Atlético/MG 0 x 0 Cruzeiro – Sempre aprendendo

Antes de mais nada, peço desculpas aos leitores pela demora nas atualizações. O apertado calendário de 2014 — que, tirando o período da Copa do Mundo, prevê uma semana inteira de folga para o Cruzeiro em apenas três oportunidades caso a equipe chegue a todas as finais — também aperta os períodos que este humilde escriba tem para desenvolver os textos e figuras.

Mas desta vez, não foi apenas este o motivo. A estratégia de mercado da principal detentora dos direitos televisivos da Copa Libertadores confinou a partida do Campeão Brasileiro ao seu novo canal, numa clara tentativa de forçar a entrada nas grades das principais operadoras do país. Dessa forma, tive de recorrer à internet, mas não obtive muito sucesso e a análise ficou muito prejudicada.

Considerando que o jogo contra o América foi com os reservas, mas no mesmo 4-2-3-1 de sempre, concentrarei esta postagem à análise do clássico, que teve aspectos táticos muito interessantes por parte de Marcelo Oliveira.

Alinhamentos iniciais

Com as aquipes no 4-2-3-1, os ponteiros celestes estavam invertidos para explorar a deficiência defensiva na esquerda e mitigar a saída forte pela direta

Com as aquipes no 4-2-3-1, os ponteiros celestes estavam invertidos para explorar a deficiência defensiva na esquerda e mitigar a saída forte pela direta

Ambos os times vieram no 4-2-3-1 que os consagraram na temporada passada. Fábio teve uma linha defensiva com Ceará pela direita e Egídio pela esquerda, com Dedé e Bruno Rodrigo na área. Lucas Silva sentiu dores e em seu lugar entrou Rodrigo Souza, e com isso Souza teve um pouco mais de liberdade para subir e ajudar o trio de meias. Dagoberto espetava pela direita, Éverton Ribeiro foi deslocado para o centro e Willian entrou pela esquerda, com Ricardo Goulart à frente.

O Atlético Mineiro de Paulo Autuori entrou com mudanças do lado esquerdo da zaga. O goleiro Victor foi protegido por Leonardo Silva e o estreante Otamendi, com Marcos Rocha à direita e Dátolo, meia de origem, na lateral esquerda. Dali pra frente foi o time de 2013: Pierre como volante marcador e Josué com um pouco mais de liberdade, atrás do ponteiro direito Tardelli, do central Ronaldinho e do ponteiro esquerdo Fernandinho. À frente, Jô duelava com os zagueiros.

O novo desenho do quarteto ofensivo

A saída de Moreno do time talvez tenha sido a maior surpresa. De uma maneira geral, creditou-se a mudança à falta de ritmo de Marcelo Moreno, fato que Marcelo Oliveira confirmou após a partida. Mas o que ficou subentendido é que o treinador aproveitou esse fato para armar seu time de forma a parar o Atlético Mineiro em sua casa.

A estratégia começava com a entrada de Willian no lado contrário. Quando Dagoberto joga, Willian normalmente fica pela direita para deixar o camisa 11 mais à vontade em seu lado preferido, o esquerdo. Porém, no jogo de domingo Willian apareceu pela esquerda mesmo, com Dagoberto do outro lado. Duas razões para isso: Willian tem mais capacidade defensiva do que Dagoberto, e portanto deveria estar mais atento ao lateral direito Marcos Rocha, que é uma das principais saídas de bola do rival. E Dagoberto foi colocado para jogar em cima de Dátolo, exatamente para explorar a pouca força defensiva do meia improvisado na lateral esquerda.

Essas mudanças significavam que Éverton Ribeiro teria que ir para o centro do campo, onde fica menos à vontade, embolado com os volantes adversários. Ricardo Goulart foi o centroavante, mas ficou mais preso do que normalmente fica entre os zagueiros. Ainda assim, recuava mais que um centroavante de ofício.

Mais posse, poucas finalizações

Mais atrás, Rodrigo Souza tinha a clara função de marcar Ronaldinho, e o fez muito bem. Souza era, portanto, o responsável por se juntar à criação, mas não possui um passe tão bom quando Lucas Silva e teve dificuldades nessa atribuição. Mesmo assim, sua mera presença no setor, aliada aos eventuais recuos de Goulart para a faixa intermediária, faziam o Cruzeiro ter mais homens no meio-campo e controlar a posse de bola. Tanto é que, mesmo com a pequena pressão atleticana no meio do segundo tempo, o Cruzeiro ainda terminaria a partida tendo a bola nos pés por 55,9% do tempo.

Em destaque, a única finalização do adversário no primeiro tempo: o bom desempenho defensivo é consequência direta das mudanças táticas de Marcelo Oliveira

Em destaque, a única finalização do adversário no primeiro tempo: o bom desempenho defensivo é consequência direta das mudanças táticas de Marcelo Oliveira

Mas esse controle da bola não gerou muitas finalizações. É verdade que foram mais do que o adversário: 7 contra apenas 1, mas destas, somente o cabeceio de Dedé no início da partida foi no alvo. Mas, por outro lado, permitir apenas uma finalização ao Atlético em sua própria casa, com 100% da torcida contra mostrou o excelente desempenho defensivo do Cruzeiro na primeira etapa. A estratégia do rival facilitava, já que era a mesma do ano passado: diagonais longas procurando os ponteiros. Mas estes estavam bem marcados, como Ronaldinho, e pouco produziram.

Além disso, as boas atuações de Dedé e Bruno Rodrigo negaram a Jô uma das armas do Atlético — a segunda bola. Os zagueiros venciam todos os duelos aéreos contra o provável reserva de Fred na Copa. Portanto, considerando tudo isto, foi um excelente primeiro tempo, ainda que o desempenho ofensivo tenha deixado a desejar. O fato de Fábio nem ter sujado o uniforme é a prova cabal da superioridade celeste.

