Cruzeiro 2 x 0 América/TO – Cada um pega o seu

Assim como no jogo contra o rival, Anselmo Ramon — desta vez oficialmente — e Dagoberto foram às redes novamente para dar a segunda vitória ao Cruzeiro em dois jogos na temporada 2013. Entretanto, o jogo teve um ritmo bem mais calmo, com o América de “Tocantins” bem recuado para tentar parar o criativo e rápido ataque celeste.

Escalação inicial do Cruzeiro no já costumeiro 4-2-3-1, aqui com Everton Ribeiro liberando o corredor pra Ceará e Everton e Egídio alternando do outro lado

Escalação inicial do Cruzeiro no já costumeiro 4-2-3-1, aqui com Everton Ribeiro liberando o corredor pra Ceará e Everton e Egídio alternando do outro lado

Sem Leandro Guerreiro, suspenso por marcar Ronaldinho Gaúcho, Marcelo Oliveira mandou Tinga em seu lugar. O sistema e os outros dez eram os mesmos do jogo anterior: o 4-2-3-1 tinha Fábio no gol e sua linha defensiva com Ceará à direita, Egídio à esquerda e os zagueiros Bruno Rodrigo e Paulão. Nilton e Tinga davam suporte para a trinca de meias composta por Everton Ribeiro, Ricardo Goulart pelo meio e Everton à esquerda, todos atrás de Anselmo Ramon.

Confesso que, das arquibancadas do Mineirão, demorei a entender o esquema com o qual Gilmar Estevam armou o América. Com a proposta de marcação individual, pura e simples, a equipe passou a maior parte do jogo num 4-3-2-1, também conhecida como “árvore de natal”. O goleiro Eládio tinha à sua frente a defesa composta por Iran à direita, Elder e Rodrigo Sena centralizados e Daniel à esquerda. Os volantes Felipe Dias, Luisinho e Matheus Gonzaga marcavam um meia cada um. Luciano Mourão era o responsável pela ligação e Almir subia e descia o campo. Só Erivelto ficava mais à frente.

Jogo de um time só

Se antes do jogo já estava claro que o América iria estrear no Mineirão para não perder, com este sistema, ficou ainda mais visível a proposta de tentar parar o ataque cruzeirense. Eram três volantes, um pra cada meia adversário. Isso fazia os laterais ficarem bem fundos, esperando o lateral adversário subir. Por vezes, parecia que o time visitante tinha escalado dois laterais de cada lado. A dupla de zaga brigava contra Anselmo Ramon, para garantir a sobra. E, como se não bastasse todo esse aparato defensivo, Luciano Mourão e Almir, o segundo atacante ainda se aproximavam dos volantes azuis para fechar as linhas de passe. Só Erivelto, o camisa 9, ficava à frente, mas sem fazer pressão sobre os zagueiros celestes.

Domínio total, com destaque para o número barcelonístico de passes

Domínio total, com destaque para o número barcelonístico de passes

Isso resultou em grande posse de bola para o Cruzeiro. De acordo com os números da Footstats, publicados pelo site da ESPN Brasil, em 67,52% do tempo que a bola rolou, estava em pés azuis. Outros números comprovam o domínio: veja na imagem ao lado.

Destes números, o que mais chama a atenção é o de passes: O Cruzeiro alcançou uma marca “a la Barcelona” de 653 passes trocados durante a partida, com somente 48 erros — mais de 92% de aproveitamento. Uma média excelente, e que expressa bem o que foi a partida. Naturalmente (devido ao adversário, estreia no Mineirão e outros fatores), a intensidade do time celeste foi bem menor do que no jogo anterior. Por isso o Cruzeiro foi bem mais paciente, tocando bem a bola, rodando para tentar furar o ferrolho teófilo-otonense, gerando estes números.

Os caminhos do gol

Considerando, portanto, que praticamente se tratava de um jogo ataque contra defesa, e que a defesa já foi analisada nos parágrafos acima, passemos ao time atacante.

Pela direita, era Ceará quem dava amplitude — termo usado para designar a distância entre os jogadores horizontalmente, “alargando o campo”, para tentar abrir a defesa adversária. Normalmente, num 4-2-3-1, quem faz isso é o ponteiro, com o suporte na intermediária do lateral. Mas Everton Ribeiro se aproximava mais de Ricardo Goulart no centro para dar opções, liberando o corredor direito para o apoio de Ceará. Daniel ficava esperando o experiente lateral, que mesmo assim conseguiu ganhar em algumas jogadas e mandar a bola para a área.

Do outro lado, Everton e Egídio revezavam como ponteiro e lateral, dando muito trabalho para o volante Felipe Dias (que estava a cargo de marcar Everton) e o lateral Iran (que ia mais à frente bater com Egídio), gerando até uma pequena discussão entre os dois, A troca de posições confundiu a marcação e o Cruzeiro chegava com frequência por aquele lado também.

E finalmente, pelo meio, Ricardo Goulart até tinha um bom timing de tentar um passe mais profundo, mas ainda precisa acertar a força do passe. Ou seja, o passe era dado na hora certa, sem deixar o jogador que corre em profundidade impedido, mas a bola era forte demais ou de menos, sempre ficando mais para os defensores. De qualquer forma, ele contribuiu bastante para ocupar um marcador e tentar abrir o jogo para seus companheiros. Tinga e Nilton tentavam participar da construção ofensiva, o primeiro mais que o segundo, mas não tem a mesma visão e criatividade dos meias.

