainda no meio-campo central, dando suporte a Ivo na ligação. Na frente, Lins se movimentava e Marcel ficava na referência.

Corredores livres

É claro que a volta da intensidade característica do quarteto ofensivo, tanto defendendo como atacando, foi um fator determinante para o início arrasador do Cruzeiro. Porém é preciso também destacar o corredor que os dois laterais tiveram para subir e se aproximar dos ponteiros, fazendo maior número pelos lados do campo. Ricardinho até abandonava o meio-campo para encurtar o espaço em Egídio, mas o camisa 6, sem ter um ponteiro verdadeiro para marcar, ultrapassou seu marcador com o mesmo ímpeto que chamou a atenção de todos no primeiro turno do certame.

Ceará, por outro lado, teve toda a liberdade para apoiar, pois quando recebia a bola, João Vitor só o marcava à distância. O veterano camisa 2 subiu frequentemente ao ataque, recebendo ora passes de trás e avançando até encontrar Marlon, ora inversões de jogada que Lucas Silva produzia tão bem, fazendo o lateral esquerdo do Criciúma sair da formação da defesa para ir à marcação. Foi deste lado que saiu o primeiro gol, num belo passe de Ribeiro para Ceará já avançado até a linha de fundo, que cruzou rasteiro mas encontrou a defesa. No rebote, o próprio Éverton bateu de esquerda — o pé bom — para abrir o placar.

Dagoberto

Outro fator interessante é a característica que Dagoberto dá ao time. Enquanto Goulart é mais aplicado taticamente e tem papel fundamental na movimentação e na construção da jogada, Dagoberto é mais agudo e finalizador, procurando espaços com o drible rápido — um pouco parecido com Willian. O segundo gol aconteceu por causa disso — Dagoberto já estava posicionado junto à linha defensiva do Criciúma, mas bem aberto à esquerda, quando Éverton Ribeiro encontrou Egídio sem marcação. O lateral entrou um pouco pelo centro mas passou a Dagoberto, que imediatamente deu a Éverton, que havia tomado a frente de dois marcadores dentro da área. O passe não foi bom, mas Éverton fez do limão uma limonada: deu um passe escorpião de volta a Dagoberto na entrada da área, que pegou de primeira, se marcação — atraída por Ribeiro — e aumentou.

Defensivamente, porém, Dagoberto não contribui tanto. Isso não era um problema naquele momento do jogo, pois só o Cruzeiro atacava e Sueliton se limitava a compor a linha defensiva, mas quando o Cruzeiro diminuiu o ritmo — talvez pela facilidade que encontrava no campo ofensivo — isso passou a ser um fator de preocupação.

Volância leve

Cruzeiro 5 x 3 Criciúma - Fim do 1º Tempo

No fim do primeiro tempo, o Cruzeiro deu campo ao Criciúma, mas os ponteiros não voltavam com os laterais, e os volantes (principalmente Henrique) com falhas nas coberturas

Mas o maior problema defensivo, neste momento da partida, residia na entrada da área. O primeiro gol do Criciúma — numa cobrança muito bem feita de João Vitor, diga-se — já poderia ser um alerta, pois Henik avança sem ser incomodado no setor, obrigando o zagueiro a subir o bote, errar o tempo e cometer a falta. Lucas Silva tem um bom combate, mas jogava mais avançado, e Henrique simplesmente não estava no mesmo ritmo dos outros jogadores, limitando-se ao cerco sem dar botes mais fortes.

Em que pese o Cruzeiro ter continuado atacando após sofrer o gol, o Criciúma passou a jogar também e encontrou este espaço na entrada da área para criar e conseguir uma virada surpreendente ainda na primeira etapa. Primeiro, Marlon avança pela esquerda mas não é acompanhado por Éverton Ribeiro, que naquele momento era o ponteiro e devia marcá-lo, e a cobertura de Henrique é falha — o camisa 8 deixa um passe de Marlon entrar nas suas costas pela direita. O cruzamento acha Lins, que está longe de Lucas Silva.

Depois, uma inversão de bola da esquerda para a direita acha Sueliton avançando com espaço. Dagoberto tenta voltar para acompanhar mas não consegue, e Egídio está pelo centro da área compactado lateralmente na defesa (que é o comportamento certo). O lateral direito do Criciúma cruza rasteiro de primeira para Ricardinho, na meia-lua, completar de primeira. É possível ver Henrique muito afundado na marcação, quando deveria estar ali para interceptar o passe.

