Cruzeiro 3 x 0 Náutico – Chegadas e partidas

Então Diego Souza saiu. Diego vinha sendo o pilar central no meio-campo celeste, o meia por dentro do 4-2-3-1, e sua história no futebol faziam dele um ímã natural da marcação adversária. Entretanto, sua saída pode ser benéfica para o time. Isso porque, nas palavras do próprio Marcelo Oliveira antes do início da partida, com saída do camisa 10, “perdemos na experiência, na proteção da bola, na cadência, mas ganhamos em mobilidade.” E, num 4-2-3-1 moderno, é fundamental que os três meias se movimentem muito. As melhores partidas do Cruzeiro no ano tiveram um Diego Souza com mais energia, saindo do meio e abrindo espaço para os ponteiros ali penetrarem, confundindo a marcação adversária.

Na 1ª etapa, Ricardo Goulart pelo meio se movimentando, e Mayke mais contido que Egídio

Na 1ª etapa, Ricardo Goulart pelo meio se movimentando, e Mayke mais contido que Egídio

Foi um pouco do que aconteceu no Mineirão, no domingo à noite contra o Náutico. Sem Diego, Marcelo Oliveira mandou Lucca em seu lugar, que foi fazer o lado esquerdo, com Ricardo Goulart, que seria o substituto de Luan, suspenso, deslocado para a faixa central. Everton Ribeiro permaneceu na direita. O resto do time foi o de sempre, com Fábio no gol, Mayke e Egídio nas laterais, Dedé e Bruno Rodrigo na zaga, Nilton e Souza na volância e Vinicius Araújo na frente.

No início do jogo, foi difícil definir o desenho que Zé Teodoro imaginou para o time pernambucano, principalmente no meio-campo. O goleiro estreante Ricardo Berna tinha em sua linha defensiva Maranhão pela direita, João Felipe e William Alves na zaga e Eltinho na lateral esquerda. No ataque, o centro-avante Olivera tinha a companhia de Rogério, caindo pelas pontas, e um pouco mais atrás estava Marcos Vinicius. Os três homens restantes eram volantes, com Auremir mais preso e mais à esquerda, e Derley e Magrão com mais liberdade para sair, Derley pela direita e Magrão pelo centro. Algo entre um 4-3-1-2 losango (porém com os volantes alinhados) e um 4-3-3 defensivo, com o meio-campo em linha e Marcos Vinicius saindo do centro para o lado esquerdo.

Ritmo forte pela esquerda

Como vem acontecendo frequentemente, o Cruzeiro começou o jogo marcando por pressão no alto do campo. Isso resultou numa posse de bola que chegou a 80% em um determinado momento do primeiro tempo. Auremir ajudava Eltinho a fechar o lado esquerdo da defesa pernambucana, provavelmente tentando bloquear as investidas de Everton Ribeiro por ali, e como Mayke ficava um pouco mais preso, muito provavelmente sob determinação de Marcelo Oliveira, era natural que Egídio e Lucca tivessem mais liberdade pela canhota. Também porque Rogério não voltava acompanhando o lateral cruzeirense, e quem tentava ajudar o pobre Maranhão era Derley, que era um volante pela direita com mais liberdade para atacar.

Com menos de dez minutos de jogo, o lateral direito do Náutico já se via combantendo dois cruzeirenses ao mesmo tempo, e foi assim que saiu a jogada do primeiro gol. Egídio e Lucca fizeram o dois contra um, passe do primeiro para o segundo, livre, cruzar para o gol de Ricardo Goulart.

Egídio e Lucca fazendo dois contra um no primeiro gol do Cruzeiro

Egídio e Lucca fazendo dois contra um no primeiro gol do Cruzeiro

O gol muda o jogo

Como é normal no futebol, o resultado corrente da partida muda as estratégias. Em tese, o Náutico teria que ter mais a bola nos pés, saindo de suas trincheiras para tentar levar mais perigo ao gol de Fábio. Com isso, o Cruzeiro teria mais espaço para jogar. As duas coisas aconteceram, mas não por iniciativa do time pernambucano e sim por que o Cruzeiro começou a errar passes em demasia, principalmente os passes mais incisivos. Com mais espaço, as tentativas de um passe mais difícil são maiores, e também os erros. No fim da partida, Everton Ribeiro ilustrou bem isso em sua entrevista: “Eles abriram muito, então fica mais fácil de errar porque a gente tenta mais.”

Além disso, o técnico Zé Teodoro mandou Marcos Vinicius e Rogério inverterem de lado no 4-3-3 com meio-campo em linha. O jovem meia Marcos Vinicius é, teoricamente, mais “defensivo” que seu companheiro de time, atacante, e agora tinha de acompanhar Egídio, deixando Mayke por conta de Rogério. Funcionou em certa medida, e o lateral esquerdo só levou algum perigo em jogada de condução da bola em velocidade, que vem sendo uma de suas características mais marcantes. O cruzamento passou perto do pé de Ricardo Goulart, mas não o encontrou.

Trio leve pela direita

Corroborando o que Marcelo Oliveira disse antes do jogo, é notória a diferença da movimentação do trio de meias sem Diego Souza — e sem Luan, pelo mesmo motivo. Ricardo Goulart não se escondeu do jogo, se movimentou pelos flancos e apareceu na área — como no lance do gol. Pela esquerda, ajudava Lucca, que é muito mais leve que Luan, mas fazendo a mesma função de acompanhar o lateral adversário sem a bola.

Mas essa característica de leveza apareceria bem mais após o intervalo, que não teve substituições mas teve mudanças: Ricardo Goulart agora era ponteiro esquerdo, Lucca era o direito e Everton Ribeiro ficou por dentro. Auremir também inverteu o lado da sua marcação e foi ajudar Maranhão contra Egídio e Goulart. Mas isso acabou liberando espaço na direita que, antes inexplorado, agora era invadido por Mayke e Lucca, sendo ajudados por Everton Ribeiro. O jovem lateral celeste tinha sempre muito espaço para avançar sem ser incomodado, já que nem Rogério nem Marcos Vinicius acompanhavam suas ofensivas.