Em todos os casos, o Cruzeiro esbarrava no famoso último passe, aquele que deixa o companheiro na cara do gol, em condições de finalizar. Minha digníssima esposa, me acompanhando no jogo — também para conhecer o estádio — já estava ficando impaciente com todas as bolas que o time jogava na área nas mãos de Eládio. Mas no primeiro lance em que isso não aconteceu a bola foi às redes. Tinga achou Ceará livre pelo lado direito, aproveitando a desatenção de Daniel. O “2” cruzou rasteiro para a chegada de Anselmo Ramon, que completou de letra, para dar justiça ao placar.

Intervalo

Como era esperado, Dagoberto entrou no jogo, mas novamente quem saiu não foi Egídio, como se pensava, e sim Ricardo Goulart. Marcelo Oliveira certamente pensou que o América não arriscaria mesmo estando atrás no placar, e que continuaria defensivo. Por isso, Dagoberto, que marca menos que Everton Ribeiro, foi ser o ponteiro direito, deslocando Everton Ribeiro para o meio. E se o jogador não foi brilhante tecnicamente, mostrou que tem muita estrela, assim como no jogo contra o rival: mal entrou e deixou sua marca, desta vez convertendo pênalti.

No fim, Cruzeiro manteve o 4-2-3-1, mas com bem menos intensidade. Dagoberto nem precisou ter trabalho defensivo

No fim, Cruzeiro manteve o 4-2-3-1, mas com bem menos intensidade. Dagoberto nem precisou ter trabalho defensivo

Com a excelente vantagem, o Cruzeiro naturalmente se acomodou. Gilmar Estevam, com isso, perdeu um pouco de medo e tentou sair um pouco de trás, colocando Edilson para criar ao lado de Luciano Mourão, tirando Iran do jogo e oficializando Felipe Dias na lateral direita. Um clássico 4-2-2-2 “brasileiro”, o famoso quadrado no meio-campo. Mas o jogador mal tocou na bola, pois ela continuava na maioria do tempo em poder do time da casa. Egídio saiu para a entrada de Alisson, que foi jogar de ponteiro esquerdo, passando Everton à lateral esquerda. E o futebol do camisa 23 cresceu, e ele chegou na área em condições de finalizar algumas vezes.

Vendo as ameaças, Gilmar Estevam voltou atrás e pôs Nilo, zagueiro, na vaga de Matheus Gonzaga. Os laterais subiram para o meio e estava configurado o 3-4-2-1: Felipe Dias, agora lateral, e Daniel flanqueavam Luizinho e Edilson — mais ajudando na marcação que criando — na linha de 4 do meio. Marcelo Oliveira ainda colocaria o garoto Vinicius Araújo na vaga de Anselmo Ramon, mantendo o sistema, mas o jovem teve poucas chances para aproveitar, principalmente porque o resto do time tirou o pé no segundo tempo.

Perspectivas de um futuro animador

O Mineirão, na noite de quarta, estava iluminado com luzes azuis em seus pórticos. As redes, pra quem não reparou, eram azuis e brancas. A torcida foi em bom número, considerando que o jogo estava passando na TV, estava programado em um horário ruim e o ingresso era caro. Este não são fatores táticos, claro, mas somados ao fato de que Marcelo Oliveira quer implantar uma filosofia de posse de bola e futebol vistoso — que sempre foi a característica cruzeirense — criam uma atmosfera que faz a torcida suspirar por bons momentos em 2013. As últimas notícias dão conta de que os jogadores estão felizes e imbuídos de um objetivo comum, que é reerguer o Cruzeiro ao lugar onde sempre esteve: o céu.

Mas é preciso ter os pés no chão. Ainda há muito o que melhorar, mas estamos no caminho certo. Que o Carnaval não nos faça perder o embalo, mas que sirva pra amenizar um pouco e trazer os pés de toda a Cruzeiridade um pouco mais para o chão — afinal de contas é precisa ter cautela no início da temporada.

Bom carnaval a todos e usem camisinha.

Cruzeiro 2 x 1 Atlético/MG – O Mineirão é nosso

Com licença, caro leitor. Cabe aqui algumas palavras sobre um retorno que definitivamente será marcante para toda a cruzeiridade.

Sabe aquele momento, após entrar pelo portão do estádio, quando você sobe aquele último lance de escadas que dá para a arquibancada, e dá de cara com o relvado verde, como um palco com cortinas fechadas esperando o espetáculo se iniciar? Foi assim que este blogueiro se sentiu ontem no Mineirão, após dois anos e tanto de um longo e tenebroso inverno.

Foi nesse palco que eu vi as maiores glórias do Cruzeiro desde que passei a me entender por gente. Vi Elivélton marcar o gol do bi; vi Geovanni seguir a dica do Muller e bater por baixo da barreira para desespero do Ceni; vi aquela falta que o Zinho cobrou passar por cima de todo mundo e entrar direto, e depois Alex, que estava fora daquele jogo, dar a volta olímpica antes do jogo acabar: ninguém se lembra daquele gol do Paysandu.

Quando eu ia ao estádio do América, no ano passado, assistir aos jogos do Cruzeiro, eu não me sentia em casa de fato. A torcida estava lá, o time estava lá, mas tinha algo diferente, inexplicável, que incomodava, não nos deixava à vontade. Essa sensação nunca existiu ontem. Apesar de tantos problemas de serviço, nunca me senti tão confortável.

Talvez os jogadores se sentiram da mesma forma. Talvez seja este um dos fatores que contribu­íram para a vitória — o resultado não podia ser outro no jogo inaugural. Afinal, o Mineirão é, sem sombra de dúvida, a verdadeira casa do Cruzeiro.

Isto posto, vamos às notas táticas.

