Cruzeiro 4 x 1 Atlético/MG – Futebol moderno

Intensidade. Os leitores mais assíduos já devem ter reparado que essa palavra é muito usada por aqui. Naturalmente, o futebol moderno exige intensidade — não confundir com velocidade. Eduardo Cecconi, grande blogueiro tático deste país e atualmente analista de desempenho das categorias de base do Grêmio, recentemente escreveu em um post no seu blog:

“Hoje no futebol, talvez muito mais importante que os sistemas táticos e os principais movimentos sincronizados entre os jogadores esteja a INTENSIDADE. Se houver intensidade de TODOS os jogadores em TODAS as cinco fases da partida que se alternam constantemente (e são elas, repetindo: posse de bola, recomposição defensiva, posse para o adversário, contra-ataque e bola parada) tudo é possível.”

De fato, foi o que o Cruzeiro procurou fazer desde o início da partida contra o Atlético Mineiro, reservas ou não: marcar com intensidade, encurtando espaços, e se movimentar com intensidade quanto tinha a bola. Futebol moderno, que culminou em mais uma goleada em cima do rival e na liderança do certame.

Formações

A intensidade do 4-2-3-1 cruzeirense do primeiro tempo foi o fator mais claro para o domínio do jogo

A intensidade do 4-2-3-1 cruzeirense do primeiro tempo foi o fator mais claro para o domínio do jogo

O Cruzeiro veio a campo no seu 4-2-3-1 de sempre, com Fábio no gol, Mayke e Egídio flanqueando Dedé e Bruno Rodrigo. Mais à frente, Nilton e Souza protegiam a área e se alternavam na ajuda ao trio de meias, formado por Everton Ribeiro na direita, Ricardo Goulart no centro e Luan à esquerda. Na frente, Vinicius Araújo.

Cuca poupou seus titulares, mas mandou o Atlético no mesmo sistema. O goleiro Giovane foi protegido pelos zagueiros Rafael Marques e Lucas Cândido, com Michel na lateral direita e Junior César na esquerda. Gilberto Silva comandou a volância, ajudado por Rosinei que saía um pouco mais para o ataque. A linha de três tinha Luan pela direita, Marcos Rocha no meio e Richarlyson na esquerda, atrás do centro-avante Alecsandro.

De ponta a ponta

Logo nos primeiros minutos já se via qual seria o padrão da partida: o Cruzeiro dominando as ações e tendo muito mais volume de jogo — também conhecido como posse de bola — e o time adversário mais recuado, se defendendo pra sair em contra-ataques. Esta marcação era feita com encaixe individual — não é por setor, é cada um no seu com um na sobra, como no time titular. E por essa razão que foi Richarlyson quem ocasionou a lesão de Mayke no início: o lateral cruzeirense nem estava na sua posição inicial, estava no círculo central, mas Richarlyson, que nesse jogo foi o ponteiro esquerdo e, portanto, o marcador de Mayke, foi atrás do garoto e fez a falta.

Logo após a substituição forçada, Dedé se viu sem cobertura numa despretensiosa cobrança de lateral e deu um bote errado dentro da área. O pênalti convertido assustou um pouco o time, e a intensidade se transformava em pressa por mais vezes do que o necessário. Alguns passes forçados demais, mais longos e errados. Já o Atlético queria proteger a todo custo a vantagem alcançada e se retraiu ainda mais, com Alecsandro recuando até a linha divisória e fazendo um quarteto com os ponteiros e Marcos Rocha, tentando bloquear os passes nos pés dos volantes cruzeirenses.

Passado o susto, o jogo voltou ao seu padrão inicial: Cruzeiro intenso e se movimentando. Com a bola nos pés, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart alternavam tentando desorganizar a marcação no meio. Chegou duas vezes, em jogada de Everton Ribeiro para Ceará em velocidade pela direita, cruzando para Vinicius Araújo, e em passe de Egídio para Luan, que deixou passar inteligentemente para Everton Ribeiro emendar, mas em cima de Giovane.

Virada com autoridade

Mas foi com intensidade em outra fase do jogo que saiu o empate. Quando perdia a bola, os jogadores celestes tentavam asfixiar o time adversário, forçando o chutão ou o passe errado. Alecsandro, ajudando na defesa, sofreu a pressão e tentou fazer uma jogada forçada, perdendo a dividida para Egídio. A bola sobrou na frente, Luan e Vinicius Araújo duelaram com Gilberto Silva, com o primeiro ganhando o lance e achando Everton Ribeiro dentro da área. Cercado por três, Ribeiro limpou todos com um toque e mandou no canto.

O gol não só tranquilizou como animou ainda mais o Cruzeiro, que continuou intenso e criando chances: Everton Ribeiro em passe preciso para Vinicius emendar, e depois Souza em cruzamento de Vinicius Araújo. A virada chegou numa cobrança de escanteio de Egídio, que resvalou na defesa e parou em Vinicius Araújo do outro lado. O garoto dominou com tranquilidade e cruzou rasteiro para Ricardo Goulart completar para o fundo do gol. E ainda havia tempo pra mais um lance, em que o Cruzeiro finalizou pelo menos três vezes ao gol, com nove jogadores do time adversário dentro da área — um lance que ilustrou bem a intensidade cruzeirense do primeiro tempo.

Jovens e atropelados

No segundo tempo, Cuca tirou Richarlyson da ponta esquerda e lançou Leleu em seu lugar. Mas a troca que delatou seu esquema defensivo foi a segunda: Jemerson na vaga de Rosinei, com o jovem zagueiro foi jogar no meio-campo, ao lado de Lucas Cândido, que inverteu com Gilberto Silva. Mas a intenção de usar a experiência do pentacampeão mundial na zaga, como Luxemburgo fez com sucesso no Grêmio no ano passado, saiu pela culatra, já que a volância é um dos setores onde se precisa de mais experiência para o combate direto no meio-campo. O ataque celeste simplesmente não tomou conhecimento dos dois jovens volantes, e já aos 7 Nilton aumentaria a vantagem em cobrança de escanteio, novamente, de Egídio, que já havia cruzando na cabeça de Dedé em tiro esquinado anterior.

