2015: Feliz Cruzeiro Novo

Enfim, 2015 começa no aqui no Blog Constelações. E como nos dois últimos anos, na transição entre janeiro e fevereiro: quando o grupo já está normalmente definido, às vésperas do primeiro jogo oficial no ano.

Mas, diferente de 2013 e 2014, o elenco do Cruzeiro aparentemente ainda não está fechado. Isso porque a espinha dorsal do time foi desfeita em janeiro, com as saídas de Lucas Silva, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Marcelo Moreno, dando pouco tempo à diretoria para ir ao mercado contratar reposições — um processo que ainda está em curso.

Ainda assim, a reposição nas mesmas características é difícil. Lucas Silva é um meio-campista completo, marca e joga. Não foi à toda que o Real Madrid insistiu tanto. Goulart é um meia atacante de força física, que jogava como central mas encostava no centroavante, entrando na área. E Ribeiro um ponteiro passador, tomando uma terminologia do voleibol emprestada: saía da direita para a articular no centro.

Mudança de porte

O elenco do Cruzeiro de 2015 até aqui: jogadores que podem fazer mais de uma função, um zagueiro ainda por chegar e um perfil diferente

O elenco do Cruzeiro de 2015 até aqui: jogadores que podem fazer mais de uma função, um zagueiro ainda por chegar e um perfil diferente

Por isso tudo, um novo Cruzeiro surgirá adiante. Chegaram Fabiano, Joel, Gilson, Seymour e Damião em dezembro (leia aqui sobre estes reforços) e em janeiro vieram Riascos, Arrascaeta, Mena, Pará e, provavelmente, Willians. Jogadores que indicam uma mudança no perfil de jogo do Cruzeiro.

Se em 2013 e 2014 o Cruzeiro privilegiou o jogo propositivo, posse de bola e pressão alta, com muita intensidade no ataque e na recomposição, em 2015 é muito provável que o Cruzeiro seja um time mais consistente e com mais estrutura, que ceda menos espaços atrás e seja difícil de bater. Mas isso ao custo de ficar um pouco mais recuado, sem pressionar tanto no alto do campo para forçar o chutão do adversário e a recuperação na bola longa.

“Libertadores é raça”: uma lenda

Muitos dirão que esse é um perfil melhor para disputar a Libertadores, que exige times “raçudos” e físicos. Particularmente, acredito que isso seja uma grande lenda: o Flamengo venceu em 1981 com um time bem técnico; o Corinthians em 2012 com uma postura tática muito disciplinada, sofrendo apenas 3 gols em todo o torneio; o próprio San Lorenzo no ano passado não era um time que tinha jogadores especialmente físicos.

Porém, em recentes entrevistas, Marcelo Oliveira dá a entender de que acredita nessa teoria. Tanto é que usou jogadores mais pesados em alguns jogos já no ano passado, como a dupla de volantes Nilton e Rodrigo Souza no jogo contra o Defensor no Uruguai. Não deu muito certo. Depois, em algumas partidas, Ricardo Goulart foi preterido para que Júlio Baptista entrasse no time.

Assim, é provável que, pelo menos na competição continental, vejamos um Cruzeiro mais consistente, estruturado e que sofra menos gols, porém mais reativo, ficando menos com a bola. Não chega a ser um risco porque ainda há opções no banco para mudar o perfil na mesma partida.

Profundidade de elenco

Um outro aspecto interessante de se notar é que Marcelo aprendeu com os problemas que teve no ano passado. Em um dado momento, o Cruzeiro ficou sem um jogador típico para jogar como central no 4-2-3-1, chegando ao ponto de mudar para um 4-1-4-1 com Nilton entre as linhas no jogo contra o Flamengo no Maracanã. Em outro momento, teve Samudio e Egídio lesionados ao mesmo tempo, o que levou o treinador a improvisar Willian Farias e Alex na lateral esquerda, e depois revezar os naturais da função mesmo sem estarem 100% fisicamente.

Para resolver isso, Marcelo vai usar três laterais para cada lado, um a mais que no ano passado. Fabiano se junta a Mayke e Ceará pela direita, e com a chegada de Mena e Pará, Breno e Gilson passam a ter mais concorrência. Porém, a tendência é que um dos dois seja emprestado ou Gilson seja usado apenas mais à frente, como ponteiro esquerdo.

Já para a posição de central, o técnico do Cruzeiro está testando várias opções. Nos dois amistosos de janeiro, passaram pela função Júlio Baptista, Joel, Neilton e Judivan. Além disso, Arrascaeta poderá jogar na posição, que ainda contaria com Tinga e até mesmo Riascos. É claro, são jogadores diferentes: presença física, velocidade, técnica, marcação, mobilidade. Exerceriam FUNÇÕES diferentes, mas sempre jogando por dentro do trio de meias no 4-2-3-1.

Nem pior nem melhor: diferente

Com tantas mudanças, é muito difícil imaginar até onde esse Cruzeiro 2015 pode chegar. A temporada é longa e muita coisa pode mudar: os garotos da base podem atropelar e ganhar a titularidade (aposto particularmente em Judivan e Bruno Edgar), outros jogadores podem chegar na janela de inverno (como Dedé em 2013 e Marquinhos e Manoel em 2014) e vários outros aspectos.