4-2-3-1 vs. 4-2-3-1

O 4-2-3-1 inicial do Cruzeiro, com Guerreiro preso na marcação de Ronaldinho, Nilton mais solto e Everton Ribeiro levando vantagem sobre Júnior César

O 4-2-3-1 inicial do Cruzeiro, com Guerreiro preso na marcação de Ronaldinho, Nilton mais solto e Everton Ribeiro levando vantagem sobre Júnior César

Ao contrário da previsão deste blogueiro – naturalmente – Marcelo Oliveira escolheu Anselmo Ramon ao invés de Vinicius Araújo para ocupar a referência do ataque à frente da linha de três meias do 4-2-3-1. Everton Ribeiro à direita, Ricardo Goulart por dentro e Everton à esquerda tinham o suporte de Nilton, mais atrás, enquanto Leandro Guerreiro ficou quase exclusivamente na proteção aos zagueiros Bruno Rodrigo e Paulão. Ceará na direita e Egídio do outro lado fechavam a última linha defensiva à frente de Fábio.

O time rival veio com o mesmo onze manjado do ano passado, exceção feita ao estreante Araújo como ponteiro direito no 4-2-3-1 de Cuca. A meta de Victor foi defendida por Marcos Rocha na lateral direita, Réver e Leonardo Silva no miolo de zaga e Júnior César na esquerda. Pierre e Leandro Donizete faziam a dupla volância, com Ronaldinho centralizado distribuindo para Araújo e Bernard, este pela esquerda, enquanto Jô era o centro-avante.

A dupla volância

É normal em um 4-2-3-1 que um dos volantes saia mais para o jogo enquanto o outro fique mais por conta de marcar o meia central adversário. No Cruzeiro, Leandro Guerreiro perseguiu Ronaldinho como uma sombra, enquanto Nilton tinha mais tempo livre. Já no rival, isto ficou mais indefinido. Pierre deveria marcar Ricardo Goulart, mas a movimentação do nosso camisa 31 dificultou seu trabalho. Assim, Nilton e Leandro Donizete tinham um pouco mais liberdade, e frequentemente se encontravam em campo, um marcando o outro.

Mas Nilton conseguia se livrar melhor da marcação no meio e se juntar ao ataque, e com isso Pierre ficava sobrecarregado. Facilitou para Ricardo Goulart, que demorou a achar um espaço entre as linhas para ter tempo de encaixar um passe, mas quando o fez foi decisivo: primeiro conectou a Everton Ribeiro livre nas costas de Junior César, na primeira finalização do Novo Mineirão. Depois, em jogada rápida, viu Leandro Guerreiro aparecer como homem-surpresa e cruzar na primeira trava para Anselmo Ramon marcar o primeiro gol da história do novo estádio.

Sim, foi ele, não importa o que diga a súmula.

Estilo de centro-avante

Falando em Anselmo: falar após o jogo é fácil, mas análise tática é informação, e não previsão. Marcelo Oliveira acertou ao escalar o camisa 99 ao invés do garoto Vinicius Araújo. Explico: a vantagem que Nilton proporcionava ao Cruzeiro no meio-campo, explicada acima, era muito sutil. O gol do rival em uma falha de posicionamento na bola parada — normal em um início de temporada — fez o jogo seguir muito parelho, com o meio-campo bem travado, já que nenhuma das equipes optou por marcar adiantado. Os zagueiros ficavam livres, mas as linhas de passe para os volantes e laterais não. A consequência era um festival de ligação direta: por isso a escolha por Anselmo Ramon. Os zagueiros de ambos os times procuravam seus centroavantes, que disputavam a bola pelo alto ou seguravam a posse até receberem ajuda de trás. Fosse o garoto camisa 30 no comando do ataque, o Cruzeiro seria forçado a jogar mais pelo chão, com o que teria dificuldades.

Os lados do campo

Os embates nas pontas do campo eram os previstos, mas com uma certa vantagem para o Cruzeiro em ambos os lados. Do lado esquerdo, a presença de Everton segurou o ímpeto de Marcos Rocha, que pouco apoiou no primeiro tempo. Egídio teve certa dificuldade para marcar Araújo, mas conseguiu fazer bem seu trabalho e aproveitou a vulnerabilidade defensiva do rival para apoiar mais.

No lado direito, a vantagem azul era mais clara. Ceará, experiente, embolsou Bernard mais uma vez, salvo em algumas jogadas individuais do jogador rival, e ainda conseguiu subir ao ataque com consistência, provendo cruzamentos perigosos. Júnior César sofreu com Éverton Ribeiro, que tem tudo para ser um dos melhores jogadores desta equipe. Joga pelo lado, mas centraliza quando precisa e confunde toda a marcação.

Mudanças

Percebendo a desvantagem, Cuca trocou seus dois volantes de uma só vez no intervalo. Gilberto Silva entrou para ser o cão de guarda da defesa, e Serginho foi jogar mais no alto do campo, encostando mais em Nilton. As mudanças fizeram o time rival ficar num 4-1-2-3, a formação clássica de um 4-3-3. Além disso, Cuca inverteu Bernard e Araújo, na esperança de que o primeiro levasse vantagem sobre Egídio. A esperança se confirmou e o rival passou a ter um leve domínio no início da segunda etapa.

Após algumas chances desperdiçadas pelo adversário, Marcelo Oliveira se mexeu. A esperada entrada de Dagoberto aconteceu, mas para supresa de todos, foi Éverton quem saiu. Egídio permaneceu na lateral esquerda. Além disso, outra cria da base entrou no jogo: o garoto Alisson, na vaga de Ricardo Goulart. Com isso, Éverton Ribeiro ficou na articulação central, com Dagoberto na direita e Alisson na esquerda. Nem passaram três minutos e, em funções “invertidas”, Anselmo Ramon, na ponta esquerda recebendo passe de Egídio, cruzou para Dagoberto, de centro-avante, testar com força, para o chão, e ver Victor se lamentar ao ver o gol da vitória cruzeirense.