Vinicius Araújo atrai Gilberto Silva para fora da área e abre espaço para Ricardo Goulart aproveitar ótimo passe de Everton Ribeiro

O lance do quarto gol exemplifica bem estes conceitos todos aqui postos. A marcação individual do Atlético fez com que Gilberto Silva, agora zagueiro, abandonasse a área e viesse acompanhar Vinicius Araújo, que havia recuado para receber um passe mais longo. O garoto dominou com o peito, a bola escapou um pouco, mas Everton Ribeiro vinha chegando e fez um passe de primeira para Ricardo Goulart, que vinha em velocidade exatamente na área que Gilberto Silva havia deixado. Jemerson tentou acompanhar, mas Goulart protegeu bem e tirou de Giovane.

Outras trocas

Muito para a infelicidade da torcida, que gritava “Eu acredito” no Mineirão, em alusão ao épico 6 a 1 de 2011, este gol resolveu a partida e, finalmente, o Cruzeiro respirou. Nem o Atlético se interessou por tentar diminuir a diferença nem o Cruzeiro em aumentá-la, e com os passes de Dedé pra Bruno Rodrigo e vice-versa, vieram os primeiros gritos de “olé”, aos 20 minutos da etapa final — o Cruzeiro terminaria com quase 60% de posse de bola, um número pouco comum em clássicos.

Marcelo Oliveira ainda trocaria Luan por Martinuccio, também ponteiro esquerdo, e Vinicius Araújo pelo estreante Willian, que foi para a direita, mandando Everton Ribeiro para o centro, com Ricardo Goulart se tornando o centro-avante. Cuca também lançou Elder na vaga de Luan, mas sem mudar posições, e nada mais interessante aconteceu na partida. Sinal disso é que o segundo tempo terminou sem acréscimos, aos 45.

Pés no chão

A sequência de 5 vitórias seguidas no Brasileiro e na Copa do Brasil, marcando 16 gols e sofrendo apenas um, sem dúvidas é um fator que anima o cruzeirense a sonhos mais altos nessa temporada. No entanto, mais importante que isso é a consistência tática do time, fruto do trabalho de Marcelo Oliveira. Insistir sempre no mesmo esquema pode tornar a equipe previsível para o adversário, mas a movimentação e intensidade “bagunçam” tudo de novo.

Assim, acredito que o Cruzeiro esteja taticamente bem servido. Entretanto, é preciso testar outros limites deste time, que já fogem ao escopo deste blog: o limite psicológico, o limite físico, a pressão de se brigar pelo título, de manter a liderança, o ambiente no vestiário. O próximo jogo contra um Fluminense em crise será um bom termômetro.

E se o Cruzeiro foi aprovado em todos os testes até agora, não há razão para não crer que não passará por estes outros.

São Paulo 0 x 3 Cruzeiro – Truque de cartola

Como todos sabem, o futebol foi inventado na Inglaterra no fim do século XIX, durante o reinado da Rainha Vitória. Este período ficou conhecido como a Era Vitoriana, um tempo de prosperidade para o Reino Unido. E também nesta época foi cunhado o termo “hat-trick” (truque de cartola, numa tradução livre), referindo-se a um truque no qual um mágico tirava três coelhos de uma cartola posta sobre uma mesa. No ludopédio, a expressão passou a ser usada quando um jogador marca três vezes na mesma partida.

E foi o que Luan fez sábado à noite no Morumbi. Porém, ao contrário do que sugere a etimologia, o hat-trick de Luan não foi mágico e nem truque, e sim fruto de competência celeste e incompetência do time paulista.

Onze inicial

No primeiro tempo, um 4-2-3-1 propositalmente sem intensidade mas com espaços pela esquerda nas costas de Everton Ribeiro

No primeiro tempo, um 4-2-3-1 propositalmente sem intensidade mas com espaços pela esquerda nas costas de Everton Ribeiro

Marcelo Oliveira voltou com seus titulares poupados, com Luan pela esquerda, Everton Ribeiro na direita e Ricardo Goulart por dentro, atrás de Vinicius Araújo. Na volância, Nilton cada vez mais acostumado a ser primeiro volante, e Souza, saindo mais para o jogo. E mais atrás, Mayke e Egídio fechavam os lados da zaga com Dedé e Bruno Rodrigo, todos capitaneados por Fábio no gol — o 4-2-3-1 de sempre.

Paulo Autuori, em início de trabalho, preferiu repetir o time que perdeu a Recopa Sulamericana para o Corinthians. O São Paulo se postou num 4-2-3-1 muito parecido com o cruzeirense, com Jádson caindo pela direita mas centralizando na posse, procurando Ganso, e Osvaldo partia da esquerda e se aproximava de Luís Fabiano na frente, fazendo o time ficar com uma cara de 4-2-2-2. O goleiro Rogério Ceni teve uma linha defensiva composta por Lúcio e Rafael Tolói, com Douglas na lateral direita e Clemente Rodriguez do outro lado, e Denilson e Rodrigo Caio como volantes, este último caindo muito mais à esquerda.

Estratégias defensivas

No início, faltou um componente fundamental para que um futebol moderno e envolvente aparecesse: a intensidade. Pois o Cruzeiro tirou de propósito o ritmo da partida, marcando com muita segurança. A ideia de Marcelo Oliveira, como ele mesmo explicou depois do jogo, tinha dois propósitos: enervar a torcida adversária, tentando aproveitar o mau momento do São Paulo, e usar da melhor condição física no segundo tempo, já que no meio de semana os titulares não jogaram e o São Paulo passou por uma decisão.