Mas mesmo com este elenco inicial e ainda indefinido, ainda não digo que é um time pior do que nas duas últimas temporadas. Muita gente afirmaria isso sem hesitar, e é compreensível: o Cruzeiro 2013/14 já entrou para a história, não só pelas conquistas como também pelo estilo de jogo. Talvez este de 2015 também o faça, seja conquistando a América mais uma vez, e quem sabe o Mundo, ou o Brasil pela terceira vez seguida. Ou tudo isso junto. Por que não?

Enfim, é um novo Cruzeiro, com novas caras. Uma transição que aconteceu em várias outras temporadas. E mesmo assim o Cruzeiro nunca deixou de ser grande e temido. Apenas diferente.

Contratações 2015: funções táticas e encaixes

Então 2014 chegou ao fim. Mas no futebol tupiniquim, já estamos em 2015 há muito tempo. Terminado o Brasileiro, a época de contratações foi aberta e o mercado se movimentou. E o Cruzeiro, é claro, não ficou parado e contratou jogadores de maneira pontual, pois a manutenção da base de 2013/14 é sem dúvida uma grande vantagem.

Mas, como de praxe, existe um certo reducionismo da imprensa — e a reboque, dos torcedores — em relação à posição e função tática dos reforços que chegam. E o Constelações tenta aqui analisar como os jogadores contratados até este 31 de dezembro podem contribuir taticamente.

Fabiano

Como vocês sabem, Fabiano é lateral-direito de origem e jogava na Chapecoense em 2014. Muita gente especulou que isso era uma precaução do Cruzeiro em relação a uma possível perda de Mayke para o futebol europeu. Não é assim que enxergo, pois Fabiano tem muito mais características defensivas, faz a linha de quatro atrás com mais qualidade e às vezes até joga de zagueiro.

No entanto, também sabe apoiar bem o ataque, ainda que não tenha o mesmo ímpeto de Mayke. Ele foi o jogador que mais deu assistências para gol na Chapecoense, e o 20º no campeonato, com 5 (números Footstats). Podemos dizer que ele é um misto entre Mayke e Ceará, mas bem mais próximo do segundo do que do primeiro.

 

Gilson

Do outro lado da defesa, o Cruzeiro tem Egídio, o titular, e Breno, contratado no meio do ano. Samudio não teve seu empréstimo renovado. Assim, com Gilson, que estava emprestado ao América, o Cruzeiro passaria a contar com três laterais esquerdos.

Mas a decisão de reintegrar Gilson pode não passar pelo setor. Pois se quando jogava no Cruzeiro, ele de fato era um lateral, no América Gilson jogou aberto pela esquerda no meio-campo, ou seja, como ponteiro esquerdo, à frente do lateral. O jogador foi o 3º geral em assistências na Série B, e ainda marcou 5 gols.

Em cima, o mapa de calor de Gilson em sua última partida na Série B pelo América/MG contra a Ponte Preta; note o posicionamento avançado em relação a Raul (embaixo), o lateral esquerdo de fato na mesma partida

Em cima, o mapa de calor de Gilson em sua última partida na Série B pelo América/MG contra a Ponte Preta; note o posicionamento avançado em relação a Raul (embaixo), o lateral esquerdo de fato na mesma partida

Joel

Destaque da sofrível campanha do Coritiba deste ano, Joel é um atacante do tipo Élber: ousado, driblador e veloz. Parte pra cima do zagueiro no um-contra-um sem medo. No time paranaense, jogava constantemente pelo lado direito na linha de três do 4-2-3-1 de Marquinhos Santos.

Como era um time feito para dar liberdade a Alex, que não tinha nenhum trabalho defensivo, Joel era obrigado a ter responsabilidades de marcação no lateral esquerdo adversário. Mas também jogava de centroavante móvel, principalmente quando o time mudava para um 4-4-1-1, no qual o Coritiba se fechava em duas linhas e deixava apenas Alex e Joel para os contra-ataques. Repare essa formação no vídeo abaixo, no gol marcante contra o São Paulo, quando ele pula a placa e cai no túnel de acesso dos vestiários:

 

Seymour

Surpresa para muitos — inclusive para este escriba, a contratação do chileno foi, ao que parece, um pedido do técnico Marcelo Oliveira para dar consistência na marcação à frente da área. Para a posição, já temos Nilton e Willian Farias, tendo ainda Eurico como terceira opção. De acordo com o noticiado, o jogador veio devido à sua experiência em torneios sul-americanos, pois foi o dono do meio-campo da Universidad do Chile de 2010/11, que encantou o continente sob o comando de Jorge Sampaoli.

Porém, depois daquele período, Seymour foi para a Itália e não rendeu o esperado. Foi emprestado pelo Genoa para o Spezia, da segunda divisão. Lá jogou alguns jogos e, dizem as notícias, foi bem. Mas por alguma razão ainda não jogou na temporada 2014/15, e está parado há alguns meses. Resta saber se a chegada dele representa uma possível precaução da diretoria com a perda de algum outro da posição — Nilton tem proposta séria do Internacional, por exemplo.