Dez contra onze

Com um a menos, Marcelo Oliveira ousou um 4-2-3 que deixava Gilberto Silva, o jogador adversário menos perigoso com a bola nos pés, livre

Com um a menos, Marcelo Oliveira ousou um 4-2-3 que deixava Gilberto Silva, o jogador adversário menos perigoso com a bola nos pés, livre

O rival sentiu o golpe e o jogo ficou parelho novamente, até que Leandro Guerreiro recebeu o vermelho por acúmulo de cartões amarelos: muitas faltas em Ronaldinho. Cuca imediatamente colocou mais um homem de área, prevendo a maior posse de bola no meio-campo devido ao homem a mais: Alecsandro entrou no lugar de Araújo. O 4-3-3 se manteve. Marcelo Oliveira, já que tinha de dar espaço a algum jogador, inteligentemente decidiu dá-lo ao que tinha menos qualidade com a bola nos pés: sacou Everton Ribeiro do time, colocou Tinga onde Leandro Guerreiro devia estar, e assim o Cruzeiro deixava de ter um meia-central, dando espaço e liberdade para o veterano Gilberto Silva.

Com este ousado 4-2-3, o Cruzeiro foi melhor mesmo com um a menos em campo. O rival tinha mais a bola nos pés, mas era uma posse de bola infrutífera. Fábio, a rigor, não fez nenhuma defesa difícil durante todo o jogo, diferente do goleiro rival, que salvou o terceiro gol em várias ocasiões. E o jogo seguiu nesse diapasão até o fim.

Reinaugurado em grande estilo

Marcelo Oliveira fez um jogo para superar a desconfiança e até animar a torcida do Cruzeiro. Armou uma estratégia para vencer o clássico, e conseguiu neutralizar as principais armas do oponente: bola aérea com os zagueiros e lançamentos em profundidade de Ronaldinho para os pontas. Ofensivamente, surpreendeu o adversário e a própria torcida, com movimentação, fazendo parecer que já jogavam juntos há algum tempo. O tal do desentrosamento pouco apareceu em campo com a bola rolando.

Marcelo me parece ser um bom estrategista — como todo técnico de futebol moderno deve ser. Tem bola leitura de jogo, e, diferente do ano passado, o Cruzeiro agora tem peças para variar sua estratégia e esquema. Torceremos para continuar nesse caminho. Pois, se ontem o Mineirão foi devidamente reinaugurado pelo Cruzeiro, com o primeiro gol marcado, o primeiro sofrido, o primeiro cartão vermelho, o primeiro grande jogo e a primeira vitória, temos tudo para termos, já neste ano, na nossa verdadeira casa, o primeiro título.

Oxalá!

Cruzeiro 2013: Ofensividade e protagonismo como objetivos

Alô cruzeirense! Que em 2013 a sua cruzeiridade continue te dando alegrias!

Depois das férias de verão e da grandiosa movimentação do mercado, o blog de análise tática preferido da imensa torcida cruzeirense está de volta. Sim, esperei um momento em que as negociações já estivessem mais calmas e, portanto, com o elenco do Cruzeiro mais definido para a temporada que se inicia. E já que o assunto deste blog é tática, vamos a ela.

Comecemos pelo treinador. Marcelo Oliveira teve dois bons anos no Coritiba e uma passagem terrível no Vasco. No time paranaense, Marcelo jogou quase sempre no 4-2-3-1, que parece ser seu esquema preferido. No primeiro jogo do Brasileirão do ano passado contra o Cruzeiro, foi essa a formação escolhida. Depois, quando já estava no Vasco, o treinador mineiro preferiu o 4-3-1-2 losango — era seu primeiro trabalho no time carioca e ainda não havia tido tempo para alguma coisa diferente.

O elenco do Cruzeiro de 2013 parece numeroso demais, mas não é. Também proporciona boas variações táticas

O elenco do Cruzeiro de 2013 parece numeroso demais, mas não é. Também proporciona boas variações táticas

Com as contratações, que com toda a certeza têm o dedo de Marcelo, o Cruzeiro agora possui um elenco que proporciona variações táticas. Além disso, a saída de Montillo para o Santos, por incrível que pareça, dá alternativas interessantes taticamente, ainda que pelo lado técnico seja uma perda considerável. O leitor deste blog certamente se lembra da insistência do blogueiro em pedir o argentino como ponteiro durante a temporada passada. Mas, ao que parece, Montillo não gostava de marcar, e por isso era escalado com três volantes dando suporte. Infelizmente, o futebol moderno exige que todos marquem e que todos joguem. Estou curioso pra ver como o Muricy vai resolver este problema no Santos.

Mas o assunto aqui é Cruzeiro. E nos primeiros jogos-treino e do amistoso contra o Mamoré, Marcelo parece ter escolhido o esquema vencedor de sua passagem pelo time paranaense para iniciar o trabalho. O 4-2-3-1 do amistoso contra o Mamoré teve Fábio no gol, linha defensiva com Ceará e Egídio nas laterais e Paulão e Bruno Rodrigo no miolo de zaga. Leandro Guerreiro, que terminou o ano passado jogando na zaga, voltou à volância ao lado de Nilton. Everton Ribeiro pela direita, Diego Souza centralizado e Everton pela esquerda articulavam atrás do garoto Vinicius Araújo no comando do ataque.

Um resgate da identidade?

Ainda que o Mamoré seja um adversário mais fraco, e que se postou defensivamente num 3-5-1-1 quase que na totalidade da partida, o Cruzeiro de 2013 mostrou, pelo menos neste jogo, que quer recuperar a sua característica: futebol ofensivo com posse de bola, ser o protagonista do espetáculo. Com exceção de Fábio e dos zagueiros, todos os outros jogadores participavam da transição ofensiva. Típico de um time que quer construir a jogada, quer ser propositivo, em contraste com o jogo reativo e de contra-ataques do ano passado.