Tanto espaço acabou por ser explorado justamente por Everton Ribeiro, que puxou um contra-ataque pelo meio, avançando de forma meio atabalhoada. Ele achou Lucca mais à frente e fez a ultrapassagem, onde não havia ninguém do time pernambucano. Lucca recuou para Vinicius Araújo, que deu um passe magistral de volta para o camisa 17. O goleiro salvou o primeiro, mas na segunda jogada Vinicius Araújo, que estava fora da área quando fez o passe, apareceu como um bom centro-avante e fuzilou.

Poucos minutos depois, uma jogada que mostrou bem a postura cruzeirense. Everton Ribeiro pressionou a zaga e roubou a bola, achando Mayke totalmente livre pela direita. O cabeceio de Ricardo Goulart, do outro lado da área, só parou na mão do zagueiro.

Bastante espaço para Mayke.

Bastante espaço para Mayke.

Trocas

O melhor momento do Cruzeiro na partida foi no início da etapa final, com Ribeiro centralizado, Lucca na direita e Goulart na esquerda

Zé Teodoro continuou o jogo de xadrez trocando Magrão por Jonatas Belusso, atacante, que foi jogar na ponta esquerda. Rogério permaneceu na ponta direita e o time agora tinha uma cara mais definida, um 4-2-1-3. Não era 4-2-3-1 porque os pontas continuavam não voltando com os laterais, mas a presença destes dois jogadores abertos nas pontas inibiu o ímpeto ofensivo de Egídio e Mayke, e o Cruzeiro perdeu um pouco do volume. Mesmo assim, a defesa sobressaía, principalmente sobre Marcos Vinícius, que seria substituído poucos minutos depois por Dadá, que é volante, mas fez a mesma função.

No Cruzeiro, Lucca deu seu lugar a Martinuccio, que inicialmente ficou pelo centro, deslocando Ribeiro para a direita. Goulart permaneceu do lado esquerdo, por onde fez a jogada do segundo gol. Tentou aplicar um drible em João Felipe, mas o zagueiro tomou-lhe à frente, tentando proteger para ganhar o tiro de meta. A insistência valeu a posse de bola dentro da área, de onde passou a Vinicius Araújo fazer o seu segundo na noite.

Com grande vantagem, o Cruzeiro tirou o pé e se contentou em segurar o time pernambucano, que não conseguia incomodar muito. Anselmo Ramon entrou na vaga de Vinicius Araújo e Tinga na de Ricardo Goulart. O primeiro para fazer o famoso jogo de pivô — destacado na jogada com Nilton ultrapassando e que seria um golaço — e o segundo pra encorpar o meio e dar mais cadência à partida já decidida. Zé Teodoro ainda tiraria Olivera para mandar Jones Carioca na ponta direita e empurrando Belusso para o centro do ataque, mas o jogador mais defendeu do que atacou.

Bons frutos

A experiência de Marcelo Oliveira no início do segundo tempo tem que ser repetida mais vezes, a saber: Everton Ribeiro no centro da linha de três. Boa visão de jogo, bom passe e velocidade suficiente para puxar um contra-ataque veloz, precisando apenas melhorar a finalização. Com a chegada de Willian, envolvido na negociação com Diego Souza e que faz bem o lado direito, é muito provável que isso aconteça, fazendo o Cruzeiro ficar num 4-2-3-1, digamos, mais “tradicional”, com dois ponteiros atacantes de ofício (ao invés de um meia e um atacante, como é hoje), voltando com o lateral adversário.

Mas se o treinador optar pelo modelo atual, Ricardo Goulart provou hoje que tem condições de ser um meia central eficiente. Ele já havia mostrado isso no primeiro jogo da temporada, quando jogou na mesma posição, e nessa partida foi eleito o melhor em campo pelo site WhoScored.com. Além disso, a se destacar as atuações de Vinicius Araújo, cada vez mais à vontade no comando do ataque, Egídio, que ainda tem problemas defensivos mas qualidades indiscutíveis no apoio, e Nilton, se acostumando à função de primeiro volante.

Negativamente, o número excessivo de passes errados. Isso é um pouco relativizado pelo fato de que o entrosamento que tinha sido conquistado até aqui tenha diminuído com a mudança das peças do time: as lesões de Ceará, Borges e Dagoberto; a suspensão de Luan, que vinha sendo o titular na ausência dos dois primeiros; a entrada de Souza na equipe, mudando um pouco a característica do time; e agora a saída de Diego Souza, titular até então absoluto de Marcelo Oliveira.

É claro que o impressionante número de 8 gols em dois jogos são diminuídos pela fragilidade dos adversários, mas é isso o que bons times fazem: massacram os adversários fracos. Há times grandes por aí que sofrem pra vencer os considerados pequenos, isso quando vencem. Mas será nas próximas rodadas que o Cruzeiro mostrará a que veio nesse campeonato, pois são jogos contra São Paulo, que mesmo em crise, é uma pedra no sapato celeste, e Atlético/MG, em alta por causa dos resultados que nunca teve na Libertadores. Bons resultados nesses jogos credenciarão o time de vez ao título.

E, sinceramente? Esse ano dá pra chegar.

Cruzeiro 5 x 0 Atlético/GO – Bom, mas nem tanto

O Cruzeiro reencontrou o Mineirão com uma pentagoleada sobre o Atlético Goianiense, com gols de cinco jogadores diferentes, e praticamente garantiu passagem às oitavas da Copa do Brasil. Entretanto, o jogo não foi tão bom taticamente, mas o Cruzeiro soube aproveitar as fragilidades do adversário para marcar. Ao contrário do que muitas críticas que li em vários sites, não achei uma exibição exemplar.

Escretes iniciais

Com Diego mais próximo de Vinicius Araújo, Cruzeiro pressionou a saída dois goianos no primeiro tempo, mas sem qualidade de passe

Com Diego mais próximo de Vinicius Araújo, Cruzeiro pressionou a saída dois goianos no primeiro tempo, mas sem qualidade de passe

Marcelo Oliveira mandou o mesmo time que enfrentou a Portuguesa no fim de semana, no já usual 4-2-3-1: o gol de Fábio protegido por Dedé e Bruno Rodrigo, com Mayke na direita e Egídio fechando pela esquerda. Nilton mais plantado liberava Souza, que se juntava ao trio de meias: Everton Ribeiro vindo da direita pro centro, Diego Souza por dentro mas se aproximando de Vinicius Araújo na frente e Luan um pouco mais preso à faixa esquerda.

