O tamanho dos gramados do Brasileirão 2012

Certamente os leitores fantasma deste blog já devem ter ouvido Celso Roth falar que o Independência é um “campo rápido”. Ele diz isso por causa das dimensões do gramado, que teoricamente são “reduzidas”, e que fariam o jogo ser mais veloz no sentido de que qualquer chutão chega na área adversária facilmente, que por sua vez favoreceria times de menor qualidade técnica, que recorrem ao contra-ataque.

Na última quarta-feira, o discurso contrário pôde ser ouvido: o Serra Dourada, por ser um campo grande, faz o jogo ficar lento, difícil de correr, dando à partida um ritmo cadenciado de posse de bola. Engraçado, porque o Cruzeiro fez exatamente o oposto. Talvez tenha se acostumado a jogar no Independência, mas mesmo que não faça tanta diferença tecnicamente, a postura de treinadores e jogadores tem sido diferentes de acordo com os tamanhos dos campos, como o contrastante exemplo dos jogos contra os dois Atléticos, um no Independência e o outro no Serra Dourada, o que influi diretamente na estratégia da equipe em uma determinada partida — e portanto na parte tática.

Das 20 17 regras do futebol, definidas pela FIFA, a que define o campo de jogo é a Regra 1, que diz que o campo deve ter entre 90 e 120 metros de comprimento, e entre 45 e 90 metros de largura (ou seja, é possível termos um campo quadrado, de 90 m x 90 m, mas isso é uma outra história). Em competições internacionais, a variação é mais restrita, e o comprimento fica entre 100 e 110 m e a largura entre 64 e 75 m. Ainda, na Copa do Mundo, os gramados devem ter a dimensão fixa de 105 x 68 m.

Acredite se quiser, estes campos são válidos para partidas não oficiais: 120 x 45 m (esq) e 90 x 90 m (dir). A grande área o círculo central estão em escala.

Para saber mais, o Constelações foi buscar as dimensões dos gramados dos principais estádios do Brasileirão 2012. Os dados vieram depois de extensas pesquisas na Internet:

Estádio Comprimento (m) Largura (m)
Aflitos (Náutico) 105 70
Arena Barueri (Palmeiras) 107 70
Beira-Rio (Internacional) 108 72
Canindé (Portuguesa) 103,4 70,5
Couto Pereira (Coritiba) 109 72
Engenhão (Flamengo, Fluminense e Botafogo) 105 68
Ilha do Retiro (Sport) 105 78
Independência (Cruzeiro e Atlético/MG) 105 68
Moisés Lucarelli (Ponte Preta) 107 70
Morumbi (São Paulo) 108,25 72,7
Olímpico (Grêmio) 105 68
Orlando Scarpelli (Figueirense) 105 70
Pacaembu (Corinthians) 105 68
Pituaçu (Bahia) 110 68
São Januário (Vasco) 110 70
Serra Dourada (Atlético/GO) 110 75
Vila Belmiro (Santos) 105,8 70,3

Análise

Isto posto, vamos colocar a tabela acima em forma de gráfico para vermos as diferenças:

 

Relação entre comprimento e largura dos principais palcos do Brasileirão 2012

Quanto mais à direita um ponto, mais comprido é o campo, e quanto mais para a esquerda, mais curto. De maneira análoga, quanto mais pra cima, mais largo, quanto mais pra baixo, mais estreito. A linha azul no gráfico representa a “proporção média” entre comprimento e largura de todos os campos analisados, ou seja, à medida que se aumenta o comprimento, aumenta-se a largura proporcionalmente.

Análise

Olhando o gráfico, dois pontos chamam a atenção de cara: a Ilha do Retiro, o campo mais largo do Brasileirão, com impressionantes 78 m. São dez metros a mais que o Independência, ou seja, cinco metros de cada lado. Para se ter uma ideia, uma quadra de vôlei tem seis metros de largura, ou seja, é um espaço onde cabem três jogadores lado a lado e com conforto.

O outro campo que se destaca é o Serra Dourada. O campo do Atlético/GO possui as dimensões máximas para partidas internacionais, sendo o maior do Brasileirão 2012. Além de ser o segundo mais largo de todos, é o mais comprido, ao lado de São Januário e Pituaçu, com 110 metros de comprimento.

Pituaçu, aliás, é um caso estranho. É um dos mais compridos, mas ao mesmo tempo é um dos mais estreitos, juntamente com outros 4 estádios: Independência, Engenhão, Olímpico e Pacaembu.

O Canindé é o campo mais curto. São apenas 103,4 metros de comprimento — quase 7 em relação aos mais compridos.

Além disso, nada menos do que sete equipes mandam seus jogos em gramados que possuem as medidas “oficiais”: Flamengo, Fluminense e Botafogo (Engenhão), Cruzeiro e Atlético/MG (Independência), Grêmio (Olímpico) e Corinthians (Pacaembu). Ainda, se considerarmos uma tolerância de um metro para cada lado em cada dimensão, podemos incluir neste bolo o Canindé, Aflitos e Orlando Scarpelli, a Vila Belmiro e a Arena Barueri e Moisés Lucarelli, todos com até um metro a mais (ou menos) em cada lado do campo. Com isso, o número de times mandantes em campos “rápidos” sobe para 13, fazendo com que nada menos do que 65% do campeonato se desenrole neste tipo de gramado.