Assim, nem o Cruzeiro marcava por pressão na frente, como lhe é característico, e nem o São Paulo, que por viver um mau momento, preferiu se retrair para não sofrer gols e causar ainda mais impaciência em seu torcedor. Após duas chances criadas no início, o Cruzeiro segurou o São Paulo com tranquilidade, e só fez Fábio trabalhar aos 27 minutos, em erro num bote de Egídio que deixou os zagueiros no mano-a-mano.

O lado direito

O único setor onde o São Paulo poderia ter ameaçado mais era o lado direito, nas costas de Everton Ribeiro. Quando a jogada era pelo lado esquerdo, o meia ficava muito próximo para encurtar o espaço. Virada de jogo, e Clemente Rodriguez achava muit espaço para avançar. Não era raro ver Everton Ribeiro correndo em diagonal de volta a seu campo para não sobrecarregar Mayke à frente contra Osvaldo e Clemente Rodriguez.

Felizmente, o nosso jovem lateral direito fez mais uma partida estupenda na marcação. Parece que ele vem aprendendo com Ceará e tem segurando o seu ímpeto ofensivo natural para recompor com muita propriedade a linha defensiva. Osvaldo, que é uma das principais válvulas de escape da equipe paulista, foi muito bem marcado enquanto esteve jogando aberto pela esquerda. Em um determinado momento, Osvaldo passou a compor uma dupla de centroavantes ao lado de Luís Fabiano, por ordem de Paulo Autuori, e Mayke virou quase um zagueiro de área, novamente exercendo bem a função defensiva.

Portanto, com Mayke mais preso, era natural que o Cruzeiro tentasse atacar mais pelo outro lado, mas Rodrigo Caio caía por ali e cobria Jádson, que também voltava com Egídio, congestionando o setor. Ricardo Goulart aparecia para o jogo, mas cadenciava ao invés de dar velocidade — provavelmente a pedido de Marcelo Oliveira. O primeiro tempo acabou com a sensação de que, tivesse o Cruzeiro acelerado um pouco mais, teria conseguido vencer sem dificuldade a defesa tricolor.

Etapa final

Não houve trocas no intervalo, mas houve mudança na postura do São Paulo, talvez encorajada pela estratégia cruzeirense de se poupar no primeiro tempo. O time da casa acelerava o jogo quando o Cruzeiro errava, tentando pegar a defesa celeste saindo para o ataque. Conseguiu assustar duas vezes, a primeira em passe de Ganso para Jadson chutar em cima de Fábio, e a outra quando Egídio avança e erra o passe, abrindo espaço às suas costas que Jádson aproveitou, recebendo novo passe de Ganso e cruzando perigosamente para dentro da área. Bruno Rodrigo resvalou e Fábio salvou novamente.

Logo depois, Luan abriu a contagem em cruzamento despretensioso de Mayke. Mérito do atacante, que acertou um lindo chute de primeira no ângulo de Rogério, prevendo o erro de Douglas, que pulou no tempo errado. O gol esfriou o ímpeto são-paulino, e o Cruzeiro passou a controlar a partida, perigosamente. Aloísio entrou na vaga de um inoperante Luís Fabiano, dando mais velocidade ao ataque. Duas chances aconteceram para o time da casa: Dedé errou o tempo da bola, que sobrou para Jádson cruzar e Fábio salvar nos pés de Aloísio; depois, Bruno Rodrigo arriscou uma linha de impedimento que deu errado, deixando Aloísio entrar na cara de Fábio. Assustado com a grandeza de nosso arqueiro, o atacante chutou pra fora.

Aula de contra-ataques

Com Martinuccio, Luan foi para o centro e o time se postou num 4-2-3-1/4-4-1-1 armado para contra-atacar

Àquela altura, Lucca já havia entrado na vaga de Ricardo Goulart, indo para a direita e mandando Everton Ribeiro para o centro. Mas foi a segunda substituição que mudou a partida: Everton Ribeiro deu seu lugar a Martinuccio, empurrando Luan para o centro, quase num 4-4-1-1. A ideia era clara: usar a velocidade dos dois ponteiros para puxar contra-ataques e matar o jogo, e no primeiro lance isso já aconteceu. Martinuccio lançou Vinicius Araújo, que com muita visão de jogo passou para Luan ganhar na corrida e na força de Clemente Rodriguez e vencer Rogério Ceni.

Logo após o gol, Paulo Autori tentou suas últimas cartadas, tirando Osvaldo e Denilson e lançando Silvinho e Roni. Parecia um 4-1-2-3, com Roni mais avançado ao lado de Ganso, deixando Rodrigo Caio sozinho na proteção, e Jádson e Silvinho de ponteiros. Mas não deu tempo de dar certo, pois quase num repeteco, Martinuccio avançou com velocidade e Vinicius Araújo puxa a marcação brilhantemente para o lado, abrindo um clarão imenso para Luan. Martinuccio deu um passe curto demais, mas Luan ganhou a dividida com Rodrigo Caio, e ficou novamente de frente para Rogério Ceni. Com muita frieza, escolheu o canto e tirou o terceiro coelho da cartola.

A brilhante movimentação de Vinicius Araújo no terceiro gol, arrastando Lúcio e abrindo espaço para Luan

A brilhante movimentação de Vinicius Araújo no terceiro gol, arrastando Lúcio e abrindo espaço para Luan

Com o jogo resolvido, Marcelo Oliveira estreou o ex-CSA Leandrinho na vaga de Mayke, para dar rotatividade ao elenco, mas o jogador teve pouco tempo para mostrar seu futebol.