Mudar para vencer

Provavelmente por ordem de Autuori, o Atlético voltou no segundo tempo ainda mais retraído, tentando chamar o Cruzeiro para seu campo e abrir espaços na frente. O Atlético só marcava o primeiro passe, mas deixava a bola com a defesa celeste. Os zagueiros Dedé e Bruno Rodrigo já não eram pressionados, e os laterais conseguiam receber a bola sem ser acossados. O Cruzeiro, por isso mesmo, não arriscava muito, e a sensação era de que o jogo iria continuar na mesma, com o Cruzeiro finalizando mal e o Atlético tendo poucos momentos com a bola nos pés.

A entrada de Moreno e a "desinversão" dos ponteiros expôs Egídio, que deu seu lugar a Ceará -- Marcelo Oliveira abandonou a cautela para vencer o rival, e por pouco não conseguiu

A entrada de Moreno e a “desinversão” dos ponteiros expôs Egídio, que deu seu lugar a Ceará — Marcelo Oliveira abandonou a cautela para vencer o rival, e por pouco não conseguiu

Aos 18, Marcelo Oliveira tentou mudar a cara da partida. Lançou Moreno na vaga de Éverton Ribeiro, apagadíssimo como central — o craque do Brasileirão 2013 rende mais partindo da direita, como ponteiro passador (sim, uma terminologia “emprestada” do voleibol), ou precisa ter alguém a seu lado no centro, para poder dividir a atenção da marcação. Com isso, Goulart recuou para sua posição “original”. Mas não só isso: Dagoberto e Willian trocaram de lado, para seus lados de preferência. A alteração era ofensiva, já que colocava Willian para atacar ao invés de defender e arriscando com Dagoberto pelo lado de Marcos Rocha.

Para compensar isso e ainda adicionar mais um elemento ofensivo, cinco minutos depois Marcelo Oliveira tirou o já amarelado Egídio e que agora estava exposto, sem a ajuda de Willian ou de Dagoberto, para lançar Mayke, invertendo Ceará para a esquerda. O veterano camisa 2 ficou por conta de marcar somente, e Mayke foi liberado para o apoio. Isso abriu o time um pouco e o Atlético começou a levar mais perigo em suas estocadas, fazendo o Cruzeiro conceder muitas faltas perto de sua grande área. Felizmente, Ronaldinho não estava em tarde inspirada nas cobranças e Fábio não foi exigido.

Foi o momento mais perigoso da partida. A torcida do Atlético já gritava contra seu treinador, que só fez uma troca, mandando Neto Berola na vaga de Tardelli, sem alterar muito o esquema. No mesmo momento, Marlone foi para a vaga de Dagoberto, também sem alterar o sistema, mas dando muito mais preocupações defensivas a Marcos Rocha do que Neto Berola a Ceará. No fim, uma cobrança de falta de Souza fez Victor rebotear nos pés de Rodrigo Souza, que se fizesse o gol teria coroado sua excelente atuação.

É o clássico

É lugar comum, mas não seria se não fosse verdade: o clássico é um jogo diferente. Ele faz os treinadores mudarem as características de seus times para explorar cada fraqueza do rival — Mourinho fez isso recentemente com seu Chelsea na partida contra o Manchester City pela Premier League. Sem os “titulares” Lucas Silva e Moreno, as entradas mais esperadas eram as de Júlio Baptista (empurrando Goulart à frente) e Henrique na posição de segundo volante. Mas Marcelo lançou Rodrigo Souza e Willian, visando explorar a deficiência defensiva pela esquerda e mitigar a saída forte pela direita. Tudo isso ainda povoando o meio-campo e vencendo a batalha pela posse. Pontos para o treinador.

Mas como em futebol não existe tática perfeita, algo teve de ser sacrificado. E foi a movimentação ofensiva característica deste Cruzeiro, com intensidade e troca de posições constante. Willian ficou preso na sua atribuição defensiva e pouco centralizou. Dagoberto já não tem tanto esta característica, preferindo naturalmente ficar mais aberto, e Éverton Ribeiro, centralizado, ficou encaixotado na marcação dos volantes atleticanos. Por isso não vimos o Cruzeiro vibrante do ano passado.

De qualquer forma, foi uma evolução. Após a confirmação do título nacional, Fábio foi a um programa de entrevistas e disse que a eliminação para o Flamengo na Copa do Brasil fez o grupo perceber que não sabia jogar se defendendo. Portanto, o time de 2013 só sabia jogar de um jeito: atacar o tempo todo. No clássico, o Cruzeiro teve uma postura mais cautelosa, mas com a bola nos pés, conseguindo criar mais chances e ficar mais perto da vitória do que o rival — ainda que isso seja contra a escola de futebol preferencial dos cruzeirenses, é importante saber jogar assim de vez em quando.

E e parece que este grupo aprendeu.

Cruzeiro 3 x 1 Villa Nova – O dilema da centroavância

O título deste artigo é uma pegadinha. Quem lê rapidamente pode pensar que é uma crítica aos jogadores desta posição, mas não se trata disso. Na noite de quarta, Marcelo Oliveira encontrou, sem querer — ou não — uma solução para a repentina escassez de centroavantes que o Cruzeiro passou a ter com a lesão de Borges no último sábado. Com a venda de Vinícius Araújo, de repente Marcelo Moreno passou a ser a única opção “nativa” para a posição.

Falo dos quatro meias que jogaram em um determinado período do jogo, como veremos mais adiante. Para este blogueiro, foi o melhor momento da equipe na partida, em que pese o relaxamento que os jogadores já estavam àquela altura com o 3 a 0 no placar.