Diferenças entre as dimensões de alguns dos campos do Brasileirão 2012. As áreas penais e o círculo central estão em escala.

Conclusão

É claro que haverá defensores dos campos grandes. Basta saber que os antigos Maracanã e Mineirão, ambos templos do futebol brasileiro e mundial, possuíam campos de 110 x 75, as mesmas dimensões do Serra Dourada atual. Portanto, podemos considerar que os brasileiros gostam de futebol de posse, com jogo ritmado, sem a correria e os chutões que os campos menores proporcionam. Basta olhar  o gráfico e ver que a maioria dos campos do Brasil é igual ou maior que o “padrão FIFA” de 105 x 68 — dimensões que fazem com que o jogo fique mais brigado, e como só o Barcelona é o Barcelona, nenhuma outra equipe consegue manter a posse de bola por longos períodos em campos com essas medidas.

Entretanto, isso pode gerar um problema a longo prazo. Mesmo considerando que a maioria dos jogadores da Seleção Brasileira joga fora do Brasil, em gramados europeus, os jogadores daqui que forem convocados poderão ter mais dificuldade em se adaptar aos gramados de uma eventual Copa do Mundo que disputarem. Até mesmo jogadores que fizerem sucesso por aqui e forem vendidos para o exterior poderão ter dificuldades. Em uma pesquisa rápida, a maioria dos grandes estádios do futebol mundial estão nas medidas FIFA:

  • Old Trafford (Manchester United)
  • Emirates Stadium (Arsenal)
  • Stanford Bridge (Chelsea)
  • Camp Nou (Barcelona)
  • Santiago Bernabéu (Real Madrid)
  • Allianz Arena (Bayern de Munique)
  • San Siro (Internazionale e Milan)
  • Olimpico di Roma (Roma e Lazio)
  • Bombonera (Boca Juniors)
  • Monumental de Núñez (River Plate)

Particularmente, gosto de campos grandes que proporcionam um futebol mais vistoso com equipes que possuem jogadores técnicos. Infelizmente não é o caso do nosso Cruzeiro atual. Além disso, jogos disputados mais na física e na correria do que na técnica sempre serão vistos com desconfiança por este blogueiro. Aparentemente, porém, é o destino cruzeirense jogar em campos com as medidas “oficiais” — o Mineirão terá suas dimensões mantidas após a Copa do Mundo. Além disso, a tendência é que cada vez mais estádios adotem essas medidas ao longo do tempo. Assim, a adaptação é mais que necessária.

Só nos resta torcer para que, a médio prazo, tenhamos um time técnico o suficiente para conseguir ter longos períodos de posse e objetividade para controlar o jogo, como — porque não — o Barcelona atual.

Atlético/GO 0 x 2 Cruzeiro – Pobre, mas eficiente

Jogando totalmente fora das características históricas do Cruzeiro, com aplicação defensiva de maneira até perigosa, o Cruzeiro conseguiu vencer o Atlético/GO no “enorme” Serra Dourada ontem em Goiânia e começa a dar sinais de uma base construída. Não agrada aos olhos, mas foi eficiente e nesse momento é o que o clube precisa.

Formações iniciais

O mesmo 4-3-1-2 losango dos últimos três jogos: lateral subindo com o apoio de um volante na cobertura, atacante aberto voltando com o lateral adversário, Montillo caindo pelas pontas. Seria o princípio de uma base?

Celso Roth repetiu o 4-3-1-2 losango dos últimos três jogos, mas não o onze inicial. Fábio no gol teve Léo novamente à sua direita, Everton à sua esquerda e Rafael Donato e Thiago Carvalho centralizados à sua frente. Com a suspensão de Leandro Guerreiro, Sandro Silva assumiu a base do losango, com Charles à esquerda, mais recuado cobrindo os avanços de Everton, e Tinga à direita, mais à frente fazendo quase uma dupla com Montillo, o enganche. À frente, Wallyson caindo pela direita e voltando com o lateral, e Borges enfiado entre os zagueiros.

O Atlético/GO veio no mesmo sistema, mas os dois atacantes ficavam mais centralizados, fazendo o time ficar mais estreito. O gol de Márcio era protegido por Gustavo e Reniê, que por sua vez eram flanqueados pelo ofensivo Diogo Campos à direita e Eron à esquerda. Defendendo a área, Dodô era ajudado por Marino pela direita e Ernandes pela esquerda. Wesley era o responsável pela ligação para Ricardo Bueno e Patric.

Com as marcações bem encaixadas, tudo virava uma questão de estratégia. E já no início ficava claro a de Celso Roth: marcar atrás, com as linhas bem compactadas, e sem fazer pressão alta, correndo atrás do adversário. Muito se falou do tamanho do campo; de fato, o Serra Dourada é o maior campo do Brasileirão, com 110 m x 75 m, mesmas dimensões do antigo Mineirão mas bem maior que o novo Independência (105 x 68). Por isso, o jogo mais lento, mais cadenciado, tanto pela falta de marcação pressão do Cruzeiro como pela tentativa do Atlético de rodar o time, trocando passes na linha do meio-campo.