Damião

Talvez a contratação mais controversa de todas, Damião é a aposta da diretoria celeste para a posição de referência no ataque. Com Borges liberado e Marcelo Moreno muito caro para ser comprado em definitivo, o Cruzeiro ficou sem centroavantes. Hugo Ragelli é da posição, mas acabou de subir da base e portanto precisa de tempo de maturação. Deve ser a terceira opção, com a segunda sendo ou a reintegração de Anselmo Ramon, ou uma contratação ainda não anunciada.

A grande questão em relação a Damião, no entanto, nem é se ele vai recuperar o futebol de 2012/13 do Internacional, e sim o seu estilo. Se o Cruzeiro desse ano deu muito certo com Moreno na frente, era porque o boliviano era intenso: liderava a pressão alta, saía da área para abrir espaço para Goulart, e ainda era bom no jogo aéreo e tinha velocidade, ainda que tivesse menos técnica e errasse muitas finalizações.

Veja no vídeo abaixo um exemplo: Moreno aplicava tanta intensidade que às vezes roubava bolas até dos companheiros:

 

Damião é um jogador diferente. Se tem mais técnica que Moreno, me parece mais um nove clássico, homem-alvo dentro da área, sem se movimentar tanto, o que pode facilitar a marcação das defesas adversárias. Talvez até engessar um pouco a movimentação do quarteto de frente, prendendo Ricardo Goulart ao meio-campo. Defensivamente, Damião terá de ser a referência da marcação adiantada, como é responsabilidade de todo centroavante do 4-2-3-1. É ele quem vai decidir quando subir a pressão ou não, e o resto do time tem de acompanhar.

Conclusão: versatilidade conta

As contratações celestes até aqui — com a notável exceção de Leandro Damião — me parecem ter uma coisa em comum: todos os jogadores podem fazer mais de uma função em campo para além das “oficiais”. Isso é mais nítido nos casos de Fabiano (lateral e zagueiro) e Gilson (lateral e ponteiro). Joel é menos versátil, mas para uma situação de proteção de resultado e de contra-ataques, ele pode jogar como um centroavante solto e veloz. E Seymour, apesar de ser tipicamente um volante de marcação, tem bom arremate e pode participar da construção como Henrique faz atualmente.

Assim, de certa forma, apenas Damião é um jogador de uma função só. Porém, não acredito que Marcelo Oliveira se contentará com isso e deverá treiná-lo para que, sem a bola, incomode os zagueiros adversários, e até mesmo caia pelos lados para dar o último passe. Se ficar parado, esperando a bola, perderá a posição, pois irá atrapalhar a dinâmica do time, e será uma contratação perdida.

Essa busca pela versatilidade faz sentido. Ainda que não seja explícito — ou até mesmo consciente — por parte do Cruzeiro, é nessa direção que o futebol mundial está seguindo. Para contratar um jogador de uma função só, somente se ele for extraordinário. E todos dessa classe provavelmente estão na Europa.

Feliz 2015

É isso para 2014, amigos. Este blog deseja a todos um 2015 azul-celeste. E que venha o tri da Libertadores, o penta do Brasileiro e o Mundial!

Especial: Prévia tática da decisão do Campeonato Mineiro 2013

Chegou a hora. Era previsível: o Superclássico decidirá o Campeonato Mineiro. E, pela primeira vez nos últimos anos, sem um claro favorito, pois era comum um dos times estar bem e o outro “mais ou menos”. Agora não: ambos provaram que podem jogar bem. Então, nada mais justo do que fazer uma prévia tática sobre o maior jogo de Minas Gerais. Vou além: com o Carioca e o Gaúcho decididos, e com a final do Paulista com dois times que não inspiram confiança, a decisão do Mineiro provavelmente será o maior jogo do Brasil nos próximos fins de semana.

Um pouco sobre o jogo contra o Villa

Mas antes, pra não dizer que não falei de flores, uma rápida pincelada sobre o jogo da volta das semifinais contra o Villa Nova. Muitos titulares foram poupados já pensando na decisão de domingo, naquilo que foi uma batalha dos losangos de meio-campo. Na verdade, batalha é modo de dizer, pois foi praticamente um ataque contra defesa, já que o objetivo claro do time de Nova Lima era perder de pouco pra ficar com o título simbólico de “Campeão do Interior”.

Rafael no gol, com Mayke, Paulão Bruno Rodrigo e Egídio na linha defensiva. Guerreiro foi o vértice baixo, com Tinga pela direita e Lucas Silva pela esquerda, e partindo do centro para as pontas, Ricardo Goulart. Diego Souza jogou mais à frente, uma espécie de segundo atacante, se aproximando de Borges. Um 4-3-1-2 losango, com os corredores pelos lados abertos para os laterais subirem até a intermediária adversária e encontrarem uma muralha. Tinga e Mayke combinaram bem mas tiveram dificuldade com a forte marcação do Villa, mas pelo lado esquerdo, boa aparição de Lucas Silva e Egídio, que coroou sua boa atuação com um belíssimo gol de falta.