Formação

Cruzeiro no 4-2-3-1 costumeiro e com a movimentação que lembrou o time do ano passado; Villa numa formação muito adaptada para defender, com cobertura de João Paulo e Léo tendo que escolher o lateral que marcava

Cruzeiro no 4-2-3-1 costumeiro e com a movimentação que lembrou o time do ano passado; Villa numa formação muito adaptada para defender, com cobertura de João Paulo e Léo tendo que escolher o lateral que marcava

O Cruzeiro iniciou o jogo no mesmo 4-2-3-1 de sempre. Quem lê o blog já está acostumado e sabe de cor: Fábio no gol; Ceará e Egídio nas laterais e Dedé e Bruno Rodrigo no miolo; Souza mais preso e Lucas Silva mais solto como volantes, atrás de Éverton Ribeiro partindo da direita para dentro, Ricardo Goulart se movimentando no meio e Dagoberto mais espetado e mais à esquerda. Na frente, Marcelo Moreno brigando com os zagueiros.

Foi difícil definir um esquema para o time do Villa Nova. Paulinho Kobayashi — aquele mesmo — montou uma linha defensiva com quatro homens, mas o lateral Chiquinho preferia subir para bater com Egídio e com isso o volante João Paulo descia para a cobertura em Dagoberto — os dois se encontraram o jogo inteiro. Ferrugem ficou mais preso como volante à frente da área e liberava Igor para subir um pouco mais, mas o camisa 11 do Villa também teve mais atribuições defensivas que ofensivas. Mancini ficou na ligação e tentava encontrar os atacantes Léo, pelos lados, e Paulo Henrique, centralizado como referência. Algo como um 4-3-1-2, mas com o meio sem ser em losango.

Flanqueando o adversário

Essa formação tinha o objetivo de tirar os espaços do Cruzeiro em seu setor mais produtivo, o meio-campo ofensivo. Com ferrugem fazendo as coberturas, João Paulo grudado em Dagoberto e Igor cercando Éverton Ribeiro, e ainda tendo a ajuda em alguns momentos de Léo e Mancini, Kobayashi tentou vencer o setor pela tática da horda — quanto mais gente, mais difícil. Mas aqui cabe a metáfora do cobertor curto: se se coloca gente demais em um lugar, falta em outro. E nesse caso foi nas laterais.

Léo ficou mais pela direita no início do jogo e encontrava Egídio algumas vezes, mas do outro lado não havia ninguém para impedir Ceará de jogar. O lateral avançava tranquilamente até a linha divisória e entregava bolas limpas para os meias criarem, e até mesmo fazia jogadas de ultrapassagem encontrando Fábio Fidélis na linha de fundo. Quando Léo inverteu de lado, aí foi a vez de Egídio aproveitar, pois agora o lado esquerdo estava no mano a mano. E num avanço de Souza pela esquerda, a marcação do Villa ficou com gente a menos e saiu a tabela que originou o gol contra que abriu o placar.

Depois do gol, Léo retornou para a direita para tentar parar Egídio, mas o estrago já tinha sido feito. Mesmo assim, o lado esquerdo continuou sendo o mapa da mina, pois Dagoberto estava vencendo o duelo contra João Paulo, fazendo o segundo em uma jogada típica de ponteiro de pé trocado: destro na esquerda. Puxou para dentro, ficou de frente e emendou uma bola rasteira que imobilizou o goleiro Bráz.

Moreno

Quando disse no primeiro texto do ano que fiquei com um pé atrás em relação à contratação de Marcelo Moreno, me referia ao estilo de jogo que o boliviano-brasileiro pede: jogo de referência, homem-alvo na área. Isso tem uma vantagem e uma desvantagem. A vantagem é que acrescenta uma opção de estilo, a bola aérea ofensiva com bola rolando. O Cruzeiro fez muitos gols pelo alto no ano passado, mas quase sempre através de seus zagueiros e volantes, e em bolas paradas. Os meias e atacantes preferem usar os pés, mesmo dentro da área. Mas essa característica também é uma desvantagem: sendo um centroavante mais de força, típico homem-alvo, Moreno participa menos da construção das jogadas — Borges não participava muito, mas Moreno participa menos ainda. Isso pode eventualmente sobrecarregar o trio de meias, mas não chega a ser um problema, apenas uma opção por um estilo de jogo ou outro.

Com ele em campo, portanto, o Cruzeiro precisará se adaptar a estas características de seu jogador mais avançado, e começou a fazer isso nesta partida. Os laterais e ponteiros sempre buscavam o cabeceio do camisa 18, que teve muitas dificuldades em desenvolver seu jogo. Mas no fim do primeiro tempo, numa bola milimétrica de Éverton Ribeiro — aparecendo pela esquerda na troca de posições típica deste Cruzeiro — Moreno acertou um “cabeçazo”, forte, sem chances para Bráz. Primeiro gol dele no retorno, e todas as memórias da torcida celeste da Libertadores de 2008 voltaram naquele momento.

A “inovação”

No início do segundo tempo, Moreno deu lugar a Willian, e o Cruzeiro jogou sem centroavantes de ofício, com 4 meias que se movimentam muito: um inovador 4-2-4-0

No início do segundo tempo, Moreno deu lugar a Willian, e o Cruzeiro jogou sem centroavantes de ofício, com 4 meias que se movimentam muito: um inovador 4-2-4-0

No intervalo, Marcelo Oliveira optou por poupar Moreno pensando na Libertadores. Talvez fosse um medo de uma lesão que deixaria o Cruzeiro sem centroavantes. Com a entrada de Willian, era imaginado que Ricardo Goulart avançasse, deixando Éverton Ribeiro como meia central e Dagoberto e Willian pelos lados. Mas Ricardo Goulart, como meia de ofício, tende a deixar a área e se aproximar do meio-campo, se juntando ao trio de meias. E nesta partida ele fez isso muitas vezes. Além disso, Dagoberto e Willian também são ponteiros agudos, que invadem a área para concluir sempre que podem. Somente Éverton Ribeiro ficava mais por trás, pensando o jogo.