Sueliton fora

O time voltou para o segundo tempo sem alterações, mas não deu tempo de avaliar se havia algo novo na postura do time, pois logo aos 4 Sueliton receberia o segundo amarelo e o Cruzeiro passou a ter vantagem numérica. Marcelo Oliveira esperou Argel reformatar sua equipe com Ezequiel, lateral direito, na vaga de Ivo, optando pelo 4-4-1 (na transmissão foi possível ver o técnico do Criciúma fazendo dois números quatro com as mãos, uma na frente da outra, indicando o sistema que queria) para poder fazer seus movimentos.

O time da virada: com um a mais, Júlio e Éverton foram os meias do inédito 4-3-3 com laterais totalmente livres para apoiar ao mesmo tempo

O time da virada: com um a mais, Júlio e Éverton foram os meias do inédito 4-3-3 com laterais totalmente livres para apoiar ao mesmo tempo

As entradas de Júlio Baptista e Mayke nas vagas de Henrique e Ceará deram ao time um viés ultra ofensivo. Mayke é reconhecidamente mais ofensivo que o veterano camisa 2, e Júlio, um meia-atacante de origem, entrou na vaga de um volante, e com isso o Cruzeiro passou pela primeira vez a jogar num 4-3-3 clássico, com Éverton um pouco mais recuado como meia direita, Júlio na meia-esquerda, Willian e Dagoberto nas pontas e Borges de centroavante. Isso além de Lucas Silva ser um volante com chegada e Egídio ser um lateral ofensivo também — apenas os zagueiros não participariam da construção ofensiva.

Muitos cruzamentos

Este embate de sistemas proporcionou duelos por todo o campo. Marcelo abdicou de pressionar os zagueiros e se limitava a cercar Lucas Silva, enquanto que os laterais celestes batiam com os meias abertos do time catarinense. Os meias batiam com os volantes e os ponteiros com os laterais, deixando apenas Borges segurando os dois zagueiros.

Seguros da cobertura de Lucas e dos zagueiros, os laterais avançaram sem medo. Resultado: foi o jogo com maior número de cruzamentos do Cruzeiro no campeonato. Não demorou para Borges empatar com um passe vindo de Mayke e desviado por Willian, pegando a defesa desprevenida. Gol típico de centroavante: batendo cruzado na primeira oportunidade. Argel só tinha a opção do contra-ataque, e lançou Douglas, mais leve, na vaga de Marcel. Já Marcelo Oliveira tirou Willian, cansado, por Élber, na ponta direita. E foi com ele que veio o gol da tranquilidade, do mesmo lado direito. O cruzamento achou a cabeça de Borges, sozinho, no meio da área.

Com dois laterais bem ofensivos, o Cruzeiro levantou nada menos do que 37 bolas na área (7 certos), o maior número até aqui no campeonato

Com dois laterais bem ofensivos, o Cruzeiro levantou nada menos do que 37 bolas na área (7 certos), o maior número até aqui no campeonato

Em desvantagem, o Criciúma tentou avançar suas linhas, com Lins saindo do meio para fazer um 4-3-2 ao lado de Douglas no ataque, numa última tentativa de achar o empate. Mas isso acabou piorando a situação no meio-campo, e o Cruzeiro desta vez conseguiu trocar passes sem sustos, e até eventualmente conseguir marcar mais um no pênalti incontestável em Dagoberto que ele mesmo cobrou.

Quase campeão, mas ainda verde

Não há como negar que a expulsão mudou a maneira de jogar das equipes na partida, mas dizer que foi o único fator responsável pelo resultado é demais. O Cruzeiro venceu por méritos próprios, tanto dos jogadores quanto de Marcelo Oliveira, que fez as trocas corretas para dar o melhor resultado tático possível.

Mas o susto no fim do primeiro tempo liga um alerta. Por causa dele, este blog se convenceu de que o Cruzeiro de fato ainda não sabe jogar de outra forma que não atacando com intensidade sempre. Este time ainda não é maduro para segurar a partida tendo a bola nos pés e diminuir o ritmo do jogo. Pode ter dado certo em alguns momentos nesta temporada, mas isto ainda é um fator a se evoluir. Não é surpreendente, no entanto, pois é uma equipe em sua primeira temporada e que não teve tempo para treinar variações, ainda que esteja liderando o campeonato com folga.

E, por isso mesmo, o provável título será ainda mais valorizado. Afinal, o Cruzeiro é uma equipe ainda longe de estar perfeita.