Já no domingo, os treinadores devem escalar seus times no mesmo 4-2-3-1 costumeiro de suas equipes. E, apesar de jogarem no mesmo sistema base, a forma de atuar é diferente. Isso porque os jogadores que compõem os sistemas tem características diferentes.

Perto das balizas

130510_ataque_atleticomg_cruzeiroA começar pelas duas grandes áreas. Enquanto Jô é um centro-avante típico, grandalhão, com boa bola aérea tanto na disputa no meio quanto dentro da área para finalização, e boa retenção de bola, para esperar seus companheiros passarem e fazer o passe, Borges é mais oportunista e tem melhor senso de posicionamento. Léo e Bruno Rodrigo deverão fazer um jogo mais físico contra o atleticano, mas Réver e provavelmente Gilberto Silva terão um combate mais “leve” contra Borges. Marcelo deveria posicionar nosso camisa 9 mais em cima de Gilberto Silva, que é mais lento e menos técnico do que Réver.

130510_defesa_atleticomg_cruzeiroMas existe uma semelhança: ambos vão sair da área e tentar se desvencilhar da marcação dos zagueiros adversários. Borges deverá recuar um pouco mais para receber algumas bolas longe da perseguição dos zagueiros atleticanos, obrigando-os a sair à caça e abrindo espaço para Dagoberto e Diego Souza chegarem de trás. No Atlético Mineiro, que joga junto há mais tempo, o quarteto ofensivo roda mais, e provavelmente veremos Léo ir atrás de Jô até o meio-campo se for preciso. Cabe aos companheiros de linha defensiva fazerem a cobertura.

Meiúca

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No centro do meio-campo, nenhuma das duas equipes possui volantes que saem muito para o jogo. Um deles deverá ser destacado para fazer uma perseguição ao meia-central adversário: Pierre e Leandro Guerreiro serão as sombras dos camisas 10 do time adversário, Diego Souza e Ronaldinho. Mas, com a diferença de estilos dos meias, provavelmente Guerreiro fará uma marcação mais forte do que Pierre, já que Diego não é passador como Ronaldinho, mas sim carregador de bola, mais físico, chegando mais à área, quase como um segundo atacante.

Com isso Leandro Donizete e Nilton travarão um duelo particular. Marcadores por natureza, ambos terão uma função de chegar mais à frente para ser um quarto homem de meio nas ações ofensivas. No clássico do início do ano, Nilton foi mais participativo e deu uma ligeira vantagem no meio-campo para o Cruzeiro, que em clássicos faz toda a diferença.

Na destra

Pela direita, o jogo será menos intenso, apesar da presença do leve Bernard duelando com Ceará. Nos últimos clássicos, Ceará fez bem o papel primário de um lateral: defender. E com isso levou vantagem sobre Bernard na maioria das vezes. A única exceção foi o lance do primeiro gol na última rodada do Brasileirão 2012. Na reabertura do Mineirão, Bernard pouco produziu pelo lado esquerdo, principalmente por causa do bom trabalho defensivo do camisa 2

Na frente, Everton Ribeiro não deve explorar tanto a quina do campo, e sim entrar mais para o meio, também pelo fato de ser um ponteiro meia de origem, ao contrário dos outros três (Dagoberto pelo Cruzeiro, e Bernard e Tardelli pelo Atlético Mineiro, que são atacantes). Richarlyson deve acompanhá-lo onde for, também pelo fato de ser um lateral mais preso, que apoia pouco. Isso abre o corredor para Ceará subir e dar amplitude, mas com muita cautela para não abrir espaço às suas costas e proporcionar uma das armas mais usadas do adversário: a diagonal longa do lateral para o ponteiro oposto.

Na canhota

130510_esquerda_atleticomg_cruzeiroChegamos à região onde acredito ser a mais intensa da partida. Tanto Éverton quanto Marcos Rocha são laterais que apoiam bastante, com muito ímpeto ofensivo. Ao mesmo tempo, estarão a cargo de marcar atacantes rápidos, com características ligeiramente diferentes. Dagoberto é mais driblador, rápido, bom na vitória pessoal, enquanto Tardelli é um pouco mais lento, mas se movimenta mais pelo campo, chegando na área junto com Bernard pelo outro lado. Tanto Everton quanto Marcos Rocha correm riscos se subirem demais para o apoio, abrindo espaços para os adversários ponteiros explorarem.

Marcos Rocha é, na modesta opinião deste blogueiro, o ponto mais sensível do time adversário. Se Dagoberto estiver em tarde inspirada, dificilmente o lateral atleticano conseguirá pará-lo, pois não tem a mesma experiência e serenidade que Ceará tem na marcação de Bernard (duelos muito semelhantes, por sinal). Eu diria que ali é o caminho do gol, principalmente porque Diego Tardelli não recua tanto no trabalho defensivo, e isso pode causa uma sobrecarga favorável ao Cruzeiro naquele lado.