Assim, a formação celeste mudou para uma espécie de 4-2-1-3, mas que eu prefiro chamar de um inovador 4-2-4-0 — sim, pois todo o quarteto ofensivo participava da construção na frente da área adversária, sem nenhum homem fixo como referência na frente. rotação de posições provocava várias linhas de passe rápidas e inteligentes que levaram os defensores villanovenses à loucura. Pena que as conclusões não foram lá essas coisas.

Veja o posicionamento do quarteto ofensivo  meias quando o Cruzeiro jogou sem centroavante, e veja o desenrolar desse lance aqui

Veja o posicionamento do quarteto ofensivo meias quando o Cruzeiro jogou sem centroavante, e veja o desenrolar desse lance aqui

“De volta” ao 4-2-3-1

O ritmo arrefeceu um pouco após a entrada de Marlone na vaga de Dagoberto, mas continuava empolgado este blogueiro. Porém, ao ver Júlio Baptista se preparando para entrar no gramado, bateu a frustração, pois era sabido que sua entrada iria “travar” o time. Júlio tem bom passe e boa finalização, mas não se movimenta tanto, e sua entrada faria o time ficar engessado.

Ao invés de ir jogar na meia central, onde sempre entra, deixando Ricardo Goulart como centroavante, para minha surpresa foi o próprio Goulart quem saiu. Éverton Ribeiro ficou “sozinho” na meia central e Júlio foi ser centroavante. Era mais uma tentativa de Marcelo de solucionar a falta de centroavantes no elenco celeste.

A entrada de Júlio teve o efeito de tirar a intensidade de movimentação na frente, e sem o ímpeto o Cruzeiro começou a administrar e relaxou demais, chamou o Villa Nova para seu campo — que àquela altura já não tinha mais nada a perder — e num momento de relaxamento total, Fábio errou a saída de bola e a zaga não conseguiu tirar, gerando novo ataque do Villa que culminou no gol de Mancini, completamente sozinho na frente de Fábio, para fechar o placar.

Uma possível formação, sim senhor

Jogar sem centroavante não é nenhuma novidade — o Barcelona vem fazendo isso há muitos anos. Mas o time catalão é um pouco diferente, no sentido de que sua base em um 4-3-3, com um volante preso (Busquets) e dois passadores (Xavi e Fábregas) no meio, com um “falso 9” (Messi) que recua, faz número no setor e abre espaço para os ponteiros e meias invadirem a área. No caso do Cruzeiro, o sistema de partida foi um 4-2-3-1, com um volante a mais e um meia a menos. Um sistema que, na modestíssima opinião deste escriba, funcionou muito bem.

Mas é difícil imaginar que Marcelo Oliveira vá testar esta formação mais vezes. O mais provável é que Moreno seja mesmo o titular ou Júlio ou Goulart (desta vez mais avançado mesmo) faça as vezes de centroavante. Seria um sopro de novidade tática no Brasil, um país tão carente neste aspecto do futebol — infelizmente, para os brasileiros o aspecto tático é pouco importante, sendo a parte técnica o principal.

De qualquer forma, foi ótimo ver o Cruzeiro relembrando sua melhor forma do ano passado, que trouxe o título nacional inconteste. Uma forma que, como este blog previu no primeiro texto de 2013, resgata a escola de jogo do Cruzeiro, tão tradicional e histórica que tem até um ditado popular.

Que sigamos sendo rápidos e rasteiros — como o ataque do Cruzeiro.

2014: o ano da Copa… Libertadores

O Constelações está de volta. O único blog de análise tática assumidamente sem compromisso com a análise neutra — aqui é só o Cruzeiro que interessa — abre seus trabalhos em 2014 com uma opinião sobre os novos contratados e um resumo sobre as duas primeiras partidas do ano.

Mas antes, cabe uma rápida explicação: as últimas rodadas do Brasileirão 2013 foram atenciosamente vistas por este que vos escreve. Porém, como sabem, este não é o meu trabalho principal (adoraria que fosse) e portanto não posso me dedicar a ele como gostaria. Some-se a isso as viagens e festas de fim de ano, nas quais fiquei sem meu equipamento para escrever os textos (um computador), passou-se o tempo, as análises não foram escritas e deixaram de ser relevantes.

Entretanto, não acredito ter perdido muita coisa. Afinal o Cruzeiro foi totalmente outro após a conquista do título, jogando mais para festejar com a torcida do que para vencer. O mesmo 4-2-3-1 permaneceu até o final, mas com equipes do outro lado jogando a vida para não caírem para a segunda divisão — uns conseguiram, outros não.

Reforços

Os inscritos para a Libertadores 2014.

Os inscritos para a Libertadores 2014

Mas 2014, o ano da Copa (Libertadores), chegou. E com ele, novos contratados apareceram na Toca II: Rodrigo Souza, Samudio, Marlone e Marcelo Moreno.

O primeiro é volante, mais de contenção, e portanto jogaria na posição que é atualmente do Nilton. Confesso que não sei se o jogador tem a mesma qualidade de passe e chegada na área em bolas paradas, a conferir.

O lateral esquerdo Samudio foi uma excelente contratação. Vem para ser a sombra que Egídio precisava, já que Éverton chegou a ser titular no Campeonato Mineiro mas perdeu a posição novamente e não jogou mais. O gringo traz a experiência de Libertadores que possui e será muito importante quando Egídio, ainda dono da posição, não puder jogar. Não conheço a característica do jogador, se é lateral mais defensivo (como Ceará) ou tem mais ímpeto (como Mayke e Egídio). Se eu tivesse que apostar, apostaria no primeiro caso.

Marlone é uma jovem promessa que apareceu muito bem no Vasco no ano passado. É ponteiro, podendo jogar pelos dois lados mas preferencialmente o esquerdo. Está na disputa com Willian, Dagoberto e Luan por esta vaga — sim, porque do lado direito, Éverton Ribeiro é o dono indiscutível da posição. E pode ter sido uma contratação já pensando numa provável saída de Éverton Ribeiro para o futebol europeu.