Entretanto, quando recuperava a bola, o Cruzeiro era intenso. Partia logo para a definição, sem trocar passes, sem muita paciência. Isso por que nem nossos volantes nem Montillo tem característica de cadenciar o jogo. Assim, o Cruzeiro teve pouca posse de bola, porque resolvia rápido: aos 8, já havia finalizado duas vezes contra nenhuma do Atlético/GO, que àquela altura já ficava mais tempo com a bola.

Montillo

Outra nota tática interessante é que, com os laterais desprotegidos, já que seu meio-campo e ataque eram muito estreitos, Montillo acabou conseguindo criar muitas oportunidades quando combinava com os jogadores abertos pelos flancos. Assim saíram boas jogadas com Everton pela esquerda — que tinha liberdade para avançar com a cobertura de Charles — e assim saiu o escanteio que originou o gol, em jogada de Wallyson com Montillo pelo lado direito. Oportunismo puro de Borges, num lance em que ainda teve a participação de Léo dentro da área.

Depois do gol, o Cruzeiro retraiu ainda mais, tentando sair nos contra-ataques. Mas foi exagerado. O Atlético conseguia chegar até a intermediária e ficava tocando, rodando, tentando achar uma brecha, mas as linhas de marcação do Cruzeiro estavam muito bem postadas. Mesmo assim, às vezes aparecia um buraco, que só não era aproveitado pelo time da casa porque os jogadores faziam escolhas erradas no último passe. Fábio só foi fazer uma defesa, que nem foi tão difícil assim, aos 39 do segundo tempo.

Mas tanto o Atlético martelou que conseguiu um pênalti, aos 40, cometido por Wallyson no lateral esquerdo Eron numa jogada de ultrapassagem. Pra nossa sorte — que todo bom goleiro também tem que ter — Márcio mandou pra fora.

Na saída para o intervalo, Borges disse que não estavam marcando no avançado porque o campo é grande demais, o que confirmou a estratégia pensada pelo treinador celeste.

Segundo tempo e alterações

O Atlético/GO voltou com duas alterações: Reniê, contundido, deu lugar a outro zagueiro, Diego Giaretta, e Joilson entrou na vaga de Marino. O sistema se alterou levemente, já que por ser um pouco mais ofensivo, Joilson às vezes dava para o time uma cara de 4-2-2-2, tentando se aproximar de Wesley e dos atacantes.

O Cruzeiro voltou o mesmo. Tanto na escalação, quanto no sistema, quanto na estratégia: marcando atrás, compactado, sem dar espaços entre as linhas. Os jogadores do Atlético tinham todo o tempo do mundo para levantar a cabeça e olhar o jogo, mas não faziam isso com qualidade, e o jogo seguiu na mesma toada, mas desta vez com o Cruzeiro também com poucas chances.

O Cruzeiro manteve o 4-3-1-2 até o fim do jogo, com linhas compactadas, losango de meio quase planificado negando espaços — mas com medo de se afastar da própria área

Aos 8, Montillo saiu, preservado, para a entrada de Souza. O tipo de jogo que se desenhou era perfeito para o veterano meia: cadenciado, com ritmo baixo e espaço para passar a bola. Foi o que ele fez, segurando a posse, esperando a movimentação dos companheiros e passando. A domínio goiano arrefeceu um pouco, e o Cruzeiro acabou avançando suas linhas, permanecendo compactado. Mas logo o Atlético achou um caminho por cima da defesa, apesar de o atacante estar em claro impedimento. Fábio salvou o gol e o erro da assistente, e o time ficou com medo de se afastar da própria área.

Celso Roth tentou solucionar o problema mandando Wellington Paulista para o jogo no lugar de Borges, com a intenção de reter a bola, fazendo o pivô. E em seu primeiro lance, ele conseguiu segurar a bola e passar a Tinga, que numa jogada típica de Montillo, ia ganhando de seu marcador até ser empurrado dentro da área. Pênalti que WP converteu e não comemorou.

Com a vantagem, o Cruzeiro se retraiu de vez e se contentou e aguentar a pressão do time goiano até o apito final. Diogo Campos, atacante que jogava na lateral direita, saiu para a entrada de Felipe, que também é atacante, mas que foi jogar no meio. Com isso, Joilson foi fazer o lado direito, mas mais centralizado. Roth então tirou Everton e pôs Diego Renan, que é melhor marcador, para fechar ainda mais aquele lado e acabar com qualquer tentativa do time da casa. Fábio nem foi ameaçado e os três pontos vieram.

Conclusão

Um jogo taticamente desinteressante, apesar da boa atuação defensiva do Cruzeiro. Na opinião deste blogueiro, entretanto, foi uma estratégia exagerada: não era necessário ficar tão atrás, tão longe dos jogadores com a bola do Atlético/GO. O tamanho do campo não pode servir de desculpa. Também, o trabalho defensivo foi facilitado pela má qualidade do time adversário, que também não fez boa partida. Fosse um time um pouquinho mais técnico, certamente o resultado não seria tão bom.

De qualquer forma, Celso Roth parece ter realmente gostado do 4-3-1-2 losango (apesar da partida em Curitiba). O treinador achou um jeito de dar amplitude pela esquerda do ataque, com o volante esquerdo cobrindo os avanços de Everton. Do outro lado, Fabinho/Wallyson parecem ter encontrado seus lugares no campo, e quando Ceará voltar, terão ainda mais companhia para sobrecarregar o lado esquerdo adversário. No meio-campo, Leandro Guerreiro é titular absoluto na base do losango, e Montillo no topo, combinando com os jogadores abertos: resta saber quem serão os volantes de lado de confiança do treinador. Lucas Silva pra mim merece uma sequência.