O Atlético Goianiense de Renê Simões também veio no 4-2-3-1, mas com o posicionamento mais fixo. O goleiro Márcio teve Diogo Campos à direita, Artur e Diego Giaretta na zaga central e Ernandes na esquerda. Na dupla volância, Dodó e Marino ajudavam João Paulo por dentro, que era flanqueado por Pipico na destra e Jorginho na esquerda, todos procurando o centro-avante Ricardo Jesus.

Pressão na frente

Diferentemente do que fez contra a Portuguesa, logo no início do jogo o Cruzeiro avançou a marcação e forçava ou o chute longo ou a saída de bola errada do time goiano. Mas, ao recuperar a bola, não sabia muito bem o que fazer com ela. O Atlético Goianiense aproximava suas linhas e dificultava a saída pelo chão, fazendo com que os zagueiros e volantes cruzeirenses trocassem passes sem ser incomodados. Souza até tinha tempo com a bola, mas não consguia achar alvos à frente. Diego e Everton Ribeiro, muito marcados, não tinham condições de receber os passes com tempo para pensar o jogo, e assim o trabalho ofensivo era forçado para os laterais. Egídio saía mais que Mayke no início do jogo, mas foi numa jogada pela direita que saiu o primeiro gol, logo aos 10 minutos, com Diego Souza.

Como é de praxe, o gol mudou o jogo. O Atlético Goianiense ficou menos tímido e, quando conseguia sair da pressão no alto do campo imposta pelo Cruzeiro, conseguia achar bolsões de espaço justamente atrás dos ponteiros, particularmente Everton Ribeiro, que não volta tanto com o lateral adversário como Luan faz do outro lado. Num desses lances, Pipico conseguiu iludir a marcação e chutar de dentro da área, em falha de posicionamento de Dedé.

Já o Cruzeiro não diminuiu o seu ritmo, mas pecava na hora de decidir entre acelerar e cadenciar o jogo. Na expectativa de pegar a defesa goiana aberta, o Cruzeiro muitas vezes errava um passe bobo, pois queria acelerar demais o jogo quando não era necessário, e rapidamente concedia novamente a posse de bola. Quando encaixava o passe, porém, chegava com facilidade sobre a lenta defesa goiana. Assim, mesmo sem fazer muita força e com alguns problemas coletivos, o Cruzeiro dominava a partida, fazendo ainda mais dois gols de cabeça em cobranças de falta pelo lado: uma pela esquerda, com Souza mandando na cabeça de Vinicius Araújo, e outra pela esquerda, com Egídio assistindo Dedé.

Segundo tempo

No intervalo, Renê Simões trocou Jorginho por Robston e Pipico por Juninho. Robston foi jogar mais perto de Dodó, fazendo um terceiro homem de meio-campo, e João Paulo foi ser ponteiro esquerdo. Já Juninho foi uma substituição direta, para tentar explorar sua velocidade nas costas de Egídio — um espaço que o lateral deixa e que já foi citado neste blog. O time visitante acabou se postando num 4-3-3 que virava 4-1-4-1 sem a bola, encaixando ainda mais a marcação no time celeste. Isso equilibrou o jogo, e o Cruzeiro já não domínio escancarado da posse de bola e nem tanto domínio territorial. Não houve muitas chances para cada lado, porém.

E se o jogo já estava morno com o 3 a 0, o quarto gol esfriou a partida de vez. Egídio contava com a entrega tática de Luan para continuar apoiando, e na primeira investida ao ataque, cruzou para Vinicius Araújo. Um erro de linha de impedimento da zaga goiana e um corta-luz involuntário do garoto fizeram a bola sobrar limpa para Everton Ribeiro completar para o gol vazio.

Com dez

Após a expulsão e as mudanças, o Cruzeiro se encastelou num 4-4-1 bem compacto que não deu chances para o adversário

Após a expulsão e as mudanças, o Cruzeiro se encastelou num 4-4-1 bem compacto que não deu chances para o adversário

Pouco tempo depois do gol, Bruno Rodrigo foi expulso ao disputar de carrinho uma bola que ele mesmo errou na saída. Um erro infantil para um zagueiro experiente e com o jogo já decidido. Antes das substituições de recomposição, Nilton recuou para a zaga, Diego Souza afundou pra segunda linha e os dois ponteiros se alinharam a ela, ensaiando o 4-4-1 que estaria por vir — o esquema padrão para jogar com dez homens. Os sacrificados foram Everton Ribeiro e Diego Souza, com Léo indo compor a zaga e Nilton retornando ao meio-campo, e Tinga entrando pela direita.

As linhas compactas do Cruzeiro eram mais que suficientes para Fábio se sentir seguro debaixo das traves. O Atlético Goianiense tinha mais a bola, naturalmente, mas não conseguia invadir a área para finalizar com mais qualidade — apenas chutes de longe eram tentados. Renê Simões ainda tentou lançar Caio na vaga de João Paulo, mas isso piorou o time, pois Caio foi jogar por dentro ao invés de ir pela esquerda, transformando o time num 4-3-1-2 losango. A regra padrão para se jogar contra dez jogadores é tentar abrir a defesa, com jogadores de ambos os lados, e o losango é um sistema conhecido por ser estreito. Ernandes bem que tentou apoiar, mas Tinga e Mayke seguraram bem as investidas do lateral esquerdo goiano.

Ainda sobrou tempo para Egídio roubar uma bola do zagueiro Artur e acertar um lindo chute de fora da área, completando a goleada. Mérito do lateral esquerdo, tão contestado pela torcida pela sua deficiência na marcação e por alguns passes afobados. Neste jogo, foi um dos principais jogadores em campo.

No fim, Marcelo Oliveira fez a última substituição, mantendo o 4-4-1 com Ricardo Goulart na vaga de Vinicius Araújo. A troca não foi só para o garoto ser aplaudido na saída, mas também porque Goulart consegue segurar mais a bola no pé ao invés de fazer pivô, limpando a jogada e cadenciando. Fosse para fazer pivô, o escolhido seria Anselmo Ramon, mas isso só faria sentido se os ponteiros fosse rápidos, coisa que Luan e Tinga certamente não são.