A primeira cara do Cruzeiro de 2013: um 4-2-3-1 propositivo e com bastante movimentação, principalmente de Diego Souza e Everton Ribeiro

A primeira cara do Cruzeiro de 2013: um 4-2-3-1 propositivo e com bastante movimentação, principalmente de Diego Souza e Everton Ribeiro

Ceará apoiou mais do que este blogueiro esperava, visto que nas últimas partidas do ano passado ele atuava quase como um terceiro zagueiro. Do outro lado, Egídio mostrou ser um lateral com bastante ímpeto ofensivo. Leandro Guerreiro e Nilton foram claramente instruídos a fazer o primeiro passe e carregar a bola (o segundo mais que o primeiro, por característica). O trio de meias se movimentava bastante, principalmente Everton Ribeiro e Diego Souza, que pareciam se conhecer há algum tempo e trocavam de posição com frequência. Everton ficou mais pelo lado esquerdo fazendo boas tramas com Egídio. E na frente, Vinicius Araújo demonstrou ter fome de gol. Finalizava em qualquer oportunidade boa, e ainda aparecia pra fazer jogadas e tabelas. Certamente será a revelação da base do Cruzeiro para este ano.

Sem a bola

Quando perdia a bola, o Cruzeiro tentou fazer o famoso pressing (marcação adiantada com o time compactado, fechando as linhas de passe). Claramente instruídos neste sentido, os jogadores de frente do Cruzeiro fechavam em cima dos defensores do Mamoré para roubar a bola, forçar um passe errado ou, no mínimo, um passe longo para a frente ou para o outro lado. Se fosse na direção do ataque, a zaga do Cruzeiro logo pegava a sobra, a famosa segunda bola depois da disputa de cabeça pelo alto (a primeira bola). Se fosse virada de jogo, então o time rodava e fechava do outro lado, repetindo o movimento.

Este movimento, porém, requer muita coordenação. Novamente, o famoso entrosamento. Muitas vezes o Cruzeiro adiantava as linhas mas não ficava compactado o suficiente para impedir que o adversário achasse um passe curto, porque o companheiro do jogador que estava pressionando a bola não fechou corretamente a linha de passe. Somente com muitos treinos o Cruzeiro poderá executar isto com qualidade, e isso só virá com o tempo. Mas o fato de se tentar já é um excelente indício do que o treinador quer.

Dagoberto

Reforço mais badalado do Cruzeiro, Dagoberto foi a primeira alteração do segundo tempo. Entrou no lugar de Egídio. Com isso, Everton passou à lateral esquerda, Diego Souza foi ser ponteiro e Dagoberto entrou mais por dentro. Poucos minutos depois, Diego Souza saiu do jogo, e portanto foram poucos minutos para ver em campo o que será o provável trio de meias titular da temporada. Entretanto, acredito que o posicionamento será diferente. Dagoberto deverá ser o ponteiro esquerdo e Diego deverá ficar mais por dentro.

Depois disso foi uma sucessão de alterações que dificultam qualquer análise. O máximo que consegui enxergar foi que, em um determinado momento, o 4-2-3-1 se transformou num 4-4-2 inglês, com Dagoberto um pouco mais atrás de Ricardo Goulart e à frente de uma linha de quatro homens no meio. Outra variação tática interessante: duas linhas de quatro sem centro-avante fixo. Novamente, um indício de time com muita movimentação.

Para o clássico

Uma possível escalação e sistema de jogo para a reinauguração do Mineirão: Ricardo Goulart centralizado, Ceará cuidando de Bernard e Guerreiro de Ronaldinho

Uma possível escalação e sistema de jogo para a reinauguração do Mineirão: Ricardo Goulart centralizado, Ceará cuidando de Bernard e Guerreiro de Ronaldinho

Diego Souza provavelmente será o titular durante o ano, mas com os problemas de documentação, está fora do clássico. Ricardo Goulart entra e deve jogar na mesma posição, a articulação central. Os outros dez jogadores deverão ser os mesmos que começaram a partida em Patos de Minas — a única dúvida é Anselmo Ramon ou Vinicius Araújo. Aposto no segundo.

A entrada de Goulart faz o time ficar mais leve no ataque. Então podemos esperar um Cruzeiro retendo a bola e tentando achar espaços na defesa adversária, enquanto o time rival deverá explorar a velocidade de seus ponteiros Bernard e Araújo, municiados por Ronaldinho. Este, aliás, deverá ser bem marcado por Leandro Guerreiro, liberando Nilton mais para o apoio. Ceará também deve ficar mais na cola de Bernard.

O aspecto tático mais interessante, porém, será do lado esquerdo do ataque azul. Egídio e Everton contra Marcos Rocha e Araújo. Quatro jogadores muito ofensivos, e portanto, a aplicação tática será fator determinante no setor.

É isso, estamos de volta. O ano de 2013 começa no domingo, na tão esperada e aguardada reinauguração do Mineirão. Normalmente não compareço aos clássicos devido aos problemas de violência das torcidas. Mas este é diferente. Vamos conhecer o Novo Mineirão, a única e verdadeira casa do Cruzeiro Esporte Clube.

Cruzeiro 2 x 1 Coritiba – “Pies intercambiados”

Isso é que é azar: justo no dia em que deixei de ir ao Independência por causa da chuva, meus anseios foram atendidos, e o time jogou do jeito que eu sempre pedi neste blog.

Foram necessárias muitas rodadas e a tranquilidade proporcionada pelo fato de não se ter mais nada a ambicionar no campeonato para que, finalmente, Celso Roth experimentasse o 4-2-3-1. Contra o Bahia já havia sido assim, mas sem Montillo. Contra o Fluminense, era Martinuccio quem tinha ficado fora. Desta vez os dois estavam disponíveis, só restava saber como Roth ia escalá-los no meio-campo azul.