Vamos torcer para que encaixemos mais duas vitórias em casa no mesmo sistema, ganhando tranquilidade e confiança, para diminuir a instabilidade no campeonato.

E quem sabe voltar a ser o Cruzeiro de futebol vistoso e ofensivo, que todos gostamos e estamos acostumados a ver.

Cruzeiro 2 x 2 Atlético/MG – Justiça

Este artigo era para ter outro título, mas diante do gol irregular, mas chorado, feito na raça, eu resolvi mudá-lo. Afinal, o Cruzeiro não merecia perder em um jogo que conseguiu executar tão bem sua estratégia de anular as principais peças adversárias — pelo menos enquanto havia onze da cada lado.

Formações

O 4-3-1-2 losango cruzeirense do primeiro tempo, que anulou o quarteto ofensivo do Atlético Mineiro com Guerreiro marcando Ronaldinho e Leo de lateral preso perseguindo Bernard

Como previ no artigo anterior, Celso Roth escalou um time totalmente diferente dos três que apresentei como opção, e escalou um 4-3-1-2 losango: o gol de Fábio foi defendido por Thiago Carvalho e Matheus na zaga, já que Léo foi para a lateral direita, com Everton do outro lado. Leandro Guerreiro, centralizado à frente da área, teve Lucas Silva pela esquerda e Tinga pela direita. No topo do losango, Montillo criava para Fabinho, mais aberto pela direita, e Borges, enfiado entre os zagueiros.

O Atlético veio no 4-2-3-1 já manjado de Cuca, com Victor debaixo dos paus, Marcos Rocha na lateral direita, Júnior César na lateral esquerda, e Réver e Leonardo Silva fazendo a dupla de zaga atrás dos volantes Pierre e Leandro Donizete. Na frente, o quarteto ofensivo e maior arma da equipe: Ronaldinho flanqueado por Danilinho na direita e Bernard na esquerda, atrás do centro-avante Jô.

Duelos

No encaixe de marcação, Fabinho recuava acompanhando Júnior César, para evitar o dois contra um deste e Bernard em cima de Léo. Léo, aliás, fez uma partida excelente, praticamente tirando o veloz meia-esquerda adversário da partida. Do outro lado, Lucas Silva repetiu a excelente movimentação do jogo contra o Bahia e deu a segurança necessária para Everton  — naquela ocasião foi Ceará — se aventurar na frente. Foi assim que saiu o primeiro gol: Montillo, caído, teve excelente visão de jogo e achou o volante-lateral no campo de ataque, livre de Danilinho, que era o seu marcador natural. Ele avançou e fez excelente cruzamento para Wallyson tomar à frente de Júnior César e vencer Victor no seu primeiro toque na bola, em substituição ao lesionado Fabinho.

No meio-campo, Ronaldinho era praticamente figura nula no jogo, muito devido ao bom trabalho de Leandro Guerreiro. O camisa 5 vencia quase todas as disputas, e quando perdia, obrigava o ex-melhor do mundo a fazer um passe sem perigo, para o lado ou para trás. Ronaldinho só aparecia nas bolas paradas — obras do senhor apitador, que marcava quase todas as disputas aéreas vencidas pelo Cruzeiro como cargas faltosas, sem usar o mesmo critério do outro lado.

Essas faltinhas perto da área começaram a me lembrar o jogo contra o Coritiba. A nossa sorte é que Ronaldinho errou quase todas as cobranças. Só no escanteio é que ele conseguiu acertar (mais ou menos), achando Jô na primeira trave, que desviou para trás e Leonardo Silva acertou um chute que nunca mais vai acertar na vida, num dos últimos lances do primeiro tempo.

Depois das expulsões

Os times vieram sem alterações no intervalo. Era previsível, porque o Atlético, apesar de ter dominado a posse de bola no meio-campo, foi muito bem marcado pelo Cruzeiro e ofereceu pouco perigo. Fábio não fez praticamente nenhuma defesa difícil. Portanto, ambos os treinadores, dentro de suas propostas, queriam ver mais de suas equipes.

Mas aí choveu. Primeiro foi só um copo, depois um pedaço de bolo, que gerou um entrevero entre Bernard e Leandro Guerreiro. E aí caiu uma tempestade DE copos d’água. Sete minutos depois, Guerreiro e Bernard levaram o amarelo, que era o segundo para os dois: o atleticano porque discutiu com Matheus no primeiro tempo, e o cruzeirense porque reclamou corretamente de uma carga faltosa marcada pelo juiz ao disputar bola com Jô pelo alto.

Após as expulsões, Cruzeirou ousou num 4-2-1-2, que equilibrou a posse de bola, mas não substituiu o marcador de Ronaldinho que teve mais espaço que deveria

O Cruzeiro perdeu mais com a saída de Guerreiro do que o Atlético com a saída de Bernard. Os treinadores não mexeram nas formações, com o Atlético com sem um jogador aberto pela esquerda, onde estaria Bernard, num 4-2-2-1, e o Cruzeiro sem um volante na frente da área, espaço que foi ocupado com o recuo de Tinga e Lucas Silva, num 4-2-1-2. Porém, a marcação não era mais tão forte em Ronaldinho, que começou a aparecer, rodando a bola e cadenciando o jogo. A marcação do Cruzeiro nos outros jogadores, porém, continuava forte.