Um passo atrás

Estes dois jogos após a Copa das Confederações mostraram que o Cruzeiro perdeu um pouco do entrosamento conquistado até junho. É claro que as lesões de Dagoberto e Borges contribuíram para isso, mas o fator principal foi a chegada de Souza, um volante com características bem diferentes de Nilton e Leandro Guerreiro, que vinha sendo a dupla titular. Este era um problema que este blog já relatava no primeiro semestre, a falta de um volante passador. Pois bem, ele chegou, e com isso o time mudou sua característica. Ainda vai levar um tempo maior para o time se adaptar a isso.

Também é primordial que Marcelo Oliveira encontre uma solução para o pouco trabalho defensivo de Everton Ribeiro, e também para a cobertura de Egídio — ou fazer o lateral esquerdo treinar mais a defesa de seu setor. Hoje, estes são os setores que me parece mais vulneráveis na equipe celeste, e isso se tornará um problema ainda maior com a volta de Dagoberto, que não defende tanto quanto Luan.

E mais: com Dagoberto, Mayke e Souza, o time celeste passa a ter uma característica muito ofensiva, até um pouco desequilibrada, o que faz com que os passes errados sejam uma questão que deve ser resolvida o quanto antes. Não há problema em ter esta vocação para o ataque, desde que o time fique com a bola e seja atacado o mínimo possível — aí estão as filosofias de Barcelona e Espanha que não me deixam mentir. Errar um passe mais incisivo é normal, mas passes laterais e curtos não, e isso vem acontecendo com mais frequência que o aceitável.

Em suma, o meu desejo é que este passo atrás seja para que se dê dois passos pra frente depois. Sabemos que esta é a primeira temporada deste time, mas já tivemos algumas amostras de como a equipe pode render. A torcida do Cruzeiro já está esperando pelo menos uma vaga na Libertadores e/ou chegar longe na Copa do Brasil.

Objetivos possíveis, mas não fáceis de ser alcançados.

Atlético/PR 2 x 2 Cruzeiro – Futebol de lama

Abro a análise de hoje com a síntese do jogo que o técnico Marcelo Oliveira deu ao repórter do Premiere FC após a partida.

“Foram tempos distintos. O Atlético nos dominou no primeiro tempo, se adaptou melhor ao gramado — se é que posso chamar de gramado. Então foi chutão pra lá e pra cá, [o Atlético] aproveitou da bola parada e da segunda bola. E nós equilibramos no segundo tempo, fizemos alguns contra-ataques importantes, e desperdiçamos. Mas acho que ficou de bom tamanho, foi justo o empate.”

Marcelo fala de três fatores determinantes para o resultado de hoje: (1) o arremedo de gramado prejudica a execução de qualquer estratégia que não seja (2) a bola longa e a bola parada. E foi usando exatamente desse expediente que o Cruzeiro mudou a forma de jogar no segundo tempo e conseguiu (3) contra-ataques que poderiam resultar em mais três pontos.

Porém, há outros aspectos que também devem ser levados em conta.

Escalações

A grande distância entre os volantes e os meias e a sobrecarga pelo lado esquerdo dificultaram o jogo cruzeirense na primeira etapa

A grande distância entre os volantes e os meias e a sobrecarga pelo lado esquerdo dificultaram o jogo cruzeirense na primeira etapa

Marcelo mandou a campo o 4-2-3-1 de sempre, o que hoje pode ser considerado o time titular. A linha defensiva que protegia o gol de Fábio era formada por Dedé e Bruno Rodrigo na zaga, ladeados por Ceará à direita e Egídio do outro lado. Leandro Guerreiro e Nilton, este último ligeiramente mais avançado, faziam a proteção à área. Everton Ribeiro era o ponteiro direito, com a famosa tendência a centralizar e se juntar a Diego Souza, o meia central. Na ponta esquerda, Dagoberto ficava um pouco mais espetado e procurava se juntar a Borges, na frente.

O Atlético Paranaense do técnico Ricardo Drubscky entrou num 4-3-3 clássico, com um volante e dois meias (4-1-2-3). O gol de Weverton foi defendido por Léo na lateral direita, Manoel e Cleberson no miolo e Pedro Botelho à esquerda. Deivid foi o volante mais preso, liberando João Paulo e Everton para se juntarem ao ataque, formado por Ederson na ponta direita, Marcão centralizado e Felipe pela esquerda.

Terrestre x aéreo

O Cruzeiro tinha confiança que ia superar o péssimo estado do gramado tentando jogar da mesma forma de sempre: trocando passes, cadenciando e girando a bola. Mas o gramado venceu essa batalha prejudicando muito a estratégia celeste, simbolizada num lance em que Everton Ribeiro pega uma sobra de bola e passa a Borges. A devolução do camisa 9 foi boa, e Everton Ribeiro se posicionou de forma a esperar a bola que certamente chegaria em seus pés se o gramado fosse minimamente razoável, mas que ficou presa em uma poça de lama que freou sua trajetória, atrasando o que seria um excelente contra-ataque.

Já o Atlético não quis saber de transições pelo chão e jogava a bola longa pelo alto. Foi assim que o Atlético Paranaense chegava com facilidade à frente da área cruzeirense. Pra essa estratégia funcionar, entretanto, é preciso que o time atacante pegue a segunda bola. Chama-se de” segunda bola” a sobra da disputa de cabeça pelo alto, que é a “primeira bola” Quando treinadores falam que o jogo foi de primeira e segunda bola, eles querem dizer “disputas pelo alto e vamos ver quem pega a sobra”.

Descompactação

No Atlético, a ligação direta quase sempre procurava Marcão, que disputava na maioria das vezes com Dedé. Ele não ganhou muitas, mas a segunda bola era sempre do time da casa, isso porque os setores do Cruzeiro estavam muito espaçados. Marcelo queria a marcação no alto do campo, e quarteto ofensivo tentava fazer isso, mas a zaga e os volantes era pressionados pra trás pela bola longa, abrindo um clarão de Guerreiro e Nilton aos três meias. A segunda bola quase sempre caía por ali, e com isso os jogadores de meio do Atlético avançavam com a bola dominada quase sempre com pouca marcação.