Já Moreno é velho conhecido da torcida celeste. Foi o artilheiro da Libertadores de 2008, a primeira da era Adílson Batista. Volta quatro anos mais experiente, depois de uma temporada razoável no Grêmio e no Flamengo, onde amargou a reserva de Hernane. Centroavante, possui bola aérea forte, mas tem características bem diferentes dos outros centroavantes Borges e Anselmo Ramon (e de Vinícius Araújo, que já se foi). Confesso que estou com um pé atrás com esta contratação, pois precisávamos de centroavantes móveis e não de mais uma referência na área (Borges e Anselmo já servem a esse propósito), mas pode também ser um indicativo de que Marcelo Oliveira está disposto a mudar o estilo de jogo se for preciso.

Cruzeiro 1 x 0 URT

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O ano começou como terminou ano passado: o mesmo 4-2-3-1, porém com Souza na vaga de Nilton. Os outros dez eram os de sempre: Fábio no gol, Ceará e Egídio nas laterais, Dedé e Bruno Rodrigo na zaga, Lucas Silva de volante avançado e Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Dagoberto na linha de três meias atrás de Borges. Nada de novo.

Como também não foi novidade o número de finalizações celestes: 35, sendo 14 na direção do gol, contra apenas 6 da URT. Isso porque o time de Patos de postou com uma trinca de volantes, dois meias mais abertos para barrar as subidas dos laterais e um atacante apenas, que não fazia pressão em Dedé e Bruno Rodrigo. Assim, o Cruzeiro avançava até quase na intermediária ofensiva sem ser incomodado, e só sofria marcação mais pesada a partir daí.

A movimentação da trinca de meias do ano passado estava lá, ainda um pouco enferrujada, mas era intensa o suficiente para por vezes afundar um ou dois volantes patenses na linha defensiva e abrindo espaço logo à frente da área. Esse espaço gerou uma profusão de chances, que só não foram melhor aproveitadas porque o goleiro Guilliano estava em tarde inspirada, e também o pé ainda não me pareceu bem calibrado. Era o primeiro jogo da temporada, afinal.

Marcelo fez trocas simples, apesar de não serem diretas. Dagoberto por Willian, Júlio Baptista por Borges (com Goulart temporariamente na referência) e Goulart por Moreno. Manteve-se o 4-2-3-1 e o placar de 1 a 0 construído no fim do primeiro tempo.

Caldense 0 x 0 Cruzeiro

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

Já no sul de Minas foi diferente. A Caldense, com um bom time armado pelo técnico Leonardo Condé, não teve a mesma postura da URT e avançou suas linhas de marcação. Jogando no mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, tinha o veloz Diney na esquerda, e Éverton Maradona comandando o meio-campo central. Em teoria, não havia superioridade numérica em nenhum setor do campo, mas o time de Poços tinha mais energia e preparo físico, jogando com muita velocidade tanto no ataque como na defesa. O Cruzeiro, sem o mesmo condicionamento, tentava tirar a velocidade do jogo, e por isso ficava com a bola mais tempo mas sem produzir nada.

Nesta feita, Marcelo Oliveira teve que trocar Borges por Moreno diretamente, devido a lesão do camisa 9 ainda no primeiro tempo. Depois, Júlio Baptista entrou na vaga de Willian (que havia começado o jogo pela esquerda na vaga do poupado Dagoberto), fazendo Ricardo Goulart jogar pela esquerda na linha de três, mas “a la Éverton Ribeiro”: puxando para o centro, devido sua tendência de estar por dentro do campo, e ao mesmo tempo explorando o espaço que Júlio Baptista tentava criar com incursões à grande área.

E por fim, Éverton Ribeiro, que errou muitos passes neste jogo, saiu para a entrada de Élber. A tentativa era a da velocidade, ultrapassagens pelos lados para levantar a bola para Moreno na área, mas não houve sucesso.
E, em suma, foi assim o jogo: a Caldense jogando a vida, pois qualquer ponto nos confrontos com os time da capital pode valer uma vaga na semifinal, e o Cruzeiro ainda tentando encontrar um ritmo e recuperando a questão física. O zero a zero acabou sendo um resultado condizente, em que pese o time da casa ter tido mais chances.

Ainda é pré-temporada

Lembremos que o Cruzeiro jogou sua última partida em 2013 no dia 8 de dezembro. Somemos o mês de férias e o mês de pré-temporada e chegamos à data de 8 de fevereiro: o dia em que aí sim podemos passar a cobrar um pouco mais do Cruzeiro, ainda que seja o início da temporada. Portanto, estes primeiros jogos só servem como pré-temporada de fato, mesmo que sejam jogos oficiais. A estreia na Libertadores é no dia 12 contra o Real Garcilaso, e até lá o Cruzeiro ainda vai evoluir física e tecnicamente.

Taticamente, a evolução continua, mas já é um time bastante amadurecido com o sucesso na temporada passada.

Cruzeiro 2 x 2 Ponte Preta – À brinca

Dois descuidos da zaga, no início e no finzinho do jogo, tiraram os três pontos do Cruzeiro de ressaca pelo título conquistado oficialmente em Salvador. Méritos da Ponte Preta, que se defendeu bem e aproveitou as pouquíssimas oportunidades de gol que teve.

Mas ouso dizer que caso o Cruzeiro tivesse encarado o jogo “à vera” e não “à brinca”, o resultado com certeza seria outro.