Quase no fim, Pierre fez falta forte em Montillo e levou o segundo amarelo, fazendo 10 contra 9. Na cobrança da falta, o cruzamento é afastado pela defesa atleticana, e a bola sobra para Ronaldinho e Marcos Rocha. Eles trocam passes, Marcelo Oliveira (que havia entrado no lugar de Everton, também lesionado, sem alterar a formação) dá o bote, mas erra. Marcos Rocha, único alvo possível de um passe, está marcado e Ronaldinho avança. É desafiado por Lucas Silva, mas também passa por ele, invade a área e é novamente combatido por Marcelo Oliveira, que quase consegue desarmá-lo, mas a bola fica para o pé direito do meia. De frente para Fábio, escolheu o canto e marcou.

Nem só devido a erros coletivos é que se sofrem gols. Existe mérito do outro lado, e esse — infelizmente para nós — é um exemplo clássico.

Empate na raça

O mundo estava de cabeça para baixo: o Atlético vencia o Cruzeiro com dois gols tecnicamente bonitos, e o Cruzeiro é que era o time aguerrido. Quem diria — os papéis históricos estavam invertidos. Mas se era para ser assim, então que fosse: o Cruzeiro foi com tudo e Fábio nem apareceu mais na imagem da TV. Os últimos minutos foram de pressão constante, com MUITAS bolas levantadas na área e muita gente para finalizar. Foi muito perigoso, porque um contra-ataque ali seria mortal.

No que parecia ser o último lance, Júnior César tentou ganhar tempo, o juiz deu mais um minuto corretamente, e nesse minuto, Montillo fez falta, não marcada pelo péssimo árbitro, e o Cruzeiro recuperou a bola, achando o argentino aberto pela esquerda, que cruzou para o pé bom do zagueiro Matheus dentro da área. A bola ainda bateu na trave antes de decretar o justo empate do Superclássico.

Conclusão: o diamante

Normalmente, não gosto de falar em justiça, porque sempre acho o resultado justo. Jogar melhor, como já disse aqui, é executar melhor a sua estratégia do que o adversário. A do Cruzeiro era ser reativo, a do Atlético era propor o jogo, e por isso, no primeiro tempo, o Cruzeiro jogou melhor. No segundo, com as expulsões, as coisas se equilibraram, e por isso, a derrota teria sido injusta na modesta opinião deste blogueiro. Por isso, também, troquei o título original deste artigo, que era “Tempestade de copos d’água”. Era um trocadilho, caso saíssemos de campo com a derrota, para não fazermos do eventual revés um problema maior que seria.

Um aspecto digno de nota: exceção feita à virada contra o Botafogo no Engenhão, foi a primeira vez no Campeonato que o Cruzeiro ficou atrás no placar e conseguiu buscar o empate. Bom para o psicológico da equipe, que é tão importante quanto a tática.

Taticamente, aliás, aparentemente terei que dar mão à palmatória e assumir que o Cruzeiro vem funcionando bem nesse 4-3-1-2 losango, esquema do qual não sou fã. Montillo é meia-atacante, e não um meia clássico que volta par buscar o jogo e dar ritmo, girar o time: o argentino é sempre intenso. E por isso precisa de um trio de volantes que saiba jogar também. Lucas Silva e Tinga me parecem ter ganhado a condição de titulares, junto com  Guerreiro, que infelizmente está suspenso para o próximo jogo. Resta saber quem será o companheiro de Borges no ataque, já que Fabinho se contundiu e também está fora da abertura do returno. Wallyson é o candidato natural, e Ceará deve voltar à lateral direita.

Em inglês, o losango de meio é chamado de diamond — diamante. Se o losango vingar, podemos dizer que Celso Roth achou um diamante numa mina que não era nada promissora. Mas como diria um treinador que fez fama por aqui, “vamos aguardar”.

Três alternativas para o Superclássico

Depois de muito tempo, o encontro entre Cruzeiro e Atlético Mineiro voltou a ser um clássico: ambos os times bem na tabela (levando em conta o prognóstico de ambos no início do campeonato) e com o rival melhor do que o Cruzeiro após muitos embates em que a situação era invertida. Assim, após ler as notícias de lado a lado na semana inteira, esperando pra saber se Ceará iria ou não para o jogo, quem seria a dupla de zaga e como seria composto o meio-campo cruzeirense, tento apresentar aqui alternativas de Celso Roth para o jogo de domingo.

O time adversário é o de sempre: o mesmo 4-2-3-1 empregado por Cuca desde o início do ano, mas desta vez com peças novas. Victor no gol, Marcos Rocha de volta à lateral direita e Júnior César do lado oposto; Leonardo Silva — o vira-casaca — e Réver no miolo de zaga. À frente, Pierre e Leandro Donizete fazem a dupla volância, atrás de Ronaldinho, o articulador principal e com tendências de cair pela esquerda. Flanqueando-o, Danilinho ou Guilherme pelo lado direito e Bernard pelo esquerdo. À frente, Jô brigando com os zagueiros.