Dois contra um

Mas a parte mais vulnerável do time era o lado esquerdo da defesa. Ricardo Drubscky certamente estudou o Cruzeiro e notou que o trabalho defensivo de Dagoberto por aquele setor não é tão intenso. Ele escalou Léo, um jovem lateral com muito ímpeto ofensivo e grande velocidade, e Ederson, também muito veloz e driblador. Sem Dagoberto para auxiliar na marcação, Egídio se viu sobrecarregado e precisou da ajuda constante dos volantes Nilton e Guerreiro. Em uma jogada específica é possível ver os dois volantes celestes jogando por aquele lado, deixando a direita e o meio totalmente desprotegidos.

Com essa dificuldade, o Cruzeiro cometia sucessivas faltas, deixando a oportunidade da bola aérea em sua própria defesa. Todos os fatores combinados originaram os gols da equipe da casa. Falta cometida por Guerreiro pela esquerda, bola na área, a defesa afasta mal e a bola volta. Sem marcação, do outro lado, o lateral esquerdo Pedro Botelho completou no canto de Fábio. Depois, mais uma falta pela esquerda, e desta vez Manoel completou a bola aérea em falha dos dois zagueiros do Cruzeiro, que subiram errado na bola e deixaram o zagueiro atleticano livre.

O feitiço contra o feiticeiro

Ainda no fim do primeiro tempo, o jovem Léo sentiu uma lesão e foi substituído pelo volante Derley na lateral direita. Isso representou um alívio imediato para Egídio, e também para Dagoberto, que agora não precisava voltar tanto já que Derley era muito mais marcador que Léo. Com menos pressão, Egídio começou a se aventurar mais na frente, e foi numa falta sofrida pelo lateral cruzeirense em tabela com Diego Souza — naquele momento pela esquerda, com Dagoberto pela direita e Everton Ribeiro no meio — que o empate começou a ser construído. Cobrança de Dagoberto, a zaga afasta mal e Dedé, de pé esquerdo, jogou mansinho para o gol.

No intervalo, Marcelo Oliveira percebeu que o jogo tinha que ser feio: muito mais físico do que técnico. Aproveitou a indisposição de Dagoberto para lançar Luan, muito menos driblador mas bem mais forte, pelo lado esquerdo do campo. O empate veio no primeiro toque do camisa 88 na bola, numa jogada que ilustra como o Cruzeiro teve que mudar sua estratégia de jogo. Logo na saída, bola longa para Luan disputar pelo alto. A bola sobrou pra Borges, que foi desarmado, mas depois também sobrou limpa para Luan completar de fora da área.

Taticamente mais preso àquele setor, Luan não só segurou Derley por ali como também voltava muito mais para marcar do que Dagoberto, praticamente anulando as investidas de Ederson pela direita do ataque atleticano. Com Egídio mais livre, era Ederson quem tinha que voltar, e com isso a situação se invertia: o lado esquerdo do Cruzeiro, direito do Atlético Paranaense, antes o caminho do gol para o time da casa, era agora vantajoso para o time celeste.

Contra-ataques

A entrada de Luan e o recuo da linha ofensiva ajudaram a resolver os problemas da primeira etapa e o Cruzeiro por pouco não conseguiu a virada

A entrada de Luan e o recuo da linha ofensiva ajudaram a resolver os problemas da primeira etapa, e o Cruzeiro por pouco não conseguiu a virada

O jogo de fato ficou bem mais feio, mais pegado e disputado, e com muito menos técnica. Celso Roth diria que era um jogo não para se jogar, mas para se “competir”. E o Cruzeiro entendeu bem isso, disputando cada bola e equilibrando a partida na base da força. O Atlético sentiu o empate e procurava ficar mais com a bola. Mas Marcelo Oliveira certamente pediu para seus homens de frente marcarem atrás da linha do meio-campo, e a aproximação dos setores compactou o time fechando todas as brechas. A segunda bola já não era sempre do time da casa, e não havia brechas por onde entrar.

Com o time mais recuado, o Cruzeiro chamava o Atlético a seu campo e partia em contra-ataques, quase sempre usando a bola longa para Luan ou Borges. Numa jogada, Egídio pegou uma segunda bola e achou Diego Souza pela esquerda, que fez o pivô e mandou a Borges sozinho na área. O cabeceio veio fraco, mas o lance ilustra como o Cruzeiro teve chances em jogadas de velocidade e pelo alto. Luan ainda teria mais duas oportunidades, e também Everton Ribeiro para decretar a virada, mas o placar insistiu no empate.

As outras trocas feitas pelos treinadores não alteraram as plataformas táticas nem as estratégias de jogo. Borges por Anselmo na referência, Everton Ribeiro por Ricardo Goulart na meia, mandando Diego Souza para a direita. No Atlético, as trocas foram diretas e simples, e o 4-3-3 se manteve até o fim.

Números e o “gramado”

Ao invés de fazer uma conclusão, darei aqui alguns números que provam como o Cruzeiro poderia ter saído com os três pontos se não tivesse errado tanto. Ambos os times acertaram 50% de suas finalizações, mas o Cruzeiro finalizou 18 vezes, contra 14 do Atlético. Considerando que o Atlético teve mais posse de bola (60% x 40%), o Cruzeiro foi mais eficiente e chegou mais ao gol adversário — fruto da estratégia do segundo tempo.

O site da ESPN Brasil também disponibiliza os números da Footstats de tempo de posse de bola por setor do campo. O Atlético passou 42,47% do tempo com a bola em seu lado direito, e o Cruzeiro 43,09%, mostrando como o jogo se concentrou naquele lado do campo. Também, o Cruzeiro foi a equipe que passou menos tempo em seu meio-campo do que nos setores de ataque e defesa nesta rodada, ilustrando bem o jogo de bola longa que o gramado permitia.

O jogo de hoje mostrou que o Cruzeiro tem capacidade de adaptação e elenco variado e heterogêneo, aspectos quase indispensáveis para se almejar o título. Por outro lado, também mostrou algumas falhas, como erros em bolas aéreas e algumas decisões estratégicas equivocadas, mas estes fatores foram causados mais pelo péssimo estado do campo do que propriamente pelo adversário.