O 4-2-3-1 do Cruzeiro no primeiro tempo: Guerreiro na zaga, ponteiros argentinos, WP saindo da área e Tinga sendo o ponto de apoio

No último jogo diante de sua torcida no ano, Roth botou Montillo como ponteiro direito e Martinuccio como o esquerdo, flanqueando Tinga e municiando WP à frente. Charles e Marcelo Oliveira fizeram uma dupla de volantes com liberdade para sair, o segundo mais que o primeiro, e Leandro Guerreiro parece ter achado sua nova posição em campo, sendo o melhor jogador da partida. Fábio voltou ao gol da equipe que ainda teve Ceará na lateral direita e Diego Renan na esquerda (Éverton, com dois amarelos, foi poupado para o clássico), com Thiago Carvalho sendo parceiro de Guerreiro na área.

O Coritiba do técnico Marquinhos Santos veio no mesmo sistema de jogo, o que pra eles é o costumeiro 4-2-3-1. Rafinha pela esquerda e Everton Ribeiro pela direita eram os ponteiros, e Lincoln foi o meia central atrás de Deivid. Gil era o volante mais plantado e Willian tentava sair um pouco mais, e a última linha defensiva foi composta por Victor Ferraz na direita, Luccas Claro e Escudero no miolo e Dênis na esquerda, defendendo o gol de Vanderlei.

Posse de bola

Em rápida entrevista antes da bola rolar, Wellington Paulista disse ao repórter do PFC que a estratégia era “marcar direitinho para podermos contra-atacar com qualidade”. De fato, o 4-2-3-1 com os argentinos abertos favorece esse tipo de postura, muito devido à velocidade e a vitória pessoal dos ponteiros. Entretanto, o que se viu foi a manutenção da posse de bola. A diferença de característica entre WP e Anselmo Ramon também facilita, pois o primeiro se movimenta, sai da área e puxa os zagueiros com ele, enquanto o segundo fica à frente esperando uma bola longa para fazer o pivô ou disputar de cabeça, incentivando o chutão.

Assim, com a bola no chão, o Cruzeiro procurava os ponteiros argentinos para dar a saída de bola, até porque Tinga não é um construtor de jogadas, mas ocupou bem o espaço e fazia um bom trabalho defensivo, se juntando aos volantes quando o Cruzeiro perdia a bola. Procurar os flancos, entretanto, não causou a série de cruzamentos infrutíferos que o time vinha realizando. A maioria dos últimos passes era em profundidade para os ponteiros ou então uma bola rasteira dos ponteiros para o meio da área.

Tudo isso foi resumido no lance do primeiro gol. Montillo recebe a bola pela direita e avança, como é sua característica. Porém, WP está na ponta direita, abrindo espaço para que alguém chegue de trás, que no caso foi Tinga. WP recebe do argentino, faz um corte e cruza para a área, onde o cabeludo tenta desviar mas a bola passa direto e engana Vanderlei.

Depois do gol o Cruzeiro recuou um pouco e esperou o Coritiba em seu campo. A única vulnerabilidade estava em Diego Renan, que teve certa dificuldade em para Rafinha, inclusive levando um amarelo bem cedo. Mas não comprometeu. Esse momento defensivo também foi importante para avaliar a recomposição dos ponteiros argentinos, acompanhando os laterais adversários. Martinuccio e Montillo até que a fizeram bem, ocupando o espaço e tentando roubar a bola de seus adversários, mas ainda precisam melhorar nesse aspecto. Nada que o treinamento não resolva.

“Pés invertidos”

Aproximadamente aos 25 minutos, os argentinos inverteram de lado. Montillo foi para a esquerda, posição em que jogou bem contra o Palmeiras no primeiro turno, e Martinuccio veio para a direita, onde se destacou no Peñarol na Libertadores de 2011 e chamou a atenção do futebol brasileiro. E foi o melhor momento do Cruzeiro no primeiro tempo, com o lance em que Montillo buscou o ângulo de Vanderlei mas mandou alto demais, e logo em seguida o gol anulado de Tinga em jogada de Montillo. É possível reparar que, se Tinga, que estava impedido, deixasse passar, a bola chegaria limpa para Martinuccio concluir pelo lado direito.

Infelizmente o bom momento não foi aproveitado, e os hermanos voltaram às suas posições originais. O Coritiba apertou um pouco, principalmente quando Everton Ribeiro passou a centralizar mais, ajudando Lincoln e abrindo espaço para Denis apoiar. Foram deles os chutes que Fábio defendeu, mas nada mais além disso.

Segundo tempo

Nenhuma alteração nos dois times na volta do intervalo. Entretanto, os times mudaram a formação. Roth instruiu Tinga e ficar mais para ajudar Marcelo Oliveira e Charles no combate a Lincoln e Everton Ribeiro, que continuava jogando mais por dentro. A alteração ficou por conta de Rafinha, que inverteu de lado e passou a jogar em cima de Ceará, o que foi uma mudança estranha, já que Diego Renan já tinha amarelo e claramente sofria para marcar o ponteiro.

As mexidas táticas fizeram o Cruzeiro procurar ainda mais a estratégia dos contra-ataques. Porém, sem um meia central por onde passar a bola, a velha tática do chutão foi empregada, e WP claramente é pior que Anselmo Ramon para disputar as bolas aéreas e fazer a retenção. Com isso, as bolas rebatidas quase sempre voltavam, pois a posse não era recuperada em definitivo. O Coritiba cresceu, teve mais a bola e mais domínio territorial. Mas era um domínio estéril, com a defesa celeste bem postada e Leandro Guerreiro se tornando o dono da grande área azul, tirando todas as bolas e se antecipando com qualidade.