Do nosso lado, Victorino está fora do jogo, Ceará é dúvida e não se sabe quem será escalado na lateral esquerda: Everton ou Diego Renan, dependendo da situação de Ceará. Para a zaga, levando em conta o estilo de Jô, a dupla de zaga ideal seria composta por um zagueiro forte, para marcar diretamente o centro-avante — nesse caso, seria Léo — e um com bom posicionamento de sobra, que seria Victorino. Mas na ausência deste último, Thiago Carvalho deve entrar em seu lugar. Outra opção seria fazer uma zaga com Léo e Donato, mas essa seria uma dupla pesada, correndo riscos contra os rápidos Bernard e Danilinho.

Caso Ceará não possa jogar, duas opções se apresentam. Deslocar Diego Renan para a direita para manter o equilíbrio defesa/ataque por aquele lado, ou destacar Leo para o setor, com a finalidade exclusiva de anular Bernard. Isso faria o Cruzeiro perder ofensividade, mas aumentaria muito o poder de marcação.

E na lateral esquerda, Diego Renan é mais lento que Everton, que se destaca mais no apoio mas não defende tão bem quanto o primeiro. Como Danilinho é menos ofensivo que Bernard, talvez Everton seja a melhor opção.

Como se trata de um clássico, abrirei uma exceção e colocarei os jogadores do time adversário nos diagramas abaixo.

 

Opção 1 – Equilíbrio

Minha alternativa preferida: um 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo, Tinga se movimentando para opção de passe de segurança, Guerreiro na cola de Ronaldinho e marcação especial do lado direito

A primeira opção é mandar a campo um 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo, como na partida contra o Palmeiras, que este blogueiro considera ser a melhor do time no certame atual. Naquele jogo, a dupla de volantes era Guerreiro e Charles, ao passo de que nesta deverá ser Guerreiro e Lucas Silva, com uma diferença: contra o time paulista, Guerreiro perseguia Daniel Carvalho, que caía mais pela direita. Contra o rival, Guerreiro será muito provavelmente o marcador de Ronaldinho, que tem uma tendência maior a cair pela esquerda do ataque — direita da defesa adversária.

Colocar Montillo pelo lado esquerdo do meio-campo faz com que o argentino tenha menos marcação, e consiga usar sua melhor arma: o drible. Passando por Marcos Rocha, que fatalmente seria seu marcador, Montillo teria campo livre para cruzar, bater pro gol ou enfiar uma bola para Borges ou quem estiver na área. E Tinga, que já tem tendências centralizadoras, jogando pelo meio, serviria muito mais como um ponto de apoio no meio do pentágono formado pelos volantes, meias abertos e centro-avante, sendo o passe de segurança. O ideal seria ter um meia cadenciador por ali, alguém como Souza, suspenso, ou Roger, já fora do clube, para fazer a bola rodar e inverter as jogadas, mas infelizmente não temos este jogador disponível no elenco para este jogo.

Do outro lado, Fabinho como ponteiro direito teria funções mais defensivas, acompanhando Júnior César e ajudando na marcação ao lado mais forte do Atlético: o esquerdo. Por ali, cairiam Ceará, na sua posição natural e marcando o garoto Bernard; Guerreiro, marcando Ronaldinho quando este pendesse para o lado esquerdo; Lucas Silva ajudando na sobra e Fabinho marcando Júnior César. O meio-campo fica esvaziado, mas Tinga pode recuar e guardar o meio contra os dois volantes do Atlético que não tem tanto poder de ataque assim. O perigo ficaria do outro lado: Montillo teria que recuar acompanhando Marcos Rocha, para evitar que Diego Renan fique no dois contra um contra ele e Danilinho.

 

Opção 2 – Conservadorismo

Um 4-4-1-1 que fecha bem os flancos e aproveita a velocidade de Montillo para contra-atacar; mas perigoso porque chama demais o Atlético com o apoio dos laterais liberado

Outra opção é assumir que o rival vive um momento melhor e se fechar, partindo nos contra-ataques velozes num 4-4-1-1, com Montillo atrás de Borges como únicas peças ofensivas à frente das duas linhas de quatro. A grande vantagem dessa formação é compactar as linhas e tirar o espaço das ações ofensivas adversárias, espanando as bolas para as pontas para Montillo, que tentaria jogar nas costas dos laterais. Assim, Everton à frente de Diego Renan pelo lado esquerdo para fechar o lado direito de ataque do Atlético, e Ceará e Lucas Silva ou Tinga para fechar o lado direito. Sem espaço para articular, os jogadores do Atlético tenderiam a subir cada vez mais, para tentar um abafa, dando ainda mais espaço para Montillo ganhar uma bola rebatida e conduzir até a área adversária em velocidade.

Não é a opção preferida deste blogueiro e muito menos deverá ser a de Celso Roth, pois é muito perigoso chamar o time adversário pra cima, principalmente levando em consideração que o jogo será “em casa”: somente a exigente e mal-acostumada torcida do Cruzeiro estará presente. Jogar recuado contra o Atlético, na cabeça dos torcedores, é assumir a inferioridade diante do maior rival — mesmo que isso seja atualmente um fato — fazendo com que a chance da torcida se virar contra o time seja muito grande.