Como acho difícil jogarmos novamente em um gramado tão ruim, o Cruzeiro ainda está muito credenciado ao título.

Cruzeiro 4 x 0 Resende – Placar “mentiroso”

Quem lê este título pode achar que este blogueiro ficou maluco. Afinal o Cruzeiro foi bem superior ao Resende ontem no Mineirão pela Copa do Brasil e mereceu a vitória elástica. Mas o título tem razão de ser: o Cruzeiro foi tão superior que deveria ter feito mais gols, caso tivesse acertado mais o pé nas finalizações.

Taticamente, as novidades foram a liberdade de Dedé e a variação de ritmo de jogo, mostrando novas facetas para a disputa do Campeonato Brasileiro, dignas de um time bem treinado.

Escalações

Os avanços de Dedé e dos laterais foram marcantes no móvel 4-2-3-1 cruzeirense do 1º tempo

Os avanços de Dedé e dos laterais foram marcantes no móvel 4-2-3-1 cruzeirense do 1º tempo

O maleável 4-2-3-1 de Marcelo Oliveira teve Fábio debaixo das traves, Dedé na zaga direita e Bruno Rodrigo na esquerda. Ceará e Egídio, titular mais uma vez, foram os laterais. A dupla de volantes foi a mesma de sempre, Guerreiro e Nilton, atrás do trio Everton Ribeiro, Diego Souza e Dagoberto, todos procurando a referência na área ofensiva, Borges.

Para tentar parar os laterais cruzeirenses, o técnico Paulo Campos escalou o Resende num esquema pouco usual: o 4-4-2 britânico, com duas linhas atrás dos atacantes. Defendendo o gol de Mauro, os zagueiros Admilton e Thiago Sales foram flanqueados por Marcelo à direita e Kim à esquerda. A segunda linha tinha os meias Guto e Rafael Carioca abertos, com Denilson e Valdeci fechando a entrada da área. Na frente, Acosta e Geovani Maranhão.

Estilos de defesa

De cara, o que chamou a atenção foi a pegada cruzeirense. Os jogadores disputavam a bola como se fosse uma final, parecendo

que estavam em desvantagem. Marcação curta e alta, com correria pra roubar a bola o mais rápido possível. Quando tinha a bola, sabia alternar velocidade com a paciência, um pouco diferente do jogo cadenciado que vinha desenvolvendo no início da temporada. Isso é uma grande evolução, já que torna o time mais imprevisível e dificulta bastante o trabalho defensivo adversário.

Se o plano defensivo de Marcelo Oliveira deu certo, o mesmo não pode ser dito do treinador do time visitante. Primeiro porque deixou os atacantes Acosta e Geovani Maranhão na linha do meio-campo, sem pressionar a saída de bola, dando muita liberdade para os zagueiros e volantes cruzeirenses pensarem o jogo sem ser incomodados. E depois porque usou marcação individual por setor — ou seja, o jogador persegue o adversário que ingressar na sua zona até o fim da jogada. Com a movimentação constante do ataque do Cruzeiro, espaços abriam-se em profusão na retaguarda do Resende.

Jogo lateral

Espaços esses que eram aproveitados por Ceará e Egídio. Com os volantes do Resende tentando bloquear a entrada da área pelo meio, era um caminho natural procurar os flancos. Os ponteiros da segunda linha do Resende, Guto e Rafael Carioca, até que tentavam acompanhar os avanços dos laterais cruzeirenses pelo setor, mas eram sobrecarregados com a chegada de trás de Guerreiro e Nilton. Além disso, ainda havia o suporte dos meias. E foram em jogadas nestes setores que se originaram os lances de bola parada dos dois primeiros gols.

Tudo isso contribuiu para que este fosse o jogo em que o Cruzeiro menos tivesse posse de bola pelo meio: apenas 20,98%, bem abaixo da média de 29,03% até o jogo anterior. Pelos lados, os números demonstram a imprevisibilidade do time: aproximadamente 38% de posse pela esquerda e 40% pela direita (números da Footstats disponibilizados no site da ESPN Brasil).

Zagueiro ofensivo

Este ligeiro favorecimento do Cruzeiro pelo lado direito talvez seja explicado pelos constantes avanços de Dedé. Bem na sua característica, o estreante da noite tinha liberdade total para se juntar ao ataque, num movimento que parecia estar treinado há muito tempo. Guerreiro e Nilton se alternavam na recomposição da zaga quando Dedé avançava como homem-surpresa.

O interessante é que esta movimentação é uma forma diferente de resolver um problema que este blog já vem levantando há algum tempo, que é a falta de um volante criativo e ofensivo no meio-campo celeste. Com um dos volantes defensivos cobrindo a zaga, Dedé pode ser este homem, arrastando consigo a marcação e abrindo espaços preciosos para seus companheiros. É claro que a postura defensiva do Resende, tentando evitar uma goleada histórica, contribuiu para que Dedé tivesse todo o espaço que teve. Mas não deixa de ser uma característica que deve ser bem explorada pelo time celeste no Brasileiro.

Segundo tempo

Nilton se machucou no último lance da etapa inicial e teve de ser substituído no intervalo. Marcelo Oliveira escolheu Lucas Silva, e com isso Dedé passou a ficar mais contido, já que o garoto tende a avançar mais para o ataque e dar opção de passe do que os dois volantes titulares. Mas fora isso, não houve nenhuma mudança tática significativa. Já no Resende, Paulo Campos fez uma dupla substituição: Vinicius Casão entrou na vaga de Guto mas ficou mais avançado, numa tentativa de contar os avanços de Egídio; e Deoclécio entrou na vaga de Denilson para cobrir aquele setor, formalizando um 4-3-3 “defensivo”, ou seja, com três jogadores em linha no meio, ao invés do triângulo usual.