Semelhanças sem a bola…

É claro que o jogo não será restrito a estes duelos, devido à movimentação dos quartetos de frente e ultrapassagens do volante que sobrar e dos laterais para as ações ofensivas. Mas como no Brasil praticamente não se vê marcação por zona e sim individual por função — como bem disse Eduardo Cecconi em seu blog, o famoso “cada um pega o seu e vai com ele até o final” — esses devem ser os duelos mais comuns, pois tanto Cruzeiro quanto Atlético Mineiro se utilizarão deste sistema.

Além disso, é bem provável que ambos os treinadores ordenem seus homens de frente a marcar o adversário perto da área ofensiva, o famoso “pressing”. Portanto, podemos esperar muitos passes errados, muita “bola pro mato” e, principalmente, um jogo muito pegado, físico — provavelmente haverá mais cartões amarelos que o normal. Talvez um ou dois vermelhos.

… e diferenças com ela

Com a bola, porém, os dois times trabalham de maneira diferente. O Atlético Mineiro é intenso, aumenta a rotação do jogo e não tem medo de usar ligações diretas, principalmente em seu estádio. Isso porque tem um bom pivô, jogadores velozes pelas pontas e um passador nato no meio. O entrosamento de dois anos jogando junto sob o mesmo treinador também ajuda. Já o Cruzeiro é um time que valoriza a posse de bola e — pra usar um termo que Marcelo Oliveira gosta — tenta envolver o adversário, abrindo espaço entre as linhas com passes rápidos, mas com mais calma e escolhendo a hora de acelerar.

Em suma: ambos são times velozes, mas o Atlético Mineiro é intenso sempre, enquanto o Cruzeiro tenta variar. Como o primeiro jogo é no Independência, e o Atlético Mineiro tem que inverter a vantagem, provavelmente tentará acelerar o jogo a toda hora. Cabe ao Cruzeiro saber aproveitar isso, “cansando” o adversário e tocando a bola para trazer a partida para o seu gosto.

O primeiro grande teste

O primeiro grande teste -- para AMBAS as equipes

O primeiro grande teste — para AMBAS as equipes

Muito se fala sobre este ser o primeiro grande teste para o Cruzeiro na temporada. De fato, os adversários que o Cruzeiro enfrentou até aqui, com exceção da reabertura do Mineirão, respeitaram demais o Cruzeiro e não encararam de frente. Mas reitero a conclusão do post passado: o Cruzeiro enfrentou o mesmo nível de oposição nas temporadas anteriores e não teve o mesmo rendimento — a invencibilidade precisa sim ser levada em conta. Assim, por se tratar de um clássico, pela vantagem que o Cruzeiro tem, e pela confiança que o time passa à torcida, é possível dizer que o Cruzeiro é o time com mais chances de vencer o “badalado” Atlético Mineiro desta temporada.

E, pra ser sincero, com a bolinha que o São Paulo jogou na Libertadores, e com o nível do futebol brasileiro tão acima dos demais vizinhos sul-americanos… É o primeiro grande teste pra eles também.

 

Cruzeiro 2013: Ofensividade e protagonismo como objetivos

Alô cruzeirense! Que em 2013 a sua cruzeiridade continue te dando alegrias!

Depois das férias de verão e da grandiosa movimentação do mercado, o blog de análise tática preferido da imensa torcida cruzeirense está de volta. Sim, esperei um momento em que as negociações já estivessem mais calmas e, portanto, com o elenco do Cruzeiro mais definido para a temporada que se inicia. E já que o assunto deste blog é tática, vamos a ela.

Comecemos pelo treinador. Marcelo Oliveira teve dois bons anos no Coritiba e uma passagem terrível no Vasco. No time paranaense, Marcelo jogou quase sempre no 4-2-3-1, que parece ser seu esquema preferido. No primeiro jogo do Brasileirão do ano passado contra o Cruzeiro, foi essa a formação escolhida. Depois, quando já estava no Vasco, o treinador mineiro preferiu o 4-3-1-2 losango — era seu primeiro trabalho no time carioca e ainda não havia tido tempo para alguma coisa diferente.

O elenco do Cruzeiro de 2013 parece numeroso demais, mas não é. Também proporciona boas variações táticas

O elenco do Cruzeiro de 2013 parece numeroso demais, mas não é. Também proporciona boas variações táticas

Com as contratações, que com toda a certeza têm o dedo de Marcelo, o Cruzeiro agora possui um elenco que proporciona variações táticas. Além disso, a saída de Montillo para o Santos, por incrível que pareça, dá alternativas interessantes taticamente, ainda que pelo lado técnico seja uma perda considerável. O leitor deste blog certamente se lembra da insistência do blogueiro em pedir o argentino como ponteiro durante a temporada passada. Mas, ao que parece, Montillo não gostava de marcar, e por isso era escalado com três volantes dando suporte. Infelizmente, o futebol moderno exige que todos marquem e que todos joguem. Estou curioso pra ver como o Muricy vai resolver este problema no Santos.