Riscos, evolução e rivalidade

A estratégia deu certo, mas foi arriscada. O São Paulo teve chances de abrir o marcador antes do Cruzeiro, e certamente se encastelaria para segurar a vitória que há muito não vem. O ideal seria dar velocidade e já abrir o placar no primeiro tempo, provocando a ira da torcida e enervando ainda mais o time adversário. O aspecto físico faria diferença de qualquer forma no segundo tempo.

Além disso, ainda há alguns problemas na defesa cruzeirense. Egídio erra muitos passes, alguns com o time avançando o posicionamento para começar a ofensiva, e Dedé e Bruno Rodrigo tem errado alguns fundamentos, proporcionando chances em demasiado para os atacantes adversários, principalmente Dedé, que tem se mostrado um tanto estabanado para dar o bote. Felizmente, a fase ruim do São Paulo ajudou a tirar a concentração dos atacantes na hora de concluir.

No entanto, a equipe vem mostrando que assimilou o jeito de jogar e parece estar bem confortável com o sistema — o que é surpreendente para um trabalho de apenas sete meses. Mayke vem agradando muito no quesito defensivo –o lateral foi o segundo melhor em campo de acordo com o WhoScored.com, atrás de Luan, por razões óbvias. E o ataque vem mudando com frequência sem perder a eficácia, mas ainda gostaria de ver Everton Ribeiro como nosso meia central. Com a provável chegada de Júlio Baptista, isso pode ser mais difícil de acontecer.

Agora é o Superclássico. Independentemente do resultado do meio de semana, será mais um bom teste para a equipe, o primeiro bom teste no Mineirão neste campeonato. Até agora, o Cruzeiro vem sendo aprovado em quase todos os grandes jogos. E, se continuar assim e melhorar pequenos pontos aqui e ali, com certeza será aprovado em mais um.

Atlético/GO 0 x 1 Cruzeiro – Sonolento mas interessante

Eu havia cogitado não escrever a respeito desta partida, pois já se sabia que o time que iria jogar não era o titular, e portanto seria uma análise isolada das outras e sem parâmetro de comparação. Porém, como o confronto já tinha sido decidido no jogo de ida, as experiências dos treinadores foram tantas que a partida mereceu um post mais curto.

Partidas que valem-mas-não-valem, como esta, são excelentes para fazer experimentos no time, pois o resultado é o que menos importa. O Cruzeiro querendo rodar o seu elenco, se preparando para a maratona de quarta e domingo que está por vir, enquanto que o Atlético Goianiense quis dar ritmo ao seu novo time, reformulado após a chacoalhada sofrida na semana passada e a derrota no jogo da Série B.

Formações

O mistão celeste no 4-2-3-1: Tinga mais contido que Lucca e espaço à frente dos dois "primeiros" volantes

O mistão celeste no 4-2-3-1: Tinga mais contido que Lucca e espaço à frente dos dois “primeiros” volantes

Marcelo Oliveira só mandou três titulares a campo, mas manteve o 4-2-3-1. O gol de Fábio foi protegido pelos zagueiros Paulão e Léo, ladeados por Egídio na esquerda e Lucas Silva — isso mesmo — na lateral direita. Uelliton e Leandro Guerreiro ficaram na dupla volância atrás da linha de três, com Tinga fazendo o lado direito mais contido, o recém-promovido à titularidade Ricardo Goulart partindo do centro e circulando, e Lucca pela esquerda com mais liberdade para atacar. Na frente, Anselmo Ramon duelava com os zagueiros.

O esquema de Renê Simões tinha muitas particularidades interessantes. Era um 4-5-1 com meio-campo em linha sem a bola e que virava um 4-3-2-1 na fase ofensiva, com os “ponteiros” Diogo Campos pela direita e João Paulo pela esquerda centralizando e se aproximando de Ricardo Jesus. Renan Foguinho era o volante mais plantado, o que dava mais liberdade para Dodó e Marino avançarem. E, por fim, a linha defensiva do goleiro Márcio tinha Jorginho — com a camisa 10 — na lateral direita, Artur e Diego Giaretta no miolo de zaga e Ernandes na lateral esquerda.

Lentidão e espaços

Esse posicionamento do time goiano sem a bola lotava a entrada da área com os três volantes. Com os meias acompanhando os laterais, só Ricardo Jesus raramente tentava pressionar Léo e Paulão, que trocavam bolas sem muita dificuldade, o que fazia a partida ser bem sonolenta. Já o Cruzeiro, quando perdia a bola, tentava retomar, mas sem a mesma intensidade característica — naturalmente, pois é difícil dar motivação para jogadores em um jogo que pouco interessa.

Outro aspecto é o espaço entre os volantes e os meias. Leandro Guerreiro e Uelliton são primeiros volantes, e não tem característica de sair pro jogo. Ricardo Goulart participava pouco do trabalho defensivo, e Tinga e Lucca voltavam só até a intermediária, abrindo um grande espaço na frente da área celeste. Não foram poucas as vezes em que um jogador goiano teve liberdade naquele setor.

O jogo era tão lento que, quando as equipes arriscavam acelerar um pouco, conseguiam criar. Foi assim o gol: bola roubada, Ricardo Goulart teve toda a liberdade do mundo para pensar no melhor passe ao mesmo tempo em que Lucca saía da esquerda e ia para o centro, abrindo o flanco para Anselmo Ramon receber o passe em profundidade, cruzar de três dedos de primeira para Lucca completar e marcar o gol solitário da partida.