Mas logo as três minutos o Cruzeiro ampliaria em contra-ataque bem executado, iniciado por um bote certeiro de Egídio, que passou por Everton Ribeiro antes de Borges fuzilar de fora da área. A imensa vantagem fez com que o Cruzeiro passasse a tocar mais do que dar velocidade, mas sem chegar os níveis alarmantes de preguiça do jogo de ida em Volta Redonda. E o Resende, já sem esperanças de se classificar, simplesmente queria terminar a partida de forma honrosa, talvez marcando um gol num estádio de Copa do Mundo. A soma destes dois fatores fez com que o jogo ficasse um pouco mais lento.

Mais uma estreia

Com a entrada dos jovens, um 4-2-3-1 mais "tradicional", com dois ponteiros de fato e um volante que sai mais para o jogo

Com a entrada dos jovens, um 4-2-3-1 mais “tradicional”, com dois ponteiros de fato e um volante que sai mais para o jogo

Aos 15, Élber entrou na vaga de Everton Ribeiro, mantendo o 4-2-3-1 inicial mas com o garoto bem mais aberto pela direita. No Resende, Acosta daria lugar a Clebson Monga, uma substituição direta de centro-avante por centro-avante. E no Cruzeiro, Dagoberto deixaria o campo para a estreia de Lucca, que também jogou aberto na esquerda.

Renovado com a energia dos jovens, o Cruzeiro passou a buscar mais o gol, e ele naturalmente veio em jogada dos dois ponteiros. Élber recebeu na direita e achou Lucca dentro da área, totalmente sem marcação, que concluiu com eficiência. Gol logo na estreia para um jogador muito promissor, garantindo a goleada “oficial” (porque 3 x 0, para este blogueiro, não é goleada, nem nunca foi).

Agora é o Brasileirão

A classificação para a terceira fase da Copa do Brasil era mais que esperada, e foi com autoridade, com superioridade durante os 180 minutos. O Cruzeiro jogou bem tecnicamente (apesar de algumas finalizações erradas) e taticamente, mostrou ter peças de reposição e vontade mesmo em partidas em que possui grande vantagem. Ainda houve a estreia de dois reforços que pareciam estar entrosados há muito tempo. É o que dizem: em time bem montado, o encaixe de novas peças é mais fácil.

Então, por tudo isso, acredito que o Cruzeiro está preparadíssimo para a disputa do Brasileirão. Alguns comentaristas ainda não colocam o Cruzeiro como favorito: neste guia, por exemplo, o Cruzeiro está no mesmo patamar do Santos — o que é ridículo — e atrás de Botafogo, Inter, Grêmio e São Paulo, que são no máximo do mesmo nível. Mas como não jogamos o Paulista nem o Carioca — que cá pra nós, são campeonatos bem fraquinhos — e estamos fora da Libertadores (por enquanto), ninguém sabe da força do nosso time senão nós cruzeirenses.

Mas talvez assim seja melhor. Cinco rodadas antes da Copa das Confederações mostrarão ao resto do Brasil que o velho Cruzeiro, que todos temem, está de volta.

Quatro jogos e perspectivas

Antes de mais nada, este blogueiro pede desculpas aos leitores por ter ficado tanto tempo ser dar satisfações. Entrei em um momento de mudança na vida — literalmente — e por isso fiquei sem infra-estrutura necessária para escrever os posts (leia-se: internet e computador).

Então, para não deixar de falar sobre nenhum dos jogos passados, aqui vão notas rápidas sobre os quatro últimos jogos.

Villa Nova 2 x 4 Cruzeiro

Em alguns jogos, o equilíbrio entre as equipes é simplesmente uma questão de número no centro do meio-campo. Que o Cruzeiro tem um elenco superior ao do Villa Nova todos sabemos, mas neste jogo o Villa tinha um quarteto no centro do campo, com o seu 4-3-1-2 losango frente ao 4-2-3-1 do Cruzeiro. Os dois volantes e Tchô, o meia central, se deram melhor em relação a Leandro Guerreiro e Nilton, que não conseguiam marcar os três. A partida tendeu para o domínio do time da casa no primeiro tempo simplesmente por isso.

Já no segundo, Marcelo Oliveira lançou Tinga para fazer um 4-1-2-3 que acertou a marcação: Guerreiro ficou responsável apenas por Tchô, e mesmo perdendo o duelo algumas vezes, como no gol de empate do Villa Nova, conseguiu tirar a liberdade que o camisa 10 adversário tinha na primeira etapa.

Mas com a mudança, Diego Souza foi jogar aberto do lado direito, deixando o time sem um meia central. Com isso, o time equilibrou o centro do meio-campo, mas criou pouco. A entrada de Ricardo Goulart aconteceu justamente para resolver este problema. Com ambos os times com meio-campo em losango, a qualidade técnica fez diferença e o Cruzeiro marcou mais dois gols.

Em suma: quando tinha apenas 2 meio-campistas (já que Diego Souza marca pouco) contra 4 do adversário, o Cruzeiro foi dominado. Com Tinga, o 3 x 4 equilibrou, e com Goulart, o número de meio-campistas se igualou, e aí o Cruzeiro se sobressaiu.

América 1 x 4 Cruzeiro

O América do técnico Paulo Comelli quis jogar de igual para igual contra o Cruzeiro no Mineirão. E foi amplamente dominado, principalmente porque, diferente dos outros times do campeonato, foi um time que tentou sair para o jogo e deu espaço para os jogadores de frente do Cruzeiro.

Também num 4-2-3-1, o time de Paulo Comelli foi facilmente repelido pela linha defensiva celeste. Com Rodriguinho, o meia central, encaixotado entre os volantes, Fábio Júnior tinha que sair muito da área, e Fábio quase não viu a cor da bola.

Já o Cruzeiro, desta vez com Ricardo Goulart na vaga do suspenso Dagoberto, imprimiu movimentação e confundiu a marcação americana. Já aos 16 minutos o Cruzeiro vencia por dois a zero, em jogadas de bola áerea. Depois disso apenas controlou as ações, repelindo as investidas do América com propriedade. Ainda sofreria um gol em falha de Leandro Guerreiro na cobrança de escanteio, mas matou o jogo logo em seguida com excelente trama pela direita com Everton Ribeiro e Ceará e a conclusão de Borges.