 

Opção 3 – Ousadia

Ousadia total: jogar sem centro-avantes de ofício, explorando velocidade e posse de bola, com Montillo de “falso nove” e jogadores rápidos pelos lados

A opção mais ousada é usar o que eu chamaria de 4-3-3-0, com dois jogadores rápidos como ponteiros — por exemplo, Wallyson e Fabinho, Montillo por dentro na posição de meia-atacante “falso 9” e ganhar em número do Atlético no meio-campo: 6 jogadores contra 5, ou 4 contra 3 se considerarmos apenas a faixa central. Isso deixaria os zagueiros do Atlético livres, mas sem alvos para direcionar os passes, forçando-os ao passe longo por cima. Com as linhas compactas e menos gente no meio-campo, fica mais difícil ganhar a segunda bola disputada por Jô e os zagueiros ou volantes cruzeirenses, frustrando as ações ofensivas adversárias.

Entretanto, ao recuperar a bola, o trio ofensivo teria que ter muita inteligência tática e técnica para saber se movimentar e dar opções de passe para contornar a dupla de zaga atleticana, o que acredito que os jogadores têm, mas só conseguiriam executar se tiverem confiança, que é uma coisa que me parece em falta atualmente.

 

Mas…

É muito provável que Celso Roth mande a campo um time diferente dos três que postei aqui, mas é certo que Guerreiro será o marcador de Ronaldinho. Resta saber como Montillo será escalado, e de que forma Tinga jogará: se mais recuado, como volante fazendo um tripé — e consequentemente um losango no meio, o que na opinião deste blogueiro seria um suicídio — ou se jogará mais avançado, à frente dos outros dois volantes. O mais provável é que ele mantenha Montillo por dentro e desloque Tinga para o lado, com Fabinho do outro — algo próximo do que foi feito no jogo contra o Sport, mas com os ponteiro invertidos. Lucas Silva deverá ficar mais liberado para se juntar ao ataque, pois os volantes adversários não deverão combatê-lo no alto do campo. Os laterais deverão ficar um pouco mais presos, principalmente o direito, devido à presença de Bernard por ali.

A chave do jogo, entretanto, será Montillo. Se ele jogar por dentro, terá de brigar com Pierre e Leandro Donizete para conseguir encaixar um passe. Se jogar pelo lado, terá somente Marcos Rocha pela frente — teoricamente um jogador com menos poder de marcação que seus companheiros volantes. Além do fato óbvio de ser apenas um jogador contra dois no meio.

Pode ser um jogo amarrado ou solto — depende da estratégia cruzeirense apenas. O outro time, todo mundo sabe como joga.

Coritiba 4 x 0 Cruzeiro – Passando mal

Em seu pior jogo do ano, o Cruzeiro conseguiu levar quatro gols do Coritiba, dois de bola parada e outros dois de contra-ataque. Mas todos têm uma origem comum: a má execução do fundamento mais primordial do futebol — o passe. Sem isso, não há formação tática que seja suficientemente boa.

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, com Fabinho acompanhando o lateral e Marcelo Oliveira fechando o lado, e que conseguiu 20 minutos de equilíbrio, mas parou por aí

Sem Léo, Everton e Charles por suspensão, Borges, Victorino e William Magrão por lesão, e Montillo e Leandro Guerreiro preservados para o clássico, Celso Roth levou todos os jogadores restantes do elenco para Curitiba, e mandou a campo um 4-3-1-2, com o losango do meio formado por Sandro Silva no vértice baixo, Lucas Silva e Marcelo Oliveira pelos lados e Souza no topo. À frente do gol de Fábio, Rafael Donato e Thiago Carvalho fizeram a dupla de zaga, flanqueados por Ceará e Diego Renan. No ataque, Fabinho caindo pela direita e Wellington Paulista centralizado.

Marcelo Oliveira — o técnico do Coritiba — escalou o time da casa em seu costumeiro 4-2-3-1, com Vanderlei no gol, Ayrton pela direita da defesa, Luccas Claro e Escudero no miolo de zaga e Lucas Mendes pela esquerda. Júnior Urso e Chico protegiam a área atrás do trio formado por Robinho, Everton Ribeiro e Rafinha — desta vez aparecendo pela esquerda. Roberto foi o centro-avante solitário.

A única nota tática interessante dessa partida foi durante os 20 minutos iniciais, quando o jogo ainda estava equilibrado. No Cruzeiro, Marcelo Oliveira fechava pelo lado esquerdo para acompanhar as investidas do lateral direito Ayrton, e do outro lado Fabinho recuava para acompanhar Lucas Mendes, fazendo um 4-2-3-1 sem a bola. E com nenhum jogador levando vantagem claramente sobre seu marcador, o jogo seguia sem muitas chances de parte a parte. Aos poucos, o Coritiba começou a dominar o meio-campo, com mais amplitude mais bem postado, afinal era um 4-2-3-1 oficial, diferente da variação que partia de um losango do time cruzeirense.

O Coritiba alternava pressão alta e bloco médio, forçando o Cruzeiro a começar a errar passes e, por consequência, cometer faltas. Primeiro, uma falta perto do círculo central, que foi seguida de uma outra mais perto da área. Na cobrança, falha geral da defesa do Cruzeiro e principalmente de Marcelo Oliveira — o volante do Cruzeiro — que estava na marcação de Lucas Mendes, o autor do gol.