As trocas

No final, zagueiro Leo e atacante Luan improvisados como laterais, mas sem tomar sustos

No final, zagueiro Leo e atacante Luan improvisados como laterais, mas sem tomar sustos

Entretanto, a parte mais interessante — taticamente falando — foram as trocas. No Atlético, Renê Simões foi aos poucos fazendo o time ficar num esquema mais “normal”, mas mesmo assim com jogadores improvisados. A primeira substituição foi tirar o meia-esquerda João Paulo e colocar o ponteiro-esquerdo Caio. A diferença é que o jogador permanecia aberto ao invés de centralizar. Depois, Dodó deu seu lugar a Mahatma Ghandi — nome mais do que apropriado para uma partida nessa intensidade — que foi ser lateral esquerdo, empurrando Ernandes para o meio-campo. E por fim, Diogo Campos — que apesar de estar com a camisa 2 e a repórter da TV insistir que ele estava jogando na lateral direita, é atacante de ofício e estava na meia-direita — deu seu lugar a Juninho, que espelhou a movimentação de Caio do outro lado. No fim, o time goiano estava num 4-3-3 clássico, com dois meias, dois atacantes abertos centro-avante.

Já no Cruzeiro, as substituições de Marcelo Oliveira foram muito mais “estranhas”. A entrada de Martinuccio na vaga de Ricardo Goulart no intervalo não chega a ser classificada assim — o gringo indo fazer o lado esquerdo que lhe é característico e Lucca invertendo para a direita e Tinga passando para o meio — mas depois Egídio deu lugar a Luan, que foi fazer a bizarra função de ser lateral esquerdo. E mais pro fim da partida, o zagueiro Wallace entrou na vaga de Lucas Silva, e quem foi fazer a lateral direita foi Léo, que até arriscou um apoio ao ataque ao fim da partida. Assim, no fim do jogo, a linha defensiva celeste era Leo, Wallace, Paulão e Luan.

Pra que serviu, então?

Rodar o elenco é fundamental em um time grande de futebol. Não só pra poupar os titulares, mas pra dar ritmo aos reservas, que certamente serão acionados mais pra frente devido a inevitáveis lesões e suspensões. Marcelo aproveitou também para tentar ampliar o seu leque de opções, vendo a resposta que os jogadores dariam em posições que não lhe são naturais. Mas valeu pela manutenção dos 100%, e pra aumentar o aproveitamento em 2013 para impressionantes 81,3% (19 vitórias, 4 empates e apenas 2 derrotas no ano).

A fala de Tinga após o jogo reflete como o Cruzeiro encarou a partida: “Eu venho jogando quase todas as partidas, mas maioria [dos jogadores] estava há muito tempo sem jogar, sem entrosamento. Deu pra ver que o Cruzeiro está com um plantel bom. A vitória foi importante para mostrar a força do grupo. Pra conquistar algo importante nesta temporada tem que ter um grupo forte.”

De fato faltou entrosamento, mas também faltou intensidade, porque faltou motivação, o que é natural, causando o baixo nível técnico da partida. Na parte tática, entretanto, foi muito mais interessante.

Cruzeiro 3 x 0 Náutico – Chegadas e partidas

Então Diego Souza saiu. Diego vinha sendo o pilar central no meio-campo celeste, o meia por dentro do 4-2-3-1, e sua história no futebol faziam dele um ímã natural da marcação adversária. Entretanto, sua saída pode ser benéfica para o time. Isso porque, nas palavras do próprio Marcelo Oliveira antes do início da partida, com saída do camisa 10, “perdemos na experiência, na proteção da bola, na cadência, mas ganhamos em mobilidade.” E, num 4-2-3-1 moderno, é fundamental que os três meias se movimentem muito. As melhores partidas do Cruzeiro no ano tiveram um Diego Souza com mais energia, saindo do meio e abrindo espaço para os ponteiros ali penetrarem, confundindo a marcação adversária.

Na 1ª etapa, Ricardo Goulart pelo meio se movimentando, e Mayke mais contido que Egídio

Na 1ª etapa, Ricardo Goulart pelo meio se movimentando, e Mayke mais contido que Egídio

Foi um pouco do que aconteceu no Mineirão, no domingo à noite contra o Náutico. Sem Diego, Marcelo Oliveira mandou Lucca em seu lugar, que foi fazer o lado esquerdo, com Ricardo Goulart, que seria o substituto de Luan, suspenso, deslocado para a faixa central. Everton Ribeiro permaneceu na direita. O resto do time foi o de sempre, com Fábio no gol, Mayke e Egídio nas laterais, Dedé e Bruno Rodrigo na zaga, Nilton e Souza na volância e Vinicius Araújo na frente.

No início do jogo, foi difícil definir o desenho que Zé Teodoro imaginou para o time pernambucano, principalmente no meio-campo. O goleiro estreante Ricardo Berna tinha em sua linha defensiva Maranhão pela direita, João Felipe e William Alves na zaga e Eltinho na lateral esquerda. No ataque, o centro-avante Olivera tinha a companhia de Rogério, caindo pelas pontas, e um pouco mais atrás estava Marcos Vinicius. Os três homens restantes eram volantes, com Auremir mais preso e mais à esquerda, e Derley e Magrão com mais liberdade para sair, Derley pela direita e Magrão pelo centro. Algo entre um 4-3-1-2 losango (porém com os volantes alinhados) e um 4-3-3 defensivo, com o meio-campo em linha e Marcos Vinicius saindo do centro para o lado esquerdo.

Ritmo forte pela esquerda

Como vem acontecendo frequentemente, o Cruzeiro começou o jogo marcando por pressão no alto do campo. Isso resultou numa posse de bola que chegou a 80% em um determinado momento do primeiro tempo. Auremir ajudava Eltinho a fechar o lado esquerdo da defesa pernambucana, provavelmente tentando bloquear as investidas de Everton Ribeiro por ali, e como Mayke ficava um pouco mais preso, muito provavelmente sob determinação de Marcelo Oliveira, era natural que Egídio e Lucca tivessem mais liberdade pela canhota. Também porque Rogério não voltava acompanhando o lateral cruzeirense, e quem tentava ajudar o pobre Maranhão era Derley, que era um volante pela direita com mais liberdade para atacar.