O 4-2-3-1 foi mantido do início ao fim. Apesar do placar e do domínio, os volantes ainda tiveram pouca participação ofensiva e uma certa dificuldade na marcação. Acredito ser o setor mais frágil da equipe no momento, ao contrário da maioria dos comentaristas e torcedores que dizem ser a defesa.

CSA 0 x 3 Cruzeiro

Eliminar o segundo jogo era esperado. Mas o futebol apresentado, preguiçoso, não. Era quase como se o Cruzeiro soubesse que tinha que fazer pouca força para avançar de fase, e assim foi. Já o CSA jogava a vida, provavelmente o jogo de maior visibilidade que o time terá no ano, e por isso foram pra cima, com muita velocidade.

A defesa do Cruzeiro jogava bem alta, longe de sua própria área, para compactar o time. Mas isso só funciona se os jogadores de frente também fizerem marcação avançada, o que não acontecia. Assim, o CSA tocava a bola e o Cruzeiro esperava, deixando espaços atrás de sua própria defesa. E time da casa, num moderno 4-1-2-3, jogava bolas longas para jogadores rápidos que tinha abertos, nas costas dos nossos laterais. Para nossa sorte, a pontaria deles não estava boa e pelo menos três chances reais foram mandadas pra fora.

Ofensivamente, o Cruzeiro parecia, de fato, bem preguiçoso. Os gols aconteceram mais por bobeira da defesa do time alagoano do que por mérito celeste. O primeiro numa bola longa de Dagoberto, na direita, para Diego Souza. A defesa estava mal posicionada e deixou o camisa 10 entrar livre. O segundo em um pênalti cometido atabalhoadamente pelo zagueiro. Somente o terceiro pode ser considerado superioridade técnica: Ricardo Goulart recebeu o passe final de uma trama rápida de passes, driblou um marcador, ganhou na força do segundo e concluiu sem chances para o goleiro.

O jogo provou a força do elenco cruzeirense, que mesmo jogando com pouca vontade, mostrou ser forte o suficiente para construir o placar. Entretanto, a mesma preguiça causou dificuldades desnecessárias. Portanto, não foi um jogo bom para se tirar alguma conclusão.

Cruzeiro 5 x 0 Nacional

Ah, goleadas. Como elas têm o poder de enganar o torcedor. Basta fazer uma grande soma de gols num mesmo jogo e automaticamente tudo fica bem, a torcida se empolga e tal. Felizmente, não era esse o caso.

É claro que se deve levar em conta a fragilidade do Nacional, que está brigando para sobreviver no Módulo I do Campeonato Mineiro. Mas é justamente contra estes é que o poderio do time mais capacitado tem que aparecer. E assim foi feito: o Cruzeiro jogou como se fosse um jogo decisivo (não, confirmar a liderança na primeira fase do estadual não dá esse caráter à partida). Ricardo Goulart entrou na vaga do suspenso Diego Souza e promoveu a mesma intensa movimentação de jogos anteriores, e foi o senhor da partida.

O Nacional se entrincheirou numa espécie de 4-3-3 defensivo, contra o 4-2-3-1 costumeiro de Marcelo Oliveira. Os três da frente estreitavam e bloqueavam a saída pelo meio, mas deixavam as laterais livres. Além disso, os volantes cruzeirenses não eram pressionados e buscavam a bola no pé dos zagueiros para iniciar o jogo, quase sempre jogando para um dos laterais. E dali, a bola circulava tranquilamente para os três armadores, trocando de posição a todo momento.

Sem a bola, o Cruzeiro pressionava no alto do campo, com muita sede de roubar a bola. Foi a pressão alta mais intensa até aqui no ano. Quando o Nacional tinha a bola, não tinha muito tempo pra pensar, pois o quarteto ofensivo do Cruzeiro encurtava os espaços dos zagueiros, obrigando ao chutão ou passe errado. Os gols saíram naturalmente, em erros do Nacional provocados pela marcação intensa do Cruzeiro e ataques velocíssimos.

Todos os quatro jogadores de frente participaram dos dois primeiros gols: no primeiro, o tiro de meta ruim veio parar nos pés de Goulart, que de letra achou Everton Ribeiro, que finalizou de fora da área. No segundo, Borges se desloca e tabela com Dagoberto, deixando o companheiro na cara do gol. Já o terceiro foi uma jogada dos defensores: Nilton a Bruno Rodrigo, que de peito passou a Leo dentro da área. O zagueiro cruzeirense ainda marcaria mais um de cabeça em bola parada, ainda no primeiro tempo.

No segundo, o time desacelerou, naturalmente. Mesmo assim, Élber completaria a goleada “roubando” a bola na jogada individual de Ricardo Goulart, tamanha a facilidade que o Cruzeiro criou na partida, muito devido à sua própria atuação.

Outro ponto a se destacar é que, nas raras vezes em que era marcado em seu próprio campo, o Cruzeiro evitava ao máximo a bola longa para o ataque. O objetivo era manter a bola nos pés e construir a jogada de trás. É uma mudança sutil de postura, mas que revela como Marcelo Oliveira quer sua equipe.

Perspectivas

Notadamente, existe uma preocupação da torcida e da crítica em geral com o setor defensivo do Cruzeiro. Quase todos localizam a instabilidade nos zagueiros, mas este blogueiro pensa que o problema está na volância. Leandro Guerreiro e Nilton são bons marcadores, mas não estão com funções definidas. Não sabemos quem sai mais e quem fica mais (pense em Paulinho e Ralf, por exemplo).

Mas, Dedé chegou. E com ele a segurança na zaga que a torcida precisava. Porém, estou esperando muito mais os testes de Henrique ou Lucas Silva no meio para ver como se encaixam neste time. Aparentemente, Lucas Silva jogará neste domingo contra o Tupi, mas não será um 4-2-3-1 e sim num 4-3-1-2 losango ao lado de Tinga, com Nilton no suporte e Diego Souza na ligação. Terá liberdade para atacar. Sorte para o garoto.

Ademais, o time está se encaixando mais rápido do que esperávamos, e não só o time titular. O Cruzeiro hoje tem mais do que 11 titulares, e isso é um luxo que poucos times no Brasil podem ter. O esquema base está definido, variações estão sendo treinadas e têm dado certo em determinadas situações de jogo. Podemos esperar, sim, um bom ano em 2013.