Estranhamente, o gol não chegou a afetar muito os jogadores do Cruzeiro, que tentaram reequilibrar o jogo. Marcelo Oliveira — o volante — teve a chance de se redimir em passe de Fabinho, mas mandou pra fora. Depois, mais uma falta, e desta vez Ayrton mandou direto: Fábio voou para espalmar. Era o prenúncio do que iria acontecer. Mais uma falta, na mesma posição, e dessa vez Ayrton mandou reto, sem efeito, batendo chapado na bola para ganhar o ângulo contrário de onde Fábio estava, que nem foi na bola. Golaço do lateral do Coritiba.

Aí entrou em campo o décimo segundo jogador de todos os times que jogam contra o Cruzeiro: o Cruzeiro. Pode parecer uma frase semanticamente estranha, mas é isso mesmo. O Cruzeiro ficou nervoso, se perdeu e errou todos os passes que conseguia.

O intervalo pareceria benéfico, para acalmar os ânimos e entrar com outra postura para quem sabe buscar o empate. Celso Roth bem que tentou mexer, tirando Lucas Silva e Diego Renan e mandando Tinga e Wallyson a campo. Marcelo Oliveira — o volante — recuou para a lateral esquerda, Sandro Silva ficaria se volante único atrás de Souza e Tinga armando para o trio de atacantes: Fabinho à direita, Wallyson à esquerda e WP centralizado.

Mas nem deu tempo de ver o que aconteceria. Logo aos três minutos, após uma sequência de disputas de bola perdidas no meio-campo, Ceará chegou a ter domínio da bola e tentou clarear pra frente, mas Rafinha estava no caminho dela, que espirrou em direção à área cruzeirense. Everton Ribeiro, mais bem posicionado que os zagueiros, chegou primeiro na bola, e serviu a Roberto, que ganhou de Marcelo Oliveira — o lateral — na corrida. Fábio fechou o ângulo, e teria conseguido defender a conclusão de Roberto, não fosse a bola ter desviado no pé de Rafael Donato indo morrer do lado oposto do gol.

A partir daí, o nervosismo do primeiro tempo voltou dobrado, e o Cruzeiro não esboçou sequer uma reação, nem mesmo pelo gol de honra. Vendo a situação do adversário, Marcelo Oliveira — o técnico — mandou sua equipe marcar avançado, forçando os zagueiros a bolas longas, ou fazendo os jogadores adversários a errarem passes — e como erraram. Quando raramente acertavam uma sequência, até chegavam perto da área do Coritiba, mas longe de ameaçarem Vanderlei, que sequer tocou na bola no primeiro tempo. Roberto, por sua vez, perdeu um gol incrível dentro da pequena área, sinal claro de que o jogo tinha terminado já no início do segundo tempo.

Aos 12, Marcelo Oliveira — o técnico — mandou o volante Gil no lugar de Robinho, sem alterar o 4-2-3-1, mas com uma desnecessária preocupação defensiva no flanco direito, pois o jogo já estava resolvido e o Cruzeiro entregue. Já aos 19 minutos Celso Roth queimou a terceira alteração, trocando seis por meia dúzia: Anselmo Ramon na vaga de WP. A ideia era, como sempre, segurar a bola na frente para esperar a chegada dos companheiros, mas nem isso o Cruzeiro fazia. Perdia todas as segundas bola e não conseguia dar chutões. As poucas bolas que chegavam eram perdidas pelo centro-avante, e logo o Coritiba retomava a posse e partia novamente, sem pressa, para o campo adversário.

Anderson Aquino, centro-avante, entrou para a saída de Roberto aos 26, e dois minutos depois Lucas Mendes saía para dar lugar ao zagueiro Dirceu. Escudero foi para a lateral esquerda, e o Coritiba manteve seu 4-2-3-1 intacto até o fim da partida. O único momento diferente foi quando Wallyson conseguiu uma finalização colocada no ângulo, mas pra fora. Aos 33, em um escanteio mal cobrado, a zaga do Coritiba tirou e Everton Ribeiro ficou com a sobra, aplicando um chapéu num atordoado Fabinho e mandando um balão para frente, na direção de Rafinha e Anderson Aquino. Ambos partiram do campo de defesa, portanto habilitados, enquanto a zaga do Cruzeiro ficava parada. Tinga foi quem foi atrás da dupla de atacantes do Coritiba, que até demorou para definir, permitindo que Tinga se postasse em cima da linha. Fábio saiu em cima da Rafinha, que passou a Aquino que completou.

Os últimos 13 minutos foram torturantes, e àquela altura eu já queria que o jogo acabasse logo. O Coritiba faria mais gols se quisesse, mas desacelerou e mesmo assim teve chances. O apito final do árbitro foi, quem diria, um alívio. O time do fim do jogo nem merece um diagrama tático.

Na coletiva, Celso Roth disse que já tinha visto o time perder o controle, mas ainda não tinha visto o time entregue, sem reação. E ficou preocupado — palavras dele. De fato: perder por um lance de sorte, acontece. Perder porque o outro time é melhor tecnicamente, acontece também. Ou muitos desfalques, uma mexida errada, um posicionamento tático equivocado — todos motivos normais de uma derrota, sem alarde. Até quando o time perde por errar demais pode ser considerado normal. Em todos os casos o importante é tentar. E nem isso o Cruzeiro fez: desistiu do jogo no terceiro gol.

E contra isso, não há formação tática ou habilidade técnica que resolva.