Com menos de dez minutos de jogo, o lateral direito do Náutico já se via combantendo dois cruzeirenses ao mesmo tempo, e foi assim que saiu a jogada do primeiro gol. Egídio e Lucca fizeram o dois contra um, passe do primeiro para o segundo, livre, cruzar para o gol de Ricardo Goulart.

Egídio e Lucca fazendo dois contra um no primeiro gol do Cruzeiro

Egídio e Lucca fazendo dois contra um no primeiro gol do Cruzeiro

O gol muda o jogo

Como é normal no futebol, o resultado corrente da partida muda as estratégias. Em tese, o Náutico teria que ter mais a bola nos pés, saindo de suas trincheiras para tentar levar mais perigo ao gol de Fábio. Com isso, o Cruzeiro teria mais espaço para jogar. As duas coisas aconteceram, mas não por iniciativa do time pernambucano e sim por que o Cruzeiro começou a errar passes em demasia, principalmente os passes mais incisivos. Com mais espaço, as tentativas de um passe mais difícil são maiores, e também os erros. No fim da partida, Everton Ribeiro ilustrou bem isso em sua entrevista: “Eles abriram muito, então fica mais fácil de errar porque a gente tenta mais.”

Além disso, o técnico Zé Teodoro mandou Marcos Vinicius e Rogério inverterem de lado no 4-3-3 com meio-campo em linha. O jovem meia Marcos Vinicius é, teoricamente, mais “defensivo” que seu companheiro de time, atacante, e agora tinha de acompanhar Egídio, deixando Mayke por conta de Rogério. Funcionou em certa medida, e o lateral esquerdo só levou algum perigo em jogada de condução da bola em velocidade, que vem sendo uma de suas características mais marcantes. O cruzamento passou perto do pé de Ricardo Goulart, mas não o encontrou.

Trio leve pela direita

Corroborando o que Marcelo Oliveira disse antes do jogo, é notória a diferença da movimentação do trio de meias sem Diego Souza — e sem Luan, pelo mesmo motivo. Ricardo Goulart não se escondeu do jogo, se movimentou pelos flancos e apareceu na área — como no lance do gol. Pela esquerda, ajudava Lucca, que é muito mais leve que Luan, mas fazendo a mesma função de acompanhar o lateral adversário sem a bola.

Mas essa característica de leveza apareceria bem mais após o intervalo, que não teve substituições mas teve mudanças: Ricardo Goulart agora era ponteiro esquerdo, Lucca era o direito e Everton Ribeiro ficou por dentro. Auremir também inverteu o lado da sua marcação e foi ajudar Maranhão contra Egídio e Goulart. Mas isso acabou liberando espaço na direita que, antes inexplorado, agora era invadido por Mayke e Lucca, sendo ajudados por Everton Ribeiro. O jovem lateral celeste tinha sempre muito espaço para avançar sem ser incomodado, já que nem Rogério nem Marcos Vinicius acompanhavam suas ofensivas.

Tanto espaço acabou por ser explorado justamente por Everton Ribeiro, que puxou um contra-ataque pelo meio, avançando de forma meio atabalhoada. Ele achou Lucca mais à frente e fez a ultrapassagem, onde não havia ninguém do time pernambucano. Lucca recuou para Vinicius Araújo, que deu um passe magistral de volta para o camisa 17. O goleiro salvou o primeiro, mas na segunda jogada Vinicius Araújo, que estava fora da área quando fez o passe, apareceu como um bom centro-avante e fuzilou.

Poucos minutos depois, uma jogada que mostrou bem a postura cruzeirense. Everton Ribeiro pressionou a zaga e roubou a bola, achando Mayke totalmente livre pela direita. O cabeceio de Ricardo Goulart, do outro lado da área, só parou na mão do zagueiro.

Bastante espaço para Mayke.

Bastante espaço para Mayke.

Trocas

O melhor momento do Cruzeiro na partida foi no início da etapa final, com Ribeiro centralizado, Lucca na direita e Goulart na esquerda

Zé Teodoro continuou o jogo de xadrez trocando Magrão por Jonatas Belusso, atacante, que foi jogar na ponta esquerda. Rogério permaneceu na ponta direita e o time agora tinha uma cara mais definida, um 4-2-1-3. Não era 4-2-3-1 porque os pontas continuavam não voltando com os laterais, mas a presença destes dois jogadores abertos nas pontas inibiu o ímpeto ofensivo de Egídio e Mayke, e o Cruzeiro perdeu um pouco do volume. Mesmo assim, a defesa sobressaía, principalmente sobre Marcos Vinícius, que seria substituído poucos minutos depois por Dadá, que é volante, mas fez a mesma função.

No Cruzeiro, Lucca deu seu lugar a Martinuccio, que inicialmente ficou pelo centro, deslocando Ribeiro para a direita. Goulart permaneceu do lado esquerdo, por onde fez a jogada do segundo gol. Tentou aplicar um drible em João Felipe, mas o zagueiro tomou-lhe à frente, tentando proteger para ganhar o tiro de meta. A insistência valeu a posse de bola dentro da área, de onde passou a Vinicius Araújo fazer o seu segundo na noite.

Com grande vantagem, o Cruzeiro tirou o pé e se contentou em segurar o time pernambucano, que não conseguia incomodar muito. Anselmo Ramon entrou na vaga de Vinicius Araújo e Tinga na de Ricardo Goulart. O primeiro para fazer o famoso jogo de pivô — destacado na jogada com Nilton ultrapassando e que seria um golaço — e o segundo pra encorpar o meio e dar mais cadência à partida já decidida. Zé Teodoro ainda tiraria Olivera para mandar Jones Carioca na ponta direita e empurrando Belusso para o centro do ataque, mas o jogador mais defendeu do que atacou.