Mas o assunto aqui é Cruzeiro. E nos primeiros jogos-treino e do amistoso contra o Mamoré, Marcelo parece ter escolhido o esquema vencedor de sua passagem pelo time paranaense para iniciar o trabalho. O 4-2-3-1 do amistoso contra o Mamoré teve Fábio no gol, linha defensiva com Ceará e Egídio nas laterais e Paulão e Bruno Rodrigo no miolo de zaga. Leandro Guerreiro, que terminou o ano passado jogando na zaga, voltou à volância ao lado de Nilton. Everton Ribeiro pela direita, Diego Souza centralizado e Everton pela esquerda articulavam atrás do garoto Vinicius Araújo no comando do ataque.

Um resgate da identidade?

Ainda que o Mamoré seja um adversário mais fraco, e que se postou defensivamente num 3-5-1-1 quase que na totalidade da partida, o Cruzeiro de 2013 mostrou, pelo menos neste jogo, que quer recuperar a sua característica: futebol ofensivo com posse de bola, ser o protagonista do espetáculo. Com exceção de Fábio e dos zagueiros, todos os outros jogadores participavam da transição ofensiva. Típico de um time que quer construir a jogada, quer ser propositivo, em contraste com o jogo reativo e de contra-ataques do ano passado.

A primeira cara do Cruzeiro de 2013: um 4-2-3-1 propositivo e com bastante movimentação, principalmente de Diego Souza e Everton Ribeiro

A primeira cara do Cruzeiro de 2013: um 4-2-3-1 propositivo e com bastante movimentação, principalmente de Diego Souza e Everton Ribeiro

Ceará apoiou mais do que este blogueiro esperava, visto que nas últimas partidas do ano passado ele atuava quase como um terceiro zagueiro. Do outro lado, Egídio mostrou ser um lateral com bastante ímpeto ofensivo. Leandro Guerreiro e Nilton foram claramente instruídos a fazer o primeiro passe e carregar a bola (o segundo mais que o primeiro, por característica). O trio de meias se movimentava bastante, principalmente Everton Ribeiro e Diego Souza, que pareciam se conhecer há algum tempo e trocavam de posição com frequência. Everton ficou mais pelo lado esquerdo fazendo boas tramas com Egídio. E na frente, Vinicius Araújo demonstrou ter fome de gol. Finalizava em qualquer oportunidade boa, e ainda aparecia pra fazer jogadas e tabelas. Certamente será a revelação da base do Cruzeiro para este ano.

Sem a bola

Quando perdia a bola, o Cruzeiro tentou fazer o famoso pressing (marcação adiantada com o time compactado, fechando as linhas de passe). Claramente instruídos neste sentido, os jogadores de frente do Cruzeiro fechavam em cima dos defensores do Mamoré para roubar a bola, forçar um passe errado ou, no mínimo, um passe longo para a frente ou para o outro lado. Se fosse na direção do ataque, a zaga do Cruzeiro logo pegava a sobra, a famosa segunda bola depois da disputa de cabeça pelo alto (a primeira bola). Se fosse virada de jogo, então o time rodava e fechava do outro lado, repetindo o movimento.

Este movimento, porém, requer muita coordenação. Novamente, o famoso entrosamento. Muitas vezes o Cruzeiro adiantava as linhas mas não ficava compactado o suficiente para impedir que o adversário achasse um passe curto, porque o companheiro do jogador que estava pressionando a bola não fechou corretamente a linha de passe. Somente com muitos treinos o Cruzeiro poderá executar isto com qualidade, e isso só virá com o tempo. Mas o fato de se tentar já é um excelente indício do que o treinador quer.

Dagoberto

Reforço mais badalado do Cruzeiro, Dagoberto foi a primeira alteração do segundo tempo. Entrou no lugar de Egídio. Com isso, Everton passou à lateral esquerda, Diego Souza foi ser ponteiro e Dagoberto entrou mais por dentro. Poucos minutos depois, Diego Souza saiu do jogo, e portanto foram poucos minutos para ver em campo o que será o provável trio de meias titular da temporada. Entretanto, acredito que o posicionamento será diferente. Dagoberto deverá ser o ponteiro esquerdo e Diego deverá ficar mais por dentro.

Depois disso foi uma sucessão de alterações que dificultam qualquer análise. O máximo que consegui enxergar foi que, em um determinado momento, o 4-2-3-1 se transformou num 4-4-2 inglês, com Dagoberto um pouco mais atrás de Ricardo Goulart e à frente de uma linha de quatro homens no meio. Outra variação tática interessante: duas linhas de quatro sem centro-avante fixo. Novamente, um indício de time com muita movimentação.

Para o clássico

Uma possível escalação e sistema de jogo para a reinauguração do Mineirão: Ricardo Goulart centralizado, Ceará cuidando de Bernard e Guerreiro de Ronaldinho

Uma possível escalação e sistema de jogo para a reinauguração do Mineirão: Ricardo Goulart centralizado, Ceará cuidando de Bernard e Guerreiro de Ronaldinho

Diego Souza provavelmente será o titular durante o ano, mas com os problemas de documentação, está fora do clássico. Ricardo Goulart entra e deve jogar na mesma posição, a articulação central. Os outros dez jogadores deverão ser os mesmos que começaram a partida em Patos de Minas — a única dúvida é Anselmo Ramon ou Vinicius Araújo. Aposto no segundo.