Sistemas iniciais

Ataque contra defesa: teoricamente a Ponte veio num teórico losango, mas Rildo e Adrianinho afundavam tanto que parecia um 4-5-1 em linha

Ataque contra defesa: teoricamente a Ponte veio num teórico losango, mas Rildo e Adrianinho afundavam tanto que parecia um 4-5-1 em linha

O Cruzeiro, como todos sabem — menos o cara que faz a arte com a disposição tática antes dos jogos na TV — joga no seu costumeiro 4-2-3-1, mas desta vez com muitas novidades. Fábio, que será o primeiro jogador a colocar a mão na taça no dia 1º de dezembro, não foi poupado e defendeu a baliza celeste mais uma vez, protegido pelos zagueiros Paulão e Léo, com Ceará e Éverton fechando a defesa pelas laterais. Souza e Henrique formaram a dupla volância, dando suporte a Júlio Baptista como central e a Éverton Ribeiro e Willian de ponteiros, com Ricardo Goulart na frente.

Jorginho escalou a Ponte Preta num teórico 4-3-1-2 losangal. Na prática o desenho se deformou pela postura defensiva do time de Campinas na partida. O gol de Roberto foi defendido por Artur à direita, César e Ferron no miolo e Uendel à esquerda. Baraka era o “cão de guarda” da defesa, e era acompanhado nessa tarefa por Fernando Bob e Fellipe Bastos como os vértices laterais do losango. Adrianinho era o único meia criativo, com o atacante Rildo posicionado quase como um ponteiro esquerdo e Leonardo centralizado na referência.

Estacionando o ônibus

Antes do gol, o jogo já dava sinais de que seria praticamente um exercício de ataque contra defesa. E na primeira investida, cochilo de Léo na marcação de Leonardo, que iniciou a jogada sob a marcação do zagueiro, mas entrou na área para concluir livre. Talvez porque Léo se acostumou a jogar na esquerda da zaga quando fez parceria com Dedé — quando joga ao lado de Paulão, ele fica no seu lado preferido, o direito, no qual já foi até lateral.

O gol só fez acentuar a característica do jogo. Desesperada para fugir do rebaixamento, a Ponte Preta só se defendia. Nem contra-ataques arriscava, deixando apenas Leonardo já na sua intermediária defensiva como o homem mais avançado. O losango de meio-campo se planificou, Rildo voltava acompanhando Ceará, e Adrianinho afundava entre os volantes, transformando o time praticamente um 4-5-1 — assim mesmo, com cinco jogadores quase alinhados no meio-campo.

Sem conseguir entrar na defesa campineira, o Cruzeiro abusou de cruzamentos e finalizou bastante, mas com pouco perigo. E a partir dos 30 minutos, a Ponte conseguiu sair um pouco de trás e aproveitava algumas falhas provenientes do desentrosamento dos defensores do Cruzeiro: dois jogadores na pressão da bola e nenhum na cobertura, por exemplo, abrindo espaços que normalmente o Cruzeiro não cede.

Flagrante do desentrosamento da defesa celeste: nesta bola, Paulão devia dar o combate e Ceará devia estar em Rildo, mas o atacante ficou sozinho para receber

Flagrante do desentrosamento da defesa celeste: nesta bola, Paulão devia dar o combate e Ceará devia estar em Rildo, mas o atacante ficou sozinho para receber

Segunda etapa

Após virar o intervalo na frente, Jorginho acreditou na proposta. Apenas trocou Fellipe Bastos por Magal, na direita do “losango” — entre aspas porque o jogo voltou ao padrão ataque-defesa do primeiro tempo, fazendo com que a Ponte afundasse o seu meio-campo para marcar o Cruzeiro. Só que desta vez, Éverton Ribeiro começou a jogar pra valer: chamou o jogo pra si e começou a distribuir como nunca, mas as finalizações dos companheiros não eram boas.

Depois de quinze minutos, Marcelo Oliveira resolveu que era hora de tentar vencer, para dar alegria ao torcedor uberlandense. Em duas trocas, mandou Élber e Vinícius Araújo nas vagas de Júlio Baptista e Henrique, inovando: montou um 4-2-3-1 com Élber, Goulart e Willian atrás de Vinícius, mas com Éverton Ribeiro como um “armador recuado”, posicionado como volante, mas que só tinha a função de pensar o jogo. Na prática, era um 4-1-4-1/4-3-3, pois a Ponte praticamente não atacava.

Virada

Após as trocas, Cruzeiro todo no ataque, mesmo quando já vencia, com Éverton Ribeiro distribuindo: o risco era ter marcação frouxa no meio-campo. Assim saiu o segundo gol do time de Campinas

Após as trocas, Cruzeiro todo no ataque, mesmo quando já vencia, com Éverton Ribeiro distribuindo: o risco era ter marcação frouxa no meio-campo. Assim saiu o segundo gol do time de Campinas

A terceira troca, Éverton por Luan, já estava preparada antes mesmo do empate, num cabeceio de Souza em cobrança de escanteio de — não poderia ser outro — Éverton Ribeiro. Luan entrou como lateral-esquerdo mesmo, indicando a vontade de Marcelo de atacar a todo custo. Àquela altura, Willian já fazia mais companhia a Vinícius Araújo dentro da área ofensiva do que a Éverton Ribeiro no meio. Goulart passou à esquerda e o time ficou numa espécia de 2-1-3-4 — sim, porque os laterais estavam tão avançados que já não eram mais defensores.

Jorginho lançou Elias na vaga de Adrianinho numa troca direta, de meia por meia, mas era um jogador descansado. E pouco depois, mandou Rafael Ratão na vaga de Rildo, que neste jogo não foi atacante e sim “marcador de lateral”. Mas o jogo não mudou, e mais uma vez Éverton decidiu: recebeu um passe de Vinícius Araújo e viu a movimentação do garoto, colocando uma bola precisa e preciosa para o camisa 30 chutar de primeira e fazer um dos gols mais bonitos da rodada.

O Cruzeiro até que tentou mais vezes, mas em mais um descuido — desta vez de todo o sistema defensivo — a Ponte conseguiu achar o empate, num contra-ataque nem tão rápido assim, mas que pegou a defesa celeste se recompondo. Quem erra a interceptação do passe para Leonardo é Souza, que está fazendo a cobertura de Paulão, voltando lentamente de um ataque. Como era o único volante, não havia marcadores para impedir o passe original de Elias.