Bons frutos

A experiência de Marcelo Oliveira no início do segundo tempo tem que ser repetida mais vezes, a saber: Everton Ribeiro no centro da linha de três. Boa visão de jogo, bom passe e velocidade suficiente para puxar um contra-ataque veloz, precisando apenas melhorar a finalização. Com a chegada de Willian, envolvido na negociação com Diego Souza e que faz bem o lado direito, é muito provável que isso aconteça, fazendo o Cruzeiro ficar num 4-2-3-1, digamos, mais “tradicional”, com dois ponteiros atacantes de ofício (ao invés de um meia e um atacante, como é hoje), voltando com o lateral adversário.

Mas se o treinador optar pelo modelo atual, Ricardo Goulart provou hoje que tem condições de ser um meia central eficiente. Ele já havia mostrado isso no primeiro jogo da temporada, quando jogou na mesma posição, e nessa partida foi eleito o melhor em campo pelo site WhoScored.com. Além disso, a se destacar as atuações de Vinicius Araújo, cada vez mais à vontade no comando do ataque, Egídio, que ainda tem problemas defensivos mas qualidades indiscutíveis no apoio, e Nilton, se acostumando à função de primeiro volante.

Negativamente, o número excessivo de passes errados. Isso é um pouco relativizado pelo fato de que o entrosamento que tinha sido conquistado até aqui tenha diminuído com a mudança das peças do time: as lesões de Ceará, Borges e Dagoberto; a suspensão de Luan, que vinha sendo o titular na ausência dos dois primeiros; a entrada de Souza na equipe, mudando um pouco a característica do time; e agora a saída de Diego Souza, titular até então absoluto de Marcelo Oliveira.

É claro que o impressionante número de 8 gols em dois jogos são diminuídos pela fragilidade dos adversários, mas é isso o que bons times fazem: massacram os adversários fracos. Há times grandes por aí que sofrem pra vencer os considerados pequenos, isso quando vencem. Mas será nas próximas rodadas que o Cruzeiro mostrará a que veio nesse campeonato, pois são jogos contra São Paulo, que mesmo em crise, é uma pedra no sapato celeste, e Atlético/MG, em alta por causa dos resultados que nunca teve na Libertadores. Bons resultados nesses jogos credenciarão o time de vez ao título.

E, sinceramente? Esse ano dá pra chegar.

Cruzeiro 5 x 0 Atlético/GO – Bom, mas nem tanto

O Cruzeiro reencontrou o Mineirão com uma pentagoleada sobre o Atlético Goianiense, com gols de cinco jogadores diferentes, e praticamente garantiu passagem às oitavas da Copa do Brasil. Entretanto, o jogo não foi tão bom taticamente, mas o Cruzeiro soube aproveitar as fragilidades do adversário para marcar. Ao contrário do que muitas críticas que li em vários sites, não achei uma exibição exemplar.

Escretes iniciais

Com Diego mais próximo de Vinicius Araújo, Cruzeiro pressionou a saída dois goianos no primeiro tempo, mas sem qualidade de passe

Com Diego mais próximo de Vinicius Araújo, Cruzeiro pressionou a saída dois goianos no primeiro tempo, mas sem qualidade de passe

Marcelo Oliveira mandou o mesmo time que enfrentou a Portuguesa no fim de semana, no já usual 4-2-3-1: o gol de Fábio protegido por Dedé e Bruno Rodrigo, com Mayke na direita e Egídio fechando pela esquerda. Nilton mais plantado liberava Souza, que se juntava ao trio de meias: Everton Ribeiro vindo da direita pro centro, Diego Souza por dentro mas se aproximando de Vinicius Araújo na frente e Luan um pouco mais preso à faixa esquerda.

O Atlético Goianiense de Renê Simões também veio no 4-2-3-1, mas com o posicionamento mais fixo. O goleiro Márcio teve Diogo Campos à direita, Artur e Diego Giaretta na zaga central e Ernandes na esquerda. Na dupla volância, Dodó e Marino ajudavam João Paulo por dentro, que era flanqueado por Pipico na destra e Jorginho na esquerda, todos procurando o centro-avante Ricardo Jesus.

Pressão na frente

Diferentemente do que fez contra a Portuguesa, logo no início do jogo o Cruzeiro avançou a marcação e forçava ou o chute longo ou a saída de bola errada do time goiano. Mas, ao recuperar a bola, não sabia muito bem o que fazer com ela. O Atlético Goianiense aproximava suas linhas e dificultava a saída pelo chão, fazendo com que os zagueiros e volantes cruzeirenses trocassem passes sem ser incomodados. Souza até tinha tempo com a bola, mas não consguia achar alvos à frente. Diego e Everton Ribeiro, muito marcados, não tinham condições de receber os passes com tempo para pensar o jogo, e assim o trabalho ofensivo era forçado para os laterais. Egídio saía mais que Mayke no início do jogo, mas foi numa jogada pela direita que saiu o primeiro gol, logo aos 10 minutos, com Diego Souza.

Como é de praxe, o gol mudou o jogo. O Atlético Goianiense ficou menos tímido e, quando conseguia sair da pressão no alto do campo imposta pelo Cruzeiro, conseguia achar bolsões de espaço justamente atrás dos ponteiros, particularmente Everton Ribeiro, que não volta tanto com o lateral adversário como Luan faz do outro lado. Num desses lances, Pipico conseguiu iludir a marcação e chutar de dentro da área, em falha de posicionamento de Dedé.

Já o Cruzeiro não diminuiu o seu ritmo, mas pecava na hora de decidir entre acelerar e cadenciar o jogo. Na expectativa de pegar a defesa goiana aberta, o Cruzeiro muitas vezes errava um passe bobo, pois queria acelerar demais o jogo quando não era necessário, e rapidamente concedia novamente a posse de bola. Quando encaixava o passe, porém, chegava com facilidade sobre a lenta defesa goiana. Assim, mesmo sem fazer muita força e com alguns problemas coletivos, o Cruzeiro dominava a partida, fazendo ainda mais dois gols de cabeça em cobranças de falta pelo lado: uma pela esquerda, com Souza mandando na cabeça de Vinicius Araújo, e outra pela esquerda, com Egídio assistindo Dedé.