A entrada de Goulart faz o time ficar mais leve no ataque. Então podemos esperar um Cruzeiro retendo a bola e tentando achar espaços na defesa adversária, enquanto o time rival deverá explorar a velocidade de seus ponteiros Bernard e Araújo, municiados por Ronaldinho. Este, aliás, deverá ser bem marcado por Leandro Guerreiro, liberando Nilton mais para o apoio. Ceará também deve ficar mais na cola de Bernard.

O aspecto tático mais interessante, porém, será do lado esquerdo do ataque azul. Egídio e Everton contra Marcos Rocha e Araújo. Quatro jogadores muito ofensivos, e portanto, a aplicação tática será fator determinante no setor.

É isso, estamos de volta. O ano de 2013 começa no domingo, na tão esperada e aguardada reinauguração do Mineirão. Normalmente não compareço aos clássicos devido aos problemas de violência das torcidas. Mas este é diferente. Vamos conhecer o Novo Mineirão, a única e verdadeira casa do Cruzeiro Esporte Clube.

Três alternativas para o Superclássico

Depois de muito tempo, o encontro entre Cruzeiro e Atlético Mineiro voltou a ser um clássico: ambos os times bem na tabela (levando em conta o prognóstico de ambos no início do campeonato) e com o rival melhor do que o Cruzeiro após muitos embates em que a situação era invertida. Assim, após ler as notícias de lado a lado na semana inteira, esperando pra saber se Ceará iria ou não para o jogo, quem seria a dupla de zaga e como seria composto o meio-campo cruzeirense, tento apresentar aqui alternativas de Celso Roth para o jogo de domingo.

O time adversário é o de sempre: o mesmo 4-2-3-1 empregado por Cuca desde o início do ano, mas desta vez com peças novas. Victor no gol, Marcos Rocha de volta à lateral direita e Júnior César do lado oposto; Leonardo Silva — o vira-casaca — e Réver no miolo de zaga. À frente, Pierre e Leandro Donizete fazem a dupla volância, atrás de Ronaldinho, o articulador principal e com tendências de cair pela esquerda. Flanqueando-o, Danilinho ou Guilherme pelo lado direito e Bernard pelo esquerdo. À frente, Jô brigando com os zagueiros.

Do nosso lado, Victorino está fora do jogo, Ceará é dúvida e não se sabe quem será escalado na lateral esquerda: Everton ou Diego Renan, dependendo da situação de Ceará. Para a zaga, levando em conta o estilo de Jô, a dupla de zaga ideal seria composta por um zagueiro forte, para marcar diretamente o centro-avante — nesse caso, seria Léo — e um com bom posicionamento de sobra, que seria Victorino. Mas na ausência deste último, Thiago Carvalho deve entrar em seu lugar. Outra opção seria fazer uma zaga com Léo e Donato, mas essa seria uma dupla pesada, correndo riscos contra os rápidos Bernard e Danilinho.

Caso Ceará não possa jogar, duas opções se apresentam. Deslocar Diego Renan para a direita para manter o equilíbrio defesa/ataque por aquele lado, ou destacar Leo para o setor, com a finalidade exclusiva de anular Bernard. Isso faria o Cruzeiro perder ofensividade, mas aumentaria muito o poder de marcação.

E na lateral esquerda, Diego Renan é mais lento que Everton, que se destaca mais no apoio mas não defende tão bem quanto o primeiro. Como Danilinho é menos ofensivo que Bernard, talvez Everton seja a melhor opção.

Como se trata de um clássico, abrirei uma exceção e colocarei os jogadores do time adversário nos diagramas abaixo.

 

Opção 1 – Equilíbrio

Minha alternativa preferida: um 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo, Tinga se movimentando para opção de passe de segurança, Guerreiro na cola de Ronaldinho e marcação especial do lado direito

A primeira opção é mandar a campo um 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo, como na partida contra o Palmeiras, que este blogueiro considera ser a melhor do time no certame atual. Naquele jogo, a dupla de volantes era Guerreiro e Charles, ao passo de que nesta deverá ser Guerreiro e Lucas Silva, com uma diferença: contra o time paulista, Guerreiro perseguia Daniel Carvalho, que caía mais pela direita. Contra o rival, Guerreiro será muito provavelmente o marcador de Ronaldinho, que tem uma tendência maior a cair pela esquerda do ataque — direita da defesa adversária.

Colocar Montillo pelo lado esquerdo do meio-campo faz com que o argentino tenha menos marcação, e consiga usar sua melhor arma: o drible. Passando por Marcos Rocha, que fatalmente seria seu marcador, Montillo teria campo livre para cruzar, bater pro gol ou enfiar uma bola para Borges ou quem estiver na área. E Tinga, que já tem tendências centralizadoras, jogando pelo meio, serviria muito mais como um ponto de apoio no meio do pentágono formado pelos volantes, meias abertos e centro-avante, sendo o passe de segurança. O ideal seria ter um meia cadenciador por ali, alguém como Souza, suspenso, ou Roger, já fora do clube, para fazer a bola rodar e inverter as jogadas, mas infelizmente não temos este jogador disponível no elenco para este jogo.