Filosofia vitoriosa

No primeiro texto do ano, este blog destacou o provável estilo de jogo que o Cruzeiro teria este ano, baseado nas contratações feitas. Seria um resgate do futebol ofensivo, de toque de bola, que é a escola histórica do Cruzeiro. Deu muito certo, ainda mais considerando que é uma equipe ainda em processo de amadurecimento.

Sim, pois como disse Fábio na sua entrevista ao programa Bola da Vez, da ESPN Brasil: “depois da eliminação para o Flamengo na Copa do Brasil, chegamos à conclusão de que nós não sabíamos jogar nos defendendo”. E sabendo dessa limitação, a partir dali o Cruzeiro arrancou para o título jogando da forma que sabe: atacando sempre, com intensidade.

Mas a frase também indica que há espaço para melhorar. Um time maduro consegue se adaptar sem problemas às características de uma partida, e haverá sim momentos em que o adversário tentará atacar de todas as formas. A Libertadores é uma competição que tem esse lado.

É preciso, portanto, saber variar a estratégia, mas sem variar o estilo. Porque deixar de ser um time de toque de bola, jamais.

Vitória 1 x 3 Cruzeiro – Jogando por diversão

O Cruzeiro não foi perfeito na partida contra o Vitória. Tampouco jogou com a mesma intensidade e qualidade de outras jornadas. Porém, sem o peso da pressão pelos três pontos, o Cruzeiro acabou jogando despreocupadamente, mas sem perder a seriedade, e acabou por fazer três gols quase sem fazer força contra uma boa equipe, que vinha em ascensão no campeonato, e fora de casa.

Nem era necessário vencer para confirmar o título, mas a forma como veio o triunfo foi, de certa forma, um símbolo da superioridade celeste ao longo de todo o campeonato.

Escretes iniciais

O 4-3-1-2 losango do Vitória causou problemas para Mayke e Egídio, por causa da movimentação de Escudero e do pouco auxílio dos ponteiros do 4-2-3-1 celeste

O 4-3-1-2 losango do Vitória causou problemas para Mayke e Egídio, por causa da movimentação de Escudero e do pouco auxílio dos ponteiros do 4-2-3-1 celeste

Desta feita, Marcelo Oliveira tinha vários desfalques para a montagem do time. Ao lesionado Bruno Rodrigo se juntou Nilton, e Ceará e Éverton Ribeiro estavam suspensos. Para seus lugares, o treinador escolheu, além de Léo, Leandro Guerreiro, Mayke e Willian, formando seu 4-2-3-1 costumeiro com Fábio no gol, Mayke pela direita da defesa, Dedé e Léo no miolo e Egídio pelo lado esquerdo. Na volância, Leandro Guerreiro se plantou à frente da zaga e soltou Lucas Silva para se juntar ao trio de meias-atacantes, com Willian à direita, Dagoberto à esquerda e Ricardo Goulart como central, atrás do artilheiro baiano Borges.

Ney Franco montou o vitória num 4-3-1-2 muito móvel, que variava para o 4-2-3-1 com a movimentação de Escudero pela esquerda e o recuo de Marquinhos pela direita. No modo losango, o goleiro Wilson tinha Victor Ramos e Kadu como zagueiros centrais, ladeados por Ayrton à direita e Juan pela esquerda. Marcelo ficava centralizado à frente da área, tendo Luís Cáceres à direita ligeiramente mais avançado, e Escudero à sua esquerda, mas quase na linha do ponta-de-lança Renato Cajá. Marquinhos era o atacante móvel, principalmente pela direita, e Dinei fazia a referência, mais por dentro.

Flancos expostos

O jogo começou com o Cruzeiro tendo alguns problemas defensivos pelos flancos. Com Willian e Dagoberto em campo, o time fica muito agudo e com menos poder de recomposição, ainda que Willian recuasse com Juan por alguns momentos. Com Leandro Guerreiro tendo dificuldade em fazer a cobertura com a mesma qualidade que Nilton, os laterais ficaram expostos demais, principalmente Mayke pela direita, que tinha que vigiar Escudero e Juan ao mesmo tempo. Do outro lado, Ayrton não ajudava tanto a Marquinhos, mas Egídio também teve dificuldades.

Porém, o Vitória foi acometido por um mal que o Cruzeiro já sofrera neste certame: a má pontaria. Marquinhos teve uma chance de ouro em erro de Leandro Guerreiro na saída, recebendo um passe de Renato Cajá e mandando nas mãos de Fábio, e depois Escudero ficou livre para a finalização na entrada da área após jogada pela direita, mas mandou por cima. A principal chance, porém, foi uma jogada na qual Juan avançou pelo centro, com Escudero mais aberto, e que confundiu a marcação de Mayke. O lateral do time baiano recebeu passe de Cáceres e ajeitou para Dinei, sozinho e de frente para Fábio, mandar à direita.

O Vitória foi o time que mais tentou o gol na rodada, mas, ao contrário do Cruzeiro, não era eficiente; e quando acertava a o gol, tinha Fábio pela frente

O Vitória foi o time que mais tentou o gol na rodada, mas, ao contrário do Cruzeiro, não era eficiente; e quando acertava a o gol, tinha Fábio pela frente

Precisão cirúrgica

Se atrás o Cruzeiro escapava por pouco de sofrer o gol, na frente não deixava de atacar, ainda que sem o mesmo toque de bola. O comentarista já dizia, não se pode errar contra este time. Borges já tinha conseguido um lance típico de centroavante, girando na marcação e tocando no cantinho, com a bola passando muito perto da trave. Mas foi num chutão da defesa que o Cruzeiro “ensinou” ao Vitória como jogar em velocidade: Dagoberto ganhou a disputa aérea e imediatamente lançou Willian, livre, que avançou e venceu Wilson.