Em um determinado momento, o repórter informa que Celso Roth ordenou Martinuccio e Montillo que invertessem novamente. Eu tive esperanças de um futebol vistoso e veloz, mas o recuo do Cruzeiro era demais. Sem um meia-central e sem alguém forte na referência, os argentinos ficaram esperando a bola que nunca veio. Talvez o momento fosse de centralizá-los no meio, fazendo um interessantíssimo 4-3-2-1, já que eles se entendiam bem quando trocavam passes e levariam uma preocupação a mais para os volantes paranaenses. Mas isso não foi feito.

A tranquilidade veio um lance de bola parada. Ceará cobra falta na área, WP cabeceia na trave e Guerreiro, sozinho e com categoria, finaliza o rebote no canto oposto do goleiro Vanderlei, que nem pulou. Um prêmio pela atuação segura e sólida do ex-volante.

com o novo gol sofrido, o Coritiba desanimou. Celso Roth então iniciou as trocas, mas manteve a formação, trocando os três meias. Primeiro Élber, pedido pela torcida, entrando no lugar de Tinga e empurrando Montillo para o centro. Era uma formação que eu queria muito ver, com três meias rápidos. Mas logo depois, Souza entrou na vaga de Montillo, mantendo-se pelo centro para passar a bola, frustrando minhas expectativas. E por fim, Fabinho entrou na vaga de Martinuccio, mantendo o posicionamento pela esquerda. O garoto Élber até deu trabalho pela direita, e Souza cumpriu bem o papel de condutor e passador. Fabinho jogou pouco para uma avaliação melhor.

O Coritiba tentou vir pra cima nos minutos finais e cedeu o contra-ataque, mas o Cruzeiro estava em um ritmo muito baixo, até desinteressado. Everton Ribeiro, sondado para vir para o Cruzeiro, diminuiu no fim, mas não havia tempo para mais nada.

Atuação digna, mas ainda pode ser melhor

Arrisco dizer que foi uma das melhores partidas celestes no certame. Claro que há ainda muito o que melhorar: defensivamente, treinar melhor a marcação dos ponteiros e fazer uma pressão alta, no campo do adversário, mais consistente; ofensivamente, a chegada de trás dos volantes, e o apoio mais frequente dos laterais e a manutenção da posse de bola. Agora que os ponteiros argentinos foram testados, talvez seja a hora de experimentar Souza como meia central para distribuir o jogo e cadenciar o ritmo.

Entretanto, é preciso comemorar. Celso Roth finalmente enxergou que pode jogar com o time dessa forma. Se tivesse entrado assim há mais tempo, talvez sobrevivesse no cargo. Mas é o suficiente para termos esperanças de vencer e convencer no clássico na última rodada, jogando como o Cruzeiro sempre jogou.

Tomara que o próximo treinador, quem quer que seja ele, tenha visto o jogo de hoje.

Seis pontos que não empolgam

Neste fim de campeonato, o Cruzeiro já não tem maiores pretensões, nem corre mais riscos. Isso somado ao fato de já estar anunciado aos quatro ventos que Celso Roth não será o técnico celeste em 2013, faz este blogueiro perder um pouco do entusiasmo em analisar taticamente a equipe. Nem há novidades táticas ou experimentações, nem vale para fazer uma previsão de uma base tática para o ano que vem.

Assim, analisarei por alto as duas últimas partidas do Cruzeiro, surpreendentemente, duas vitórias, mas que também não dizem nada.

Cruzeiro 3 x 1 Bahia

No que me parece uma contradição, justo quando Montillo está fora, o time vai a campo num 4-2-3-1. Tinga pelo centro da linha de três armadores não é novidade, visto que o volante jogou assim contra o Palmeiras no primeiro turno. A novidade mesmo foi a escalação de Leandro Guerreiro na zaga — não como um líbero, como o volante fez em algumas partidas deste ano, mas como zagueiro de área mesmo, em dupla com Thiago Carvalho. Momento técnico fraco dos zagueiros cruzeirenses ou falta de persistência de Celso Roth? Nunca saberemos.

O certo é que Sandro Silva e Marcelo Oliveira foram escalados na dupla volância, e Fabinho entrou pelo lado direito, com Martinuccio pela esquerda e Anselmo Ramon na referência. A marcação encaixou com o 4-2-3-1 baiano, mas com Marcelo Oliveira tendo mais liberdade para subir a apoiar o ataque, o que transformava o Cruzeiro momentaneamente em um 4-3-3 clássico, ou 4-1-2-3. Em “casa” (entre aspas porque o Independência não é a casa de verdade do Cruzeiro), o time celeste teve mais a bola, mas o domínio era somente nesse quesito. Anselmo não conseguia concatenar as jogadas e Tinga estava visivelmente tendo dificuldades para ser o ponto de rotação da equipe.

Os abundantes erros de passe geravam inúmeros contra-ataques da equipe visitante. Isso aliado ao mau posicionamento na transição defensiva (recomposição quando o time perde a bola) fez com que Fábio salvasse algumas vezes o gol, mas sem conseguir evitar que ele acontecesse, numa falha de marcação que deixou Fahel totalmente livre dentro da pequena área.

O time foi para o vestiário sob fortes vaias da torcida, que pegava mais no pé de Sandro Silva e Fabinho. Mas Celso foi teimoso — como nosso presidente — e mandou o mesmo time de volta. Com vantagem no placar, o Bahia cedeu mais campo ao Cruzeiro e tentou somente se defender, mas Martinuccio não deixou. Em escanteio pela esquerda, a bola é desviada por Anselmo Ramon e acha o argentino, livre de marcação, na direita da pequena área, para mandar um bico e ver a bola rebater no amontoado de jogadores do Bahia que protegia a linha do gol e entrar.