Do outro lado, Fabinho como ponteiro direito teria funções mais defensivas, acompanhando Júnior César e ajudando na marcação ao lado mais forte do Atlético: o esquerdo. Por ali, cairiam Ceará, na sua posição natural e marcando o garoto Bernard; Guerreiro, marcando Ronaldinho quando este pendesse para o lado esquerdo; Lucas Silva ajudando na sobra e Fabinho marcando Júnior César. O meio-campo fica esvaziado, mas Tinga pode recuar e guardar o meio contra os dois volantes do Atlético que não tem tanto poder de ataque assim. O perigo ficaria do outro lado: Montillo teria que recuar acompanhando Marcos Rocha, para evitar que Diego Renan fique no dois contra um contra ele e Danilinho.

 

Opção 2 – Conservadorismo

Um 4-4-1-1 que fecha bem os flancos e aproveita a velocidade de Montillo para contra-atacar; mas perigoso porque chama demais o Atlético com o apoio dos laterais liberado

Outra opção é assumir que o rival vive um momento melhor e se fechar, partindo nos contra-ataques velozes num 4-4-1-1, com Montillo atrás de Borges como únicas peças ofensivas à frente das duas linhas de quatro. A grande vantagem dessa formação é compactar as linhas e tirar o espaço das ações ofensivas adversárias, espanando as bolas para as pontas para Montillo, que tentaria jogar nas costas dos laterais. Assim, Everton à frente de Diego Renan pelo lado esquerdo para fechar o lado direito de ataque do Atlético, e Ceará e Lucas Silva ou Tinga para fechar o lado direito. Sem espaço para articular, os jogadores do Atlético tenderiam a subir cada vez mais, para tentar um abafa, dando ainda mais espaço para Montillo ganhar uma bola rebatida e conduzir até a área adversária em velocidade.

Não é a opção preferida deste blogueiro e muito menos deverá ser a de Celso Roth, pois é muito perigoso chamar o time adversário pra cima, principalmente levando em consideração que o jogo será “em casa”: somente a exigente e mal-acostumada torcida do Cruzeiro estará presente. Jogar recuado contra o Atlético, na cabeça dos torcedores, é assumir a inferioridade diante do maior rival — mesmo que isso seja atualmente um fato — fazendo com que a chance da torcida se virar contra o time seja muito grande.

 

Opção 3 – Ousadia

Ousadia total: jogar sem centro-avantes de ofício, explorando velocidade e posse de bola, com Montillo de “falso nove” e jogadores rápidos pelos lados

A opção mais ousada é usar o que eu chamaria de 4-3-3-0, com dois jogadores rápidos como ponteiros — por exemplo, Wallyson e Fabinho, Montillo por dentro na posição de meia-atacante “falso 9” e ganhar em número do Atlético no meio-campo: 6 jogadores contra 5, ou 4 contra 3 se considerarmos apenas a faixa central. Isso deixaria os zagueiros do Atlético livres, mas sem alvos para direcionar os passes, forçando-os ao passe longo por cima. Com as linhas compactas e menos gente no meio-campo, fica mais difícil ganhar a segunda bola disputada por Jô e os zagueiros ou volantes cruzeirenses, frustrando as ações ofensivas adversárias.

Entretanto, ao recuperar a bola, o trio ofensivo teria que ter muita inteligência tática e técnica para saber se movimentar e dar opções de passe para contornar a dupla de zaga atleticana, o que acredito que os jogadores têm, mas só conseguiriam executar se tiverem confiança, que é uma coisa que me parece em falta atualmente.

 

Mas…

É muito provável que Celso Roth mande a campo um time diferente dos três que postei aqui, mas é certo que Guerreiro será o marcador de Ronaldinho. Resta saber como Montillo será escalado, e de que forma Tinga jogará: se mais recuado, como volante fazendo um tripé — e consequentemente um losango no meio, o que na opinião deste blogueiro seria um suicídio — ou se jogará mais avançado, à frente dos outros dois volantes. O mais provável é que ele mantenha Montillo por dentro e desloque Tinga para o lado, com Fabinho do outro — algo próximo do que foi feito no jogo contra o Sport, mas com os ponteiro invertidos. Lucas Silva deverá ficar mais liberado para se juntar ao ataque, pois os volantes adversários não deverão combatê-lo no alto do campo. Os laterais deverão ficar um pouco mais presos, principalmente o direito, devido à presença de Bernard por ali.

A chave do jogo, entretanto, será Montillo. Se ele jogar por dentro, terá de brigar com Pierre e Leandro Donizete para conseguir encaixar um passe. Se jogar pelo lado, terá somente Marcos Rocha pela frente — teoricamente um jogador com menos poder de marcação que seus companheiros volantes. Além do fato óbvio de ser apenas um jogador contra dois no meio.

Pode ser um jogo amarrado ou solto — depende da estratégia cruzeirense apenas. O outro time, todo mundo sabe como joga.