Era apenas a quarta finalização do Cruzeiro no jogo, a segunda na direção do gol, contra 9 do Vitória àquela altura. O Cruzeiro ainda é o time que mais finaliza no campeonato, mas também tem a melhor eficiência, com praticamente 46% das conclusões indo na direção do gol — um belo indício do estilo de jogo ofensivo e que prevaleceu sobre todos os outros no torneio.

Primeiras trocas

O gol fez o Vitória perder um pouco o norte, e o primeiro tempo acabaria mesmo com o Cruzeiro na frente. No intervalo, Ney Franco desfez o losango, tirando Renato Cajá para a entrada de William Henrique, que foi jogar na ponta esquerda em cima de Mayke. Com isso, Escudero foi “oficializado” na meia-esquerda, e assim o time passou para um 4-3-3. Já Marcelo Oliveira promoveu a entrada de Éverton na vaga de Egídio, com dois objetivos. Um era reforçar um pouco mais a marcação naquele setor, e o outro era rodar o elenco, àquela altura já matematicamente campeão. Era um experimento, por assim dizer.

Ironicamente, as duas trocas funcionaram a favor do Cruzeiro. Sem um armador central, o Vitória forçou ainda mais pelos flancos, mas Éverton de fato segurou o ímpeto ofensivo de Marquinhos de maneira mais eficiente que Egídio pela esquerda. Na direita, Mayke tinha um alvo de marcação bem definido, que era William Henrique. Teve trabalho, mas foi bem melhor que no primeiro tempo, exceção feita ao lance do gol, mas que é totalmente perdoável — depois de um chutão de Léo que rebateu em um jogador do Vitória, Mayke errou o tempo da bola e não conseguiu interceptá-la, e ela sobrou para William Henrique. Dedé abandonou Dinei e foi na cobertura, e por isso o centroavante recebeu o passe por cima, concluindo em cima de Fábio — a bola rebateu nele mesmo e foi para o gol.

Clima de festa

No segundo gol, a movimentação de Goulart e Júlio confunde Ayrton, que é atraído para dentro e acaba abandonando Dagoberto

No segundo gol, a movimentação de Goulart e Júlio confunde Ayrton, que é atraído para dentro e acaba abandonando Dagoberto

Depois disso, quase nada aconteceu por 20 minutos, até a segundas trocas dos times. O Cruzeiro não forçava muito pois já era campeão, e jogava leve. Já o Vitória tinha dificuldade para penetrar na defesa celeste, agora melhor postada. Ney Franco soltou o time de vez tirando seu único volante de marcação, Marcelo, para promover a entrada de Euller na lateral esquerda, mudando Juan para a meia-direita e fazendo Cáceres ser o meio-campista mais recuado. Marcelo fez uma a troca já corriqueira, Borges por Júlio Baptista, avançando Goulart.

O Vitória melhorou, mas nem bem tentava imprimir seu ritmo o Cruzeiro aumentou com muita tranquilidade. Willian carregou pelo meio e viu a movimentação de Goulart e Júlio Baptista, que também atraiu a atenção do lateral Ayrton. Dagoberto ficou livre, e a bola chegou diretamente ao camisa 11. Dali, foi só rolar pra dentro para Júlio Baptista colocar o campeão novamente na frente.

Fim de jogo?

O time da casa “sentiu” o gol, na gíria do futebol. Mas neste caso foi um pouco diferente, era o peso do time campeão, do melhor ataque do campeonato, de um elenco com muita qualidade. Só chegou quando o Cruzeiro tinha 10 em campo, com Léo fora do gramado para receber atendimento: Kadu acertou a trave após ficar sozinho na área, no lugar onde provavelmente Léo estaria.

Antes do lance, Marcelo Oliveira havia mandado Tinga a campo na vaga de Dagoberto, numa rara troca mais defensiva — o cabeludo ficou pela direita mesmo, ajudando Mayke na marcação. O Vitória perdeu força de ataque e o jogo parecia estar no fim, mas não antes do Cruzeiro marcar o terceiro gol, com muita tranquilidade de Willian, o assistente, e de Ricardo Goulart, o autor do gol. Nenhum deles sofria combate próximo.

Ney Franco ainda desfez a linha de quatro com o atacante Pedro Oldoni na vaga do lateral Ayrton. Não havia sistema de jogo, era só atacar para tentar diminuir, mas o máximo que o time baiano fez foi consagrar Fábio em um chute de William Henrique.

Qualidade pura

Além de confirmar o título, mesmo que a vitória não fosse necessária, a partida de quarta-feira serviu para mostrar a qualidade verdadeira deste elenco celeste e de seu treinador. A pressão pelo triunfo é um fator psicológico que pode ajudar ou atrapalhar um time, dependendo das circunstâncias. Neste jogo, porém, vimos uma equipe desobrigada de vencer, sem pressão, e por isso jogando um futebol em estado puro, apenas na base da técnica e da tática. E por isso prevaleceu: pois tem jogadores melhores e um treinador que soube explorar as características de seus comandados, armando um sistema que hoje é muito bem assimilado por todo o elenco.

Título garantido, já se pode projetar a temporada seguinte. Certamente chegarão reforços e Marcelo provavelmente poderá pensar em variações, que devem ser treinadas no início do ano, já que 2014 terá um calendário ainda mais apertado que 2013, sem tempo para treinamentos táticos. Variações que não só são necessárias no que se refere ao sistema de jogo, mas também ao estilo: em alguns momentos, é preciso se defender mais do que atacar, como na partida contra o Flamengo pela Copa do Brasil. A Libertadores tem este caráter decisivo em sua fase eliminatória, e isso é um ponto a melhorar nesta equipe.

Mas, se essa equipe foi campeã em seu primeiro ano junta, podemos esperar voos ainda mais altos daqui pra frente.

Três volantes e um armador? Não, é um meia e três atacantes.

Três volantes e um armador? Não, é um meia e três atacantes.