Com o empate, o Cruzeiro foi pra cima, mas pecava demais no último passe e no excesso de cruzamentos — velho problema. Para se ter uma ideia, o Cruzeiro é o segundo time que mais cruza bolas na área (média de pouco mais de 21 por jogo), mas é somente o 14º em aproveitamento destes cruzamentos: apenas 1 a cada 5 chega até o jogador, e nem todos são garantia de finalização.

A virada só viria num contra-ataque, em que estranhamente o zagueiro do Bahia desistiu de roubar a bola de Anselmo Ramon após o centro-avante receber de costas e proteger. Com o espaço cedido, Anselmo esperou até o momento certo para mandar a bola por cima para Martinuccio, que partia em velocidade. O argentino pegou de primeira e fez um golaço.

Sandro Silva, o mesmo que a torcida pegou no pé no intervalo, fez duas faltas para amarelo em minutos de diferença. A torcida ainda iria sofrer um pouco mais. Após a expulsão, deu pra ver da arquibancada Everton e Fábio conversando sobre o posicionamento. Everton postou as duas mãos uma na frente da outra, com o polegar guardado: duas linhas de quatro. Diego Renan, Leandro Guerreiro, Thiago Carvalho e Everton protegiam a área, e à frente William Magrão (que entrou no lugar de Tinga), Marcelo Oliveira e Martinuccio. Anselmo Ramon permanecia à frente para fazer retenção da bola no novo 4-4-1.

O Bahia bem que tentou. Rodou a bola, inverteu as jogadas e tentou abrir a defesa, mas não chegou nem perto de ameaçar Fábio. Eu diria que a postura defensiva do Cruzeiro com dez homens em campo foi exemplar. Até que veio o lance da expulsão de Mancini em um lance com Souza. Com a igualdade numérica, o jogo ficou mais franco, e veio ser definido num lance improvável. Jogada pela direita, Souza passa a William Magrão meio sem querer e o volante finaliza por cima, encobrindo Marcelo Lomba e fazendo um belo gol.

Não foi a melhor atuação cruzeirense, mas uma das mais sólidas. Detalhe que essa foi apenas a segunda virada do Cruzeiro no Brasileiro deste ano — a primeira tinha sido contra o Botafogo no Engenhão, ainda no início do campeonato. É difícil relacionar a melhora psicológica à mudança do esquema, mas acredito que a nova formação possa ter dado a confiança necessária, e assim a equipe conseguiu virar o jogo, mesmo sob pressão da torcida.

Cruzeiro 2 x 0 Fluminense

Com Montillo de volta, Celso Roth voltou ao 4-3-1-2 losango. No lugar de Martinuccio, fora por força de contrato, entrou o jovem garoto Élber. A suspensão de Sandro Silva abriu espaço para Charles ser o vértice baixo do losango de meio, com Marcelo Oliveira pela esquerda e Tinga pela direita. Ceará voltou à lateral direita e Guerreiro foi mantido na zaga.

O Fluminense, já campeão, entrou no mesmo 4-2-3-1 de sempre. Sem Wellington Nem, Abel escalou Rafael Sóbis, Deco e Thiago Neves atrás de Fred. Mas a letargia pelo título antecipado e a festa que viria após o jogo, com a cerimônia de entrega da taça — como foi em 2003, quando Alex ergueu o Campeonato Brasileiro diante de um Mineirão lotado, contra o mesmo Fluminense — talvez tenha feito os jogadores do Fluminense não se doarem tanto.

Mesmo assim, há que se destacar que o Cruzeiro fez uma partida sólida defensivamente. O time da casa não conseguiu espaço para jogar, mesmo tendo Deco para desafogar o meio. O luso-brasileiro não conseguiu levar vantagem sobre a marcação de Charles. Sóbis apagado do lado esquerdo e Thiago Neves igualmente do lado direito. Sem ser abastecido, Fred não foi ameaça, e assim, o 1 a 0 com o pênalti sofrido por Anselmo Ramon e convertido por Montillo era o placar mais justo.

Na segunda etapa, o Cruzeiro ampliou a vantagem logo no início, e não deu chances de reação ao Fluminense. Em contra-ataque rápido puxado por Montillo, Élber ganhou de dois marcadores meio atabalhoadamente e ficou cara a cara com Diego Cavalieri, que não alcançou a finalização no cantinho do garoto. Com isso, o Cruzeiro passou a usar a mesma arma que o Fluminense usou durante todo o campeonato: esperou em seu próprio campo e partia na transição ofensiva, popularmente conhecida como contra-ataque.

No fim, o Fluminense veio pra cima e tentou marcar o gol de honra, mas Rafael mostrou que quando Fábio não está disponível, nada temos a temer. Fez grandes defesas, parando inclusive o artilheiro Fred, e garantiu o zero no placar adversário.

Coritiba e Atlético/MG

As últimas notícias dão conta de que Celso Roth vai escalar Montillo e Martinuccio num 4-2-3-1, com Fabinho fazendo o lado direito atrás de Wellington Paulista (Anselmo Ramon está suspenso). Diego Renan deve entrar na lateral esquerda, para poupar Everton de receber o terceiro cartão e ficar fora do clássico. Mas isso pode acabar sendo uma boa, já que Diego é mais defensivo que Everton e isso ajudará Martinuccio no trabalho defensivo, ao perseguir o lateral adversário.

Ainda não é o que eu gostaria, já que eu colocaria Montillo aberto na esquerda e Martinuccio na direita — insisto nos ponteiros de pés invertidos. Mas só de ter a linha de três com os dois argentinos já acredito que será uma das melhores partidas do Cruzeiro no ano. Estarei vendo de perto, quem sabe pela última vez no Independência. Ano que vem é Mineirão.