Segundo tempo

No intervalo, Renê Simões trocou Jorginho por Robston e Pipico por Juninho. Robston foi jogar mais perto de Dodó, fazendo um terceiro homem de meio-campo, e João Paulo foi ser ponteiro esquerdo. Já Juninho foi uma substituição direta, para tentar explorar sua velocidade nas costas de Egídio — um espaço que o lateral deixa e que já foi citado neste blog. O time visitante acabou se postando num 4-3-3 que virava 4-1-4-1 sem a bola, encaixando ainda mais a marcação no time celeste. Isso equilibrou o jogo, e o Cruzeiro já não domínio escancarado da posse de bola e nem tanto domínio territorial. Não houve muitas chances para cada lado, porém.

E se o jogo já estava morno com o 3 a 0, o quarto gol esfriou a partida de vez. Egídio contava com a entrega tática de Luan para continuar apoiando, e na primeira investida ao ataque, cruzou para Vinicius Araújo. Um erro de linha de impedimento da zaga goiana e um corta-luz involuntário do garoto fizeram a bola sobrar limpa para Everton Ribeiro completar para o gol vazio.

Com dez

Após a expulsão e as mudanças, o Cruzeiro se encastelou num 4-4-1 bem compacto que não deu chances para o adversário

Após a expulsão e as mudanças, o Cruzeiro se encastelou num 4-4-1 bem compacto que não deu chances para o adversário

Pouco tempo depois do gol, Bruno Rodrigo foi expulso ao disputar de carrinho uma bola que ele mesmo errou na saída. Um erro infantil para um zagueiro experiente e com o jogo já decidido. Antes das substituições de recomposição, Nilton recuou para a zaga, Diego Souza afundou pra segunda linha e os dois ponteiros se alinharam a ela, ensaiando o 4-4-1 que estaria por vir — o esquema padrão para jogar com dez homens. Os sacrificados foram Everton Ribeiro e Diego Souza, com Léo indo compor a zaga e Nilton retornando ao meio-campo, e Tinga entrando pela direita.

As linhas compactas do Cruzeiro eram mais que suficientes para Fábio se sentir seguro debaixo das traves. O Atlético Goianiense tinha mais a bola, naturalmente, mas não conseguia invadir a área para finalizar com mais qualidade — apenas chutes de longe eram tentados. Renê Simões ainda tentou lançar Caio na vaga de João Paulo, mas isso piorou o time, pois Caio foi jogar por dentro ao invés de ir pela esquerda, transformando o time num 4-3-1-2 losango. A regra padrão para se jogar contra dez jogadores é tentar abrir a defesa, com jogadores de ambos os lados, e o losango é um sistema conhecido por ser estreito. Ernandes bem que tentou apoiar, mas Tinga e Mayke seguraram bem as investidas do lateral esquerdo goiano.

Ainda sobrou tempo para Egídio roubar uma bola do zagueiro Artur e acertar um lindo chute de fora da área, completando a goleada. Mérito do lateral esquerdo, tão contestado pela torcida pela sua deficiência na marcação e por alguns passes afobados. Neste jogo, foi um dos principais jogadores em campo.

No fim, Marcelo Oliveira fez a última substituição, mantendo o 4-4-1 com Ricardo Goulart na vaga de Vinicius Araújo. A troca não foi só para o garoto ser aplaudido na saída, mas também porque Goulart consegue segurar mais a bola no pé ao invés de fazer pivô, limpando a jogada e cadenciando. Fosse para fazer pivô, o escolhido seria Anselmo Ramon, mas isso só faria sentido se os ponteiros fosse rápidos, coisa que Luan e Tinga certamente não são.

Um passo atrás

Estes dois jogos após a Copa das Confederações mostraram que o Cruzeiro perdeu um pouco do entrosamento conquistado até junho. É claro que as lesões de Dagoberto e Borges contribuíram para isso, mas o fator principal foi a chegada de Souza, um volante com características bem diferentes de Nilton e Leandro Guerreiro, que vinha sendo a dupla titular. Este era um problema que este blog já relatava no primeiro semestre, a falta de um volante passador. Pois bem, ele chegou, e com isso o time mudou sua característica. Ainda vai levar um tempo maior para o time se adaptar a isso.

Também é primordial que Marcelo Oliveira encontre uma solução para o pouco trabalho defensivo de Everton Ribeiro, e também para a cobertura de Egídio — ou fazer o lateral esquerdo treinar mais a defesa de seu setor. Hoje, estes são os setores que me parece mais vulneráveis na equipe celeste, e isso se tornará um problema ainda maior com a volta de Dagoberto, que não defende tanto quanto Luan.

E mais: com Dagoberto, Mayke e Souza, o time celeste passa a ter uma característica muito ofensiva, até um pouco desequilibrada, o que faz com que os passes errados sejam uma questão que deve ser resolvida o quanto antes. Não há problema em ter esta vocação para o ataque, desde que o time fique com a bola e seja atacado o mínimo possível — aí estão as filosofias de Barcelona e Espanha que não me deixam mentir. Errar um passe mais incisivo é normal, mas passes laterais e curtos não, e isso vem acontecendo com mais frequência que o aceitável.

Em suma, o meu desejo é que este passo atrás seja para que se dê dois passos pra frente depois. Sabemos que esta é a primeira temporada deste time, mas já tivemos algumas amostras de como a equipe pode render. A torcida do Cruzeiro já está esperando pelo menos uma vaga na Libertadores e/ou chegar longe na Copa do Brasil.

Objetivos possíveis, mas não fáceis de ser alcançados.